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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MOLÉSTIA COLOSSAL


"Coveiro – Encarregado de esconder os segredos do boticário e as asneiras do médico" [in Dicionário João Fernandes, 1878]

A colecção de memórias económico-políticas destes últimos 30 anos (trinta e seis, mais exatamente) é colossal. O encontradiço apanha, na sua infecta relaxação, desde logo a figura do pregoeiro dr. Cavaco (o custo psicológico da crise), apanhando, nesta bula do mainstream economics, alguns mitos vivos da paróquia (que curiosamente não nos largam a braguilha televisiva) e que o repertório cavaquista construiu na sua irremissível tragédia – o inenarrável dr. Catroga; o fabulista & mui bem reformado (post tot tantosque labores) Silva Lopes; depois (ou ex-ante) o implacável homúnculo da vera casta económica, o dr. Bessa e as suas tábuas macroeconómicas; o galante homo ludens da estética económica, Miguel Beleza, um purista clássico na capacidade de gozo; os sempre sábios, o utilitário mercantil Braga de Macedo e o merceeiro (também investido de pitonisa) Medina Carreira.

A não esquecer, evidentemente, a presença desse durável alumbrado, Mira Amaral, posto que decorado, em evidência, pela sua discursata apofântica sobre a nova catalaxia, enquanto que, e curiosamente, o aprendiz (no sentido literal) leitor do The Wealth of Nations, o meante Pina Moura, depois de abolido os vínculos, surge cada vez mais insuspeito, mas por vezes pouco inventivo nas divinas parábolas sobre a ortodoxia do mercado. Já o mesmo não é de dizer, quando se escancara o asilo económico, do ex-vencido da economia, o autorizado "burger" Luís Campos e Cunha, agora misteriosamente arredado do respeitável auditório, ao que julgamos por modéstia ou puro amadorismo. Respirai, pois, a fragrância destes cultivadores da poção económica & financeira, o exército de reserva do dr. Cavaco, ad majorem gloriam.

A conversa em família do presidente Cavaco, ontem na TVI, vem confirmar a sua atávica irresponsabilidade política e desvela (à margem) a sua imutável estratégica de desenvolvimento económico (a doxa cavaquista no seu melhor), aquela que nos colocou na penúria e nos faz cair na barbárie. Cavaco, que curiosamente apareceu travestido de professor, confeccionando a matéria da aula sobre o exaurimento financeiro, lamentou que os seus apelos (?) sobre a "situação explosiva" financeira em curso não fossem "ouvidos", esquecendo (com dolo) que sempre foi um lídimo apoiante da governação de Sócrates & Teixeira dos Santos (uns reformadores da pátria, no seu preclaro entendimento).

A barrela que agora pretende fazer é, sem sombra de dúvida, tardia, pouco habilidosa, inoperante. É tarde! Demasiado tarde! Cavaco - que nunca foi um estadista sério e consistente, um político completo, antes um simples técnico (e garantidamente medíocre) - não tem autoridade política (o monstro financeiro tem a sua paternidade) para procriar lamentações. E se nos lembrarmos que, ainda há poucos anos, nos requintou com a exaltação de se seguir o "excelente" trabalho da economia madeirense, então a tragédia está consumada. Não é por acaso que Jardim é deixado em sossego paroquial. O sr. Silva entende que pode dormir, para todo o sempre, indiferente às dívidas, tropelias e abusos daquele indivíduo.

Depois, em transe dominical, o putativo técnico faz recomendações à governança europeia. Do memorandum cavaquista, para além da bem humorada mensagem filosofante para "um programa de competitividade, crescimento e emprego", com insólitos remoques a frau Merkel, ressalva-se o projecto singular de um BCE a produzir "infinitamente" moeda (honeste vivere que tanto alumiou os governos de Cavaco) para cobrir a indisciplina orçamental dos estados. A exortação de Cavaco é bem conhecida. E temos fundadas razões para não aderir a este santo padroeiro, que em tempos frequentou York.

"Lass dir zeit", dr. Cavaco!

quinta-feira, 10 de março de 2011

A TOMADA DE POSSE OU UM PRESIDENTE "À RASCA"


Da ociosidade presidencial, desabrigado nessa curiosa angústia no acto de falar claro, o sr. Presidente da República regressa encartado numa representação (nada) ingénua de defesa dos superiores interesses do país. É um clássico! A composição que dirigiu à Nação, muito em género epigramático, foi de facto "arrasador" para o regente desta nossa paróquia, que está a implodir em estrondo e vã glória. Ao mesmo tempo, esclarecendo o respeitabilíssimo auditório, o discurso do dr. Cavaco Silva é um mero & ratificado acto de contrição. Um ofertório a todos, e não são poucos, os que expiam as derivas económicas e políticas da fazenda, desde as promessas caricatas dos tempos & costumes do sr. Cavaco Silva, primeiro-ministro, ao drama e tragédia de hoje. Um sacrifício político pessoal inegavelmente alquebrado, mesmo que romântico. Há que gerir a carreira política. O oásis seguirá, portanto, dentro de momentos.

