sábado, 10 de novembro de 2007
Norman Mailer [1923-2007]
"Estamos todos gozando sem fruição, um gozo sem prazer, quantitativo. Antes, tínhamos passado e futuro; agora, tudo é um enorme presente" [N. Mailer]
Nascido em New Jersey nos tempos idos de 1923, Norman Mailer, ao longo da sua vida de controvérsia, de rebeldia e, ao mesmo tempo, de curiosa boémia, fez de tudo um pouco, enchendo de assombro os desarvorados indígenas americanos (e não só).
Este auto-intitulado "conservador de esquerda", engenheiro industrial, jornalista ou contador de estórias (no que dá no mesmo), tropa nada embaraçado no II G. M., estudante da Sorbonne, comentador político (do american way of life) sem pasmo mas de riso civilizacional (coisa que entretanto desapareceu na bruma do politicamente correcto), chauvinista militante e femeeiro encartado, novelista ácido, biógrafo de altos astrais, violento no trato e no corte-e-costura cavalheiresco ["Once more, words fail Norman", disse uma vez Gore Vidal, depois de ser agredido por Mailer, que lhe tinha chamado isso mesmo ... "violento"], ensaísta e romancista, bebedor sempre virtuoso, teatrólogo e escriba de roteiros fílmicos, morreu hoje, com 84 anos. Intensos, eloquentes, brutais. Como deve ser.
Até sempre Mailer!
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Leilão de Livros e Manuscritos – dias 12,13 e 14 Novembro
Vai a leilão um conjunto de Livros e Manuscritos valiosos e muito estimados nos dias 12, 13 e 14 de Novembro (sempre pelas 21 horas) - no Amazónia Lisboa Hotel (ao Jardim das Amoreiras), em Lisboa -, organizado pelo livreiro & leiloeiro Pedro Azevedo.
O magnífico e luxuoso Catálogo publicado por Pedro Azevedo para o leilão revela um conjunto assinalável de peças raras de Bibliografia, Folhetos vários, História, Genealogia, Literatura, Revistas e Periódicos, bem como um lote de importantes Manuscritos. E, como sempre, os lotes vêm descritos no Catálogo com notas biobibliográficas preciosas, que fazem a felicidade do amador de livros.
Um leilão notável e a não perder.
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Almanaque Republicano - Primeiro Aniversário
"Alma! Eis o que nos falta. Porque uma nação não é uma tenda, nem um orçamento uma bíblia". [Guerra Junqueiro]
Faz hoje um ano que lançámos o Almanaque Republicano. Exemplar único da Alma Republicana, na blogosfera indígena. Pouso de genuína "ascendência portucalensis". Lugar dum tempo de antiquíssima saudade, e que em boa hora retomámos em merecida ventura. Eis, passado um ano, o canto, a gesta e a demanda admirável de uma "geração sonhadora, generosa e messiânica", como aqui dissemos.
(…)
Na nossa incursão à Alma Republicana surge, por isso, um abraço humílimo, restaurado, ao antiquíssimo cantar do "espírito lusitano" que a tradição fez sorrir. Os "nossos antigos" [Antero] não morreram, mas ainda não estão. Por isso continuamos em "velada d'armas". O Édito dessa anunciação ainda é o rasto do nosso versejar. Ainda é o alento que rompe sombras, "pois não há sono no mundo" [F. Pessoa].
E por isso temos tenção de continuar. Entretanto um abraço.
in Almanaque Republicano
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Anúncio completamente grátis
V. Excia anda irritadiço com a sua situação financeira e os situacionistas da União Nacional, sente arrepios de frio socrático correndo na espinha quando depara na TV com a bestial figura de Jorge Coelho e vocifera em espirituosa abundância na leitura das ordenanças da Sra. Ministra da Instrução? V. Excia sente-se advertido, por amor da Europa e pela pia caridade do sr. José Miguel Júdice, com as prevaricações por si feitas ao Exmo. Senhor Presidente do Conselho de Ministros e teme pelo seu mísero lugar e dos seus, tanto como se comove com um discurso do sr. Alberto Costa? V. Excia sente um frémito de medo a invadir-lhe o escritório e a casa, pressentindo o roçar do espectro do agente do SNI, o dr. Augusto Santos "Chávez", que sobre as janelas misteriosamente voa? V. Excia, agora apático, titubeante e um pouco madraço, faz tenção de deambular em liberdade e sem tristes lembranças pela sua própria casa, sem ser incomodado pelos espias da governança e o horror de ouvir a voz e o suspiro do sr. M. Sousa Tavares?
