segunda-feira, 30 de abril de 2007
A intensidade da vitória
"Vitória é aquela vez em que a gente não perdeu" [Millôr Fernandes]
Amarga vitória dos andrades no campeonato de futebol! Triste e natural fim da lagartagem! Má sina a nossa, ó camaradas do glorioso!
O desaforo e fanfarronice dum miserável presidente do SLB, que escolhe tão fracativos jogadores e professa tão estulto treinador; o comando sem génio, firmeza estratégica, técnica e física desse cérebro mirrado que dá ao nome de eng. do Tenta; a intensidade pérfida do "triângulo invertido" do bronco Fernando Santos (a novidade táctica insultuosa dos indígenas treinadores lusos); o ruído proferido pelos vassalos falantes da Sport TV ao longo do jogo do Benfica-Sporting e de todos os outros, que é um study-case indígena só comparado ao espírito varonil do dr. Santos Silva em defesa do retorno do exame prévio; a inútil polémica sobre a putativa intensidade do toque faltoso do lagarto Caneira sobre Miccoli (as regras da arbitragem nunca se cumprem, aliás como tudo neste delicioso país) ou, ainda, a "ceifa" feita em Karagounis que o oficial do exército (que não árbitro, que é uma outra coisa) Pedro Henriques não puniu devidamente; os comentários desbragados, virtuais e doutrinários do Bruno Prata - o oráculo do sr. Pinto da Costa em terra dos Andrades; tudo isso exalta e, ao mesmo tempo, amansa qualquer adepto de futebol.
O mundo do futebol doméstico é uma merdice, tais os dotes que todas essas figuras ostentam. Os manguitos a esses cavalheiros, que ainda se podem fazer (thks! ó comissário Santos Silva), são o único orgulho que nos resta. Porque o futebol, ó meus amigos, o sublime futebol ... está a circular lá fora. Não há pachorra para estas lambugens pátrias e para a perda de tempo desta curiosa mentira, que é o futebol nativo. Há mais vida, mesmo que menos perfeita, para além do futebol. Trate disso, ó leitor!
domingo, 29 de abril de 2007
Leilão de uma Biblioteca - 7, 8 e 9 de Maio
Biblioteca de um Historiador do Livro (Parte II) - eis a continuação do leilão (de um total, presumivelmente, de cinco) do que dissemos ser "a copiosa [e valiosa] livraria de um dos ‘mestres’ da história do livro e bibliófilo alumiado, o dr. Artur Anselmo". Vale a pena reler o que em post anterior referimos.
O leilão desta II Parte decorre nos dias dias 7, 8 e 9 de Maio, pelas 21 horas, no Amazónia Lisboa Hotel (ao Jardim das Amoreiras), e estará a cargo de Pedro Azevedo, conceituado leiloeiro e profundo conhecedor da actividade do livro antigo, que, como sempre, apresenta um distinto e estimado catálogo.
Algumas referências (I Sessão/noite): Academia dos Singulares de Lisboa, 1692-1698, II vols / Acção Realista: revista quinzenal (monárquica), nº 1 (22 de Maio de 1924) ao nº 32 (Outubro 1926), 32 numrs / Almanach isrealita ‘Meoded’ para o anno 5677 (de 28 Setembro de 1916 a 16 de Setembro 1917), publicado por Samuel H. Mucznick, Hazan da Synagoga ‘Shaaré Tilvá’, Schojet e Mohel do Comité Isrealita de Lisboa, 1916 / Almanaque, publicação mensal, sob dir. J. A. de Figueiredo e or, gráfica de Sebastião Rodrigues, Outubro 1959 a Maio 1961 (col. O'Neill, Cardoso Pires, Vasco Pulido Valente, Stauu Monteiro, Baptista Bastos, Abel Manta, Sophia, etc.), 20 numrs / Os Gatos, de Fialho de Almeida, 57 numrs (Agosto 1889 a Janeiro 1894) / Alvorada: revista litteraria mensal, dir. Paulo Osório, 1896, 3 numrs / Adolescente, de Eugénio de Andrade, 1942 / Annona ou mixto-curioso. Folheto semanal que ensina o methodo de cosinha e copa, ..., nº1 a nº 36 (1836 a 1837), 35 numrs (total 36) / Cartas Espirituais do venerável padre Frei António das Chagas, 1762, II vols / Aqui e Além: revista de divulgação cultural, dir. Carlos A. Dias Ferreira, nº1 a nº5 (Março-Abril 1945 a Outubro 1946), V numrs / Archivo Pittoresco: semanário illustrado, vol I a vol Xi (Julho 1857 a 1868), XI vols / Arte Livre: revista semanal de arte e literatura, dir. Azevedo Coutinho, nº1 a nº6 (1897), 32 numrs [Queirosiano] / A Arte, dir. A. de Sousa e Vasconcelos, volI a vol III (Jan. 1879 a Set. 1881), III vols [Camiliano] / Arte & Vida: revista d'arte, critica e sciencia, dir. Manoel Sousa Pinto e João Barros, 1904-1905, 9 numrs (compl. 