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quinta-feira, 25 de junho de 2009


FERREIRA LEITE: CEMITÉRIO POLÍTICO

"Não é ter um sistema político, deixar-se assim arrastar por todos os acontecimentos" [Napoleão Bonaparte]

A fotografia da "velha" senhora Ferreira Leite, exibida ontem na SIC (Alô, doce Ana!), não surpreende na pose nem no discurso – o simulacro era demais conhecido –, nem seduz politicamente, porque gasto está o espectáculo do tempo adoçado do "mercado" e do deficit, que em tempos lhe lambuzou os dedos ministeriais.

A Sra. Ferreira Leite não pode jogar ao cadavre exquis do desenvolvimento económico (e social) porque os escombros e a tragédia do país (até hoje) tem propriedade e rosto(s). E não será ao dr. Guterres o único a ser-lhe passado o atestado de irresponsabilidade pelo legado (como a Sra. Leite e o dr. Pacheco Pereira, laboriosamente assegura). A lenda do dr. Cavaco & a cegueira de Ferreira Leite, mais as orações de um ror de insidiosos sábios – sempre muito bem dispostos a debater qualquer "abalozinho" financeiro que nunca entenderão –, não desapareceram por encantamento divino ou joguete de palavras. O cemitério político indígena é uma moléstia que não honra ninguém!

Só o magnífico delírio do pensamento económico de Ferreira Leite - aliás bem conhecido entre os estudantes das velhas aulas práticas de Economia por si leccionadas - pode sentimentalmente considerar que esta paróquia tem validade ou viabilidade económica (estude-se a poeira no nosso passado), por insignificante seja, que permita um dia deixar de ser essa lamuriante caça de negócios ou affaires conspícuos, para tornar-se economicamente mais autónoma, mais livre e criadora. E interessante para medir o grau de felicidade de todos nós, longe da ortodoxia do sistema.

Era (é) fácil martelar nesse fanfarrão e insolente sr. Sócrates. A ignorância audaciosa do homem, os enfeites contabilísticos da sua governação, a mentira sempre respigada, a “perfeição” do seu sistema de cárcere (justamente reaccionário), a par dos arranjinhos burlescamente plagiados em governos anteriores (veja-se o caso PT), traz argumentos infindáveis e muito autorizados. Porém o testemunho da sra. Ferreira Leite não foi perfeito, nem conforme.

A "velha" senhora, quiçá dolorida na sua oratória incompetente, esgrime copiosas interrogações sobre o endividamento do país (no que está certa), sem nunca vincar como se pode (economicamente) combater tais desequilíbrios externos. Julga (porque julga) que as suas cantorias contra as grandes obras públicas, garatujadas num qualquer five o'clock tea decorativo, pode substituir o homem.

No novo look da graciosa Manuela não há lugar a escolhas económicas (diz que estão, ainda, no forno partidário), a (re)interpretação de estudos económicos de custo-benefício sobre obras públicas (que diz, grosseiramente, não conhecer) e a sua ciência ignora onde se podem fazer os investimentos públicos. Mais, extraordinariamente, tem pretensão de combater o desemprego sem investimentos públicos, bem como, escandalosamente, intenta resolver o problema do sobre-endividamento do país mantendo o nível dos impostos (ou mesmo, baixando-os). A sra. Ferreira Leite tem pavor da economia e dos seus ensinamentos. Tal como tem a torpeza de "não fazer juízos de valor" sobre esse impoluto Dias Loureiro ou esse génio da banca que é Vítor Constâncio. Os amigos, não se esquecem!

Sem comentário ficaram as classes profissionais, selvaticamente atingidas pela violência das medidas do sr. Sócrates. Ninguém sabe o que fará um governo da sra. Manuela no que diz respeito às trapalhadas reaccionárias na Educação e Saúde, no sistema de Segurança Social ou no código de trabalho. Com o serviço já feito pelo actual representante da corporação dos interesses, julgamos que tudo ficará como está. Conhece-se há muito o cemitério político da sra. Ferreira Leite!

terça-feira, 23 de junho de 2009



M. FERREIRA LEITE & P. RANGEL E OS DO COMPROMISSO PORTUGAL

"vamos fazer um haikai com isto aqui
pegadas
picadas

o fim das pegadas
no fim
as picadas
"

[Paulo Leminski]

quinta-feira, 3 de julho de 2008


2 entrevistas: eleitoralismo & credibilidade

"As dificuldades nem sempre são igualmente consideráveis" [Clausewitz]