... então não hesite. Contra olhares errantes, fugidios, insidiosos ou contra a propaganda do governo ou do DN, em sua casa ou na da vizinha, eis que chegou: "Stores Confortâble". Os únicos que dão felicidade a V. Excia e ao país. Compre já!
Temos andado ... assim!
... a cavalgar o mundo, perdidos nas distâncias e nas almas. Parecemos lobos em deserto puro. Mas não muito! Fugimos à nova noite negra política que se instalou definitivamente entre nós. Não temos nada a dizer, não temos nada a contar. Não adormecemos ainda mas também não vemos o sol. Estamos cansados de estar cansados. De nós, todo "o destino é insuportável". A canalha já pouco nos importa e as manobras de todos vós não deixam de ser um raminho de dia de defuntos. Podem ser assunto civilizador mas o relógio da vida está parado. Sempre, e continuadamente, parado. Quisemos descansar de tanto palavreado inútil, de tanta propaganda pífia, de tanta soberba. Por isso só nos ocorre esse lugar-comum quanto exacto: temos a vida e os governantes que merecemos.
Mas estamos de volta. Para o que der e vier.
Bom dia!
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
João Camossa [1926-2007]
"João Carlos Camossa de Saldanha era advogado e uma figura pública de grande encantamento. De raiz "anarco-comunalista" porque gostava de ser "senhor de si mesmo", professava a dissidência espiritual ou não fosse possuído de vasta e copiosa memória cultural. Era monárquico mas dos que prezam a liberdade e a vida. Repudiou sempre aqueles que, comprometidos com o salazarismo e o fascismo, eram (são) situacionistas. E, por isso, ficou cada dia mais só, esquecido, incompreendido, maltratado ..."
[ler mais no Almanaque Republicano]
domingo, 14 de outubro de 2007
Fausto Correia
O saudoso café Trianon, sitiado à esquina da Nicolau Chanterenne na bela Coimbra, lugar consumido pelas insónias por tantos de nós, onde as impressões, as (in)confidências, os arrufos políticos ou literários, o gozo daqueles olhares que tudo prometiam antes da partida para as festividades noctívagas, a noite de Coimbra que tremula no tempo mas que teima em resistir na nossa memória, perdeu um dos seus (dos nossos) melhores amigos: Fausto Correia. Quem por lá passou nesses tempos de oiro, jamais esquecerá a figura serena, tolerante, de rara generosidade e desmedida bondade, como sempre será lembrado Fausto Correia.
O tributo e o preito de homenagem que a sua cidade, ontem, lhe prestou, dizem isso mesmo. Porque esta Coimbra estima sempre quem lhe quer bem. E o Fausto é exemplo iluminado dos melhores que a exaltaram.
Até sempre, Fausto!
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
5 de Outubro de 1910 – uma evocação
"A Pátria é um princípio de solidariedade colectiva. A Pátria é uma religião" [Sampaio Bruno]
Sob o tempo dos 97 anos passados, o dia 5 de Outubro, como outros tantos que testemunham a nossa história, converteu-se em mera jornada de lazer e esquecimento, da qual muitos, ironicamente, desconhecem a causa próxima ou o seu fausto. Percorridos os anos à "sombra das almas", de melancolia em melancolia, e consumidos os dias sem qualquer devir nacional (material, cultural ou espiritual), o dia em que os "arautos da nova ideia" saíram à rua repousa silenciosamente em antigos, quanto iluminados, estandartes que a Saudade consagrou. Um mundo, assim, não findou, mesmo que se aceite, com F. Pessoa, que "portugueses, deixaram de haver". Um mundo, assim, é intemporal. A Demanda, sabe-se, é por vezes "sombra e nevoeiro".