10) / Arte: revista internacional, dir. Eugénio de Castro e Manuel Silva Gayo, 1895-1896, 4 numrs / O Atheneu artístico-litterario: gazeta illustrada, dir. Ferreira de Brito, 1880-1881, 52 numrs / O Bardo: jornal de poesias inéditas, Março 1852 a Março 1854, 25 numrs / Bibliotheca familiar, e recreativa offercida á mocidade portugueza, 1835-36, 38 numrs / Boletim da Casa de Camilo (III primeiras séries completas), 1964-1988, 64 numrs / Conjunto Obras de António Botto / Monarchia Lvsitana (todos os volumes da 1ª ed.), de Frei Bernardo de Brito e Frei António Brandão / Flora Lusitanica, de Félix de Avelar Brotero, 1804, II vols / Vida de Dom Frei Bertolomev dos Martyres da Orde dos Pregadores, por Frei Luis de Cácegas, 1619 / Cadernos de Poesia, org. Tomaz KIm, José Blanc Portugal, Ruy Cinatti, 1940-42, 5 folhetos / Cadernos do meio-dia, coord. António Ramos Rosa, Casimiro de Brito, 1958, Faro, 3 numrs / Rimas Varias de Luis de Camoens, 1685-1689, V tomos / Cancioneiro de Ajuda, ed. Carolina Michaelis Vasconcelos, 1904, II vols / 37 Obras [invulgares e raras] de Camilo Castelo Branco / Catálogo do I Salão dos Independentes ..., 1930 / Chronica constitucional do Porto (nº1 a nº144; e nº 1 a nº308), 1833 [órgão oficial do exercito liberal) / A Cidade de Évora: boletim da Comissão Municipal de Turismo de Évora, 1942-1987, 70 numrs / Lendas da Índia, de Gaspar Correa, dir. Rodrigo Felner, 1858-64, IV vols / Almocreve de petas, de José Daniel Rodrigues da Costa, 1797-1819, 137 folhetos / várias Obras [folhetos, contos, rimas] de José Daniel Rodrigues da Costa
quarta-feira, 25 de abril de 2007
terça-feira, 24 de abril de 2007
Catálogo Bibliográfico 15 da Livraria D. Pedro V
Saiu o Catálogo Bibliográfico do mês de Abril da Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16 - Lisboa).
Algumas referências: Conjunto de livros estimados de António Botto [Cvriosidades Estheticas, 1924 - Cartas que me forma devolvidas, 1932 - Alfama, 1933 – Ciúme, 1934 - Dar de beber a quem tem sede, 1935 – Sonetos, 1938 - Baionetas da morte, 1936 - 9 de Abril, s.d – Não é preciso mentir, 1939 – Motivos de belleza, 1923 - Isto sucedeu assim, 1940] / Poemas e Fragmentos, de Bertold Brecht, Coimbra, 1962 / A Grande Opção: servir ou destruir Portugal, por Marcello Caetano, 1973 / Amor e Melancolia ou a Novíssima Heloisa, de António Feliciano de Castilho, 1828 / O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, Cervantes, 1876, II vols / A Cidade Queimada, de Mário Cesariny Vasconcelos, 1965 / O Minho Região de Beleza Eterna, por José Crespo / Trovas de Coimbra, de A. Gonçalves Cunha, 1931 / Estática e Dynamica da Physionomia, por Júlio Dantas, 1909 / Oiça António Ferro, por Artur Inês, 1933 / À Lareira, de Júlio César Machado, 1872 / A Vida Sexual, de Egas Moniz, 1904 / Mundo Português. Imagens de uma Exposição Histórica, 1940 / Passagem de Nível, de Sidónio Muralha, 1942 / Só, de António Nobre, Lisboa, 1898 / Las Razas Humanas, por Federico Ratzel, 1888, II vols / As Encruzilhadas de Deus, de José Régio, 1935 / Vasco Fernandes e os Pintores de Viseu do Século XVI, 1946
segunda-feira, 23 de abril de 2007
Dia Mundial do Livro
Antena 1 - Francisco José Viegas sugere-lhe um Livro, hora a hora.
