quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
2010 - FELIZ ANO NOVO
"Para ti, para que não julgues que a dedico a outra" [Almada]
"A doçura mata.
A luz salta ás golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És a faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas"
Herberto Helder - "Dedicatória"
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
HOT CLUBE
O reportório destes tempos infaustos, que são os nossos, todos os dias observa anacronismo curioso. Gasta-se farto cabedal em lindismos culturais para a canalha, sempre de fazer corar de inveja os nobres empresários made in sr. Van Zeller ou vibrar por genuflexão essas verduras neoliberais abundantes no mercado cultural indígena, que parecemos estar num respeitável e civilizado país.
Não existe um único autarca, bem estabelecido no ramo, que não lance tão alucinantes prebendas ou festividades na sua paróquia – como o pífio Red Bull, circuitos majestosos para gente fabulosa, incensuráveis jogatinas de futebol, desfile de putedos intelectuais pelas charnecas literárias ou artísticas, ranchos musicais autorizados pelo povo anónimo, e por ai fora -, delapidando a fazenda e o erário público, evidentemente sempre a bem dos paroquianos. Nunca ninguém viu o fundo desse original saco financeiro, pelo que deve ser de peso e sem medida.
Entretanto o património arquitectónico jaz em ruína, as ancestrais associações culturais restam em incrédulo esquecimento, as artes esvaem-se sem honra nem afronta e espólios inteiros "fogem" para o estrangeiro. O absurdo silêncio sobre esses destroços públicos, que envergonha qualquer alma civilizada, imortaliza os “nossos” intelectuais e políticos.
O Hot Clube, lugar de culto na divulgação & promoção do jazz, solicita há anos apoio a quem de direito para ter uma casa funcional e de conforto. Nada se conseguiu. Como sempre, tudo ficou por fazer. E agora, quando a situação é trágica e o "crime" não aproveita ninguém (ou não será assim?), o que fazer para limpar a inépcia do município e o disparate disto tudo? Esperemos.
ALFARRABISTAS
Alfarrabistas
View more documents from Almocreve das Petas.
- texto publicado na revista Illustração Portuguesa, nº97, de 30 de Dezembro de 1907, pags. 862-864 [ler online na Hemeroteca Municipal]
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
DO PODER
"Nunca além do poder, se encarou o paiz; nunca o estado servio de ponto de apoio, do centro promotor do progresso individual e social. Tem-se empunhado o poder, como meio de acquisição de fins privados, de clientela: tem-se sido governo, mas não se tem governado.
A governação, tem sido convertida em uma espécie de Igreja militante, em que só são admittidos os iniciados nos mistérios da seita theocratica do poder, que fazendo-se a donatária exclusiva do paiz, se tem collocado, por esse exclusivismo mesmo, muito longe de poder governar, curando como lhe cumpria dos interesses públicos. Em semelhante modo de ser, taes interesses não podem ser attendidos; por que o interesse máximo de taes administrações, não pode ser outro, senão o interesse dessas parcialidades, de que fallamos; impor e sustentar uma situação anómala, em que as facções vigoram e dominam; em que o paiz enfraquece e se desmoralisa."
Francisco Joaquim de Almeida Figueiredo, in "Instrucção Publica e Governo", Lisboa, Impr. Commercial, 1854 [via off. de E. de Sousa, em bom papel e asseada edição]
PARA ELE
Para o André, que cada vez que via o mar deitava um curioso beiço caído. Já a mesma espiritualidade graciosa não tinha, o petiz, com o fascinante colorido e o balido dos srs. deputados, aquando dos trabalhos forçados via TV. Birrento! Manias obscenas, a do rapaz.