O Almanaque Republicano, como é mister, associa-se a esse retorno à alta glória, de sonho tão puro, onde a nossa gente levantou "o esplendor de Portugal". E muitos foram.
Nos próximos dias daremos aqui, e como temos vindo a fazer, fé disso mesmo. A narrativa republicana, paixão antiga e sacra, será sempre entre nós uma "cantiga de amigo". Que não acaba nem começa. Vive, apenas!
[via Almanaque Republicano]
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos
Conforme, aqui e aqui, dissemos a preciosa Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos, organizada com o cuidado extremo de Manuel Ferreira, vai a leilão na Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto, Porto) amanhã (dia 3) e segue até ao dia 11, do corrente mês, sempre pelas 21 horas.
Alguns periódicos e outros órgãos de informação deram a devida atenção à riqueza bibliográfica da biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos. E, ao que nos sugerem, mais que um mero produto de luxo era, de facto, uma fonte e ferramenta de trabalho para o seu possuidor e outros estudiosos. O que marca, também, uma evidente diferença entre alguns dos nossos mais conhecidos bibliófilos.
Algumas referências na imprensa: Livros, jornais e revistas raríssimas de Alfredo Ribeiro dos Santos em leilão no Porto [RTP] / Louco por revistas [Luís Miguel Queirós, Público, P2, dia 2/10/2007] / Memórias inéditas. Leonardo Coimbra, um caso de arrebatamento [Ana Sofia Rosado, O Primeiro de Janeiro - notas de uma entevista ao dr. Alfredo Ribeiro dos Santos / Durante a reviravolta: uma família [continuação]
Foto: retirada do jornal Público, com a devida vénia
[em actualização]
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
"A Revista História com fim perto" - Petição on line
"A revista 'História' está a ver o seu fim anunciado. Acaba de editar agora o seu número 100 e corre o risco de não sair mais nenhum. Este encerramento da revista "História" deve-se a um corte orçamental que apesar de mínimo para quem apoiava a revista é extramente importante para assegurar a sua existência. A revista 'História' é já uma revista de referência no panorama cultural e editorial português e um caso único qualitativo. É importante não deixar acabar mais esta revista no nosso país com um já tão pobre mercado editorial de qualidade"
Petição:"A Revista História com fim perto" - aqui on line.
[ler mais no Almanaque Republicano]
Fermosa Estrivaria
"... pelos pinotes, as absurdas e ridículas loucuras em que eles passam o seu tempo" [Cavaleiro de Oliveira, aliás Francisco Xavier de Oliveira]
O inefável editor Ricardo Costa, expert em mixordices políticas, convidou o sr. Santana Lopes ao púlpito da SIC-Notícias, ontem à noite, para falar nas eleições no PSD. Para surpresa dos espectadores, ainda a entrevista de Ana Lourenço nem ia a meio, já o emproado Ricardo Costa interrompia o seu convidado, a pretexto do rebate de José Mourinho no aeroporto de Lisboa. O insulto feito a Santana Lopes pelo editor da SIC, nem perfeito foi. Embora haja gostos para tudo, nada nos autoriza a pensar que olhar o sr. Mourinho entrar num automóvel pela calada da noite seja tão excitante quanto Ricardo Costa presume. Mas a afronta e a canalhice, por uma vez, não ficaram sem resposta. Santana Lopes – sim ele, mesmo – levantou-se e saiu. Que faça escola, é o que se deseja.
Festividades de Fátima
A Irmandade do Centro Desportivo de Fátima teve, ontem em Fátima e para a Taça de Portugal, esse milagre de inteligência de levar a equipa de futebol do sr. Pinto da Costa à marcação de grandes penalidades. E, depois, caridosamente enviou-os para o recesso das Antas, onde faz carreira escolar Jesualdo Ferreira, conhecido por "O Professor".
Ao mesmo tempo, com espírito elevado e civilizador, a Irmandade em Fátima teve ensejo de conceder luz ao sr. Duarte Gomes e fê-lo marcar um penalty (lindo) para o nosso Glorioso, ali para os lados da Reboleira. Não expulsou o prevaricador, para não estragar as festividades.
