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sexta-feira, 17 de outubro de 2003

[A HORA]

 
[A Hora]

"A Hora, a derradeira hora do tempo, aquela onde não há literalmente nem rei nem lei, nem paz nem guerra, nem se sabe o que é mal nem o que é bem, não está, como finisterra, longe. A manhã levou já o seu zénite, e a tarde há-de trazer o seu nadir. Tudo o que nos resta é esperar pelo nevoeiro, esse tempo emblemático e alheio onde se acaba o tempo e se diluem as coisas, como síntese adequada que é de tudo o que existe. Ocultámo-nos no sol e revelar-nos-emos na sombra

Neste trânsito para a consumação final dos séculos, uma única coisa interessa reter : a morte de Portugal. Existir é ser finito, morrer é devir infinito. A morte é que prolonga sem limites a vida. Hoje, depois do mar perdido e do Império desfeito, a morte de Portugal é aquilo que falta na verdade cumprir. Façamos fé. Depois dela nada no mundo será, pela primeira vez, como dantes"

[António Cândido Franco, in Panfleto Contra Portugal, Ed. Arauto & Jorge Cabrita, 1989]