Boa festas Ó filhos do choro
MOVIMENTO ASSOCIATIVO DOS PROFESSORES
"A Universidade Lusófona realizou recentemente um seminário com o tema 'Memórias do associativismo e sindicalismo docentes'. Propuseram-me [Helena Pato], então, que aí deixasse o meu testemunho, as minhas recordações, acerca de como nasceram os sindicatos dos professores. Acedi, com a satisfação de poder, deste modo, legar memórias. Memórias que, ao que sei, nem nas comemorações dos 30 anos dos Sindicatos dos Professores nascidos em Abril de 74, nem agora, na passagem do 40º aniversário do Grupos de Estudo (que estiveram na base da sua criação), interessaram às direcções sindicais. Desdobrámos essa intervenção em três partes – 1, 2 e 3 – para que se torne mais fácil a sua leitura nestes CAMINHOS DA MEMÓRIA. A primeira parte pode ser lida aqui (...) a segunda aqui" e a terceira aqui.
de Helena Pato, via Caminhos da Memória.
FOTOS: da esquerda, capa da "História do movimento associativo dos professores do ensino secundário - 1891 a 1932", de [José António C.] Gomes Bento [julgo que na época era docente da E.P. António Nobre, Matosinhos], Livraria Júlio Brandão,Janeiro de 1973; foto da direita, Caderno "O Professor" nº1, GEPDES, Julho de 1971, in "Educação, Acto Político", de Agostinho dos Reis Monteiro, Edições O Professor, 1975.
via Almanaque Republicano
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
NOTÍCIAS DA FRENTE
"Porque bem desvalido é um livro. Mal viu a luz – ou ainda antes –, já o coro de inveja esta afiando os dentes, nunca atento às suas virtudes, apenas às faltas. E quantos perigos não espreitam o seu corpo ..." [Dâmaso Alonso]
O grande Palladio dizia:"Ao lavrador que for curioso, não lhe faltará que fazer do seu ofício, como recolher feno, estercar onde for necessário, pisar estarco e azer cordas; pode também no campo concertar valados e tapar cordas". Nós por cá, sustidos em tão requintada gesta, andamos à volta dos livros & papéis manchados. A humidade destes tempos exige trabalhos de casa. Deixemos a horta para o hortelão. A questão é a de sempre: as estantes devem ser abertas ou fechadas? Eis o nosso "ocioso" debate. Ao pé disso o landisco politiqueiro do sr. Sócrates é uma brincadeira de crianças. Avanti!
- o LXXXIX Catálogo de Livros Raros e Esgotados apresentado à venda pelo estimado livreiro Manuel Ferreira (Porto) já anda ou mora em altas estantes. O interessante conjunto de livros antigos & modernos, com valiosas peças bibliográficas, pode ser consultado AQUI. Refira-se que a considerada Livraria de Manuel Ferreira anda luxuosa de intenções e dilatada de fé bibliófila: chegou, em força, à net, via novo site, twitter e facebook. Oh! Nobilíssima visão.
- a esplêndida Livraria Luís Burnay forneceu aos estimados amadores de livros o seu 44º Boletim Bibliográfico. Temos 484 peças primorosas distribuídas por várias e apreciadas secções, de curiosidade bibliográfica, que um coleccionador anotará, decerto. Consultar, AQUI.
- para um bom apreciador de crónicas sobre livreiros & bibliófilos, informa-se que está (ainda) à venda na reputada Livraria Letra Livre (Lisboa), a edição fac-similada de "No Leilão Ameal. Crónicas amenas de uma livraria a menos", redigida por Gustavo Matos Sequeira. Esta interessante peça de colecção (a 1ª edição, 1924, teve apenas 500 exemplares, todos dedicados a bibliófilos), que retrata o que foi o invulgar e valioso Leilão da Livraria do Conde do Ameal, foi primitivamente publicada nas colunas do antigo jornal O Mundo. A edição traz caricaturas, com desenhos de Alberto de Souza, dos antigos bibliófilos que disputaram, arduamente, os cobiçados livros do Ameal. Ver, AQUI.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
O TEATRO GOVERNAMENTAL: PARA QUE SERVE?
O governo do sr. Sócrates anda frouxo, maçudo, encalhado. A desorientação governamental, bem visível no manguito de munições verbais postas a correr pelos panegiristas costumeiros, é formidável. As várias e incultas conspiratas & aranzéis provincianos, sem tacto nem decoro, que todos esses sujeitos liliputianos – cujo talento ninguém inveja – mantêm por todos os lados e em todas as cores, são desprezíveis como escola política e inúteis para um qualquer rendez-vous que se preze.