Infelizmente, não teve a nossa estimada Irmandade lisonja suficiente para fazer sair do meio das sombras o sr. Bruno Paixão, conhecido árbitro formado pelo Papa Pinto da Costa. E tal a cegueira estava possuído Bruno Paixão que o não fez ver um penalty luzente e inequívoco, do guarda-redes dos lagartos contra um jogador do grande Vitória de Guimarães. Não se deu provimento, decerto na penhorada benevolência da Irmandade, à qualidade dos três Fés: Fátima, Futebol e Fado. Mas fica adiado para o próximo sábado. Pois já dizia Horácio: bis repetita placent.
terça-feira, 25 de setembro de 2007
André Gorz: um longo diálogo
André Gorz, tal como foi referido aqui, é principalmente (re)conhecido pela atenção dada às questões relacionadas com "o trabalho", a "produtividade", "relações de trabalho" e "exclusão social", "industrialização" e "acumulação", "capitalismo”" e "novas tecnologias". Retoma, por isso mesmo, o "velho" debate sobre a "produção/reprodução de trabalho", "a teoria do valor trabalho", a questão da sua "apropriação" e a problemática dos "modelos de crescimento económico". A partir daí, é evidente na sua obra a critica à doxa marxista ["O marxismo está em crise porque há uma crise do movimento operário. Rompeu-se, ao longo dos últimos vinte anos, o fio entre desenvolvimento das forças produtivas e desenvolvimento das contradições de classe”, in “Adeus ao Proletariado", Gorz, 1987]. Nesse sentido, polemizou à esquerda, quer por entender que o "trabalho imaterial" era crucial para a análise do capitalismo moderno, quer por pensar que "o proletariado" não era já uma "classe revolucionária", nem tinha o "valor profético", que invariavelmente está presente em toda a literatura marxiana. Tal preceito, então ousado, fez virar contra si os sindicatos e toda a "esquerda clássica".
Alguns conceitos com que trabalhou versando a problemática da "economia do saber" ou "do conhecimento", resultante do mundo tecnológico e das suas "estruturas", têm hoje um lugar central no debate sobre a globalização e a "sociedade do futuro" (pelo menos nos países mais desenvolvidos). O construído das redes de comunicação e os efeitos das novas tecnologias, pelo impacto que têm no sistema económico, na organização do trabalho e no próprio trabalho, convergem necessariamente para a urgência de um outro olhar da/para a ciência económica (que Gorz referia sempre).
A putativa ilusão de perda da "centralidade do trabalho" e o "fetichismo tecnológico" e cultural nas sociedades actuais, aliado à ideia de derrota da "luta" anticapitalista, levaram a que o filósofo convergisse para o campo da ecologia política e conceptualizasse o "socialismo pós-industrial", bem à maneira da utopia marcusiana. O legado de Gorz permanece intacto. Resta esperar pelas suas profecias.
Locais: A Humanidade, a natureza e o trabalho [Carlos Lucena] / André Gorz, le philosophe et sa femme [Le Monde] / Aux noms de l'amour / Entrevista com André Gorz / La disparition d'André Gorz
André Gorz [1923-2007]
"Nous nous sommes dit que si, par impossible, nous avions une seconde vie, nous voudrions la passer ensemble" [André Gorz, in Histoire d’un amour, Setembro 2006]
André Gorz [aliás Gerard Horst] nasceu em Fevereiro de 1923, em Viena. Refugia-se na Suiça, com os pais, na II GM. Forma-se em engenharia química, em Lausanne. Parte (1949) para França onde trabalha [assinando textos no "Paris-Presse" com o pseudónimo de Michel Bosquet e mais tarde como jornalista económico no "L'Express"], estuda economia, sociologia, filosofia.
