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domingo, 14 de dezembro de 2003

TEIXEIRA DE PASCOAES [1877-1952]


Morre a 14 de Dezembro de 1852

"Pois tudo, tudo há-de passar, enfim,
O homem, o próprio mundo passará,
Mas a Saudade é irmã da Eternidade
"

[TP, in Marânus]


"... a Saudade é (...) o amor carnal espiritualizado pela Dor ou o amor espiritual materializado pelo Desejo; é o casamento do Beijo com a Lágrima; é Vénus e a Virgem Maria numa só Mulher. É a síntese do Céu e da Terra; o ponto onde todas as forças cósmicas se cruzam; o centro do Universo: a alma da Natureza dentro da alma humana e a alma do homem dentro da alma da Natureza.

A Saudade é a personalidade eterna da nossa raça; a fisionomia característica, o corpo original com que ela há-de aparecer entre os outros Povos (...) A Saudade é a manhã de nevoeiro; a Primavera perpetua «a leda e triste madrugada» do soneto de Camões. É um estado de alma latente que amanhã será Consciência e Civilização Lusitana ..." [TP in Revista Águia, vol. I, 2ª série, Fev. 1912]

domingo, 2 de novembro de 2003

TEIXEIRA DE PASCOAES [1877-1952]



n. 2 de Novembro de 1877

"... Eu chamei Saudosismo ao culto da alma pátria ou da Saudade erigida em Pessoa divina e orientadora da nossa actividade literária, artística, religiosa, filosófica e mesmo social. E a Saudade, com a sua face de desejo e esperança, é já a sombra do Encoberto amanhecido, dissipando o nevoeiro da legendária manhã." [in , A Arte de Ser Português, T. P.]

" A tristeza lusitana é a névoa duma religião, duma filosofia e dum Estado, portanto. A nossa tristeza é uma Mulher, e essa Mulher é de origem divina e chama-se Saudade; mas a Saudade no seu mais alto e divino sentido, não é a saudade anedótica do Fado e de Garrett ... A Saudade é o amor carnal espiritualizado pela Dor, ou o amor espiritual materializado pelo desejo: é o casamento do Beijo com a Lágrima: é Vénus e Maria numa só Mulher: é a síntese do Céu e da Terra: o ponto onde todas as forças cósmicas se cruzam: é o centro do Universo: a alma da Natureza dentro da alma humana e a alma do homem dentro da alma da Natureza: a Saudade é a personalidade eterna da nossa Raça: a fisionomia característica, o corpo original com que ela há-de aparecer entre os outros Povos ... A Saudade é a eterna Renascença, não realizada pelo artifício das artes, mas vivida, dia a dia, hora a hora, pelo instinto emotivo dum povo: a Saudade é a Manhã de Nevoeiro: a Primavera perpétua: é um estado de alma latente que amanhã será a Consciência e Civilização Lusitana. Eis a nossa tristeza: o seu espírito são e divino ..." [T. P., in, A Águia, nº 8, Ano I]

"O homem representa de homem, nada mais, porque sonha, idealiza, concebe-se como um ente superior. É só gesto, tom de voz, mímica, - um macaco esperto. Como ele discursa à mesa dum Café! Os outros, mais da selva e da banana, ouvem-no, embasbacados! Proclamam-no um ser sobrenatural. É agradável haver um deus da nossa espécie. O homem representa sempre, ou quando pensa e logo existe, ou quando entoa o cantochão, todo um com o espantalho da morte. É sempre um actor inconsciente, ou vestido de negro eclesiástico ou envolto na púrpura pagã" [in Cartas a uma Poetisa, T. P.]

" Admitimos que haja muito de literário na forma da poesia de Pascoaes, como talvez de toda a poesia. Todavia, é irrecusável a evidencia de um conteúdo terrivelmente sério, experimental, operativo, iniciático. Os seus elementos essenciais, o poeta di-lo muitas vezes, são o silêncio e a solidão e a lua, essa caveira astral. É algo que corresponde, em termos de iniciação maçónica, à solenidade absoluta da «câmara escura», que Fernando Pessoa representou na primeira parte do poema A Múmia. (...)

Pascoaes vê naquele que foi iniciado nos «mistérios« da saudade o «ser duplo», uma espécie de «Jano Tetrafonte», tornado senhor da rebis - a coisa dupla. No homem comum, a saudade é apenas um sentimento, mas o que inquieta, perturba e entusiasma o poeta é verificar que há um povo, o seu, a quem foi dado a graça sem o saber, do sentimento do centro do mundo. Tão espontaneamente como a vista foi dada aos homens de todo o mundo. Por isso defendeu a iniciação poética pela saudade e nela viu o carro de fogo capaz de nos transportar de novo ao Paraíso ..." [António Telmo, História Secreta de Portugal]


"O luar prateia o nosso berço
e a aurora doira-nos o túmulo.
Túmulo e berço, luar e aurora,
principio e fim, quem os distingue?
Mas, nesta confusão
eu adivinho
que tenho em vida, a Eternidade
e o Infinito"

[Últimos Versos, T. P.]