terça-feira, 9 de dezembro de 2003

ALMEIDA GARRETT [1799-1854]




Morre a 9 de Dezembro de 1854

"Saudade! Gosto amargo de infelizes,
Delicioso pungir de acerbo espinho,
Que me estás repassando o intimo peito
Com dor que os seios d'alma dilacera,
- Mas dor que tem prazeres - Saudade
!"

[Nota da 2ª edição] " - Saudade, palavra, cuido que vem, por derivação obliqua, do latino solitudo. Obliqua digo, porque direitamente derivaram os nossos de solitudo, solidão, soidão, e depois soledade, soidade, finalmente saudade. De modo que, por esta síntese (ou pela analise que é obvia) se vem entender claramente que o verdadeiro sentido da saudade é - os sentimentos ou pensamentos da soledade ou solidão ou soidão; o desejo melancólico do que se acha na solidão, ausente, isolada de objectos porque suspira, amigos, amante, pais, filhos, etc - E tanto por saudade se deve entender este desejo de ausente e solitário, que os latinos, à mingua de mais próprio termo, o expressavam pelo seu desiderium:

Qui desiderio sit pudor aut modus
Tam chari capitis
?"

[Almeida Garrett, in Camões, 1824, aliás 9ª ed., 1904]