Radicado em França [naturaliza-se francês em 1954], em 1961 aparece como co-director da revista "Les Temps Moderns", de Sartre & Simone de Beauvoir. Data desse tempo a sua ligação à fenomenologia e ao existencialismo. Sai do "L'Express" em 1964 para fundar [com Jean Daniel e outros mais] a importante revista "Le Nouvel Observateur". Torna-se amigo de Herbert Marcuse [da chamada Escola de Frankfurt, de que fizeram parte Horkheimer, Adorno, Habermas], cujo pensamento (e o da Escola de Frankfurt) o influenciou. O Maio de 68 marca-o decisivamente. Nessa altura aproxima-se das teses sobre educação de Ivan Illich [do qual publica alguns livros]. Dissidências com os seus colaboradores na revista "Les Temps Moderns" [em parte pela "linha maoista" então seguida pela revista e em desacordo com o numero saído sobre o grupo radical italiano "Lotta Continua", que curiosamente teve textos e manifestos publicados em Portugal pós-1974, com algum sucesso] levam à sua demissão da direcção e saída após a morte de Sartre (1980).
Aproxima-se, entretanto, da noviciada corrente da ecologia radical [sai em Portugal, em 1978, pela Editora Vega, o seu livro "Ecologia e Liberdade" (publicado inicialmente em 1975), repositório de textos saídos 25 anos atrás, com o seu pseudónimo Michel Bosquet] e, em 1973, ingressa na revista "Le Sauvage", onde a “problemática ecológica” tem lugar central. Em 1980, após a publicação do seu livro "Adieux au prolétariat" [ver, "Adeus ao Proletariado: para além do socialismo", Rio de Janeiro, 1987], onde a reflexão sobre a perda do "valor profético" do proletariado e a crítica ao marxismo tradicional está presente, a polémica irrompe (de novo) e a CFDT, onde de algum modo estava ligado, repudia-o. Em 1983, sai também do “Le Nouvel Observateur”. E retira-se para a sua casa em Vosnon.
Nesta segunda-feira soube-se que André Gorz e sua mulher Dorine [com quem casou em 1949] se suicidaram, consumando o que Gorz no seu último livro, “Lettre à D., Histoire d´un amour”, deixava escrito:"Nous aimerions chacun ne pas survivre à la mort de l’autre. Nous nous sommes dit que si, par impossible, nous avions une seconde vie, nous voudrions la passer ensemble". O pacto ficou, para todo o sempre, selado.
domingo, 23 de setembro de 2007
Almanaque Republicano – Actualização
"A Direcção Geral de Arquivos colocou on line, via Torre do Tombo, três pastas do processo da PIDE relativo ao escritor e cidadão Aquilino Ribeiro. Curiosamente, ao fim de poucos dias deixou de estar acessível. Como agora, no momento em que se escreve. O "choque tecnológico", delicado e piedoso, afoitamente recolhe-se à noite. Os indígenas – sabe-se – comemoram as letras na virtude e encanto do leito. Aqui e por todo o Mundo. A Torre do Tombo on line, também ela, emudece. O "documento do mês" afinal era de parcos dias. E lá ficou o homenageado Aquilino Ribeiro, fechado outra vez." [ler mais aqui]
O Almanaque Republicano recebe a lux e a claridade do tempo & alma republicana. Continua prendado como na primeira vez. Celebra festas e pregações para fugir à modéstia dos dias. No vale de lágrimas e delírios desta semana, a coberto do mau-senso e mau-gosto de alguns, fervorosamente exibido na homenagem a Aquilino Ribeiro, o Almanaque Republicano, imprudente de vaidade, continua a anunciação e a dedicação ao quadro e pedra republicana. Dado à lux por dois cavalleiros livres e devotos da Saudade & sob protecção do Arcanjo de Portugal, o Almanaque Republicano conversou desde Julho, sobre
a Imprensa Republicana no Distrito de Coimbra, lembrou Bulhão Pato no Largo das Cortes, apresentou as Efemérides Mensais, evocou Miguel Bombarda e Cândido dos Reis, chamou a bio-bibliografia de Norton de Mattos em III notas breves, o mesmo de Trindade Coelho (ainda em III partes), idem para José Carrilho Vieira (jornalista, editor, livreiro e fundador da Internacional Operária), do mesmo modo apresentou notas bio-bibliográficas de Fernão Botto Machado (IV partes), lembrou a Tertúlia da Revista História, fez homenagem a Aquilino Ribeiro apresentando algumas sugestões bibliográficas sobre o cidadão e militante republicano.
