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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

NIHIL OBSTAT


Aos intelectuais do regime: "Não nos dêem conselhos, sabemos bem fazer asneiras sózinhos!" [lema ou epígrafe da velha Casa da Nau, Coimbra de muita memória]

imprimatur

Santas noutes

sexta-feira, 21 de setembro de 2007


Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos

"Tenho muito gosto - e honra - em prefaciar o catálogo da importante Biblioteca de Alfredo Ribeiro dos Santos, ilustre médico portuense, cidadão impoluto, lutador anti-fascista, homem de cultura e grande bibliófilo. Por três razões, essencialmente: pela personalidade ímpar de Alfredo Ribeiro dos Santos, que conheço desde os tempos do Movimento de Unidade Democrática (MUD), há mais de sessenta anos e cujo percurso segui, sempre com muito apreço, afecto e admiração; porque conheço a sua valiosíssima Biblioteca, rica em revistas e obras literárias e histórico-políticas; e ainda porque tenho seguido a qualidade do trabalho do antiquário livreiro Manuel Ferreira - e de seus filhos - de quem tenho sido, algumas vezes, mais espaçadamente do que gostaria, cliente e cuja competência profissional posso testemunhar.

Alfredo Ribeiro dos Santos, com uma vida já longa e uma magnífica lucidez, deixou sempre, por onde passou, um rasto de simpatia, de humanidade, de aprumo pessoal e cívico e de respeito, verdadeiramente invulgares.

Vivendo no Porto, onde nasceu, em 1917, tirou o liceu e fez estudos de Medicina, em que se formou, em 1943, sempre conviveu, desde muito novo, com intelectuais e artistas, como Sant'Anna Dionísio, José Marinho, Agostinho da Silva, entre outros, tendo como mestres e referências Leonardo Coimbra, Abel Salazar, Jaime Cortesão e Teixeira de Pascoais, os homens da "Renascença Portuguesa" (e da Revista "A Aguia ") que, muitas décadas depois, haveria de reeditar (numa nova série) com o saudoso José Augusto Seabra.

Frequentador de tertúlias literário-políticas, colega, amigo e camarada, do incansável conspirador anti-fascista do Porto, do Dr. Veiga Pires, com o qual estagiou no Hospital de Santo António, foi ele que também o introduziu no Movimento de Unidade Anti-Fascista (clandestino 1942-49) e no MUD (paralegal), criado no post-segunda guerra mundial. Desde então, encontrei-o em todos os grandes momentos da Oposição Democrática, nas candidaturas dos generais Norton de Matos e Humberto Delgado, nas manifestações de protesto, como no funeral de Abel Salazar, onde foram presos o velho e prestigiado médico Eduardo Santos Silva e Ruy Luís Gomes, em reclamações e abaixo-assinados contra a Ditadura, nas denúncias contra as pseudo eleições, nos períodos chamados de "liberdade suficiente", que se realizaram entre 1945 e o 25 de Abril de 1974. Igual a si próprio, Ribeiro dos Santos continuou, numa linha de coerência cívica exemplar, durante toda esta nossa conturbada II República, que, apesar de tudo,já conta o dobro dos anos da I República (1910-1926), até hoje.

Além de médico de grande proficiência, na sua especialidade, e humanidade, Alfredo Ribeiro dos Santos teve sempre uma actividade de intelectual interveniente na vida da grei - organizador de iniciativas culturais, de exposições e tertúlias, tendo publicado vários livros, de interesse histórico-político inegável, e proferido inúmeras conferências sobre diferentes temáticas. Assinalo, entre muitas outras, as que proferiu sobre Jaime Cortesão, Abel Salazar, Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoais e a tertúlia em que participou do engenheiro José Praça, um ilustre portuense e grande resistente contra a Ditadura, que esteve, no começo dos anos trinta, deportado no forte de Angra do Heroísmo, nos Açores, onde foi companheiro de cárcere do meu Pai.

A biblioteca de Ribeiro dos Santos constitui um verdadeiro retrato de um homem culturalmente orientado, meticuloso e de vasta erudição e cultura. Constitui um raro e precioso acervo de livros, jornais e revistas, altamente representativos do século XX português, obviamente orientado numa perspectiva republicana, socialista e laica.

A leitura do catálogo, organizado pelo antiquário-livreiro Manuel Ferreira, é disso a demonstração. O destino das grandes bibliotecas é dispersarem-se, mais tarde ou mais cedo. Algumas vezes, mesmo, quando se integram em instituições públicas. O catálogo, quando é cientificamente organizado, como é o caso, é um marco que permanece, ajudando a perpetuar a memória do seu amoroso fundador. Por isso, eu, como modesto bibliófilo, há anos que ganhei o hábito de coleccionar também os catálogos dos leilões das grandes bibliotecas. Dizem muito sobre os coleccionadores originários e sobre os alfarrabistas que com tanto profissionalismo organizam os catálogos”

[Mário Soares, Vau, 16 de Agosto de 2007 – pref. Catálogo da Biblioteca do Dr. Alfredo Ribeiro dos Santos. Organizada para Leilão por Manuel Ferreira, vol I, Outubro 2007 - sublinhados nossos]

sexta-feira, 20 de abril de 2007


Até tu ... Soares!

