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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

JOAO ANTUNES - NOTAS E BIBLIOGRAFIA



O dr. João Antunes - Notas e Bibliografia

O dr. João Antunes, como foi dito, escreveu com rara inteligência, um conjunto apreciável de artigos (em revistas) e livros, sobre "conhecimentos que pela sua natureza se não devem vulgarizar". Trata-se, evidentemente, de temas ligados ao ocultismo (na sua versão primitiva, via Papus), cabalismo, esoterismo, teosofia, martinismo, teurgia, templarismo, maçonaria, carbonarismo, etc. Mas foi, particularmente, um grande mentor do pensamento teosófico, quando este estava ainda (por cá) no seu começo, tendo sido um dos fundadores (e primeiro presidente: até 1924?) da Sociedade Teosófica de Portugal [STP], nascida em 1921 [juntamente com Silva Júnior (secretário-geral e presidente a partir de 1924?), Oscar Garção, Berta Garção, Francisco Esteves da Fonseca, Artur Nascimento Nunes, Domingos Costa, Maria O'Neill].

João Antunes conhece, estuda e divulga os grandes iniciados, de Hermes Trismegisto aos pitagóricos e mestres gnósticos, passando por Besant, Elifas Levi, Blavatsky, Guaita, Leadbeater, Peladan, Huissmans, G. Encausse (ou Papus, grão-mestre martinista), Saint-Martin, recorre até a Filon, Dante, Leonardo, Goethe. Conhece, portanto, a melhor (e, surpreendentemente, também a mais restrita) da bibliografia iniciática do seu tempo. Ao mesmo tempo convoca para as "ciências malditas" alguns autores ou adeptos lusos, incorporando-os na tradição iniciática portuguesa. Refira-se aos trabalhos feitos (ou às notas expostas) sobre Gil Eanes (ou Rodrigues) de Valadares, Colombo (vários artigos), Camões, D. Francisco Manuel de Melo, Pascoal Martins (ou Martinez de Pasqualys, reorg. do cabalismo maçónico), Padre António Vieira, Visconde Figanière e Morão [um dos primeiros membros da S. Teosófica de Blavatsky e pouco estudado por cá], Leonardo Coimbra, José Teixeira Rego, Ângelo Jorge (da O. Martinista), Sampaio Bruno, Alphum Sair (pseud. de um sócio do Instituto de Coimbra).

Alguma Bibliografia: As origens historicas do Christianismo e o racionalismo contemporâneo, s.d. / O Hipnotismo e a Sugestão, 1912 / Hipnologia Transcendental, 1913 / Oedipus: As Sciencias Malditas, 1914 / O Espiritismo, 1914 / A Teosofia: estudo da filosofia sincrotista, 1915 / A História e a Filosofia do Hermetismo, 1917 / A Maçonaria Iniciática, 1918 / O Livro que mata a morte [de Mário Roso de Luna, em versão port. de J. A.], Ed. Isis, 1921 / O Ocultismo e a Sciencia Contemporânea, 1922

e colabora (sendo director) na revista Isis [Revista de Questões Teosoficas e de Sciencias Espiritualistas, pertencente à Sociedade Teosofica de Portugal [1921-1922] e, do mesmo modo, na revista Eleusis [Revista Mensal Ilustrada de Cultura Filosófica – Janeiro 1927 a Março 1928, ed. da Livraria Clássica Editora].