Na verdade, perante um comovente refúgio de "pecadores" & prestidigitadores da coisa pública, o sábio Cavaco Silva entende, porque entende, que estamos perante uma justificada "emergência económica e financeira", uma grave "situação de emergência social" e que desse submergido atoleiro há lugar a um devoto "sobressalto cívico" e, claro está, a um patriótico "despertar da letargia" indígena. Mais, o prodigioso dr. Cavaco, sem perturbação alguma, ilustrou o seu capitoso discurso com o reboliço de uma "grande mobilização da sociedade civil", porque "há limites para os esforços que se podem exigir do cidadão comum". Neste ponto o sr. Fancisco d’Assis, olhos fitos no futuro, fingiu não gostar do que ouviu. O Sr. Assis, que por educação não é um habitué da "mouta" governamental, faz tenção de arremessar o inefável Augusto S.S. para a desafronta. Há que vitimizar!

Deste modo, a narrativa epopeica do dr. Cavaco foi, de facto, agreste e demolidora, mesmo perigosa. O sr. Presidente da República - se nos lembrarmos do que ouvimos cinco anos atrás - considerou que o país está muito pior, que se perdeu cinco intermináveis anos, quiçá quinze, ou que na verdade, e por cortesia o dizemos, a trapalhada virá já desde 1985. Isto é, o dr. Cavaco reconheceu que foi incompetente no exercício da sua função presidencial, permitindo e apoiando um governo irresponsável e intelectualmente desonesto. Quem algum dia se lembrar das leis proscritoras dos "direitos autenticamente adquiridos", nos seus aspectos injurídicos, arremessados pelas corporações de interesses instalados na governação e no bloco central contra a "canalha", compreenderá a improbidade do discurso de tomada de posse e a sua problemática futura. Basta testemunhar, para contraditar, que no momento em que os docentes deste país fizeram ouvir a sua voz e exigiram na rua um civismo profissional rigoroso da parte do Estado, em legítima ambição meritocrática, o Presidente da República passeava fervorosamente com a sr. Maria de Lurdes, Ministra da Avaliação, expandindo-lhe a vaidade.

O clamor do sr. Presidente é, portanto, complicado de gerir politicamente no amanhã. Por último, quando - num imperdoável quanto audacioso silêncio - nada nos é dito sobre a União Europeia e a sua (des)construção, torna-se evidente a pouca inspiração económica e o desengano nesta sua nova magistratura activa. E sabe-se: verba volant, scripta manent

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O VENCEDOR CRISPADO


"O cérebro é uma coisa magnífica … todos deveriam ter um"

O vitorioso dr. Cavaco, no entusiasmo febril do cartaz da noite eleitoral e excitado na glória da tribuna popular, comiciou aos incréus, fazendo o seu último tour de force político. E virou espectro, qual censor aos vassalos. De vassoura em punho caluniou-se, com rara distinção. Para os mais jovens, como se um mestre-escola fora, aludiu "verdade" & "transparência" na política, imprudentemente amnésico. De punhal à cinta, nada tolerante, vociferou pela honra e carácter, qual demagogo disfarçado, esquecido das indulgências durante o período eleitoral, mesmo com ele próprio. Para a posteridade folheou a alma dos adversários, vergastou 75% dos eleitores indígenas, em curiosa e áspera domesticação folhetinesca. Virou panfletário. Fez história. Intriga. Sem se nunca maçar.

Curiosamente, o pouco piedoso dr. Cavaco - aquele que no íntimo da sua alma publicitou ser o único nativo que dominava os areópagos financeiros internacionais e a crise mundial, avisando (de dedo em riste) que ou se resolvia já a questão da eleição presidencial ou vinha dos céus "uma contracção do crédito e uma subida das taxas de juro" –, assistiu ironicamente, um dia depois da sua divina eleição, a mais um "nervosismo" dos mercados e correspondente subida da taxa de juro, aumentando as dúvidas de default de Portugal. Suprema ironia de um putativo economista traído pela profunda e fatal economia.

Na verdade, como diria o nosso Eça, "a política é a ocupação dos ociosos, a ciência dos ignorantes, e a riqueza dos pobres". Restará acrescentar ao político a crispação. E a estes pobres dias, o burlesco que tudo isto encerra. Di meliora.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

PRESIDENCIAIS – XEQUE À REPÚBLICA!


"On ne fait pas des omelletes sans casser des oeufs" [?]

Dizem por aí que há eleições presidenciais. Uma frescura de cidadania, um rendez-vous caricioso e inviolável, uns ex-votos constitucionais. Pode ser que sim! Como deparámos com uma zarzuela política provinciana, utilíssima para encarapuçar indígenas falidos e despeitados, inspirada & estrugida por uns curiosos artistas prometendo o visionamento de novos amanhãs celestiais ou financeiros, é muito conjecturável existir tão caridoso evento.

Não fora a colónia dos rapazes dos jornais grasnando o pavor pela reputação lendária do fuhrer Angela Merkel e as finanças nativas pós eleitorais, o alvoroço condimentado pelas agências de rating articulado por ex-economistas [gute nacht! frau Teodora Cardoso] ou as réplicas simplórias do "mártir" dr. Cavaco Silva nos saraus televisivos, quase que apostávamos que não. Que eleições presidenciais eram no tempo em que havia homens probos, cavalheiros de carácter e de bons costumes. Não agora.

Mas pode ser que sim, que um dia haja eleições, já que alguns espíritos superiores como o dr. Marques Mendes, o padre-mestre Emídio Rangel & a sua lança socrática, sem esquecer a casta Helena Matos (oh! a geração do 69) e a presença iluminante do perigoso lidador esquerdista Pedro Adão e Silva, a ela (presidenciais) deram acolhimento, bizarria e musculação.

