[O Paracletianismo e o Quinto Império]
"O
Paracletianismo, doutrina filosófica formada a partir da interpretação dos textos bíblicos, no ponto em que se anuncia a vinda do
Espírito Santo, o assistente congregador de uma nova era, a quinta, segundo a letra do
Livro de Daniel (II, 44 e VII, 9), representa-se actualmente em Portugal pela voz profética de
Raul Leal (...) É na
Águia e no
Orpheu que se adivinham os prenúncios desse renovo de forças genuinamente portuguesas, embora só mais tarde se realizem literariamente as contribuições para a gradação messiânica de um entendimento de historia pátria como fulcro de atenção temporal da nova idade. Os exemplos de
Fernando Pessoa, na
Mensagem, de
Ferreira Gomes, no
Quinto Império, de
Duarte de Viveiros, na
Obra Poética (...), e
Raul Leal, no
Anthéchrist et la Gloire du Saint Espirit, para lembrar apenas alguns dos nomes mais proeminentes, voltados para o messianismo português, são a prova flagrante do cuidado posto na reabilitação de ideias entre nós não envelhecidas.
(...) Fundamentalmente , a base do
Sebastianismo de
Pessoa era a interpretação medieval do texto bíblico, a ideia do
translatio imperial que é a primeira evidencia da filosofia politica do
Quinto Império. E, na comunhão unitária da
translatio com as revelações da astrologia, do exemplarismo, das profecias sebásticas, está, com exactidão, o porquê da superioridade universalista da obra de
Raul Leal ou
Fernando Pessoa sobre incipientes balbucios de patriotismo, que formam a literatura sebástica dos séculos
XVII,
XVIII,
XIX e
XX.
Ora, partindo da verificação desta estrutura mental, aceitando, com premissas do
Paracletianismo, tais dados filosóficos, explicar-se-à a filiação do
Messianismo português (...) realce de uma verdadeira plêiade de construtores do
Quinto Império, assim escalonada cronologicamente em Portugal:
Bandarra,
D. João de Castro,
Padre António Vieira,
D. Francisco Manuel de Melo,
António Pereira de Figueiredo,
Oliveira Martins,
Sampaio Bruno,
Fernando Pessoa,
Ferreira Gomes e
Duarte Viveiros - selecção que, recentemente, em estudo antológico sobre o
Quinto Império, me pareceu a mais acertada, entre os autores não vivos.
O caso especifico de
Raul Leal, sedutora amostra de compreensão do
Paracletianismo, tem, sobre todos os outros escritores portugueses, a superioridade original da sua não filiação directa, imediata, no tradicionalismo sebástico - o que o aproxima, naturalmente, da obra quinto-imperial de alguns autores estrangeiros, como
Papini ou
Bloy. Recorde-se, a propósito, a extraordinária aceitação que as ideias de Império futuro, de
translatio imperial, de
Paracletianismo, de Império ideal, obra de alquimia, de Unidade, tiveram em autores como
S. Agostinho,
S. Bernardo,
Joaquim de Flora,
S. Boaventura,
Raimundo Lúlio,
Dante,
Margílio Ficino,
Pico delle Mirandola,
Paracelso,
Nostradamus,
Bobeme,
Goethe,
Kleist, etc. ..."
[
Artur Anselmo,
in Diário da Manhã, 12/11/1960]