As entrevistas às Tv’s de Manuela Ferreira Leite e de José Sócrates, ambas em cativação de votos, foram irreais, insonsas e estranhamente vulgares. Pouco interessa se Sócrates bate copiosamente Ferreira Leite e esse jardim suspenso que é hoje o PSD. A senhora do défice, sem qualquer mistério ou ocultação, mostrou a tragédia a que se presta e o que vale, que é muito pouco ou nada. Sem conhecer os dossiers, seca em lamentações, dando mostras de se ter esquecido da linguagem económica e da sua fraseologia, Manuel Ferreira Leite ficou embaraçada entre o disparate de algumas coisas que (não) avançou (baixa de impostos e investimento público) e a sua putativa credibilidade. Não consegue descolar da sua anterior e desastrosa governação e, mesmo que repita até à exaustão essa presumida palavra "social", não deixa de ser vítima da antipatia que se lhe conhece. E da sua falta de credibilidade, que teimosamente persiste.

José Sócrates está, já, em campanha eleitoral. Porém, entre as suas lamentações (bem ao estilo de Calimero) pela ingrata crise "importada" (de que não soube interpretar os sinais) que se diz vítima e a gritaria incontinente de que tudo irá correr bem para o amanhã vindouro, Sócrates proporciona sempre um misto de incredulidade (pelo atrevimento) e de repulsa pela falta de decoro e humildade que revela. Quando, na sua melodia de sempre (e que Ferreira Leite não soube aproveitar porque, ironicamente, a "produção" teórica é idêntica), nos assegura que todo o mal do mundo (leia-se: a crise económica) é de origem externa - como obscenamente repete -, não está a fazer mais que dissimular o contributo formidável da sua ruinosa gestão económica e orçamental, para o estado da coisa. Ele não só pensa e repete que a fatalidade lhe bateu à porta, logo quando tudo ia bem (como diz), como, pela engenharia económica e social que pretende tricotar, tal maldição desaparecerá por retóricas intensas e choques de investimento público. E quem não pensar assim – confessa com a alma em dor – é um crónico pessimista, logo um sujeito sem "ânimo" e sem "coragem".

A controvérsia entre Sócrates e Ferreira Leite não é uma simples divergência sobre a afectação eficiente de recursos (como alguns sábios analistas divulgam), nem um qualquer pecadilho entre a economia positiva versus normativa, muito menos o confronto entre eficiência económica e distribuição de rendimentos – como timidamente outros nos dizem -, mas tão só a caricatura do que escreve Keynes:"o dever dos economistas é tentar mudar a opinião pública".

E sobre isso, estamos todos - evidentemente - bem conversados.

domingo, 1 de junho de 2008


Manuela Ferreira Leite

"Fui-me confessar e disse / Que não tinha amor nenhum
De penitência me deram / Que tivesse ao menos um ...
" [popular]

Manuel Ferreira Leite venceu as directas no PSD. Como ordinariamente se esperava e a infecta colegiada dos "ilustres" do partido pretendia. No final, a exaltação nas hostes do PSD parecia uma novena ao "glorioso" passado cavaquista, enquanto as diatribes nas hostes do PPD atestam que o serviço por ora feito é prenúncio de aparatoso divórcio. A coisa promete, faça o que fizer o eng. Sócrates, tenha ou não a senhora Ferreira Leite a credibilidade que tiver. O ofício fúnebre da senhora chegará em 2009. Tragicamente!

Manuela Ferreira Leite, nesta sua comédia doméstica, não foi mais que um Sócrates em "tailler" e sob medida. Não tendo uma única ideia sobre a crise económica em curso (que aliás não entende nem pode entender), esquivando-se a qualquer proposta de estratégia política (assunto que sempre lhe tolheu a mente), sem fazer circular qualquer ideologia (social-democrata ou liberal) que agregue espíritos e vontades, Ferreira Leite apresentou o pregão eleitoral que as corporações e os interesses instalados no seu partido esperavam: discurso claro para chegar às "migalhas" que o poder político (por ora socialista) generosamente distribui entre os seus. O "bloco central" (clientela PS+PSD) dos interesses corporativos foi bem ensaiado e está a chegar. Até mesmo o sábio Cavaco, em ânsia inédita, a isso se referiu em doce pastiche. Ao que parece a profecia de Sá Carneiro está prestes a cumprir-se: "uma maioria, um governo e um presidente".

Em tudo isto - fora as futilidades do jovem Ângelo Correia encarnado na figura de Passos Coelho (que fez a delícia aos ouvidos dos adeptos da superstição liberal: leia-se a prosa cariciosa de Lomba & Mexia, no DN de ontem), o esforço cénico desse original que é Santana Lopes ou os impropérios rústicos de Menezes a JPP – só ficou entre "boca e louca" uma curiosa afoiteza da senhora do défice: a sua putativa credibilidade e a ostentosa conversão à "questão social". A chacota política disso tudo virá de seguida.

