segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Presidências 2006

"... Francisco Louçã. Tem a vantagem de ser totalmente sincero. O primeiro nessa virtude. O que melhor vê a gravidade da crise actual. O mais certeiro na análise. O mais radical no diagnostico ...

Mário Soares. Rosto afável. Familiar. A doce recordação de um mundo glorioso. Pergaminhos únicos na política nacional. A sua suave certeza de que se desculpa tudo, de que tudo se lhe permite ...

Manuel Alegre (...) Não consegui perceber por que se candidata. Nem para fazer o quê. Apesar das invocações patrióticas, parece nada ter a dar aos seus concidadãos a não ser a vitória da esquerda, com que sonha.

Cavaco Silva. (...) É o desajeitado que enternece. Mas está a repetir-se. E a utilizar desculpas para não se expor. Continua defensivo. Não desenvolve (...) Tem a enorme inocência de pensar que 'várias pessoas com a mesma informação chegam a um acordo', com o que ganhará um prémio se um dia explicar isso! (...) É, entre todos, aquele em que é maior a distância entre o que realmente pretende e o que revela. Sabe-se que quer, mas não e sabe o quê."

[António Barreto, Retratos da Semana, in Publico, 04/12/2005]
Ma-Schamba - II Aniversário

"Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam
" [Rui Knopfli]

O machado de JPT é o sol e a terra, do lado de lá. Todos os dias (ou noutes quando oscilam as pernas) temos o prazer de o ter entre nós. A grande rua da blogosfera é aquecida "aos poucos, um pedaço cada dia?", diria Mia Couto. E garantimos, nós. Fez o Ma-Schamba 2-aniversários-2. "Lá com certeza o dia amanheceu" [Craveirinha]. Daqui, "que a solidão é já uma pessoa", e porque o JPT não nos liberta a música, lhe mandamos, em jeito de sorriso & muitas felicitações, o seu

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Saúde e fraternidade

domingo, 4 de dezembro de 2005


Snu Abecassis

Do Reino da Dinamarca, do outro lado da terra, um sangue feminino que encanta. Que salva, por sinceridade. Que conserva a revolta da juventude. Que é livre. E, decerto, para quem o horror mesquinho, provinciano e reacionário de Portugal era embaraçante, obsceno. Quem, assim, encara com gosto o mundo, não lhe basta o beiral de janela. Não fica na boçalidade do lar. No silêncio da casa. A aventura de caminhar por inteiro, largando o corpo à paixão da vida e à mansidão do tempo, não tem desalento. Tem afectos mil. Saudade doce, mesmo que o fim da viagem fosse tremenda. O programa na TV sobre Snu Abecassis, uma senhora admirável, foi notabilíssimo. Uma carícia à vida.

"Um astro fugitivo te enleou
No que é dado à paixão cumprir-se em morte;
E algo espantosamente te levou
Cioso do que é frágil no mais forte.

Ó fúria de seres morto prematuro,
Sobre o abismo, extremamente vivo,
Jogando às cartas com o anjo escuro
A luz do teu relâmpago persuasivo.

Tinhas fome de quê? de quem? de Deus?
De amor seria, pois furacão de flores,
Passaste, atirando aos fariseus,
O escândalo gentil dos teus amores ...
"

[Natália Correia, in Recordando o Amante Francisco Sá-Carneiro Em Memoria da Minha Amiga Snu, Junho de 1984]

Francisco Sá-Carneiro [1934 - m. 4 Dezembro 1980]

"É a [essa] liberdade que os textos de Francisco Sá Carneiro fazem apelo, agora que as censuras, à nossa volta, vão deixando cair as máscaras" [José Augusto Seabra, in pref. Por uma Social-Democracia Portuguesa, de Francisco Sá Carneiro, D. Quixote, 1975]

"O Estado está ao serviço da pessoa, ou seja das liberdades; em relação não ao indivíduo descarnado e arvorado em valor absoluto, mas do ser que o homem a si próprio se vai dando no viver em relação com os outros (...) O poder político tem necessariamente de caminhar para uma intervenção (...) a fim de fazer com que as pessoas participem todas elas nos bens da comunidade (...). O acesso a todos esses bens é indispensável para que a liberdade não fique limitada a um mero conceito" [F.S.C., ibidem]

"Não vejo como uma via neo-capitalista ou neo-liberal possa dar solução às graves contradições e desigualdades com que se abate a sociedade portuguesa" [F.S.C., ibidem]