Em Lisboa: Casa Fernando Pessoa [MegaSaldos] / Dia Mundial do Livro na Hemeroteca Municipal de Lisboa [livros e periódicos à venda] / Lisboa Cidade do Livro [ver programação aqui] / Feira do Livro
[via Mundo Pessoa]
sexta-feira, 20 de abril de 2007
III República - 33 Anos depois do 25 de Abril
A Alma Republicana passa também, como não podia deixar de ser, pelo retrato da III República, que o 25 de Abril de 1974 abriu. Não é possível esquecer essa aurora do céu português, que mulheres e homens durante longos anos, com ânimo, esperaram. E foram muitos que, contra o medo e a tirania, conspiraram e lutaram. Alguns deles não viram chegar esse "dia inicial inteiro e limpo", como Sophia pronuncia, mas ficaram para sempre na história colectiva da República. Outros entraram pelo 25 de Abril dentro, com alegria, ilusões e utopias. De diferentes condições sociais e distintas matizes políticas, com sorrisos e percursos ideológicos diferentes, as esperanças de Abril dominaram todos nós. Com entusiasmo, incerteza, revolta, desilusão, tragédia e dúvidas, o caminho feito por cada um de nós, e por todos, a memória não pode nem deve esquecer.
O Almanaque Republicano, a partir de agora, pretende recuperar factos e acontecimentos esquecidos, personagens, grupos e organizações que atravessaram e suportaram o período do Estado Novo até à III República, recolhendo do passado os ventos que a "Revolução de Abril" de 1974 sacudiu. 33 anos depois, temos muito que conversar. 33 anos depois, temos muito para lembrar. Que assim seja.
[via Almanaque Republicano]
Tem dor e tem puta - Mário Cesariny, ed. Biblarte, 2000
O Leilão anunciado por nós aqui e que pode ser consultado on line, apresenta cada vez mais fotos e imagens das peças que vão estar à venda. E algumas são de excelente qualidade, como aquela que, acima, atiramos sobre as vossas cabeças. Mário Cesariny ao V. dispor.
O Leilão terá lugar dia 12 de Maio, às 16 horas, no Centro Cultural de Belém, sala Vieira da Silva. Tome nota. A não perder.
Até tu ... Soares!
O dr. Mário Soares, o original Mário Soares que o bom siso (antigo) louva, não precisava de ser o "bombeiro" do actual grupelho socialista. Retirado estava, virtuoso ficava. Nem devia participar numa peça velha e por demais gasta, de misantropia partidária e ímpeto evangélico, invocando, sem discernimento algum, personagens tão diferentes entre si – em carácter, robustez ética e intelectual - como Ferro Rodrigues e José Sócrates. As palavras proferidas, aqui, presumidamente irreflectidas, transformam doravante o PS num imenso vaudeville, em que deploravelmente o dr. Soares ombrearia, lado a lado, com o inefável Jorge Coelho em actor principal, os manos Sócrates & Silva Pereira como excelentes debutantes, a inenarrável criatura dos brados José Lello como palrador e José Junqueiro, o homem dos raids ministeriais, como empresário. O dr. Mário Soares estará, talvez, desgastado. Mas convinha não abusar do enorme capital que granjeou e não desbaratá-lo entre gente pouco recomendável. Senão caímos no eterno problema da democracia: "é que quando o povo toma o palácio esquece-se sempre de puxar o autoclismo" [corrigenda de uma outra de Millôr Fernandes]. Não há vaidades transparentes. O dr. Soares devia sabê-lo.
quarta-feira, 18 de abril de 2007
A Questão Académica de Coimbra - 1907
Video, nos 100 Anos da Greve Académica de 1907.
[via Almanaque Republicano]
segunda-feira, 16 de abril de 2007
Gustave-Henri Jossot (ou Abdul Karim Jossot) [n. 16 Abril 1866–1951]
Nascido em França, Gustave-Henri Jossot foi um ilustrador famoso, caricaturista virulento e escritor. Ideologicamente perto do anarquismo, participou em importantes revistas satíricas (como L'Assiette au beurre, 1900) e libertárias do seu tempo. Vai para a Tunísia e aí converte-se (1913) ao Islão, [adoptando o nome de Abdul Karim, no que foi entendido como «une réaction de l’âme contre la civilisation mécaniste»] tendo mais tarde (1923), e como resultado do seu individualismo contemplativo, seguido a corrente sufista (mística). Morre na Tunísia em 1951.