É só esperar para ver o que Ferreira Leite dirá das avultadas medidas anti-sociais que o eng. Sócrates e os seus boys tomam na economia, na saúde, na educação, na justiça, para ver a hipocrisia disso tudo. Até se entender que, mais que fazer frente a uma situação económica e social caótica (que seria um exercício académico respeitável), se promove a guarda do "rebanho" para o futuro e pavoroso bloco central em 2009. Até lá, não há milagre que nos salve. Que vos salve!

domingo, 7 de dezembro de 2003

IRMANDADE DOS SENHORES DO DÉFICE


"O leitor deve preparar-se para assistir às mais sinistras cenas" [E. Sue, in Os Mistérios de Paris, citado por Pérez-Reverte, O Clube Dumas]

Plano fixo: Sala com pouca gente. Conversam em grupos. A câmara desliza em seu redor, detendo-se nos rostos. De repente, o ruído de vozes baixa de tom, ouvem-se fortes passadas no soalho, um bater de porta metálico. A sala fica vazia. O silêncio é total. A câmara avança rapidamente e detém-se, fixando X, imóvel sob uma janela de ferro. X surge em primeiro plano, ar angustiado, olhar atento. A câmara executa um movimento de rotação. A silhueta escondida salta para o sobrado, cautelosamente, avançando na direcção de uma larga mesa. O seu movimento é regular, movendo-se com decisão. O plano recomeça, mostrando jornais, papéis misturados com fotos e mais papéis, que se encontram espalhados sobre a velha mesa. A câmara aproxima-se e faz ver: um artigo do jornal O Publico, "2006: o ano em que vamos ter de nos ver ao espelho", cravado por uma «Henry-Bowie» de nove polegadas; várias miniaturas de submarinos e aviões; um mapa do Iraque; um aceite do aumento de capital de 400 milhões de euros para a CGD; ordem de serviço - invasão Espanha. Ao lado, já amarelecido, o caderno de encargos da Portucel; um discurso de Tavares Moreira para a "Irmandade dos Senhores do Défice"; uma fotografia assinalando a vermelho o rosto de Teodora Cardoso; um par de óculos oferta do Prof. Cavaco. Acolá, um curioso opúsculo em defesa do "Incumprimento do PEC pela França, Alemanha e Holanda"; uma fotografia do Ministro da Administração Interna a sorrir a Alfredo Assunção; a "Revisão do PEC" assinado por Durão Barroso; uma foto com dedicatória de Luís Delgado. Mais além, a acta do "Endividamento da Madeira", encontro secreto das Finanças e Alberto João Jardim; um volume rasgado da "Política Orçamental e a Estabilização Económica" de Cavaco Silva; uma "Carta prudente para uma razão indolente", copiosos conselhos de Miguel Cadilhe aos crentes. Novo plano: X , inclina-se sobre a mesa, apanha uma manuseada e gasta moleskine. Depois, ouve-se uma voz off:

Voz de X: A Lei de Ferreira Leite ou a Arte de Governar, necessária a todo o género de pessoas, utilíssima aos cidadãos e aos pregadores desenganados, novamente feita e ordenada pela Ilustríssima e Reverendíssima Senhora Ferreira Leite, qualificadora da Nova Reforma, Consultora da Bula do PEC, e Pregadora do Condado Portucalensis, & etc, & etc, Ano de 2003, a Ocidente da Península Ibérica

- Os dicionários dizem ser a Política a arte de governar um estado. A confusão começa sempre por aqui.
- O poder vem de não ter. As clientelas esperam, por isso, querer é poder.
- "Aconteceu-me um ministério" - eis o que deve dizer o neófito da governação.
- O que mais importa na governação são as cunhas que se acolhem. O resto é matéria para intelectuais.
- A Ministra das Finanças, com um ataque de choro, caça défices.
- Se um Governo tem uma ponta, procure, que tem outra. Lá estará, concerteza, Tavares Moreira.
- Uma das boas coisas que há para acreditar é na existência de Carlos Tavares.
- Todas as leis, sejam medíocres, más ou piores, devem ser seguidas à risca. Na dúvida perguntar ao Marques Mendes.
- Em presença de Santana Lopes, nunca comprar abóboras meninas.
- O Ministro da Defesa, dentro de um submarino, assobia sempre a Portuguesa.
- Não se chateie se o Programa da Oposição lhe parece idiota: amanhã será pior.
- Mais vale uma Câmara na mão do que várias a protestar por cima das nossas cabeças
- Incompetência mais incompetência é igual a um Governo perfeito.
- Se houver vontade politica suficientes, o INE prova qualquer coisa.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