"O PPD não é um partido liberal, mas reconhece as conquistas políticas da revolução liberal e, nomeadamente, das revoluções portuguesas de 1820 e 1910. É um defensor intransigente das liberdades individuais, mas quer aprofundá-las e garantir que tenham igual conteúdo para todos através de um esforço constante de construção de um socialismo humanista e democrático" [F.S.C., ibidem]

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005


Sobre Portugal: o espírito e o lugar - Mafra

"Deo Optimo Máximo
Divoque Antonio Lusitano
Templum hoc dicatum
Joannes Lusitanorum Rex
Voti compôs ob susceptos liberos,
Primumque fundavit lapidem ...
"

[inscrição na pedra inicial da capela-mor da Basílica de Mafra, citado por Manuel Gandra, in Da Face Oculta do Rosto da Europa, 1997]

"... mas nenhum Mosteiro de Religiosos se acha na Cristandade que esteja edificado sete léguas fora ou por cima da cidade marítima, chamada Oriental e Ocidental, fundada sobre tantas águas subterrâneas e tão adornado como a Esposa para o Esposo, senão esta nova e única Maravilha do Mundo [...] estabelecida em Portugal, edificada em Cristo, sobreedificada em Mafra e sobre o fundamento que lhe pôs S. Paulo, pelo real e invicto braço do Sábio e Augusto Apolo Lusitano e pela mãos dos portugueses para a Corte do Quinto Império de Cristo ..." [Anselmo Caetano M de A. G. e Castelo Branco, idem, ibidem]

"... o Monumento de Mafra é uma réplica de Heliopolis, a Cidade do Sol. Com efeito, a planta do Monumento de Mafra configura, com base no respectivo módulo regulador ou cânone, o quadrado mágico do Sol. O referido quadrado comporta os primeiros 36 números dispostos segundo uma grelha de 6x6, de molde que o valor linear, na horizontal, na vertical ou na diagonal, seja 111 e o valor global 666, também correspondente ao número total de compartimentos ou divisões do Real Edifício ..."

[Manuel Gandra, in A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, 2003 (apresenta uma Miscelânea curiosa, a saber: Catálogos da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra / Subsídios para o catalogo da Tratadística alquímica antiga (até 1800), presente no acervo da BPNMafra)

"É no Palácio Espiritual
rodeado pela águas
que têm inicio as provas
" [Natália Correia]

Sobre Portugal

"Cumpriu-se o mar e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!" [F.P.]

"Portugal é nome inteiro,
Nome de macho se queres,
os outros Reinos mulheres,
Como ferro sem azeiro ...
" [Bandarra]

"... A Pátria somos todos, os que vivemos e, sobretudo, a cadeia invisível dos antepassados, essa enorme força da espécie que o Anjo marcou na sua génese com uma língua e um determinado sestro histórico, se não transcendente" [António Telmo, in História Secreta de Portugal, 1977]

"A Hora, a derradeira hora do tempo, aquela onde não há literalmente nem rei nem lei, nem paz nem guerra, nem se sabe o que é mal nem o que é bem, não está, como finisterra, longe. A manhã levou já o seu zénite, e a tarde há-de trazer o seu nadir. Tudo o que nos resta é esperar pelo nevoeiro, esse tempo emblemático e alheio onde se acaba o tempo e se diluem as coisas, como síntese adequada que é de tudo o que existe. Ocultámo-nos no sol e reveler-nos-emos na sombra." [António Cândido Franco, in Panfleto contra Portugal, 1989]

"Portugal a cabeça, cuja fronte patenteia três sentidos, o que respira, o que concede a palavra e o da visão, é o Consciente de Europa (...)

Representando o principio masculino, a força centrifuga, o movimento de translação é o génio do Amor, da Aventura e da Saudade, o protector dos Argonautas, o Siva da Fé, aquele que debruçado na sua Ponte-Cais olhando fixo o cristalino do Mar avista ali, diante de si, num só ponto, os quatro pontos cardeais, a par da vitória daqueles Argonautas contra todos os Titãs e contra o próprio mestre da Morte e dos Infernos, e por fim, como prémio, o mundo-terra a seus pés" [Vasco da Gama Rodrigues, in Os Atlantes, 1961]

"E nunca em Portugal o rasto da flor da graça
se perderá e o seu perfume se esquecerá
" [Dalila Pereira da Costa]

Portugal

"Eis aqui quase cume da cabeça
Da Europa toda o reino lusitano
Onde a terra se acaba e o mar começa
" [Camões]

"A Europa jaz posta nos cotovelos;
De Oriente a Ocidente jaz fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O Cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal" [F.Pessoa]

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

[Fernando Pessoa]

"Ah, estou liberto!
Ah, quebrei todas
as algemas do pensamento.
Eu, o claustro e a cave voluntários de mim mesmo,
Eu, o próprio abismo que sonhei,
Eu que vi em tudo caminhos e atalhos de sombra
E a sombra e os caminhos e os atalhos estavam em mim!
Ah, estou liberto ...
Mestre Caeiro, voltei à tua casa do monte
E vi a verdade que vias, mas com meus olhos,
Verdadeiramente com meus olhos
"

[F.P. ou Álvaro de Campos, citado por Yvette Centeno, in Hermetismo e Utopia]

Fernando António Nogueira Pessoa

"No último e excelso sentido, a Loja é o arcano ou arca da Verdade" [F.P.]

