terça-feira, 7 de outubro de 2003

SERMÕES VÁRIOS

"Ámen dico vobis: néscio vos. Vigilate itaque, quia nescitis diem, neque horam

A corrupção, Senhores, desce das classes elevadas, como as epidemias, que baixam das nuvens, e cobrem as naçõens com a sua grande e funebre mortalha. Nunca, nunca do pobre subio a corrupção ao poderoso. Embora o primeiro não possa correr parelhas com o segundo: na ostentação da immoralidade - cada um attinge na escala da corrupção o gráo compativel com os seus meios. O corrupto d'alta gerarchia fascina o entendimento das turbas, que não distinguem a pustola d’ouropel, que o torna menos hediondo, nem descriminam os incensos, que lhe perfumam o fétido. (...)"

[Oração / Pronunciada no Dia 30 de Agosto / de 1857 / na / Igreja de N. Senhora / do Terço e Charidade / da / Cidade do Porto / ... / por / José Joaquim de Carvalho Goês / ... / Porto / Typ. de Francisco Pereira d'Azevedo, / Rua das Hortas nº 105 / 1857]

" ... Governar é instruir, é edificar, é descer d'esses thronos d'uma vida talvez ephemera, é derramar a luz do espírito nas trevas da ignorância, é estabelecer a moralidade, a ordem, a economia; governar é plantar em cada bairro uma associação, em cada rua uma escola, em cada alma a semente da sciencia, do bem, do justo, do honesto, para que mais tarde cada filho do povo seja um cidadão laborioso, instruído, conscio dos seus direitos e deveres, e contra o qual nada possam as venalidades, a corrupção dos vendilhões da politica, que mercadejam com a consciência como se fora um artefacto (...)"

[Duas palavras / pronunciadas / na / Sessão Solemne / do / Grémio Popular / (24 de Dezembro de 1871) / por / Costa Goodolphim / ... / Lisboa / Typographia Universal /…/ 1872]

"... Se é raro no mundo encontrar grandesa unida às qualidades que a virtude exige, mais raro é ainda encontrar grandesa sem as paixões que ella inspira. A prosperidade parece arrastar comsigo um perigoso laço, arrebatar mais grandesa do que devolve, foge como inimiga da virtude ou busca-a para mais de perto a derribar e anniquilal-a. Annos e annos de prudencia, a mais profunda e sensata sabedoria suffocada dessapparece n'um momento de gloria. Dignos quando a sociedade em nada os estimava, indignos quando os seus vultos começam a adquirir algum prestigio, eis, senhores, o geral systema de todos os homens." [(?), Sermão da Annunciação de Nossa Senhora, 1867]

"... Póde o homem passear à sombra de palacios magnificos; póde recostar-se em magestosos sofas; todavia, se não tiver sentimentos de honra, e ésta não brilhar em suas acções, é um vil e um ridiculo, a quem a sociedade nada deve, e que, mais cedo ou mais tarde, carregado de remorsos, irá cahir sôbre o po do tumulo (...)

[Oração Fúnebre / ... / por alma do illustre cidadão / José Bernardo Coelho / recitou / o Padre Henrique Augusto Mendes da Costa e Silva / Coimbra / Imprensa da Universidade / 1863]