Ao que nos dizem os troveiros, o candidato Cavaco Silva (e a sua Maria) tem o morgadio do Palacete de Belém por mais uns tempos. O raminho de "democratas" praticantes que se aprestam a colocar a écharpe para ensaiar o novo (ex)reportório cavaquista está em franco movimento. O talento da gente bizarra do ex-BPN, o contágio financeiro da sopa dos ricos do sr. Fantasia & Cia, a prosa enlevada de Lobo Xavier e a pesporrência do arq. Saraiva do Sol – conhecidos trampolinistas - vão dar, certamente, a táctica e estratégia futura para que o dr. Cavaco graciosamente prospere in limine, enquanto o sr. Sócrates pode segurar a comédia a que nos habituou. Duas almas gémeas!

No resto, e entretanto, os defuntos do PSD podem (des)esperar, que fenecem descalços. O pieds-de-nez costumeiro do dr. Cavaco à política ou a sua prosápia sobre o carácter humano engrossou o aranzel indígena, mesmo entre os seus acólitos e demais cativos. A coisa está negra, mesmo para o futuro presidente. Quanto a nós, pouco dados a albardas ou a meneios que não sejam as da liberdade e virtude cívica, teremos de nascer duas vezes para acreditar que corre por aí qualquer excerto eleitoral. Mesmo sabendo que "nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovídio], não ficaremos na foto para a posteridade. Sans rancune.

Boa noute!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

PRESIDENCIAIS – O LENTE IRACUNDO


"Tudo se paga nesta terra, o bem e o mal. O mal é mais caro, naturalmente" [Céline]

A paróquia, arrefecida na sonolência pela crise da crise, está definitivamente vítima de um mestre-escola. O educador presidencial Cavaco Silva, em requintado e alucinante mascar de palavras, largou (de vez) à desfilada verbal pelas charnecas indígenas, soqueando o espantado nativo televisivo com o incipit da velha gritaria de ser lente. Em econômico-financeiras, repete o sábio dr. Cavaco.

Como o lente chibata as suas próprias palavras - que só muito depois são vertidas tecnicamente em politiquês pelo gentio manso dos jornais e, em especial, traduzidas pela soutachée imaginativa da sra. Maria João Avillez -, enquanto vai acasalando a função de ex-governante com a de presidente e ex-lente, a rosariada do ululante candidato e futuro presidente não se entende nem se pode avaliar. O dr. Cavaco é o três em um, resfolegando manuais & pasmos de adolescente.

O dr. Cavaco era em tempos aquele que nunca se enganava e jamé tinha dúvidas. Algarviadas, evidentemente! Agora, em refutação do folheto BPN & em resposta ao apoio fúnebre dado ao (des)governo do sr. Sócrates, acrescentou-lhe literariamente o catecismo moral: "é preciso nascerem duas vezes para ser mais honestos do que eu". Ao dito, o sr. Dias Loureiro deu o seu último suspiro. Amém!

Nada disto diz respeito às cabrioladas do sr. Defensor de Moura, que já se viu o que anda por ali a mitigar ao governo e o frete que faz a outros candidatos. É que o sr. Sócrates tem agentes em todas as paróquias. Tal como as despicientes agências de rating na taramelada zona Euro. Não há, portanto, qualquer acaso ou substância bizarra a recompor pelos debates. Que, aliás, ninguém de boa fé acompanha ou reverencia.

Por que o fundo da questão, a saber, será sempre perceber como é que a laboriosa providência indígena nos foi, uma vez mais, madraça & vassala. Explicar como, num único momento, decerto por um formidável e raro prodígio do éter universal, se encontraram essas duas almas gêmeas – o sr. Sócrates & o dr. Cavaco -, será sempre um fenômeno pouco luminoso, mesmo que passional seja.

Nada há mais pacífico que reservar o momento em que, vindo dos tempos de canga do antigo "oásis" do dr. Cavaco - alucinação desovada pelo economista sr. Silva -, a nossa mísera fazenda se esticou até aos nossos dias e, no seu estro, espinoteou nesta paródia (amargurada) da governação do sr. Sócrates & amigos. O resultado esteve sempre à vista, mesmo se os argumentos dos publicistas eram esforçados. O resultado está, particularmente, á vista, mesmo se o lente dr. Cavaco, pessoalmente, faça unguentos ou consulte os astros & os compadres. Toca a andar!

sábado, 14 de agosto de 2010

NÃO … NUNCA … JAMÉ!


"Na luminosa tarde de Verão mergulhados,/Vagarosamente deslizamos..." [L. Carroll]

O rigor de veraneio entusiasmou-nos. Olhem só, acima, como estamos quebrantados. Caprichosos! Há, nessa frescura de espírito, uma tranquilidade que nos salva do idiotismo da paróquia e do mestre régio pátrio. Longe da graciosa silly season, que o rebanho dos colunistas esforçadamente costura na preia-mar indígena, agradecidos estamos no nosso fogoso amparo. Eis o que é veranear!

Não nos atrevemos, portanto, a ressuscitar o presente vaudeville governamental. O Freeport do sr. Procurador e do seu Vice é uma lista de inspiração curiosa, um testemunho de tal agrado & protecção do dr. Cavaco, que não ousamos adornar a didáctica jurídica com histórias tormentosas. O espectáculo pode continuar! Ou então deixemos isso para o talentoso adiantado mental Henrique Monteiro (via Expresso há 1 semana) ou para o paradoxal Sousa Tavares, o castrado escolar. Ambos fazem as delícias das lavadeiras já sem esperança de casar. Não é preciso riachos de tinta ou composições de cidadania. Já não há milagres, nem lamúrias que nos salvem desses senhores. A lista de mazelas não tem fim.