"Temos espadas porque somos cavaleiros, veste de rito porque somos sacerdotes, capuzes de velar porque somos ocultos" [F.P.]

"Mas o significado real da iniciação é que este mundo visível em que vivemos é um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras palavras, que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar - um dissipar gradual e parcial - dessa ilusão" [F.P., in FP e a Filosofia Hermética, org. de Yvette Centeno]

"... Mas por ora estou dormindo,
Porque é sono o não saber.
Olho o Castelo de longe,
Mas não olho o meu querer.
Da sombra do Monte Abiegno
Quem me virá desprender?
" [F.P., in Na Sombra do Monte Abiegno]

"... Sou os arredores de uma villa que não há, o comentário prolixo a um livro que não se escreveu. Não sou ninguém, ninguém. Não sei sentir, não sei pensar, não sei querer. Sou uma figura de romance por escrever, passando aérea, e desfeita sem ter sido, entre os sonhos de quem me não soube completar" [F.P.]

Fernando Pessoa [1888 - m. 30 Novembro, 20.30 h, 1935]

"I know not what tomorrow will bring" [F. P.]

"Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até Corpo, essa descida
Até à Noite que nos a Alma o obstrui ..."

[F.P. - No Túmulo de Christian Rosencreutz]

"A verdade que será o futuro, desprezando os nossos raciocínios, virá tal qual tiver que vir, guiado por leis naturaes immutaveis, e contra as quaes nada pode a pseudo-libertação do nosso servo arbítrio, esse e o seu segredo, guarda-os ainda o espírito da Nação na sua alma recôndita, e, se a interrogamos, responde-nos, como o santo, quando o interrogaram: Secretum meum mihi - o meu segredo é commigo" [F. P.]

"... O teu destino é demasiado alto para que eu o diga. Tens de o descobrir tu. Mas tens de te esforçar ... através da passagem de muitas vidas até que reine na tua alma a Divina Presença. Mas o homem é débil e são também débeis os Deuses. Sobre eles, o Fado - o Deus sem nome - vela do seu trono (inalcançável?). O meu nome está errado e o teu também. Nada é o que parece ser. More. Henry More. Frat RC [Fraternitatis Rosae Crucis]. O que tem de ser tem de ser"

[F.P. - carta "recebida" de Henry More, por meio de escrita automática. Trad. por Angel Crespo]

"Para todos, quantos queiram mais da vida que o que ella é em si mesma, a regra é aquella que, em um dos seus modos, os trez graus maçónicos symbolizam. Entramos apprendizes pelo soffrimento, passamos companheiros pelo propósito, somos levantados Mestres pelo sacrifício. De outro modo se não chega, na arte como na vida, à cadeira, que é o Throno, de Salomão" [F.F.]

terça-feira, 29 de novembro de 2005


Álvaro Cunhal, uma Biografia Política, Vol. III - O Prisioneiro (1949-1960)

No Auditório do Estabelecimento Prisional de Lisboa decorre [a esta hora] o lançamento do terceiro volume da biografia não-oficial de Álvaro Cunhal, da autoria de José Pacheco Pereira, intitulado: Álvaro Cunhal, uma Biografia Política. O Prisioneiro (1949-1960).

"... começa com Álvaro Cunhal a sair, algemado, da casa do Luso onde foi preso em 1949 e termina na sua primeira noite de liberdade, depois de ter fugido da cadeia do Forte de Peniche em Janeiro de 1960. Foi uma dura e longa prisão que se vai saldar em 11 anos de detenção. No seu conjunto, Cunhal vai cumprir quase três vezes a pena a que foi condenado e só não esteve mais tempo preso porque fugiu".

LEILÃO DE IMPORTANTE BIBLIOTECA PARTICULAR


Hoje 29 Novembro - Leilão de Importante Biblioteca Particular - 21 horas

Organizado pela Leiloeira Leiria & Nascimento realiza-se esta noite na Rua de Santo António à Estrela, 31 B, a segunda (e última) parte de um Leilão de uma interessante Biblioteca, que pode ser consultada on line.