Para terminar, e a fazer fé no que nos é dito (julgamos) pela pena de João Antunes, arquivamos o seguinte: "Está em organização a Sociedade Ocultista Portuguesa, filiada na Ordem Martinista" [in Eleusis, Maio de 1927]. Bem curioso. Fiquemos por aqui.

terça-feira, 13 de junho de 2006

LIVROS PORTUGUESES SOBRE O CÃO DE PARAR



Ferreira, Dioguo [Diogo] Fernandez [Fernandes] - Arte de Caça da Altane[a]ria, dirigida a D. Francisco de Mello, ..., na Off. de Jorge Rodrigues, Lisboa, 1616 [reeds: Edição Mello d'Azevedo, 1899 em II vols; Edição Diana, 1959]

[Esta rara e estimada obra clássica "Arte da caça da altaneria composta por Dioguo Fernandez Ferreira ... Repartida em seis partes. Na primeira trata da criação dos Gauiães & sua caça. Na segunda dos Assores & sua caça. Na terceira dos Falcões & sua caça. Na quarta de suas doenças & mezinhas. Na quinta das Armadilhas. Na sexta da passagem & peregrinação das aues", é de autoria do outrora pajem de D. António Prior do Crato [Inocêncio], falcoeiro e moço da Câmara Filipe II, Diogo Fernandes Ferreira (n. 1546)]

Anachoreta, Henrique - Álbum Synoptico das Principais Variedades de Cães de Mostra, Lisboa, 1901 / Livro da Montaria, feito por D. João I, Rei de Portugal, publicado por ordem da Academia das Sciências de Lisboa, por Francisco Maria Esteves Pereira, Impr. Universidade, 1918 [aliás entre 1415 e 1433], LXV, 465 p. [segundo o ms manuscrito nº 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa] [nova edição por M. Lopes de Almeida, Lello & Irmão, Porto, 1981 e uma outra pela Mar de Letras Editora, Ericeira, 2003] / Pero, Menino - Livro de Falcoaria, introd. notas e glossário Rodrigues Lapa, Coimbra, Impr. da Universidade, 1931, LXVII, 91 p. [reed. Coimbra, Impr. Universidade, 1999]

[Pero Menino, falcoeiro de D. Fernando, elaborou o "Livro de Falcoaria", uma obra notável de cetraria, por encomenda do seu Rei, e que serviu de fonte a diversas obras posteriormente feitas, tais como o "Tratado de Falcoaria de D. João II de Castela" ou o "Libro de la Caza de las Aves" de Pêro Lopez de Ayala, que o traduziu quase literalmente. (refª á curiosa separata da Academia Portuguesa de Ex-Libris, intitulada "O Bispo de Lamego D. João da Costa e a sua copilação de Livros de Cetraria no manuscrito Sloane 821 do Museu Britânico", escrita por António Pedro de Sousa Leite, 1967). O manuscrito original de Pero Menino perdeu-se de todo e só se conhece algumas cópias, entre as quais a mandada fazer pelo Bispo D. João da Costa (está no Museu Britânico), a cópia descoberta pelo professor Rodrigues Lapa (ms. 518 da Colecção Pombalina) e uma outra (ms 2294 do Fundo geral da BN) publicada por Gabriel Pereira. Curiosamente na obra de Pero Menino é referido um livro anterior de altanaria, autoria de João Martins Perdigão, dito falcoeiro de D. Dinis, e que o nosso falcoeiro diz conhecer]