A agitação estéril de um Vieira da Silva, e a lamúria que a acompanha; o enxurro de intervenções críticas acerca do esmalte da nova oposição iniciada pelo sr. Francisco Assis (o novo picareta-falante); a vistoria alvoroçada às tropas socráticas dirigida pelo reaparecido sábio Almeida Santos ou os longos e trémulos registos sobre a ingovernabilidade, aludidos pelo sempre histrião Jorge Lacão, explicam o estado da coisa e a balbúrdia económica & política que virá a seguir. E o nosso infortúnio.
A ruidosa vaudeville teatral composta pelo grupo do sr. Sócrates não é uma mera provocação político-parlamentar ou uma natural estratégia de vitimização. A dramatização da coisa, pela raridade do descalabro financeiro a que a paróquia chegou, não permite concluir que essa piedosa estratégia vise a perpetuação futura do poder ou que, nesse requinte de intriga, se reclame a salvação da pátria, uma vez remida das suas moléstias. O expediente usado pelo grupo de interesses do sr. Sócrates significa apenas que nestes quatro anos de governação a "obra" ou a "encomenda" está cumprida e publicitada. Não há mais nada a fazer. Porque, simplesmente, se bateu no fundo mais depressa com que se contava e pouco há a recolher no futuro.
Que venha do sr. Sócrates o desejo de ser emparedado – quer via Parlamento, quer pelo sopro presidencial do dr. Cavaco ou mesmo pelo labor e honradez das secções do ex-Partido Socialista – não acrescenta nada ao desenrolar das acções futuras. O sr. Sócrates e os seus amigos (quase a lembrar os últimos dias do dr, Vale & Azevedo) estão em fuga maviosa. E de saída. Tudo recomeçará depois, sem recato e sem memória. Estranha maldição, a nossa!
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A CRISE DA REPÚBLICA E A DITADURA MILITAR - LUÍS BIGOTTE CHORÃO
15 de Dezembro, pelas 18,30 horas, no PALÁCIO DO MARQUÊS DE LAVRADIO (campo de Santa Clara, Lisboa) - apresentação do livro "A Crise da República e a Ditadura Militar" de Luís Bigotte Chorão.
"Luís Bigotte Chorão, jurista, investigador e professor universitário, bibliófilo apaixonado e, não podemos também esquecer, um dos nossos ledores atentos e assíduos, vai lançar o seu último trabalho.
Depois de ter publicado Subsídios para a História do Direito Comercial I - A Comercialística Portuguesa e o Ensino do Direito Comercial na Universidade de Coimbra, Lisboa, 1998 e de O Periodismo Jurídico Português do Século XIX, Lisboa, 2002, aventura-se agora numa obra que procura estudar o período aliciante, mas simultaneamente conflitual e aparentemente algo errático que se estabelece no final da 1ª República e que se prolonga durante a Ditadura Militar, onde depois começam a avançar as forças que vão controlar o País durante quase meio século.
Uma obra que resultou da apresentação da sua tese de doutoramento na Universidade de Coimbra e que a Editora Sextante se aventurou a publicar.
A apresentação vai ser feita em Lisboa, no próximo dia 15 de Dezembro, conforme se pode ver na imagem, com a apresentação feita por Luís Reis Torgal, José Adelino Maltez e Fernando Rosas que suscitarão certamente um interessante e vivo diálogo com os intervenientes"
via Almanaque Republicano.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
LEILÃO – BIBLIOTECA ALFONSO CASSUTO
Amanhã – dia 8 de Dezembro, pelas 21 horas na Amazónia Lisboa Hotel (ao Jardim das Amoreiras) – há lugar ao Leilão de parte da Biblioteca Alfonso Cassuto, lotes (livros e manuscritos) adquiridos entre o 1975-1990, da qual consta uma excelente Judaica e uma colecção de peças estimadas sobre a Inquisição. O Leilão está cargo do livreiro Pedro de Azevedo.