CLUBE DE FANS DE FERREIRA LEITE

Acaba de aderir ao extraordinário Clube de Fans de Ferreira Leite, o marujo Nuno Mota Pinto. Agora sentado no cadeiral do Banco Mundial, vê a economia portuguesa com novíssimos óculos made in Ciéié. As postas colocadas pelo erudito economista de Coimbra sobre a teorética do défice fizeram sorrir a doce Faculdade e os seus clientes.  Abandonada a tese que a "economia é apenas uma narrativa", conforme lhe foi assegurado nos bancos da Dias da Silva, o novo yuppie do neo-liberalismo consegue esmifrar o Prof. Cavaco & Cia, ao enveredar pela argumentação da defesa intransigente das medidas da Mercearia Ferreira Leite, da qual é membro aderente. Esquecendo deliberadamente que a consolidação orçamental é inexistente; que o défice externo aumenta constantemente; que não há qualquer medida de politica económica digna desse nome (Carlos Tavares ...existe!?), que permita ganhos de produtividade, nem sequer modelo de desenvolvimento económico que se conheça; que as reformas para a modernização do Estado não foram feitas nem serão; que o facto de se ser contra as medidas irracionais e irresponsáveis de Ferreira Leite não significa, tout court, que não se proponha cortes na despesa pública; que o investimento no ensino e educação falhou completamente, dado a separação entre o tecido económico e as práticas curriculares do ensino actual, o que gravíssimo; que não é honesto estabelecer automatismos entre os pressupostos do controlo do défice e o famoso modelo de desenvolvimento económico que NMP jura estar aí a saltar; o nosso NMP dá-nos, deste modo, uma versão simplista da realidade económica portuguesa que terá, bem como outros, de justificar depois. E não se pede, como punição, que vá à oral, mas tão só que evite a cegueira que as novas lentes lhe provocaram.

quarta-feira, 19 de novembro de 2003

VEM AÍ A SRA FERREIRA LEITE ...


"Ora deixai-me dizer / que vejo tudo ao contrário / do que era lícito ver" [M.C.V.)

A inefável Ferreira Leite está de volta. Sabedora que o relatório do Banco de Portugal prevê um défice público, em 2003, de 5% do PIB, não entrando em conta com as engenharias contabilísticas costumeiras, a extraordinária Ministra corre célere e comenta, com sorriso seráfico, "que a política a seguir deve ser esta".

A tribo dos economistas, em fila de espera para os despojos da maior hecatombe da economia portuguesa dos últimos anos, curva-se respeitosamente perante o dogma ferreira-leitista do imaculado défice e, em gesto de fervor intelectual, atira com os velhos canhenhos de economia politica para o sótão da sua parcimónia intelectual. Lá estão em faxina, o paradigmático Jorge Neto, o frugal Miguel Beleza, o excitado Tavares Moreira, o abominável César das Neves, o casto Nogueira Leite, o nefelibata António de Sousa, ou esse mestre do suspense que dá pelo nome de Carlos Rosado de Carvalho mais o seu painel amestrado do Público, todos em desvairada arrumação dos economistas políticos clássicos e modernos, liberais ou nem por isso, mas outrora de muita estimação.

Sobre a agonizante caminhada descendente para o caos económico e social, com previsões que apontam para um PIB negativo à volta de 1%, como resultado de "um fraco estímulo ao investimento e a incapacidade das famílias em realizarem mais compras", e as consequências que tal provoca, suspeita-se que o receituário não vem em nenhum manual na língua de Camões, nem que possa ser traduzido de uma qualquer língua herege para uma necessária leitura chez Mercearia Leite & Família, e nem consta que se consiga já ouvir o que gritam Miguel Cadilhe, Cavaco Silva, Silva Lopes, Eduardo Catroga, Ernâni Lopes, Ferreira do Amaral, João Salgueiro, Rui Vilar, et all.

