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sexta-feira, 11 de julho de 2003
IMAGEM - REVISTA DE CINEMA DOS ANOS 30 (II)
No nº 2 (24 de Maio de 1930) um texto não assinado, com o título «Os estetas do cinema»
"... [o cinema] não é uma arte para raros apenas, destinada a satisfazer a ânsia bizarra, tola, falsa de meia dúzia de estetas com aberrações visuais.
Não a entendem assim certos pequenos decadentes e tristes. O cinema, para esses mancebos, não passa duma colecção de imagens bêbadas. Não lhes agrada ver uma paisagem de casas, como toda a gente vê, com os telhados voltados para o céu. Babam-se de goso quando as coisas e as figuras aparecem na tela branca viradas do avesso. Deliram com os ângulos esquisitos! O ângulo! Como eles enchem a boca com essa palavra saborosa! Rebolam-se quando aparece no écran o mesmo objecto fotografado 10 vezes de sítios diferentes: da ponta do nariz, do lado da frente, da parte de trás, de cima da mesinha da cabeceira, etc. São os estetas, em suma, os encharcados da literatura até ao esqueleto, os seres mais complicados e inúteis da criação. Esses desgraçados não compreendem as coisas simples, tranquilas e humanas. (...) "
No nº 10 (12 de Setembro de 1930) um texto sobre as aventuras de Arthur Lak, artista jovem de Holywood, na sua iniciação na praia de Santa Mónica e Palm-Beach. Trata-se da via iniciática, a prova de fogo, que os neófitos artistas teriam de passar nesses lugares de veraneio. Desde os flirts (consta que o A. L. atacou 10 putativas candidatas) com variadas estrelas bem na moda, até a um conjunto bem sensaborão de brincadeiras ou praxes de duvidoso gosto. No fim, parece que entregaram ao jovem candidato ao estrelato Arthur Lak pequenos textos literários, conselhos a seguir, prosas curiosas que a revista Imagem transcreve. Eis algumas pérolas citadas, com especial dedicatória a alguns bloguistas e, em especial, aqueles que confessam não levar à pratica a máxima: "A mulher é de quem a trabalha".
"O flirt é um invento de praia, amor epidérmico, leve; duas palavras trocadas, quando se está em maillot. Um amor que não deixa rasto, tal como uma onda, quando rebenta na praia. Na praia de Santa Mónica tudo é assim superficial. Profundo, só é o mar. (...) O flirt é uma bola com que os banhistas jogam, quando estão mergulhados até à cinta. Uma bola com vinte cores. (...) uma bola de sabão, que o vento desfaz; um rebuçado que sabe bem, que é delicioso, mas que passado meia hora, já nos esquecemos do gosto." [Robert Montgomery]
"Se eu escrevesse um livro, havia de intitular-se O Elogio do Maillot. Esse livro seria, ao mesmo tempo, o elogio da América. (...) Paris ensina a vestir. A América ensina a despir. Enquanto a Europa continua agarrada à literatura dos trapos, que inventam corpos divinos à mulheres, nós limitamo-nos a gritar ao mundo: vai-te despir! (...)" [Frances Dee]
"Este ano surpreendi um grupo de «estrelas» ao sol, completamente despidas, num canto discreto da praia de Santa Mónica. Era um grupo de vedetas célebres, adeptas do nudismo. (...) Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido co esta visão da velha Grécia. Só a antiga imagem clássica das deusas ao sol, acabadas de sair da espuma, pode descrever a beleza daquele grupo. Fiquei ali horas, a contemplá-las e a filosofar! (...) os corpos das mulheres nuas já nem parecem nus. São maillots cor de rosa, através dos quais a alma espreita." [Frank Albertson]
" ... O paraizo devia ter existido ao pé do mar, numa praia larga com algumas rochas e uma ondas pouco violentas. Foi ali, concerteza, que os nossos primeiros pais viveram, completamente nus e felizes. Isso explica a atracção atávica que ainda hoje sentimos pelo mar, e o desejo que nos assalta de atirar para longe os fatos, quando nos deitamos na areia. (...) O maillot! Deixem-me fazer uma confidência. O maillot despe mais a mulher. Se Eva tivesse aparecido a Adão, vestida de banho, ele não só teria comido a maçã, mas toda a macieira! (...) [Charles Roggers]
[Conselhos de Gary Cooper] " Quando estiveres no estúdio, a filmar, sê o mais natural possível. Mas quando fores para a praia, não hesites: representa."
quinta-feira, 10 de julho de 2003
IMAGEM - REVISTA DE CINEMA DOS ANOS 30
Nas arrumações costumeiras, reunimos a revista IMAGEM, dirigida por Chianca de Garcia e com José Gomes Ferreira como redactor principal. Estamos a 10 de Maio de 1930, quando saiu o número 1, 24 páginas que custavam 1$50 (lembram-se?). O editor era Francisco Bertrand e o administrador João Sá. Na capa, com dedicatória especial à revista, a vedeta alemã Lilian Harvey. Do número de estreia, saliente-se o editorial «Sempre Cinema», onde se debate a questão do cinema mudo versus cinema sonoro
« ... surgiu para o cinema uma nova possibilidade. A imagem juntou-se ao som. E um novo sentido, num mundo que parecia imutável, surgiu, modificando toda a técnica de expressão de que o cinema se servira até hoje. (...) Quer isto dizer que o som veio completar o cinema - ou que o cinema mudo era uma Arte incompleta? Devemos confessar que não. A Lina geral, de Eisenstein, é, através de tudo, uma obra definitiva. (...) O sonoro terá um grande lugar, como tem na literatura o romance e a novela. Mas o mundo persistirá também, pela mesma razão que em todos os países os poetas continuam a sonhar».
Escrevem ainda, António Lopes Ribeiro (Crónica), José Gomes Ferreira (Os que não passam de figurantes. Reportagem sentimental), Cottinelli Telmo ( Os antepassados do sonoro), Rui Casanova (O que cortam os censores em Portugal).
[A continuar a visitação às revistas de antanho]
« ... surgiu para o cinema uma nova possibilidade. A imagem juntou-se ao som. E um novo sentido, num mundo que parecia imutável, surgiu, modificando toda a técnica de expressão de que o cinema se servira até hoje. (...) Quer isto dizer que o som veio completar o cinema - ou que o cinema mudo era uma Arte incompleta? Devemos confessar que não. A Lina geral, de Eisenstein, é, através de tudo, uma obra definitiva. (...) O sonoro terá um grande lugar, como tem na literatura o romance e a novela. Mas o mundo persistirá também, pela mesma razão que em todos os países os poetas continuam a sonhar».
Escrevem ainda, António Lopes Ribeiro (Crónica), José Gomes Ferreira (Os que não passam de figurantes. Reportagem sentimental), Cottinelli Telmo ( Os antepassados do sonoro), Rui Casanova (O que cortam os censores em Portugal).
[A continuar a visitação às revistas de antanho]
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