Algumas referências: Oceanos, 1989-2002, nº1-49 / Nobiliário de D. Pedro Conde de Barcelos, 1974 / Portugalie Monumenta Cartographica, 1987 / I Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo, Lisboa, 1938 / Documentação para a Historia das Missões do Padroado Português no Oriente, de António da Silva Rego, 1947-1988, XVIII vols / Os Judeus Portugueses em Amsterdam, de J. Mendes dos Remédios, 1911 / A Invasão dos Judeus, de Mário Saa [reimp., 1998] / O Mastigoforo. Periódico Mensal, pelo autor Férreo Anti-Maçonico [trata-se de Frei Fortunato de S. Boaventura], 1824-1829, nº1 ao nº12 / Elucidário Madeirense (2ª ed.), do Pe. Fernando Augusto da Silva & Carlos Azevedo de Meneses, 1940-1946, III vols / História Geral do Brasil, por Francisco Adolfo de Varnhagen, São Paulo, 1962, VI vols / Etnografia Portuguesa de José Leite Vasconcelos, 1980-88, X vols / Revista Águia [colecção completa - 1ª à 5ª série - e rara desta importante revista literária, pertença da Renascença Portuguesa], 1910-1932 / As Cidades e Villas da Monarchia Portugueza que tem Brazão D?Armas, de I. de Vilhena Barbosa, 1860-1862, III vols / Oeuvres Completes de Buffon, 1855, XII vols / De Benguela à Contra-Costa, por H. Capello & R. Ivens, 1886, II vols / De Benguela às Terras de Iácca, por H. Capello & R. Ivens, 1881, II vols / O Cavaleiro Andante, publicação juvenil de BD (rara), sob direcção de Adolfo Simões Muller, 1952-1962, 556 nºs em XIX vols / Novelas Exemplares..., de Cervantes, 1783, II vols / Los Seis Libros de Galatga ..., de M. Cervantes, 1754, II vols / Vida do príncipe D. Theodosio, por João Baptista Domingues, 1647 / Memoires Historiques por Servir à L'Histoire des Inquisitions, L. Dupin, 1716 / Escuela de A Cavallo ..., por D. Salvador Rodriguez Jordan, 1751 / Costume of Portugal, de Henry L'Évéque, s.d. / Noções Históricas, Económicas, e Administrativas sobre a Produção e Manufactura das Sedas em Portugal, de José Acurccio das Neves, 1827 / [Miscelânea] Memoria sobre os Meios de Melhorar a Industria Portuguesa [seguem-se mais 3 obras], de José Acurccio das Neves, 1820 (1823) / Inês de Castro, por António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, 1933 / Hortulus Anime [livro de orações], 1518 (?) / Sententiae et Exempla, de André Eborense (ou Rodrigues), 1590 / The History of Revolutions of Portugal, por Sir Robert Southwell, 1740 / Estado Novo [conjunto de cartas manuscritas, documentos vários de Salazar, Américo Tomás, Marcello Caetano, bem como eventos vários ligados ao Estado Novo]

domingo, 27 de novembro de 2005


Jimi Hendrix [n. 27 Novembro 1942-1960]

Angel came down from heaven yesterday
She stayed with me just long to rescue me
And she told me a story yesterday,
About the love between the moon and the deep blue sea
And when it was time for her to go
She spread her wings high over me
She said 'I shall return tomorrow'

And I said 'fly on my sweet angel,
Fly on through the sky,
Fly on my sweet angel,
Tomorrow I'll look for you by my side'

And sure enough this morning comes to me
Silver wings silhouetted against the glow of the child's sunrise
And as the bluebirds and the sparrows envy me
She says you're nothing but a boy but today you shall fly,
She kissed me once,
With a feeling so good she made me cry,
And now we can fly together

And I said 'fly on my sweet angel,
Fly on through the sky,
Fly on my sweet angel,
Together we shall always be in love'


[Jimi Hendrix, Angel, 1971 Powered by Castpost]
[Alguma curiosa] Bibliografia citada na obra "Álvaro de Castro - Pela República, Liberdade e Democracia", de Aires Antunes Diniz, 2005

