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quarta-feira, 26 de novembro de 2003

SAMPAIO BRUNO [1857-1915]


 
Sampaio Bruno

Nasce a 26 de Novembro de 1857

"(...) o objectivo prosseguido por Bruno, no Plano de um Livro a Fazer, é o de uma historia dos «iniciados» ibéricos em um mistério universal qual, e sempre, o da gradual libertação humana: «libertando-se a si, libertando os seus irmãos de espécie, ele [o homem] contribuirá já para a libertação universal»[in A Ideia de Deus].

A tais libertos libertadores chamou o autor de O Encoberto os «cavaleiros do Amor». Poderia chamar-lhes também cavaleiros do Bem que, para ele «consiste em fazer convergir a maior porção de espírito alterado, de substância na revertência a Deus» [idem]. Esses cavaleiros foram e são os arautos de uma «religião da razão», o que só se tornará claro a quem tenha estudado a Ideia de Deus. Eis como ele explica o que se deverá entender por essa expressão: «a crença em Deus cumpre que seja mais que uma vantagem. A ideia de Deus cumpre que se torne uma verdade. Acessível, pois humanamente e humanamente inobjectável. Assim, portanto, as almas têm de reacender-se no raciocínio; e a fé há-de emergir do cálculo. Virá um Buda experimentalista e dialéctico. Um Cristo virá, cujos prodígios sejam argumentos» [A Ideia de Deus]

Eis aí a mensagem parcelarmente entrevista pelos «cavaleiros». Eis aí a mensagem de Sampaio Bruno, historiador esotérico do esoterismo. (...)"

[Joel Serrão, in prefácio a «Os Cavaleiros do Amor» de Sampaio Bruno, Guimarães, 1960]

sexta-feira, 17 de outubro de 2003

O PARACLETIANISMO E O QUINTO IMPÉRIO


[O Paracletianismo e o Quinto Império]

"O Paracletianismo, doutrina filosófica formada a partir da interpretação dos textos bíblicos, no ponto em que se anuncia a vinda do Espírito Santo, o assistente congregador de uma nova era, a quinta, segundo a letra do Livro de Daniel (II, 44 e VII, 9), representa-se actualmente em Portugal pela voz profética de Raul Leal (...) É na Águia e no Orpheu que se adivinham os prenúncios desse renovo de forças genuinamente portuguesas, embora só mais tarde se realizem literariamente as contribuições para a gradação messiânica de um entendimento de historia pátria como fulcro de atenção temporal da nova idade. Os exemplos de Fernando Pessoa, na Mensagem, de Ferreira Gomes, no Quinto Império, de Duarte de Viveiros, na Obra Poética (...), e Raul Leal, no Anthéchrist et la Gloire du Saint Espirit, para lembrar apenas alguns dos nomes mais proeminentes, voltados para o messianismo português, são a prova flagrante do cuidado posto na reabilitação de ideias entre nós não envelhecidas.

(...) Fundamentalmente , a base do Sebastianismo de Pessoa era a interpretação medieval do texto bíblico, a ideia do translatio imperial que é a primeira evidencia da filosofia politica do Quinto Império. E, na comunhão unitária da translatio com as revelações da astrologia, do exemplarismo, das profecias sebásticas, está, com exactidão, o porquê da superioridade universalista da obra de Raul Leal ou Fernando Pessoa sobre incipientes balbucios de patriotismo, que formam a literatura sebástica dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX.

Ora, partindo da verificação desta estrutura mental, aceitando, com premissas do Paracletianismo, tais dados filosóficos, explicar-se-à a filiação do Messianismo português (...) realce de uma verdadeira plêiade de construtores do Quinto Império, assim escalonada cronologicamente em Portugal: Bandarra, D. João de Castro, Padre António Vieira, D. Francisco Manuel de Melo, António Pereira de Figueiredo, Oliveira Martins, Sampaio Bruno, Fernando Pessoa, Ferreira Gomes e Duarte Viveiros - selecção que, recentemente, em estudo antológico sobre o Quinto Império, me pareceu a mais acertada, entre os autores não vivos.

O caso especifico de Raul Leal, sedutora amostra de compreensão do Paracletianismo, tem, sobre todos os outros escritores portugueses, a superioridade original da sua não filiação directa, imediata, no tradicionalismo sebástico - o que o aproxima, naturalmente, da obra quinto-imperial de alguns autores estrangeiros, como Papini ou Bloy. Recorde-se, a propósito, a extraordinária aceitação que as ideias de Império futuro, de translatio imperial, de Paracletianismo, de Império ideal, obra de alquimia, de Unidade, tiveram em autores como S. Agostinho, S. Bernardo, Joaquim de Flora, S. Boaventura, Raimundo Lúlio, Dante, Margílio Ficino, Pico delle Mirandola, Paracelso, Nostradamus, Bobeme, Goethe, Kleist, etc. ..."

[Artur Anselmo, in Diário da Manhã, 12/11/1960]