A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!
Saúde e fraternidade.
Nota Póstuma [24/09/07]: Hoje, semana de trabalho e, presuntivamente, de leitura e estudo, a Direcção Geral de Arquivos disponibilizou on line, de novo, parte do Arquivo Aquilino Ribeiro. Ninguém deve estranhar tal expediente. A generosidade da Torre do Tombo, como de outras instituições indígenas [a Biblioteca Nacional e a Hemeroteca de Lisboa são casos raros em eficiência tecnológica], não lhes permitem o exercício de actividades ao fim-de-semana, ou, se quisermos, de corrigir o que está (supostamente) a correr mal. Fim-de-semana é para descanso pátrio. E para recolhimento. Temos de ter paciência. E esperar pela longa jornada da semana. Aplausos!
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos
"Tenho muito gosto - e honra - em prefaciar o catálogo da importante Biblioteca de Alfredo Ribeiro dos Santos, ilustre médico portuense, cidadão impoluto, lutador anti-fascista, homem de cultura e grande bibliófilo. Por três razões, essencialmente: pela personalidade ímpar de Alfredo Ribeiro dos Santos, que conheço desde os tempos do Movimento de Unidade Democrática (MUD), há mais de sessenta anos e cujo percurso segui, sempre com muito apreço, afecto e admiração; porque conheço a sua valiosíssima Biblioteca, rica em revistas e obras literárias e histórico-políticas; e ainda porque tenho seguido a qualidade do trabalho do antiquário livreiro Manuel Ferreira - e de seus filhos - de quem tenho sido, algumas vezes, mais espaçadamente do que gostaria, cliente e cuja competência profissional posso testemunhar.
Alfredo Ribeiro dos Santos, com uma vida já longa e uma magnífica lucidez, deixou sempre, por onde passou, um rasto de simpatia, de humanidade, de aprumo pessoal e cívico e de respeito, verdadeiramente invulgares.
Vivendo no Porto, onde nasceu, em 1917, tirou o liceu e fez estudos de Medicina, em que se formou, em 1943, sempre conviveu, desde muito novo, com intelectuais e artistas, como Sant'Anna Dionísio, José Marinho, Agostinho da Silva, entre outros, tendo como mestres e referências Leonardo Coimbra, Abel Salazar, Jaime Cortesão e Teixeira de Pascoais, os homens da "Renascença Portuguesa" (e da Revista "A Aguia ") que, muitas décadas depois, haveria de reeditar (numa nova série) com o saudoso José Augusto Seabra.
Frequentador de tertúlias literário-políticas, colega, amigo e camarada, do incansável conspirador anti-fascista do Porto, do Dr. Veiga Pires, com o qual estagiou no Hospital de Santo António, foi ele que também o introduziu no Movimento de Unidade Anti-Fascista (clandestino 1942-49) e no MUD (paralegal), criado no post-segunda guerra mundial. Desde então, encontrei-o em todos os grandes momentos da Oposição Democrática, nas candidaturas dos generais Norton de Matos e Humberto Delgado, nas manifestações de protesto, como no funeral de Abel Salazar, onde foram presos o velho e prestigiado médico Eduardo Santos Silva e Ruy Luís Gomes, em reclamações e abaixo-assinados contra a Ditadura, nas denúncias contra as pseudo eleições, nos períodos chamados de "liberdade suficiente", que se realizaram entre 1945 e o 25 de Abril de 1974. Igual a si próprio, Ribeiro dos Santos continuou, numa linha de coerência cívica exemplar, durante toda esta nossa conturbada II República, que, apesar de tudo,já conta o dobro dos anos da I República (1910-1926), até hoje.
Além de médico de grande proficiência, na sua especialidade, e humanidade, Alfredo Ribeiro dos Santos teve sempre uma actividade de intelectual interveniente na vida da grei - organizador de iniciativas culturais, de exposições e tertúlias, tendo publicado vários livros, de interesse histórico-político inegável, e proferido inúmeras conferências sobre diferentes temáticas. Assinalo, entre muitas outras, as que proferiu sobre Jaime Cortesão, Abel Salazar, Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoais e a tertúlia em que participou do engenheiro José Praça, um ilustre portuense e grande resistente contra a Ditadura, que esteve, no começo dos anos trinta, deportado no forte de Angra do Heroísmo, nos Açores, onde foi companheiro de cárcere do meu Pai.