Afinal, se em tempos idos de 1993, a Sra. Ferreira Leite obteve uma performance no défice de perto de 6% do PIB, temos que nos regozijar pela proficiência de hoje. E aceitar, como nos diz Pessoa, que a crise provem "do excesso de civilização dos incivilizáveis". O que é justo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2003

MERCEARIA FERREIRA LEITE OU "E TUDO O DEFICIT LEVOU"


No tempo em que se estudava economia política, tudo era simples: os modelos macroeconómicos (ou modelos de equilíbrio geral) existiam, confirmavam-se ou não, mas eram "reais" porque, tão só, simplesmente existiam. Era sublime o opinioso protestatório dum monetarista, de uma qualquer geração, contra a cartilha keynesiana. Ou as batalhas intermináveis entre os neo-keynesianos e neoclássicos, com neo-marxistas e sraffianos sempre atentos e participativos. Como era doce a confusão em torno da "teoria monetária" ou sobre a "teoria do ciclo económico".

Hoje, subitamente, estamos em tempos de desconstrução teorética. Numa mundialização e globalização que tudo alterou, com a chegada ao debate de gente de várias matrizes - de economistas a escritores, de poetas a agricultores, jornalistas e bloguistas - a politica económica torna-se numa incontornável narrativa, de fracassos e êxitos que a (des)legitimam, com uma pluralidade de jogos de linguagem, onde por vezes o narrador - como nos diz Lyotard - é ele mesmo o herói da narrativa. Coisa estranha essa, mas só assim se entende o que dizia Ferreira Leite na oposição ["Não se pode aceitar a venda de património, mesmo que essa opção seja correcta sob todos os pontos de vista, se a receita que daí advém se destinar ao pagamento de despesas correntes. Se o Governo o fizesse seria uma enorme irresponsabilidade, por que sabia que estava a obter receita que não mais se repetia para poder fazer despesas que se repetirão todos os anos"] e o que faz e pratica agora, como ministra. Ou de como se governa na Mercearia Ferreira Leite com esse extraordinário slogan (do gaélico "Scluagh-chairm") do deficit, que é muito mais um grito de guerra provinciano que uma medida de politica orçamental (que lhe perdoe o prof. Cavaco).

Que modelo usa Ferreira Leite na mercearia económica? Para além da utilização da esferográfica, para o deve e haver, mais nada. Suspeita-se que, por patriotismo, nunca se pensou em tal, muito embora seja dito por um naipe de curiosos economistas - caso desse assombroso Nogueira Leite, do esforçado Carrapatoso, ou desse inolvidável Carp, de boa memoria - que existe sim senhor, que eles sozinhos ou em grupo excursionista já lhe puseram os olhos em cima e, num acto de pura modéstia, até nos disseram que se trata de um modelo assente nas exportações, que arrastaria a economia portuguesa para patamares invejáveis de crescimento e bem estar. Daí que na Mercearia Ferreira Leite, fiel à máxima fiat iustitia pereat mundus (em honra do deficit), se encontrem sentados, um ror de economistas e jornalistas em amena cavaqueira esperando a retoma, enquanto lá fora, nos passeios, os indígenas comentam que "e tudo o deficit levou". Serão imprudentes, por acaso?


Até quando Ferro Rodrigues?

O país está excelente. O governo desgoverna à sua maneira, em meritória acção pedagógica, enquanto a oposição desapareceu de vez. Minto, ficou o jovem Louçã, e ainda bem, senão seria prudente fechar o país e assinar de cruz essa Constituição Europeia de que muito se fala (parece que o prof. Barreto fez mea culpa sobre o assunto, mas não se entende bem o porquê da excitação). E, mesmo assim, ainda é de pensar duas vezes no assunto. Ferro Rodrigues está agrilhoado, de vez, aos desenvolvimentos do caso Casa Pia e nada pode fazer, dado a pressão mediática. O PS, por arrasto, desaparece da cena politica e é inútil lutar contra isso. Está tudo dependente desse sinistro caso, dado até as ultimas intervenções histriónicas havidas em sede do Parlamento. Portanto, nem o Ferro Rodrigues pode sair, nem ninguém estará interessado a herdar esse seu fa(r)do. Não conseguindo passar à opinião pública a teoria da urdidura politica (o que pode provar, afinal, que as cunhas politicas rosa não funcionam), deixando-se envolver em registos afectivos imprudentes, numa estratégia sinuosa que ninguém entendeu, Ferro Rodrigues e o PS estão condenados a restar na espera. A não ser que, num esforço colectivo, se procure dar uma resposta firme e credível, utilizando métodos democráticos e legais, ao lento degenerar da situação politica. Até porque a crise económica e social existente, aliada à crise de desconfiança face às instituições (Tribunais, Parlamento, Partidos, etc.) que se manifesta em força, está a levar os cidadãos deste país a uma "depressão" que tudo contamina. Não se pode esperar muito mais, porque as suspeitas matam qualquer conversa/debate público ou privado. E o exercício da cidadania vai se consumindo na fogueira do tempo presente. O que é perigoso e fatal.