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quarta-feira, 2 de julho de 2003

FESTA DOS TABULEIROS OU FESTA DO ESPÍRITO SANTO - TOMAR


A serenidade incómoda, nunca explicada, que nos invade em Tomar, ruas a fugir de ruas, esguias, labirínticas, castelo ao fundo, é sentida por todos que lá vão em visita. O saber do corpo e da terra estão presentes num ritual mágico-religioso ao longo do rio Nabão, num enamoramento que o corpo responde com as doçuras das coisas perenes. Ao longo do ano, no solstício sem dúvida. Na Festa dos Tabuleiros também. Os agradecimentos à Divindade o produto das colheitas, em "acções de graça" de uma religiosidade pagã que se perde nos tempos, tem uma das suas expressões ritualistas mais poderosas em Tomar, nas festas em honra do Espírito Santo. Como nos Açores terá e tem. "É esse o nome do povo, o culto popular do Espírito Santo" [Agostinho da Silva].

"Talvez o povo, para que se atinja seu ideal de governo, de economia e de liberdade, saiba de Constituições mais adequadas do que aquelas que, talvez sempre com as melhores das intenções, lhe fabricaram os especialistas; talvez para um Portugal do Espírito Santo ... " [Agostinho da Silva]

Tomar, pois. "A Festa dos Tabuleiros é essencialmente constituída por um CORTEJO de oferendas, neste caso particular o PÃO, fruto da terra e dom de Deus. Quer a tradição que todos, indistintamente, recebam após a festa o seu Quinhão - a PÊSA - de Pâo Abençoado pelo Pároco - PÃO BENTO - e a CARNE, produto das rezes abatidas propositadamente e que, primitivamente, seriam imoladas em sacrifícios. Também, por vezes, se tem feito incluir na «Pêsa» o Quinhão de VINHO" [Programa Oficial das Festas, 1950].

Tomar, Teodomar dos Visigodos, lugar protegido pela Virgem Negra, presente na Igreja de Santa Maria do Olival (ou da Nossa Senhora das Oliveiras), mais tarde, ao que parece [O Ouro dos Templários. Gisors ou Tomar, Bertrand]" anexada por um convento de beneditino de quarenta e quatro frades? [note-se, 44], a lenda de Santa Iria [ou Ireia, vide Amorim Rosa, "Tomar"], a mixagem cultural, antropológica e etnográfica aí presente; o Castelo dos Templários, o Convento de Cristo, a Ermida da Conceição, a Igreja de S. João Baptista, a Sinagoga, todo uma via simbólica, arquitectónica por descobrir. Como em Sintra, Mafra, Batalha ou nos Jerónimos [vide o Jornal V Império, 1991]

Tomar, Ordem do Templo ou Ordem de Cristo. Gualdim Pais, vindo de Bragança, aluno dos Cruzios, símbolo da defesa desse lugares, mas também procurando "os conhecimentos" que o universalismo templário assumia. Dupla face: Esóterico (Igreja de S. João) versus exóterico (Igreja de S. Pedro). Daí a presença importante da comunidade judaica. O Castelo Templário, o ovo alquímico nas ruínas do castelo que nos diz que a Grande Obra se realizou. A Charola, templo dentro do castelo, octogonal, os medalhões da com a Cruz de Cristo nas abóbadas, edifício único da época, lendas sobre os subterrâneos ou câmaras de iniciação debaixo da sala; a Janela Manuelina do Convento de Cristo com traçados geométricos elucidativos, a Ordem da Jarreteira e do Tosão de Ouro aí presente, que nos leva ao claustro da Micha e do Corvo; e de novo surge Hermes de Trimegisto, lá no alto da abobada; o Olho de Boi Manuelino, com a presença (constante na arquitectura templária) de ângulos de 17 e 34 graus. Eis uma linguagem secreta por descobrir. Toda uma cosmogonia para estudar. Toda uma Terra para visitar.

[Há uma extensa bibliografia, em livros, brochuras, revistas sobre Tomar. Julgamos que é prossível começar por consultar o site Bibliomanias, onde pode aceder a um conjunto, imcompleto que o é, mas expressivo sobre a temática em causa]

terça-feira, 1 de julho de 2003

TOMAR



Ainda hoje
As constelações
São em ti esplendor,
Ponto vivo
De energia e de amor.

Quando batem as horas
No bronze alquímico
Os cavaleiros vigiam
No altíssimo segredo
O nosso inteiro destino.

Tomar,
Onde a neblina
Quando se forma,
É uma esfera armilar

[Eduardo Aroso, in Poemas do Arquétipo, 1990]