quinta-feira, 29 de abril de 2004
[Libertos os Presos Políticos]
"Ás nove e trinta de hoje [26 de Abril de 1974] um oficial dos Fuzileiros Navais comunicou aos jornalistas, na Antónia Maria Cardoso, que a PIDE-DGS acabava de render-se ao fim de uma noite inteira de resistência ao cerco (…) Foram presos sem resistência os quarenta elementos daquela odiada Polícia secreta, que durante a noite tinham resistido no interior do cerco e que, apesar de ontem terem ameaçado matar os prisioneiros, se apresentaram aos pára-quedistas já desarmados e atitude colaborante (…) [Diário de Lisboa, 26 de Abril de 1974]
[27 de Abril de 1974 – Os três últimos presos políticos]
"A liberdade definitiva só chegou às 20 e 45 de ontem [27/04/74] para três dos presos políticos da Cadeia do Forte de Peniche. A essa hora, o major Azevedo, mandatário da Junta de Salvação Nacional, comunicou a Francisco Martins Rodrigues, Rui Pires de Carvalho d’Espinay e Filipe Viegas Aleixo que podiam abandonar livremente a casa onde lhes fora fixada residência (…)
Francisco Martins Rodrigues e Rui d’Espinay, de 46 e 31 anos, respectivamente, forma condenados a 19 anos e a 17 anos de prisão maior por serem dirigentes do Comité Marxista-Leninista Português e da Frente de Acção Popular, as primeiras organizações clandestinas que em Portugal seguiram uma linha política de tendência maoista. Exercendo a sua actividade política na clandestinidade, no interior do País, Francisco Martins Rodrigues e D’Espinay identificaram como agente provocador um elemento da PIDE, Mário Mateus, que procurava infiltrar-se naquelas organizações, e executaram-no a tiro, em Outubro de 1965. Foi o então chamado «crime de Belas». Mário Mateus, que trabalhava em ligação com o agente da PIDE de nome Cleto, lograra dar à polícia secreta pista para a prisão de João Pulido Valente, também dirigente daquelas organizações políticas revolucionárias, e libertado ontem (…)
Condenado à revelia num tribunal comum por ter participado com o capitão Henrique Galvão no assalto ao «Santa Maria», em Fevereiro de 1961, Filipe Viegas Aleixo exilou-se em França, donde partiu com Hermínio da Palma Inácio, no grupo da Liga de União e Acção Revolucionária que pretendia, em Agosto de 1968, tomar a cidade da Covilhã. Este grupo foi interceptado na zona de Moncorvo, pouco de pois de entrar em território nacional, e os seus componentes entregues à Direcção-Geral de Segurança. Torturado na Rua António Maria Cardoso, Filipe Aleixo foi condenado pelo Plenário do Porto a 19 anos de prisão maior, recolhendo depois ao Forte de Peniche donde, devido à sua idade, já não esperava sair com vida: saiu com 59 anos (…) [in, Diário de Lisboa, 28 de Abril de 1974]