segunda-feira, 29 de março de 2004


Luiz Pacheco ... por Luiz Pacheco!

"Tenho um subsídio vitalício de 120 contos por mérito cultural. Há muita gente que tem. Agradeço isso ao Alçada Baptista. E ao Balsemão. Foi o Balsemão que inventou um decreto, que era o do mérito cultural, para legalizar estas pensões. O meu subsídio em princípio é vitalício, é um subsídio pelo passado. Mas com essa maluca das Finanças - por acaso até é gira, é muito feia mas é gira, é uma mulher a sério, não é o Peixoto, aliás o Barroso! - nunca se sabe. Mas não, porque se uma pessoa tem mérito cultural não o perde por causa da Ministra das Finanças. (...)
Devia ter ido falar com o Vasco Gonçalves! Não o ouviu hoje de manhã a falar? [numa sessão de comemoração dos 30 anos do 25 de Abril] E ele tem razão, porque, de facto, o Mário Soares foi um agente terrível da contra-revolução. O Vasco não lhe perdoa. Eu não sabia que ele ainda estava vivo. Ele já deve estar muito velhote, coitado.
O fascismo era péssimo. Mas agora, por parte da malta nova, não há a noção do que era. Nada. Noção nenhuma. E há esses rapazinhos, que são uns remanescentes - como o Pereira Coutinho, esse tipo que escrevia no Independente e que agora parece que escreve no Expresso, enfim, gente de más famílias. A reacção está aí com toda a força. Talvez ainda não com a força que eles queriam. Nova direita? Extrema direita! (...)
Politicamente, economicamente, podemos estar numa má altura. Mas há coisas que não voltam para trás. Uma coisa que eu tenho reparado é numas figuras de raparigas que nós nesse tempo não apanhávamos. Há agora um novo tipo de mulher. Mulheres formadas, algumas com dois cursos, com empregos, com uma ginástica de se desenrascarem formidável. São mulheres muito diferentes das do meu tempo. Sabe o que é? Começam a funcionar muito mais cedo. Não haja dúvida nenhuma que a repressão aí era tenebrosa. Fui parar à cadeia 5 vezes por causa disso. Não era bem puritanismo. Era estupidez e a Igreja Católica. Eram valores como a virgindade, o pudor... Havia muita hipocrisia. Mas a gente também se governava. Eu fui parar à cadeia porque arrisquei. Se eram virgens? Bem, eu não fui lá ver se elas eram virgens. ..." [Luiz Pacheco in Pública]