AAVV - A Memória do Dr. Álvaro de Castro, Tipografia Rangel, Bastorá, Índia Portuguesa, 1928 / AAVV - In Memoriam Álvaro de Castro, Lisboa, 1947 / Anais da Revolução Nacional, Editores Eurico Lima de Magalhães e Augusto Dias, 1948 / Álvaro de Castro - Lendas in A Tradição, Serpa, Abril de 1899, Serie I, Anno I, nº 4, págs. 54-55 / Álvaro de Castro - Simões de Almeida - Linhas gerais para um estudo do artista e da sua obra, Conferência realisada em sessão de 14 de Dezembro de 1909 / Álvaro de Castro - Tentativas de Reforma, Boletim do Instituto de Criminologia, Tomo I, II Ano, II Semestre de 1923, vol. III, págs. 109-123 / Álvaro de Castro - A Acção Financeira do Govêrno de Álvaro de Castro, Conferência realizada no Ateneu Comercial do Porto em 25 de Outubro de 1924, "Lvmen", Empresa Internacional Editora, 1925 / Sousa Costa - Heróis Desconhecidos (Lisboa Revolucionária), Livraria Editora Guimarães, 1935 / Aires Antunes Diniz - Depois de Monsanto, Praça Velha, Revista Cultural, Junho de 2002, nº11, págs. 83-99 / Aires Antunes Diniz - O Pensamento Financeiro Português e a Universidade de Coimbra, V Encontro de Economistas de Língua Portuguesa, 7 de Novembro de 2003, Universidade de Pernambuco, Brasil / Caetano Gonçalves - Álvaro de Castro - Inquérito a uma vida útil, Apontamentos da carteira de um antigo Deputado da Nação, Empresa Nacional de Publicidade, 1933 / Caetano Gonçalves - Grandes Nomes, Pequenos Factos (Cinquenta anos de Vida Pública, (Memórias), Empresa Nacional de Publicidade, s/data / José Adelino Maltez - Tradição e Revolução. Uma biografia do Portugal Político do século XIX ao XXI, Volume I (1820-1910), Tribuna, 2004 / Rodrigo Rodrigues - Álvaro de Castro - Definição da Sua Personalidade Política dentro da vida da República Portuguesa (especialmente colonial) de 1923 a 1925, Minerva, 1949 / Fernando Emídio da Silva - Ciência das Finanças e Direito Fiscal, Notas recolhidas por José Duarte de Aragão Teixeira e Filipe Braz Rodrigues, alunos da Faculdade de Direito de Lisboa de harmonia com as aulas dadas ao curso do 3º ano jurídico de 1933-1934 / Neno Vasco - Da Porta da Europa. Factos e Ideias: A Questão Religiosa. A Questão Política. A Questão Económica. 1911-1912. Biblioteca Libertas, 1913 / Amadeu de Vasconcelos - A Mentalidade dos livres pensadores portuguêses, in Cartas a um livre pensador, Livraria Portuense, 1912 / Anselmo Vieira - Palavras Necessárias. Apresentada como Uma Notavel Entrevista, subtitulada A obra do Dr. Oliveira Salazar e os seus antecessores na Ditadura. Como se desfaz uma lenda virtuosa. Moralidade ou Cambão? Competência ou Subserviência?, in A Pátria, Rio de Janeiro, s.d. [1928] / Alberto Xavier - Memórias da Vida Pública, Livraria Férin, 1949

Álvaro de Castro - Pela República, Liberdade e Democracia

Aires Antunes Diniz, economista e investigador na área da educação, natural da Guarda, publicou na excelente "Colecção Gentes da Guarda" [ed. C.M.Guarda] um admirável trabalho biográfico e ensaístico sobre o (muito esquecido) advogado (na Guarda), militar, deputado (1890), deputado constituinte (1919-21-22), lente da Escola Militar, ministro da Justiça em 1913 e 1914 (está "ligado a iniciativas como a Ordem dos Advogados, Home-Stead e o Habeas-Corpus"), ministro das Finanças em 1914 e 1915 (e 1923-24), administrador colonial em Moçambique em 1915, director da Sociedade de Geografia de Lisboa (1920), ministro das Colónias (1920 e em 1923), ministro da Guerra (1920 e 1924) - Álvaro Xavier de Castro [n. 9 de Novembro de 1878-m. 29 de Junho de 1928].

Álvaro de Castro era filho de José de Castro (importante membro da Maçonaria, da Loja Federação, em Coimbra, 1869). Fez parte José de Castro do partido progressista (1878), foi redactor do semanário Districto da Guarda, tendo abandonado o partido progressista e filiando-se no partido republicano (1881). Funda na Guarda o jornal Povo Portuguez (1882) e defende nesse mesmo ano os presos políticos da Madeira [publica um curioso opúsculo "As victimas d'ElRei!, Historia dos processos movidos contra os perseguidos políticos da ilha da Madeira"]. Por seu turno, seu filho Álvaro de Castro, escreve em várias publicações: no jornal de caricaturas A Marselhesa (1897), na revista de etnografia Tradição (1899), na revista O Passatempo (1900), na Revista Nova (1902), na Folia (1902), na revista coimbrã Arte & Vida (1904), Mocidade (1904), no jornal A Escola Nova (1911), na Límia (1911) e na Estrela da Beira (1926).