Nunca contribuiremos, portanto, para o estilo sentencioso do "bota-abaixo" (genuflexão sr. Vieira da Silva), nem sequer para a tirania dos números (esses traidores) com que nos presenteia a economia indígena do sr. Sócrates & amigos. Temos os Bessas (um deles ou todos por atacado) para nos elucidar e o dr. Metelo para nos iluminar. Para declinar o bom gosto e a honestidade intelectual desses cómicos da economia & finanças, não contem connosco. Consintam, apenas, que evoquemos (neste "cenário de guerra" à la Rui Pereira) esse ser extraordinário, esse boticário de aldeia, essa gravura imortal que é o sr. António Serrano, agricultor. Bem-haja pelas suas maquinações sobre a "lavoura" e a sua melodia sobre os fogos. Apenas não se compreende como a (bela) f. Câncio, jornalista de faca e alguidar, nas suas costumeiras dicções prosaicas ao génio do sr. Sócrates, não guarda na alma e na harmonia do verbo uma qualquer escrita épica ou poema heróico, ou uma simples ode, a esse fantástico mártir da governação. O cavalheiro merece o fragor de uns linguados. Podem crer!

Jamé mencionaremos, portanto, a distinção (ou um suspiro sequer) feito ao distintíssimo doutor-mestre-conferencista Manuel Pinho, o egrégio portuga que irá marinhar nas terras de tio Obama. Gloria in excelsis, sr. António Mexia. Depois da converseta sobre o fim das reprovações no ensino (gentileza da dra. Alçada) o caminho seguinte seria por o mestre-escola a pagar para leccionar qualquer coisinha. O que se verifica. Gracias, EDP!

E, assim, o nosso exquisito veraneio (veja-se a foto acima) terá sempre a leveza de um ganhão de campina (estamos aqui, mestre Jakim), convenientemente monologado no respeito de “braço às armas feito” [Camões, com a nossa estima] & segundo a tradição da velha (nova) União Nacional, que o “respeitinho é muito bonito” (não é?). Para já (re)começamos a ler esse livro de culto do dr. Vital e do dr. Canotilho, “a Constituição instruída do dr. Cavaco Silva”. Estamos sábios, contentes! E veraneantes!

Um beijo & um abraço (conforme o repertório).

sábado, 19 de junho de 2010

MARCELO REBELO DE SOUSA: O ESPIRITUOSO



"O conselheiro de Estado Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou hoje a ausência do Presidente da República, Cavaco Silva, nas cerimónias fúnebres do escritor José Saramago, considerando que é mais importante a sua presença espiritual do que física"

Espiritual, o que é? Abrimos o útil José Pedro Machado e lemos: "Espiritual: Do espírito ou a ele referente || Que diz respeito à religião ou à consciência || Místico; incorpóreo".

Ora aí temos a traquinice joeirada do formidável intelecto de Marcelo R. de Sousa. Que nos diz Marcelo? Que o dr. CavacoPresidente da República de Portugalnão participa nas cerimónias fúnebres do mais importante cidadão da cultura portuguesa contemporânea, porque, com paciência existencial (quiçá esotérica) e só com essa superior instrução, deve, no seu ofício presidencial, estar presente indelevelmente em espírito e não na sua forma pessoal seca e tesa.

Dai que por vezes, durante as cerimónias fúnebres no edifício dos Paços do Concelho de Lisboa, se sentiu vagamente o fenómeno desse incredibile ergo divinum da presença espiritual do dr. Cavaco.

Em rigor, o que se passou é que esse ser etéreo que é o dr. Cavaco se tinha transladado incorporeamente para o local. Nesse espiritual "a posse ad esse" intimativo, como parece ser o apostolado da sua mundança como presidente, o dr. Cavaco evitou envolver-se esotericamente com esse demiurgo das letras (ainda um simples infra-etéreo, presume-se) que dá pelo nome Sousa Lara. Lamentavelmente, a providência não cuidou ainda deste último teleológico sujeito.

O mesmo já não acontece nos sermões exotéricos do prof. Marcelo, que, bem estremecido e sem tibiezas abusadas, declara hoje & para todo o sempre que vê o lampejar espiritual de Cavaco Silva a pairar sobre a paróquia. Espirituoso, este Marcelo.

terça-feira, 22 de setembro de 2009


IRRESPONSABILIDADES

"Nu, como o discurso de um académico" [Alfred de Musset]

Como era de esperar, a paróquia transformou-se nesta "ingente mercearia" que o encarregado-geral, o dr. Cavaco Silva, caseira & irresponsavelmente faz vivificar. O admirável leader, Cavaco Silva, por amor da colectividade da direita "mais estúpida da Europa", tem uma coterie de incendiários & abstrusos sujeitos que o cortejam emotivamente, ad usum Patroni.

A agremiação cavaquista, onde pontificam amanuenses criaturas, literatos analfabetos, espíritos desorientados e outras tantas individualidades originais, ainda não compreendeu, que para lá dessas minúcias de intimidade liberal e trabalho cénico de direita, o dr. Cavaco foi (é) o coveiro dessa mesma direita e, em especial, do PSD. Os factos, simplesmente, o demonstram.

