domingo, 27 de novembro de 2005


Álvaro de Castro - Pela República, Liberdade e Democracia

Aires Antunes Diniz, economista e investigador na área da educação, natural da Guarda, publicou na excelente "Colecção Gentes da Guarda" [ed. C.M.Guarda] um admirável trabalho biográfico e ensaístico sobre o (muito esquecido) advogado (na Guarda), militar, deputado (1890), deputado constituinte (1919-21-22), lente da Escola Militar, ministro da Justiça em 1913 e 1914 (está "ligado a iniciativas como a Ordem dos Advogados, Home-Stead e o Habeas-Corpus"), ministro das Finanças em 1914 e 1915 (e 1923-24), administrador colonial em Moçambique em 1915, director da Sociedade de Geografia de Lisboa (1920), ministro das Colónias (1920 e em 1923), ministro da Guerra (1920 e 1924) - Álvaro Xavier de Castro [n. 9 de Novembro de 1878-m. 29 de Junho de 1928].

Álvaro de Castro era filho de José de Castro (importante membro da Maçonaria, da Loja Federação, em Coimbra, 1869). Fez parte José de Castro do partido progressista (1878), foi redactor do semanário Districto da Guarda, tendo abandonado o partido progressista e filiando-se no partido republicano (1881). Funda na Guarda o jornal Povo Portuguez (1882) e defende nesse mesmo ano os presos políticos da Madeira [publica um curioso opúsculo "As victimas d'ElRei!, Historia dos processos movidos contra os perseguidos políticos da ilha da Madeira"]. Por seu turno, seu filho Álvaro de Castro, escreve em várias publicações: no jornal de caricaturas A Marselhesa (1897), na revista de etnografia Tradição (1899), na revista O Passatempo (1900), na Revista Nova (1902), na Folia (1902), na revista coimbrã Arte & Vida (1904), Mocidade (1904), no jornal A Escola Nova (1911), na Límia (1911) e na Estrela da Beira (1926).

O copioso ensaio sobre Álvaro de Castro, começa com referências à juventude académica (greve de 1907) de Álvaro de Castro; observa a influência da "primeira revolução republicana de 1891" na sua formação cívica; refere a sua "sólida formação artística" acompanhando os seus textos presentes em algumas revistas de arte coimbrã e nacionais; analisa o seu desempenho na primeira fase da implantação da República e no "controlo das primeiras tentativas contra revolucionárias" e ainda como "administrador e estratega colonial na segunda metade da década de 10"; faz o historial do papel decisivo de Álvaro de Castro, "tanto durante como após o sidonismo na contenção das ameaças à democracia"; salienta o seu "papel político como chefe de governo ou das finanças e em particular na administração financeira do país" em 1924 (saneamento das finanças públicas após a proclamação da República), realçando o "economista que tenta fazer funcionar racionalmente os sectores da economia prejudicados pela especulação financeira"; comenta o papel de Álvaro de Castro na "defesa do regimen na luta contra o Estado Novo até à sua morte em Coimbra, após um curto mas doloroso exílio no estrangeiro". Eis, pois, uma obra de consulta obrigatória para a análise do Regime Republicano e do Estado Novo. As referências bibliográficas abundantes, a apresentação de vastos documentos sobre o biografado, a pesquisa atenta feita, tornam este livro uma fonte importante de consulta. A não perder.