O copioso ensaio sobre Álvaro de Castro, começa com referências à juventude académica (greve de 1907) de Álvaro de Castro; observa a influência da "primeira revolução republicana de 1891" na sua formação cívica; refere a sua "sólida formação artística" acompanhando os seus textos presentes em algumas revistas de arte coimbrã e nacionais; analisa o seu desempenho na primeira fase da implantação da República e no "controlo das primeiras tentativas contra revolucionárias" e ainda como "administrador e estratega colonial na segunda metade da década de 10"; faz o historial do papel decisivo de Álvaro de Castro, "tanto durante como após o sidonismo na contenção das ameaças à democracia"; salienta o seu "papel político como chefe de governo ou das finanças e em particular na administração financeira do país" em 1924 (saneamento das finanças públicas após a proclamação da República), realçando o "economista que tenta fazer funcionar racionalmente os sectores da economia prejudicados pela especulação financeira"; comenta o papel de Álvaro de Castro na "defesa do regimen na luta contra o Estado Novo até à sua morte em Coimbra, após um curto mas doloroso exílio no estrangeiro". Eis, pois, uma obra de consulta obrigatória para a análise do Regime Republicano e do Estado Novo. As referências bibliográficas abundantes, a apresentação de vastos documentos sobre o biografado, a pesquisa atenta feita, tornam este livro uma fonte importante de consulta. A não perder.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

O encanto do vynil é uma lembrança cruel. Uma maldição ritualista. O coração fica sempre suspenso pelo sobressalto. Pela dúvida daquele trabalho todo. O papel a abrir, o disco a sair, a limpeza costumeira, o olhar clínico, cúmplice, o tempo de espera. O papel afagado nunca é o mesmo, nem as nossas mãos. Nem o velho Technics. Porém resiste à nossa eternidade. Ao prazer do tempo. Ao último adeus. À memória dos anos ... 'Tas aí Quim!?

Os Talking Heads, ou Eno & David Byrne, eram uma aventura. Poemas de tédio e pânico "surrealista fascinado pelas miudezas da vida marginal" [M.E.C. dixit]. Uma verdadeira "esquizofrenia" de sons e palavras. Nada conveniente a sexagenários puritanos. Ou a público menos desregrado. Assim, para carpir saudades inteligentes & em atracção de marcha em frente, a regeneração da boa aurora dos anos 80, para ouvidores dificultosos, ali do lado esquerdo da pedra & sem o patrocínio do M.E. de todos nós

Talking Heads - Girlfriend Is Better

"I, i, i, wake up and wonder
What was the place, what was the name?
We wanna wait, but here we go again ...
...
What do you know? take you away
We're being taken for a ride again
I got a girlfriend that's better than that ..." [letra, aqui]

... e que o meio-da-semana tenha caridade por vós. Bom dia!

Ensino: o desastre final

O espectáculo da degradação do ensino em Portugal (e no mundo) torna-se uma felicidade para pedagogos, uma glória aparente para funcionários da politica em trânsito ministeriável, ao mesmo tempo que um quebranto ternurento e admirável trespassa jornalistas & seus irmãos colunistas. A sua ruína, despertando discursos insensatos e quase sempre pouco substantivos, um fenómeno apetecido. Dedicado. Correio de saudade da vida (Vieira dixit). A ilusória disponibilidade de todos esses "actores" em paixão "educativa" é uma maldade pendente, respeitável é certo, mas de pouca sustentação. Por isso, não espanta que os dizeres relativos à Escola e à sua "gramática" tenham, pela tranquilidade da memória e pelo prazer da sua saudade, estado presentes no programa Prós & Contras de ontem, unicamente, pelo rosto e voz da nossa querida amiga Amélia Pais e na suavidade do discurso de António Nóvoa. Porque, de facto, a prédica noutros, é de uma banalização e de uma fadiga intelectual inconfessável. Abusada. De excessos impiedosos.

O discurso sobre o ensino (aqui tomado nos seus aspectos cognitivos) - que não sobre educação (não-cognitivo), se seguirmos os dizeres presentes num notável texto de Fernando Gil na Raiz & Utopia, 9/10 - sendo de difícil apuro e de extrema complexidade no mundo actual, não deixa porém de traduzir-se em saudosas recordações que mil programas, espargidos via TV, dificilmente podem fazer esquecer. Sabemos, bem, que a instituição Escola, lugar dos saberes ou "horta" de aprendizagem para a eficácia e reorganização do sistema pós-industrial - agora bem coberta que está pela bênção da gestão empresarial em tempos de globalização - é um marcante espaço comunicacional de socialização, um território de iniciações conflituosas, um locus de transmissão de valores. Não temos dúvidas.