Os males são conhecidos. Perante o pior governo (o desastre económico e social, é evidente) destes últimos 35 anos – sempre angelical no cárcere autoritário e pesporrente na propaganda governamental –, o Presidente da República, roído decerto pela voluptuosidade dos seus tiques arrogantes, foi-lhe de uma fidelidade humilhante (outros dirão, esclarecida ou de estado), e desde o início do seu mandato foi grandioso e inesgotável de elogios e prebendas a Sócrates. Onde alguns esperavam ambiciosos contraditórios ou enternecidos gestos de amor democrático e de simples exercício de cidadania (veja-se o código laboral ou o caso paradigmático da educação e dos professores), saiu-lhes um Presidente estimulante de carinho socrático, macilento, escandalosamente apoiante do governo: isto é, um excelente director-geral do reyno. Pior não era possível!

É certo que muitos dos seus pitorescos apoiantes, no meio desse engulho, apostavam que o sábio Cavaco, neste seu primeiro (e suspeita-se, único) mandato, tenderia a dar lastro às medidas económicas e sociais da governação (não a vitimizando), para num momento posterior (fim do mandato ou no seguinte) repor o ideário “perdido” de uma outra direita dos interesses. É certo que a derrocada económica e social, a crise financeira, o desastre nas relações convencionais de cidadania, o negócio obscuro das corporações, a imolação da ex-direcção do PSD, a confrontação directa (e inesperada para Cavaco) com o governo, fez antecipar a (previsível) ruptura. Porém, o bisonho Cavaco – que é de um tacticismo exasperante e pouco dotado para a estratégia política –, rodeado de altíssimos amadores e irresponsáveis conselheiros, não só não honrou a instituição Presidência da República, como por recato ou omissão teve o condão de se auto-imolar, ao mesmo tempo que liquidou (de vez) a candidatura eleitoral de Ferreira Leite. Hic Cavaco, hic salta.

O paroxismo deste caso das “escutas” (ou "inventona de Agosto") engendrou tamanha trapalhada, que, desde a arraia-miúda ao mais prócere dos comentadeiros, a indigestão política e a intensidade da "coisa" deixou o “corpo do rei” em fragmentos que serão difíceis de reunir. O dr. Cavaco, em excesso de irresponsabilidade, perdeu a legitimidade política. Porque espaço político já o tinha perdido há muito. A piedosa lenda sobre Cavaco tornou-se uma tragédia e numa farsa. É a vida!

quinta-feira, 28 de maio de 2009


HOMENS SEM QUALIDADES

O dr. Cavaco, verdadeiramente, nunca foi bem um político ou estadista convincente e providencial. Um chefe que inspirasse confiança. Um espírito à altura do seu papel. Para tal era preciso carácter, integridade, autoridade pessoal, lucidez, vigor, cultura. Não era necessário ser intelectualmente grande, bastava prudência e sinceridade pela "coisa" pública. No invés, o dr. Cavaco apenas quis sobreviver para a sua viagem pessoal, mesmo quanto sugeria estar a tutelar os desígnios pátrios. Sorte grande a sua, desilusão a de todos nós.

As vagas teorias sobre a Democracia, Portugal ou a Europa desse filho pródigo de alguma direita saudosa (o novo Messias) morreram logo na razão dos curiosos desmandos que a sua governação divulgou. A felicidade pública do nativo, artificialmente excitada, expirou mesmo antes de se avistar a "aritmética economista" do seu vindouro "oásis". Como diria Ramalho Ortigão: "os deuses eram de palha".

O dr. Cavaco não nos salvou da ruína, da decadência, não modificou o regime ou o sistema político, não soube construiu uma Res Publica, uma democracia. Apenas se rodeou no poder (sem que qualquer indignação se lhe visse) de um sem número de "adesivos" ou curiosos "senadores" que, mesmo aparentemente servis, astutamente o utilizaram para despojarem o orçamento do Estado. Os seus "procuradores do povo" arrumaram, antes de tudo, a sua própria clientela e souberam bem representar os seus interesses pessoais.

O dr. Cavaco, no meio do seu azedume contra a canalha, só conduziu o país para a confusão e abuso de uma "rede clientelar" de consequências absolutamente desastrosas. A política pós-Cavaco passou a ser uma "questão de compadres", de intrigas e as "avenidas do futuro" construídas, herança da sua obra financeira, foram um inegável "brinde" aos novos caudilhos. A trágica destruição das instituições, o desamparo à sociedade civil, o cansaço e a desmoralização a que hoje assistimos (e a que estamos condenados) venceram-nos definitivamente. Não por acaso estes dias irae da desvairada governação do regedor Sócrates são consequência funesta disso tudo. A lista dos Dias Loureiros, Oliveira e Costa, os prebentados de Macau, os melífluos Constâncios, o Lopes da Mota e os Freeport intermináveis que lentamente surgem, não têm fim à vista. A degeneração é total. Não há que estranhar!