A biblioteca de Ribeiro dos Santos constitui um verdadeiro retrato de um homem culturalmente orientado, meticuloso e de vasta erudição e cultura. Constitui um raro e precioso acervo de livros, jornais e revistas, altamente representativos do século XX português, obviamente orientado numa perspectiva republicana, socialista e laica.
A leitura do catálogo, organizado pelo antiquário-livreiro Manuel Ferreira, é disso a demonstração. O destino das grandes bibliotecas é dispersarem-se, mais tarde ou mais cedo. Algumas vezes, mesmo, quando se integram em instituições públicas. O catálogo, quando é cientificamente organizado, como é o caso, é um marco que permanece, ajudando a perpetuar a memória do seu amoroso fundador. Por isso, eu, como modesto bibliófilo, há anos que ganhei o hábito de coleccionar também os catálogos dos leilões das grandes bibliotecas. Dizem muito sobre os coleccionadores originários e sobre os alfarrabistas que com tanto profissionalismo organizam os catálogos”
[Mário Soares, Vau, 16 de Agosto de 2007 – pref. Catálogo da Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos. Organizada para Leilão por Manuel Ferreira, vol I, Outubro 2007 - sublinhados nossos]
Leilão - Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos
A importante e valiosa biblioteca, composta por 3561 peças de extraordinário valor, do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos [que referiremos depois], conhecido bibliófilo e "ilustre médico portuense", por seu desejo expresso, vai à praça entre os dias 3 e 11 de Outubro, na Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto, Porto).
A estimada biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos apresenta um notável conjunto de obras literárias, uma raríssima e vasta colecção de revistas e jornais do século XX, patenteando um gosto e erudição bibliófila invejável, que fazem desta singular biblioteca uma das mais interessantes e magnificas dos últimos anos.
A descrição bibliográfica desta magnifica biblioteca (que daremos nota depois), elaborada pelo ilustre livreiro Manuel Ferreira, de rara competência profissional, é apresentada em dois volumes magníficos. O catálogo da biblioteca, cujas observações e notas são criteriosas e exigentes, revela o bibliófilo Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos e a sua paixão pelos livros mas também, pela sua leitura aprazível, honra o seu catalogador. Apresenta, ainda, um prefácio pelo dr. Mário Soares, na qualidade de amigo do dr. Alfredo Ribeiro dos Santos (que conheceu desde os tempos do MUD) e como se sabe também fervoroso bibliófilo.
[Os pedidos para o leilão podem ser feitos para Manuel Ferreira, Rua Dr. Alves da Veiga, 89, Porto (tel. 225363237)]
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Aquilino Ribeiro
"... Olhem sempre em frente, olhem o Sol, não tenham medo de errar, sendo originais, iconoclastas e anti, o mais anti que puderem, e verdadeiros, fugindo aos velhos caminhos trilhados de pé posto e a todas as conjuras dos velhos do Restelo. Cultivem a inquietação como fonte de renovamento"
[Aquilino Ribeiro, palavras que proferiu na homenagem que lhe foi prestada na Sociedade Portuguesa de Escritores – citado por António Valdemar, Expresso-Actual, 15 de Setembro 2007, p. 12 - sublinhados nossos]
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Charivari do bom nativo
Depois de ataviados gorjeios & prosas dos indígenas lusos – esses talentosos “bárbaros”, presentes nas lascivas historietas do dr. Rui Ramos aos genuínos Ingleses –, por ora muito consumidos pelo caso Maddie, mansamente animados pela disputa eleitoral no PSD e exaustos pela divertida propaganda política do governo, eis que lhes cai em cima do ego, para amor e civismo pátrio, o estupendo caso Scolari. Para durar.