Mas não é esse o nosso mister, por ora. Apenas queremos registar que quando se fala de ensino (ou educação) as virtudes ou martírios dos currículos, da didáctica ou das metodologias específicas são meras demandas sob custódia do grémio do "eduquês", que habita na paz do ministério da tutela. Nunca estão presentes. Jamais o espectro de tal debate excita as magnas reuniões de esclarecimento fornecidas aos ignaros indígenas lusos, a quem, obviamente estão vedadas. Por isso não espanta, que os comícios despudorados e anedóticos, quase sempre arrogantemente assumidos pela actual Ministra da Educação e pelo secretário Valter Lemos, com a cumplicidade inimaginável dos militantes socialistas (que, presume-se, ainda existam), tenham como única e proverbial missão afrontar os docentes do ensino básico e secundário, culpando-os, hipocritamente, do desaire do sistema educativo.

Apadrinhando certos putativos pais, ditos modernos (os que há muito deixaram de educar quem quer que seja e para quem os filhos são um fardo lastimoso); afagando o costado de alguns prodigiosos doutores que habitam nas cátedras universitárias (note-se: aqueles que leccionam uma vez por semana, três meses por ano, sem justificar procedimentos ou metodologias educativas, sem avaliação, cada vez mais ignorantes cientificamente ou folgados culturalmente e sempre lastimosamente incompetentes pedagogicamente); sob o aplauso dos habitués comentadores de jornais (curiosamente, hoje, piedosamente mudos, enquanto o rigor, o esforço e o trabalho sério na sala de aula são devassados) e sob o regozijo guloso da populaça (para quem a frivolidade de uma disputa conduz ao êxtase de cidadania); o Ministério de Educação dá provas de uma incompreensão total sobre o sistema educativo. E de como o pode e deve corrigir. Não é estranho a essa incapacidade, o peso e os laços políticos, que os "mestres" formados no "eduquês" - em tempos de 1982, em Boston - e que configuraram e representam o actual sistema de ensino, têm nos principais centros de decisão nesta área. A isso voltaremos um dia, se a paciência o permitir e a situação o reclamar.

"O Ministério da Educação"

"O Ministério da Educação é um lugar sufocante onde desabam profissionais que preferem gabinetes e planificações pouco edificantes à tarefa de ensinar em salas de aula. (...)

No seu topo há uma entidade chamada ministro. Toda essa máquina parece destilar demagógico veneno educativo, servindo-se duma abstracção violenta a que chamam 'pais'. Têm como inimigo principal a forma do trabalho diário dos professores nas Escolas.
Há uma engrenagem vassala destas gentes em cada lugar de ensino: os Conselhos Directivos. A qual se manifesta em sádicas actividades redutoras: excessos de reuniões, tarefas grotescas, sobrecarga de actividades inúteis. Conjugam-se para destruir qualquer saber mais feliz. Acossado por todos os lados, quem pode levar a mal aos professores que resistam e até que desistam?
Para ser professor, um professor começa por inteiramente precisar de um horário semanal pouco pesado (no ensino dito superior já se compreendeu isso muito bem). De outro modo, não pode aguentar uma actividade de fala e de vigilância e de partilha intensíssima, hora a hora, com dezenas e dezenas de alunos.

Além disso, um professor precisa de poder faltar, dentro dos limites bem precisos: calculando determinados momentos de repouso, pode sempre voltar com a necessária boa-disposição para acompanhar o crescimento sadiamente conflituoso de tantos adolescentes e jovens. É pura desfaçatez dizer o contrário.
Porém, tudo se passa assim ao contrário. Os horários pretendem aumenta-los em vez de reduzi-los. A necessidade de faltar num momento de maior tensão ou cansaço é totalmente sabotada. O trabalho de um professor não pode ser encarado como uma rotina sujeita a obrigatoriedades burocratas. É um trabalho em grande parte anímico, e suponho que até os engenheiros deveriam saber disso.

A luta dos professores cada vez mais tem de ser contra os pavorosos fiscais que enchem os gabinetes do ministério com planos disformes. E contra os conselhos directivos que se queiram tornar os cães-de-guarda dessa infâmia.