NOTA: Ontem o dr. Cavaco, depois do pedido de demissão de Dias Loureiro do Conselho de Estado, disse que não distingue "um de outro dos 19 conselheiros de Estado" e que todos lhe mereciam "igual respeito". Esta infeliz observação é quase um insulto ao próprio Conselho de Estado e, reconhecidamente, os conselheiros não mereciam tal "entusiasmo". O dr. Cavaco fez de Dias Loureiro o cérebro da sua campanha presidencial, levou-o para o Conselho de Estado e fez a sua apologia até ao fim. Que mais imprevistos ou incidentes precisamos de assinalar?

terça-feira, 30 de dezembro de 2008


O embaraço do Dr. Cavaco

Anda por aí uma algazarra sobre a constitucionalização do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, que ninguém entendeu até o dr. Cavaco clamar pelos (seus) poderes próprios ou institucionais. A partir daqui todos debatem, não os princípios consignados no catálogo do direito indígena que levam à presuntiva ruptura constitucional ou a singularidade das decisões interpretativas e processo de fiscalização do Tribunal Constitucional, mas a via incidental criada entre o eng. Sócrates e o dr. Cavaco. Isto é, a dimensão político-constitucional que o dr. Cavaco verbera, optimizou nalgumas criaturas uma "esperançosa" tensão e conflito entre o governo e a Presidência da República, que sendo curiosa se verdadeira não tem por ora qualquer valimento.

Na verdade o dr. Cavaco Silva assumiu, desde o início do seu mandato, navegar no discurso e na estratégia política como se de um jogo de tratasse. O paradigma desse jogo presidencial (ou a "linguagem da coisa") seria criar um espaço único onde o eng. Sócrates em dificuldades económico-financeiras – a braços com a sua incompetência providencial e sob o servil apoio da nova garotada da União Nacional (que sabiamente juntou à sua volta) – ficasse em incómodos mas sem que a acção do Presidente da República se fizesse de todo sentir. Por isso mesmo o dr. Cavaco deu a Sócrates toda a "corda" necessária, para que não pudesse escapar. Daí que a doxa de Sócrates em torno da lenda das "reformas" caseiras, sempre muito bem desocultada via agências de comunicação, jornaleiros & outros tantos fundibulários nativos, obtivessem a eficácia observada, quer entre a elite das corporações e dos interesses quer na atemorizada quanto ignorante canalha.

Sócrates, o chefe do Partido Popular moderado (ex-PS), pode assim concretizar o maior volume de restrições de direitos fundamentais que temos memória (de comum, só ultrapassável pelo Botas de Santa Comba), principalmente nos direitos económicos e sociais consagrados em sede da Constituição, lesando grupos profissionais estruturantes da sociedade portuguesa e sem que a ordem constitucional assim abalada fosse objecto de controlo de constitucionalidade via Presidência da República. E mesmo alguns dos princípios não expressamente consagrados na Constituição, mas importante no domínio normativo constitucional – caso da original profanação do princípio da proporcionalidade (uso do poder), do curioso abandono do principio da não retroactividade ou da afrontosa violação do principio do não-retrocesso social -, o actual presidente da República, como representante da "res publica", esquiva-se nunca ousando nem querendo exercer controlo prévio. Pelo contrário, o dr. Cavaco torna-se um meticuloso "notário" do governo, num estranho jogo de interesses económicos, sociais e políticos, jamais interpretados mas que as mezinhas tomadas contra crise financeira actual pode um dia explicar e a demagogia democrática do sr. Sócrates exemplifica.

Por tudo isto não se compreende o choro desvalido das sinecuras, dos comentadores & trovadores do regime. Nem se aceita a hipocrisia e o cinismo presentes na comunicação última de Cavaco Silva. O dr. Cavaco entrou no jogo, livremente, foi cúmplice em galanteios e em melodias febris sobre a governação, estatelando-se depois na sua própria frouxidão. Se está arrependido, só o futuro o dirá. Aguardemos!

domingo, 14 de setembro de 2008


O país "cadaveroso" do dr. Cavaco

"Não acha a colega que estamos todos a exagerar no fabrico de faca sem lâminas a que falta o cabo?" [?]

O prof. Cavaco Silva é politicamente conservador, entrouxado no seu tortuoso economês, obscuro nos costumes, desocupado culturalmente. O dr. Cavaco Silva é, com ou sem lamentações, o Presidente da República. O polícia da Constituição. E, ao mesmo tempo, não deixa de ser a "roda-viva" desta curiosa direita desastrada e já sem "esperança de casar".

Singularmente vaidoso, birrento, comicamente cediço, o dr. Cavaco – até agora um simples "notário" do governo – entende que acabou o seu tirocínio presidencial e que chegou a hora de salvar a pátria. Autorizado por fervorosas almas gémeas, com assento no bloco central de interesses, o dr. Cavaco vareja ministros, o Governo, a Assembleia da República, o poder local. A catadupa de intervenções públicas do PR, deslocadas no tempo e insolitamente ressabiados, justifica o silêncio existencial da "tia Manuela". Cavaco Silva (basta ler o que por aí se escreve) é hoje – como se previa – o figurino e a máscara da despeitada oposição. Desconhece-se, apenas, se assume o papel de motu próprio (os escolhos e as toleimas da governação, de tão assinaláveis, são um verdadeiro convite a isso) ou se caiu numa esparrela intencional do eng. Sócrates com o fito de tocar a rebate e unificar as suas fugidias hostes.

Seja como for, ao dr. Cavaco pouco lhe importa o país e a canalha. Para essa indigestão o dr. Cavaco já deu! A digressão e diversão agora são outras.

Deste modo a ilusão que não se passa nada entre o Governo e o dr. Cavaco é uma piedosa inspiração de alguns assalariados. O fait-divers de Paulo Pedroso e o sua União Nacional ou a privança jurídica do douto dr. Vital Moreira sobre o princípio da reserva da constituição, via Estatuto político-administrativo dos Açores, mostra existir algumas divergências temporais na estratégia do grupo socrático, mas nada mais que isso. Por sua vez, o embrechado sopro de Ferreira Leite sobre o direito de voto dos emigrantes e o surgimento desatinado de putativos candidatos à liderança do escavacado PSD, revela o fragor e a violência da luta partidária que já está aí.