Alfonso Cassuto [1910-1990], natural de Hamburgo, emigrou para Portugal em 1933, “quando Hitler chegou ao poder na Alemanha” [in Catálogo ao Leilão, Nota Introdutória].
Os primórdios da livraria percorrem quatro gerações. Remonta a Jehuda de Mordechai Cassuto (1808-1893), avô de Alfonso, que (em parte) a adquiriu a um "judeu português morador em Hamburgo, no seculo XVII", e foi aumentada por seu filho, Isaac Cassuto (1848-1923). O seu filho Jehuda Leon Cassuto (1878-1953) e pai de Alfonso, continuou a incorporar livros e manuscritos nessa valiosa Livraria, e mais tarde solicitou a seu filho Alfonso (já um erudito nesses assuntos) a “apaixonada tarefa de se ocupar do seu estudo e organização” [ibidem]. Alfonso Cassuto publicou diversos artigos a esse propósito.
Em Março de 1975, a já famosa Colecção Cassuto, integra-se na Biblioteca Rosentahliana, sita na Universidade de Amsterdão.
Os (135) lotes que vão a Leilão, foram “adquiridos por Alfonso Cassuto entre 1975 e 1990 e podem ser considerados como sequencia e o complemanto natural da colecção, hoje na Biblioteca Rosenthaliana” [ibidem].
A não perder.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
O CÃO DE PARAR
REGRESSO DO CÃO DE PARAR
A 14 de Janeiro de 2007 não conseguimos "escapar" ao encantamento professo e à sensibilidade narrativa sobre a problemática do "cão de parar", que o nosso camarada e amigo A. Caseiro, no seu eloquente cantar d'amigo, nos modulava em arquitectada sabedoria e sublime paixão. Os seus testemunhos luminosos, a sua eloquente inspiração, a sensibilidade da sua investigação e a cadência documental que a acompanhava eram tais, que o "mérito sobre este antiquíssimo saber" não nos podia deixar indiferentes. E fizemos o "Cão de Parar" para que fosse espaço conversável. Para que, dessa imensa riqueza que será sempre o convívio entre "a natureza, o homem, os deuses e os animais", essa "demanda" fosse proveitosa. Parámos por um dia, tropeçamos de espanto, mas é sempre tempo do regresso. O "Cão de Parar" está de volta!
Ao tempo, foi este o nosso Edital:
"um cão perdigueiro de dous narizes, o melhor da matilha" [Camilo]
Sendo presente que existe um conjunto estimado de documentos escritos sobre o cão de parar, de altíssima memória, ou trabalhos autorizados sobre o elogio do cão - "de aves, de falcão, de busca, de mostra, de parar" - e outros, bem valiosos, que a poeira dos arquivos condena ao esquecimento; sabendo que há um grémio de ilustres e respeitados amantes das "antigas artes de cetraria, altanaria ou montaria" e do perdigueiro português, em particular; não se desconhecendo que o debate, entre diligentes espíritos lusitanos, levanta inspiradas perplexidades, generosas polémicas e amenas narrativas, quase sempre de quantiosa erudição; vêm estes apontamentos dar testemunho da vivacidade sobre o estudo e a grandeza do debate sobre o "cão de parar", louvando e prestando homenagem fraternal ao Mestre A. C., cuja familiaridade e sensibilidade a esta narrativa nos assombra e encanta. A ele, pois, este espaço de conversação e de elogio do cão.
Declaramos, pois, que O Cão de Parar está aberto a todos os seus amantes, recenseando informações e memórias (bio)bibliográficas, registando curiosidades, elogios, testemunhos, notícias e apontamentos, para que destas inscrições & impressões se desenvolva o gosto e o mérito sobre este antiquíssimo saber, que põe em convívio a natureza, o homem, os deuses e os animais. Que a demanda seja proveitosa.
E para que conste, aos leitores, se fez este edital. Vale!
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