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domingo, 7 de janeiro de 2007

Gaspar Simões: 20 anos passados sobre a sua morte [1903-1987]

[via evocação de mestre Gaspar Simões, em post do dia 6 de Janeiro por João Gonçalves]

"A posição do crítico é difícil e a sua missão ingrata. Demais, num país como o nosso, pouco dado à disciplina intelectual e avesso a toda a espécie de critica, de tal modo se arreigou nos autores a ideia de que o critico é um inimigo que nenhum critico o pode ser lealmente sem que sobre ele pese a má-vontade e o ressentimento dos que escrevem ..."

[Gaspar Simões, in João Gaspar Simões 1903-2003 . Evocação de uma Presença, Catálogo bibliográfico da Biblioteca, Museu e Arquivos da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Maio 2003, p. 33]

"Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade"

[Gaspar Simões, carta (09/06/1936) a Adolfo Casais Monteiro, idem, ibidem]

quarta-feira, 27 de agosto de 2003

FIGUEIRA DA FOZ



"(...) Quantos se lembrarão de que, na Figueira, no antigo hotel Reis, nessa época, ao fundo da Praça Velha, estiveram hospedados, ao mesmo tempo, Guerra Junqueiro, Gonçalves Crespo, Cândido Figueiredo, Manuel de Arriaga, Bettencourt Rodrigues. Já não era um mero hotel de praia: era uma sucursal da Academia, uma espécie de Academia a banhos.
Foi num dos alegres jantares dessa estirpe de Júpiter que ocorreu, segundo se conta, este pitoresco episódio: na altura da sobremesa, entraram na sala de jantar duas senhoras ainda novas, bonitas, uma portuguesa, outra brasileira, que estavam com as respectivas famílias no hotel. Ao vê-las entrar, Gonçalves Crespo, levantou-se imediatamente, ergueu o copo e exclamou:
- Brindo ao belo sexo dos dois hemisférios!
Mas logo Junqueiro [Guerra ...], reparando que sob a blusa de seda de uma das senhoras arfavam dois seios rechonchudos, levantou-se, de súbito, bradando, de copo em punho, com a galante irreverência dos seus vinte anos [estava-se, portanto, em 1870]:
- E eu brindo aos dois hemisférios do belo sexo!"

[Luiz de Oliveira Guimarães, in, I Centenário da Figueira da Foz, 1882-1982]

"... Ter nascido à beira-mar é como ter nascido debruçado sobre a vida.. Tudo é irrevogável nos decretos do tempo. Aquelas águas sobre cuja placidez o homem é tão impotente como sobre a placidez das estrelas, revestem-se de uma majestade divina. Não há searas no mar. Não há sobre as águas do mar vestígios do trabalho do homem. Quando um navio passa ao longe é como o passar medroso de uma mão pelo dorso nervoso de uma fera. O mar tem vida. O mar é impenetrável como tudo quanto é vivo ... "

[Gaspar Simões, idem, ibidem]

terça-feira, 20 de maio de 2003

GASPAR SIMÕES NA FIGUEIRA DA FOZ

Fomos a caminho da Figueira da Foz. O dia prometia ser de companhia. E foi. A exposição comemorativa do nascimento de Gaspar Simões, nascido naquela cidade há cem anos estava excelente, ou não fosse superiormente organizada por Henrique Cayatte. "Evocação de uma presença - Gaspar Simões (1903-2003)" no Centro de Artes e Espectáculos (CAE), integrando a programação do Coimbra 2003, era o título. Lá estava parte da biblioteca do Gaspas, como lhe chamava Luiz Pacheco, um grupo significativo de papéis presencistas, fotos e imagens dos intervenientes de antanho, e um acervo testemunhal do crítico literário, do romancista e do homem de letras.

A Divisão de Acção Cultural, Museu, Biblioteca e Arquivos da C. M. Figueira da Foz lançou um lindo e estimado Catálogo Bibliográfico - obrigado H. Cayatte - muito ilustrado, para esta evocação. De referir, para além da já tradicional bibliografia activa e passiva, os textos de Carlos Reis, «João Gaspar Simões queirosiano»; de António Pedro Pita, «João Gaspar Simões e a dinâmica do Neo-realismo»; e um texto de Eduardo Prado Coelho, «João Gaspar Simões e a Nova Crítica».

Dizia Gaspar Simões numa carta a Casais Monteiro:

«Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade» [in Catálogo ...]. Será que sim?

Uma última questão. Por que carga de água deve o bonito Centro de Artes da cidade da Figueira ficar com o nome do presidente que o mandou construir? Não há vergonha na cara destes boys. Será que teremos, no futuro, além do Centro de Artes Santana Lopes um ... Santana Lopes's Kasino, em Lisboa? Está tudo doido?