Os acolhidos do bloco central de interesses estão (que ninguém se engane) vivos e de boa saúde. Os tempos que se seguem e o cortejo habitual de luminárias a acompanhar serão muito curiosos. O país "cadaveroso" (expressão recolhida da velha polémica Sergiana sobre o seiscentismo, presente no último livro de Artur Anselmo) do dr. Cavaco continuará a ser como até aqui, seguindo as palavras de António Sérgio, esse "espectáculo do estiolamento da mentalidade portuguesa".

Dúvidas!?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008


Atrevimento ... muito atrevimento!

"A onda de assaltos e crimes violentos é uma coisa muito séria" [Cavaco Silva]

1. Com o maior dos despautérios, muito bem alapado no sofá de Belém, o dr. Cavaco, decerto ainda a refulgir da doce cooperação institucional com o medíocre governo de Sócrates, comunicou ao país a sua preocupação com a onda de assaltos e crimes que acontece por todo o lado, o que, de facto, qualquer cidadão já tinha entendido. Imediatamente um curioso grupo de jornalistas e analistas da paróquia se curvou no espectáculo presidencial e professou as apreciações elogiosas do costume. Com as orelhas a arder pelos ditames dessas criaturas inteligentes, o eng. Sócrates, esta madrugada, utilizando a poeira do costume, respondeu e mandou de imediato e com grande aparato a polícia cercar a Quinta da Fonte e a Quinta do Mocho. Decerto os "assaltos e crimes violentos" que percorrem todo o país, segundo a douta opinião do nobre primeiro-ministro e do sr. Rui Pereira, têm lá os seus mentores e a sua sede, o que não deixa de ser espantoso pelo atrevimento.

2. As palavras de Cavaco Silva sobre a "onda de assaltos", logo seguidas pelo pedido de "estratégias adequadas para combater a criminalidade violenta", são de enorme hipocrisia. São grotescas e de mau gosto. Não será preciso recuar aos tempos de inefável Laborinho Lúcio e do pitoresco descalabro das medidas então tomadas. Basta saber que a esfíngica figura que hoje brama por tais medidas de combate à criminalidade foi a mesma que assinou de cruz, braço no braço com o eng. Sócrates, as alterações ao novo Código de Processo Penal, o mesmíssimo que recomendou o Código Penal como feliz conquista conta o crime e aquele que considera que a nova Lei de Segurança Interna é um instrumento importante e, por isso, não encontra "razões para [a] não promulgar". E é o mesmo senhor que não nada diz sobre o estado comatoso da polícia e da GNR, sem meios humanos, materiais e jurídicos e perante a total degradação e paralisia da sua autoridade. Eis o nosso homem! Maior atrevimento não é possível.

3. Com a lista de mazelas denunciadas pelo dr. Cavaco, na mão e no ouvido, acorrem sempre à acção mediática os rapazes do costume. Os despeitados do PSD e a garotagem do CDS desataram num alarido artificial e cómico, sem que nunca se ouvisse uma única palavra de crítica ou simples lamentação sobre a posição do senhor presidente da República no apoio dado ao construído jurídico arquitectado pelo governo e que, fora outras razões substanciais, são importantes em toda esta questão. E mesmo que, por puro exercício que fosse, se aceite estar presente uma sustentada estratégia política de desgaste e cerco ao governo, levado a cabo pelo dr. Cavaco e seus anões - enquanto a D. Ferreira Leite espera em silêncio no recesso do lar - tal experimentalismo insano e provocador, com evidentes reflexos na vida dos portugueses e no país, não o permite aceitar. Não estamos num vale tudo. Haja decoro!

quinta-feira, 31 de julho de 2008


O serão do Presidente

O dr. Cavaco Silva fez hoje, via T.V., uma desastrada comunicação aos indígenas sobre a questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores e que ninguém, em esforço e minimamente instruído, entendeu. Apologista do tabu e do silêncio tortuoso como estratégia política, o Presidente da República caiu, definitivamente, nas profundezas da silly season nativa e no anedotário paroquial ao interromper as (merecidas) férias dos portugueses com avisos avulsos ao governo e à Assembleia da República, depois de en passant ter atestado a incompetência jurídica dos sábios do Tribunal Constitucional. Convenhamos que, para quem ao longo do santo dia esperou algum serviço ou dito sentencioso vindo do Palácio de Belém, a espera, além de aborrecida e pouco divertida, foi inútil e afrontosa.

Mesmo se a récita presidencial fosse por alguma vez estimulante - o que nunca se verificou -, o tom grave e carrancudo do sr. Cavaco Silva, a par da sua eterna dificuldade de dicção, torná-la-ia enfadonha e incompreensível.

Mas afinal que pretendeu dizer o sr. Presidente da Republica e que os conselheiros do Tribunal Constitucional e todos os deputados, regionais e da República, não souberam ver? Que o sistema de equilíbrios institucionais e os poderes presidenciais, tal como estão consagrados no novo Estatuto Político-Administrativo dos Açores, era beliscado existindo mesmo uma putativa diminuição de poderes presidenciais. Para tão sentencioso letreiro político-institucional o dr. Cavaco avançou, passando por cima do sentido político que se quis imprimir às autonomias desde a revisão constitucional de 2004, com uma bateria curiosa de exemplos no que considera ser uma moléstia sobre os deveres/direitos de audição e consulta no acto de dissolução da Assembleia Legislativa dos Açores.