De caso em caso, de expedição em expedição, de novidade em novidade, não há pavor algum ou pranto que tire o bom nativo do sério. A vigília do dr. Moita Flores, o génio (very british) de Rui Ramos, o dom educador do sábio Rui Santos, o intelecto de José Miguel Júdice, o cântico redentor do sr. Sócrates ou a aparição da figura indulgente do dr. Cavaco, transforma-os de rudes ignorantes em sábios. De tudo e de nada! Eis uma boa pista a seguir pela dr. Maria Lurdes Rodrigues, agora que está tão volteada para o “choque tecnológico” e o sucesso das criançolas. Colocar aquele raminho de notáveis no aconchego das escolas e universidades, era o sucesso escolar garantido e uma bênção para a União Europeia. Haja inspiração!
Depois, o bom nativo teve ocasião de acompanhar a argumentação lavrada, ad nauseaum “como é óbvio”, do sr. Luis Amado sobre a visitação do Dalai Lama a Portugal. A ousadia e o disparate dessa formidável figura deleitou tanto os spin doctors que até o dr. João Paulo Gorjão (nos braços da SIC) teve ensejo de registar, ao "piedoso" auditório e para os vindouros, a "espuma" e as "atitudes adolescentes" dos nossos transviados paroquianos, evidentemente pouco dispostos a ver a natural "realidade" de não se "ganhar" nada em receber o Dalai Lama, não vá a democrática China incomodar-se com essa questão (de pormenor) dos direitos humanos. Esses episódios másculos ficam sempre bem quando dirigidos a Cuba ou à Venezuela (leia-se formulário aqui). O bom do erudito português tem sempre, como se sabe, os tomates muito bem escaldados. Não convém abusar. E assim vai esta "fermosa estrivaria". Nada de espantos.
Boletim Bibliográfico 35 da Livraria Luís Burnay
Saiu o Catálogo do mês de Setembro da Livraria Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa). Peças estimadas e raras de Culinária, História, Colónias, Monografias, Caça, Almanaques, Literatura, Revistas e muito mais.
Algumas referências: An Account of several late Voyages and Discoveries ..., London, 1711 / Archivo Pitoresco, 1857-1868, XI vols / Athena. Revista de Arte, 1924-25, V numrs / Culinária Portuguesa, prol. Albino Forjaz de Sampaio, Ed. autor (194?) / Diccionario de Glossologia Botânica ..., de António A. da Fonseca Benevides, 1841 / Da Caça. Palestras Cinegéticas, por António Bomfim, 1946 / Historia da Luzitania e da Ibéria (vol I e único publ.), de João Bonança, 1887 / A Inquisição e os Professores do Colégio das Artes, de Mário Brandão, 1948-1969, II vols / De Benguella às Terras de Iácca, por Capelo & Ivens, 1881, II vols / De Angola à Contra-costa, idem, 1886, II vols / Ou eu, ou Elles, por António Feliciano de Castilho (opusc. raro), 1849 / Historia da Revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891, de João Chagas & ex-Tenente Coelho, 1901 / A Choldra. Semanário republicano de combate e critica à vida social (raro), 1926, XXI numrs / Manual Político do Cidadão Portuguez, de Trindade Coelho, , 1908 (2ª ed.) / Contemporânea. Revista Mensal (rara revista sob. Dir. José Pacheco), 1922-26, XIII numrs+ nº14 / Diana. Revista de caça, Hipismo e Pesca, 1948-1975, 256 numrs / Guesto Ansures, quadros da vida neo-gothica, pelo Visconde de Figanière, Livraria Ferreira, 1883 / Folheto de Ambas Lisboas (periódico olisiponense raro), nº1 (Junho 1730) a nº 26 (Agosto 1731), XXVI numrs / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão et al, s.d., II vols / Inventário Artístico Portugal (Aveiro e Santarém) / Peregrino, de Armando Martins Janeira (homenagem a Wenceslau de Moares – peça de colecção), 1962 / Almanach de Caricaturas para 1874 (e 1875) de Rafael Bordalo Pinheiro, II vols / Portugaliae Monvmenta Cartographica, 1960, VI vols / Presença: folha de Arte e Critica, 1927-28, 54 numrs (rara)
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