Duas faltas mensais sem desconto nas férias nem no ordenado era algo que a fase final do sistema educativo fascista já compreendia perfeitamente. Parece agora, visto à distância, ter havido menos gente repugnante, apesar de tudo, nesse tempo de ministeriais estrangulamentos ideológicos do que hoje em dia, em que todos fingem liberalizações educativas sem conseguirem deixar de representar a mera figura de Pilatos.

Horas e horas sabotadoras são passadas em reuniões, onde o desgaste se transforma, a princípio, em conflito, depois em cansaço, por fim em desprezo sem saída.
Com professores esgotados, mal pagos, explorados por decretos e portarias e regulamentos despromovedores, a sua melhor vontade em acompanhar seres no momento crucial do seu desenvolvimento e da sua captação cultural não se pode plenamente manifestar. Querem ter um povo educado? Um país desenvolvido? Uma colectividade capaz da múltipla imaginação do seu próprio futuro? É claro que não. Estes fulanos que nos governam querem é o vazio. E que depois o vazio vote neles."

[Joaquim Manuel Magalhães, "No Ensino Secundário", in Independente-Vida3, 26/05/1989]

Causa Nossa - II Aniversário

Ali achareis algum sustento, mesmo que o pisar da terra seja outro. As impressões da actualidade rasgam, quase sempre, as sombras negras da blogosfera. O outro lado, como se depreende. O ânimo nunca esmorece, por ali. E as palavras, também não. Mesmo que por vezes sejam singularmente desacertadas. Ou injustas, possivelmente. A Causa Nossa é um château mui respeitável. De grande estimação. Faz II anos de estabelecimento & apresenta-se cada vez mais prendada. A todos, parabéns. E, daqui, dos saudosos campos do Mondego, com mar ao fundo, se envia em tempo de estação invernosa, que o Cavaquismo é já a seguir, em jeito de abraço

Eugénio de Andrade (ele mesmo) em O Lugar da Casa

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Saúde e fraternidade

quarta-feira, 16 de novembro de 2005


Poverty of Student Life, University of Strasbourg [Novembro 1966]

"Podemos afirmar, sem grande risco de erro, que o estudante em França é - depois do polícia e do padre - o ser mais universalmente desprezado. (...)

O estudante é um ser partilhado entre um estatuto presente e um estatuto futuro claramente distintos, e cuja fronteira vai ser mecanicamente transposta. A sua consciência esquizofrénica permite-lhe isolar-se numa «sociedade de iniciação», desconhecendo o seu futuro e encantando-se com a unidade mística que lhe oferece um presente ao abrigo da história (...)

Escravo estóico, o estudante julga-se tanto mais livre quanto o tolhem todas as grilhetas da autoridade. Tal como a sua nova família, a Universidade, ele supõe-se o mais «autónomo» dos seres sociais, quando, pelo contrário, depende directa e conjuntamente dos dois mais poderosos sistemas de autoridade social: a família e o Estado. O estudante é deles o filho bem comportado e reconhecido (...)

Por virtude da sua situação económica de extrema pobreza, o estudante é condenado a um certo modo de sobrevivência bem pouco invejável. Mas, sempre satisfeito por ser aquilo que é, eleva a sua miséria trivial à categoria de um «estilo de vida»: o miserabilismo e a boémia. (...)

Mas a miséria real da vida quotidiana estudantil encontra a sua compensação imediata e fantástica naquilo que é o seu ópio principal: a mercadoria cultural. No espectáculo cultural, o estudante encontra naturalmente o seu lugar de discípulo respeitador. Próximo do lugar de produção sem nunca a ele aceder - o Santuário mantém-se-lhe inacessível - o estudante descobre a «cultura moderna» na sua qualidade de espectador admirativo. Numa época em que a arte morreu, ele continua a ser o principal fiel dos teatros e dos cine-clubes, e o mais ávido consumidor do seu congelado cadáver, agora difundido, embrulhado em celofane, nos supermercados feitos para as donas-de-casa de abundância (...)"

[in Da miséria no meio estudantil & de alguns meios para a prevenir, edição portuguesa da Poverty of Student Life, escrito por membros da Internacional Situacionista, estudantes de Estrasburgo em 1966, publicado pela Fenda, Coimbra, 1983]

Locais: Da miséria no meio estudantil & de alguns meios para a prevenir [texto] / [Pamphlet] On the Poverty of Student Life: considered in its economic, political, psychological, sexual, and particularly intellectual aspects, and a modest proposal for its remedy / On the poverty of student life (...) [by Mustapha Khayati] / from Guy Debord To Mustapha Khayati Friday [9 September 1966] / idem [29 Setembro 1966] / idem [13 Outubro 1966] / idem [19 Outubro 1966]