Carmona, Leopoldo Machado - Estudos sobre o Perdigueiro Português. Tese apresentada ao I Congresso Nacional de Caça e Tiro, Bol. Ass. Perd. Port. Nº 36, Lisboa, 1937, 7-31 p. / Sanches, J. Dias - O caçador e o cão de caça [raça de cães de caça; ensino do cão; higiene, teoria do caçador; lei e regulamento da caça], Livr. Popular de Francisco Franco, Lisboa, 1938, 119 p. / Barroso, Domingos - O Perdigueiro Português, Gazeta das Aldeias, Porto, Typ. Mendonça, 1948, 150 p. [reed. 1962, 1990] / Bravo, João Maria - O Ensino do Cão de Parar, Lisboa, Tip. Imp. Sociedade Astória, 1951, 127 p. / Andrade, Ruy de - A minha experiência no ensino do pointer, Lisboa, 1959, 81 p. / Barroso, Domingos - Perdigueiros e Lebres, Revista Diana, 1948, [reed. 1962] / Branco, Manuel Castelo - Criação de Cães, Editorial Notícias, Lisboa, 1969 / Barroso, Domingos - Colectânea de textos sobre o Podengo Português, C.P.P. (Clube do Podengo Português), ed. policopiada / Correia, Manuel J. - O Perdigueiro Português, Ed. Presença (Tempos Livres nº 113), 1981, 159 p. / Costa, Moisés do Nascimento - Ensino do Cão Perdigueiro, Porto Editora, Porto, 1984 / Rodrigues, Jorge - Perdigueiro Português. O Cão de Parar, Inapa, Lisboa, 1993, [10], 209, [4] p. / Barroso, Domingos - Ainda o Perdigueiro Português, Tipave, Aveiro, 1994 [coord. Domingos Barrroso], 66 p. / Barroso, Domingos - Conselhos velhos para caçadores novos, Edição S.P.S, s.d. / Piçarra, Jorge - Em honra do Cão de Parar. Técnicas de ensino e treino, Tema, Lisboa, 1998, 111 p. / Veiga, Vítor - Raça de Cães Podengo, Tip. Peres, Amadora, 2001, 276 p. / Piçarra, Jorge - Cão de Parar. Uma Paixão, Inapa, Lisboa, 2004

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

O JUDEU NO POLÍPTICO DE SÃO VICENTE


A Rua da Judiaria faz alusão aos Painéis do Museu das Janelas Verdes ou Políptico de São Vicente, identificando o homem gordo com um livro aberto, no Painel dito da Relíquia, como um judeu, e logo o famoso Isaac Abravanel.

Pode ser que sim, mas a longa controvérsia em torno dos "mistérios dos painéis" desde a publicação do ensaio inicial de Joaquim de Vasconcelos em 1895 não permite, com toda a segurança, afirmá-lo.

Aliás tudo à volta do políptico de S. Vicente é absolutamente extraordinário. E a paixão que o debate suscita, com alguma violência diga-se e tragédia mesmo (exemplo disso foi o suicídio de Henrique Loureiro), sugere que se seja prudente nalgumas das "certezas" proferidas. Quer no que toca a execução dos Painéis para a Sé de Lisboa, às diferentes interpretações e significados esgrimidos (Tese Vicentina, Fernandina, esotérica, etc), quer ao reconhecimento das diferentes figuras aí representadas, o que conduz a dizer que se está ainda longe da sua inteira compreensão. Paradoxalmente, ou talvez não, os historiadores remetem-se a um prudente silêncio interpretativo.

De facto, a questão não é pacífica e requer um cabedal de conhecimentos, desde o domínio da cultura da época e a leituras e saberes iconográficos, mitológicos, cabalísticos mesmo, que não estão ao alcance de qualquer um. Como exemplo da dificuldade existente, refira-se a arrumação primitiva das tábuas, o patrocinador do trabalho, ao debate sobre o menino do gorro (Painel do Infante), à suposta confusão entre o Infante D. Henrique (que ainda hoje é representado nos livros de historia como aquele homem do chapéu grande, que se vê no Painel do Infante) pela figura de D. Duarte, etc.

Como exemplo da controvérsia, diga-se que ao suposto judeu que a tese oficializada defendia há ainda poucos anos, o Dr. Belard da Fonseca há muito a resolveu a partir da leitura do texto que o homem gordo mostra, e de pesquisas feitas, e que diz tratar-se do borgonhês Olivier de la Marche. O texto decifrado pode ser lido na obra Os Mistérios dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de Portugal, de Belard da Fonseca, que depois o traduziu. A cruz referida na Rua das Judiaria seria a Cruz de Santo André, e a cor da loba e do barrete usado, verde escura, era a libré dos "pannetiers" da casa de Bergonha. Inútil explicar quem era Olivier de La Marche. Apenas se pretende referir que não é fácil ter certezas nesta questão. Ficaria assim posta de parte tratar-se da figura de Abravanel, alquimista, sábio, bibliófilo e conselheiro de D. Afonso V, astrólogo ["A Era Messiânica manifestar-se-á quando Saturno e Júpiter estiverem conjuntos no signo Peixes (particularmente influente no que respeita a Israel por ser signo água ...)", in Dicionário do Milénio Lusíada, de Manuel Gandra, referindo-se a Isaac Abravanel]. Curiosamente D. Afonso V era um interessado por alquimia, tendo ao que alguns dizem escrito um livro (julgo que só circula policopiado), denominado "Tratado Alquímico". Para uma consulta bibliográfica sobre a questão dos Painéis, aqui se deixa algumas referências:

Obras a consultar: Joaquim de Vasconcelos, Tábuas da Pintura Portuguesa do Século XV, in Comercio do Porto, 27/28 Junho de 1895 / José de Figueiredo, O Pintor Nuno Gonçalves, Lisboa, 1910 / Alfredo Leal, Os Painéis do Infante e a Obra do Sr. José de Figueiredo, Lisboa, 1917 / José Saraiva, Os Painéis do Infante Santo, Leiria, 1925 / Affonso Dornelas, Os Painéis do Mosteiro de S. Vicente, Elementos para a sua Identificação, II vols, 1931 / Albino Lapa, História dos Painéis de Nuno Gonçalves, 1935 / Artur da Motta Alves, Os Painéis de S. Vicente num Códice da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Lisboa, 1936 / Georges Kaftal, Essai Iconographique sur Les Paneaux Atribués à Nuno Gonçalves, in Boletim dos Museus Nacionais, vol II, fas. 6, 1942 / Garcez Teixeira, O Significado dos Painéis de S. Vicente, Museu, vol. IV, 1945 / João Couto, Nuno Gonçalves, O Políptico de S. Vicente, Col. Museu, 1954 / Reynaldo dos Santos, Nuno Gonçalves, London, 1955 / Adriano de Gusmão, O Nuno Gonçalves da Phaidon – Erros, Omissões e Plágios, Eur. Amer., 1956 / Adriano de Gusmão, Nuno Gonçalves, Colecção saber, 1957 / António Belard da Fonseca, O Judeu, o seu Livro e a Crítica, 1958 / Vitorino Magalhães Godinho, in Revista de História, nº 37, São Paulo, 1959 / Armando Vieira Santos, Os Painéis de São Vicente de Fora, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis as Personagens e a Armaria, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis, IV vols, 1959-1967 / António Belard da Fonseca, Dom Henrique? Dom Duarte? Dom Pedro?, Lisboa, 1960 / António Manuel Gonçalves, Do Restauro dos Painéis de São Vicente de Fora, Museu, 1960 / Jorge de Sena, Os Painéis ditos de 'Nuno Gonçalves', in Revista Ocidente, nº 305/306, 1963 / José dos Santos Carvalho, Iconografia e Simbólica do Políptico de São Vicente de Fora, 1965 / Charles Sterling, Les panneaux de Saint Vicent e leurs Enigmes, in Revue d’Art, nº 159, 1968 / Jaime Cortesão, "A Historia dos Painéis de S. Vicente", in Historia dos Descobrimentos Portugueses, Circulo de Leitores, 1979 / José Luís Conceição Silva, Os Painéis do Museu das Janelas Verdes, Guimarães, 1981 / Jorge Segurado, Painéis de S. Vicente e Infante Santo, Ed. Noticias, 1984 / Paula Freitas & M. Jesus Gonçalves, Painéis de S. Vicente de Fora uma questão inútil?, 1987 / Dagoberto L. Mark, O Retábulo de S. Vicente da Sé de Lisboa e os Documentos, Caminho, 1988 / Theresa Schedel de Castello Branco, Os Painéis de S. Vicente de Fora - As Chaves do Mistério, 1994