O dr. Mário Soares, o original Mário Soares que o bom siso (antigo) louva, não precisava de ser o "bombeiro" do actual grupelho socialista. Retirado estava, virtuoso ficava. Nem devia participar numa peça velha e por demais gasta, de misantropia partidária e ímpeto evangélico, invocando, sem discernimento algum, personagens tão diferentes entre si – em carácter, robustez ética e intelectual - como Ferro Rodrigues e José Sócrates. As palavras proferidas, aqui, presumidamente irreflectidas, transformam doravante o PS num imenso vaudeville, em que deploravelmente o dr. Soares ombrearia, lado a lado, com o inefável Jorge Coelho em actor principal, os manos Sócrates & Silva Pereira como excelentes debutantes, a inenarrável criatura dos brados José Lello como palrador e José Junqueiro, o homem dos raids ministeriais, como empresário. O dr. Mário Soares estará, talvez, desgastado. Mas convinha não abusar do enorme capital que granjeou e não desbaratá-lo entre gente pouco recomendável. Senão caímos no eterno problema da democracia: "é que quando o povo toma o palácio esquece-se sempre de puxar o autoclismo" [corrigenda de uma outra de Millôr Fernandes]. Não há vaidades transparentes. O dr. Soares devia sabê-lo.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007


Tertúlias no Casino

A Figueira da Foz tem destas coisas. Terra simples e de gente boa, isolada da civilização (que há muito a esqueceu), onde pouco ocorre e nada nasce, volve por vezes à vida. Os senhores locais, à falta de missão elevada e estima própria, animam-se sempre com os obséquios aos notáveis. Por vezes, os seus indígenas, são mesmo grotescos - como o desengano do dr. Santana Lopes, agora, revela. Noutras ocasiões são tão respeitáveis, entusiastas e festivos, que a todos comove. Que a todos enobrece.

Foi esse o caso, ontem (dia 16), na inauguração das Tertúlias no Casino, com a participação do dr. Mário Soares. Com o salão nobre do Casino da Figueira pleno de tertúlios, de virtudes ilustradas e estima ardente, a reunião celebrou o gosto pelo debate (ainda possível no país), caprichou no brilho e esplendor com que sabe receber, festejou o convidado. Merecidamente!

É certo que Mário Soares cedo assumiu que não argumentaria sobre questões de política interna. O que não deixa de ser curioso face ao estado calamitoso do país. Compreende-se. Mas bastou o que disse sobre Blair, Bush e a UE, para se entender o que lhe alumia o espírito. Ao dr. Soares, como se sabe, tudo se perdoa. Porém, há ocasiões onde a palavra, mesmo que de prata seja, não resulta em silêncio de oiro. A generosidade não vai a tanto. Nem o país.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

MÁRIO SOARES - 80 ANOS


Mário Soares é o "avô" que estimamos ter. Um luminoso e simpático cidadão que desperta episódios admiráveis, uma alegria na alma. Que bom ficar à lareira a ouvir histórias de antanho. A luz sempre lhe alumiou o caminho. Por isso, Soares é um vigilante. Um fiador da nossa liberdade, mesmo que ela só proceda de nós. E que nos enche o coração, em dias de amargura, em tempos de tormento. Republicano por nascimento, democrata por paixão, um lutador orgulhoso. Eis um percurso de virtude nestes dias tão cinzentos. Sempre de rosto levantado, soube aproveitar a idade. Fez 80 anos. Bem bonito rol.

Saúde e fraternidade, dr. Mário Soares.
 

sexta-feira, 12 de setembro de 2003

LUGARES


Barnabé

... Quando o Barnabé [Daniel Oliveira / André Belo / Rui Tavares / Pedro Oliveira / Celso Martins / Rosa Pomar] cá chegou toda a gente arribou ... O almocreve torna-se, desde já, assinante e envia saudações

"O Barnabé é um blogue sobre política e cultura. O Barnabé não é um blogue intimista. O Barnabé é tão Narciso como os outros, mas tem vergonha na cara. O Barnabé é um blogue pós-narcisista. O Barnabé é um blogue de esquerda e heterodoxo. O Barnabé não é um albergue espanhol. É um hotel de seis estrelas."

DUELOS IMPREVISTOS

Mário Soares versus Pacheco Pereira, na Sic Noticias.

Soares reflectiu, enquadrou e interpretou o 11 de Setembro a partir de uma multivariedade de leituras, num registo discursivo anti maniqueísta, contextualizando toda a polémica em causa, do simbólico ao politico/económico. Foi brilhante. Por vezes magistral, porque incomodo (a referencia à China, quando PP configurava o terror do regime de Saddam, baseado nos assassínios políticos, é brutal). O prazer do debate é manifesto. Está-lhe na alma.

Pacheco Pereira sobrevoou algumas das questões inicialmente colocadas. Começou mal. Quando procurou clarificar a sua leitura dos acontecimentos, caiu facilmente no facilitismo, no maniqueísmo simplório. Afinal o que haveria era uma "guerra de civilizações", tout court. Os enquadramentos para tal suposição, pela sua inexistência, dissolvem qualquer discussão séria. Pacheco Pereira manifestou poucos argumentos frente a um Soares mais ideologizado, sendo que o que restou foi o seu incondicional apoio ao novo Sol do mundo, os EUA. Daí que se entenda a necessidade de vir em defesa dos novos construtores do império, citados por Soares (Strauss, Perle, Wolfowitz). E espanta, que Pacheco Pereira com a inteligência que se lhe reconhece e o desafio intelectual que em tudo coloca, não questione, com fundamentação relevante, esses discípulos straussianos que tem assento na Casa Branca.