Fica-se a saber, pelo narrado, que partidos para o dr. Cavaco Silva só existem os de expressão nacional, não havendo lugar a infectos partidos ou grupos regionais fora da bitola dos grandes partidos e que, assim, bastaria consultar aqueles numa putativa dissolução. Mais bizarro foi considerar que a "audição autónoma do Presidente do Governo Regional [é] tanto mais incompreensível quanto ele tem assento no Conselho de Estado". Isto é, para o dr. Cavaco Silva o processo autonómico foi formatado em devido tempo e não há lugar a mais alterações. Do mesmo modo, é de supor que a revisão constitucional de 2004 feita não agrade ao preclaro defensor da actual Constituição.

Mas é evidente que os poderes presidenciais não foram de modo algum diminuídos, aliás conforme entendeu o Tribunal Constitucional, a quem Cavaco Silva agora pretende dar lições. Não há pois razão para o dramatismo do dr. Cavaco. A questão que se colocou no serão presidencial de hoje foi essencialmente política, com estranhas motivações por detrás. Tudo leva a crer que o caminho iniciado a partir deste incidente por Cavaco Silva não augura prudência e ponderação. E é de supor pelo ridículo do teor da comunicação que o seu magistério, esse sim, é que foi mesmo beliscado. Como um dia se verá.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008


Cavaco & Sócrates, Cia Lda

O dr. Cavaco Silva, em mais uma formidável estopada sobre a ruinosa governação do sr. Sócates & amigos, em visitação extraordinária ao reyno, saiu-se, na sua prosaica vacuidade e a propósito da questão do Serviço Nacional de Saúde, das tropelias e malfeitorias do ministro Correia de Campos e da (ainda) indulgente crispação dos nativos sobre esse senhor, com um "acalmem-se", "vamos ao diálogo". A alegoria do dr. Cavaco, que não deve ter animado a estrivária dos paroquiandos, está longe da velha máxima da D. Constança – "Habituem-se! Vamos continuar" – pertença do sábio rosa, ao que dizem depositário do maior intelecto indígena, António Vitorino. Mas é do mesmo fino recorte.

O dr. Cavaco que se cuide! Depois do seu ardor estremecido pelo tricotado d'Alcochete, após a piedosa discursata sobre o putativo terrorismo que vem aí ao virar da esquina, o dr. Cavaco, nesta mãozinha dada hoje ao corpo ministerial socrático, arrisca-se a uma nova comoção dos indígenas, fartos desta inteligentzia doméstica. A afronta do dr. Cavaco & Sócrates, Cia Lda, é um atropelo ao bom senso e paciência de qualquer um. O folheto posto a circular pelo dr. Cavaco é um insulto, perante o descalabro total desta governação e deste país. O gentio começa a impacientar-se. Estão calados, por demais. Ninguém os vê sorrir. Ninguém os vê chorar. Vem aí borrasca! Quem ficar, que se cuide.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

O PRESIDENTE E O ECONOMISTA CAVACO SILVA



"Stick to the plan, stick to the plan" [coro socialista no governo]

O dr. Cavaco deu uma entrevista pouco inteligente a Maria João Avillez. De tal modo foi, que fez divertir (e baralhar) alguns jornalistas e comentadores. Além do "timing" escolhido (que não deixa de ser curioso) e da motivação que a serviu (que ninguém descortina) a entrevista é fastidiosa e aborrecida. Saber o que faz correr o dr. Cavaco é uma enorme trapalhada.

Para nós, o episódio de assistir, em televisão, o Presidente Cavaco Silva dissuadir e calar o economista Cavaco Silva, não deixa de ser curioso. Declara o Presidente estar "ao lado das reformas do Governo". E não tem dúvida (seguindo a douta máxima do clássico dr. Cavaco) em considerar que "a economia e as finanças [estão] no rumo certo". Tal amabilidade não é sustentável por nenhum economista sério. O dr. Cavaco-Presidente corre assim, sem habilidade alguma, riscos variados. Fica imobilizado economicamente e, ao mesmo tempo, faz ressabiar políticos, sindicalistas e ... a classe média. Essa mesma, aquela que o eng. Sócrates trata como "um lugar-comum".

Varrido que foi o economista Cavaco Silva da genialidade indígena, pela lição do presidente de "todos" os portugueses, importa lembrar que bastaria ao Cavaco-Presidente recorrer à bondade do "lente" Aníbal, nos bons tempos do ISCEF. Estamos tentados, portanto, a revisitar o assistente Cavaco, leccionando a cadeira de Finanças I, juntamente com Ferreira Leite e Silveira Godinho. E estamos a imaginar o ar estupefacto do bom aluno da fazenda indígena (o Teixeira dos Santos) se na oral da cadeira com o assistente Cavaco Silva, ao lhe ser solicitado abrir o Orçamento de Estado para o Ministério da Economia, o abrisse ao acaso, sem excelência ritmada. Diria logo o nosso assistente Cavaco: "Vê-se bem que não folheou o Orçamento do Estado". Que significava, apenas, para o retardatário aluno, um valente chumbo. Eram tempos de rigor ... em Finanças Públicas. Lá isso era!