Locais: Gustave-Henri Jossot / Gustave-Henri Jossot (1866-1951) / Islamic Anarchism
A biblioteca particular de Calouste Gulbenkian
"Como se sabe, não sou um bibliófilo especializado, e nunca me aventuraria a comparar a minha aptidão e os meus conhecimentos aos seus, mas sou infalivelmente atraído por toda e qualquer expressão de arte e beleza, e esta atracção sempre me inspirou relativamente a todas as secções da minha colecção"
[Calouste Gulbenkian, Carta ao antiquário Marinis (Florença), Junho de 1948, in Retrato do bibliófilo, Expresso-Actual, 14/04/2007]
No dia 19 de Abril, o site da Biblioteca Particular de Calouste Gulbenkian será inaugurado. Ler aqui.
sábado, 14 de abril de 2007
Uma questão de Carácter
"O político tem como o perdigueiro a analogia de farejar e levantar a caça" [L. A. Palmeirim]
A laboriosa carreira política do eng. Sócrates, pelo que se ouve e lê, estaria, segundo alguns iluminados, para continuar. A delicada questão da sua putativa via académica, inevitavelmente nunca existiu. É o que redizem por aí, em santa harmonia, modestos comentadores, o esculápio Menezes, dois ou três puristas de estratégia, o dr. Coelho e o cintilante spin doctor Luís Paixão Martins. Aliás o eng. Sócrates está aqui para nos salvar do mal, que como se sabe é impetuoso e infame. É assim no martírio da educação ou no festim do choque tecnológico, com ou sem OTA e TGV, entre o enrugado SNS do altíssimo dr. Campos ou no virote do castigado défice. Os aplausos do raminho afamado de politólogos do reino, em trechos enturvados de emoção, são o melhor momento deste Portugal perfeito.
Portanto, os amotinados da coisa pública, entre uns petiscos vulgares para correr o fastio da iteração do dizer político, regressam rápido, de régua e esquadro na mão, aos cenários masturbatórios da análise estadística. Não espanta, provavelmente, que nenhuma barrela política, que muitos com excessiva ingenuidade aguardam há muito, tenha lugar. Os sábios colunistas não o permitiriam, o indizível júbilo da canalha não consente e, mesmo, a PGR parece que não engendra desacato algum em toda esta história. Deste modo, questões como o "carácter", a "credibilidade" e a "confiança" do primeiro-ministro de um país europeu, não vêm ao caso. Há é que governar!
Este curioso prenúncio atesta bem como Portugal - o país mais atrasado de todas as Europas - está sujeito não só às epidémicas palavras do conciliábulo da classe dirigente ou dos seus patronos, como ainda se solidariza com o ludíbrio dos profissionais da política. A civilização nativa é uma lamúria episódica. Como o carácter ou a sua falta. O resto, sim o resto, é que nunca é uma perda de tempo. Salvé nobres cidadãos!
quarta-feira, 11 de abril de 2007
In-Libris - Catálogo Extra Ecologias Abril 2007
Curioso Catálogo da In-Libris (Porto), todo ele dedicado à temática da terra e da vida, com estimados e há muito esgotados livros de agricultura, botânica, zoologia, medicina tradicional, ciências naturais, alimentação e receitas caseiras, etc.
A consultar on line.
segunda-feira, 9 de abril de 2007
Mariano Gago e o caso Unigate
Um animado Mariano Gago consumiu a sua (há muito esperada) conferência de imprensa com factos confusos quando não obscuros e proclamou aos indígenas, sob uma encantadora indignação muito fora de prazo, um provisório encerramento compulsivo da Universidade Independente. A vexatória questão Unigate, a desvergonha do funcionamento (financeiro, curricular e pedagógico) daquela instituição de ensino privado e a solenidade do acto público, assim o exigia. Muito bem.
Porém, mesmo que a imaginação de quem respeitosamente o ouviu seja piedosa, parece que as piores das circunstâncias permanecem. O formidável trabalho de expurgação sobre a situação irregular da Universidade Independente, levado a cabo pela conferência de imprensa de hoje, e, do mesmo modo, a clarificação sobre o balbúrdia que foi a Universidade nos tempos idos de 1995/1997, rendeu muito pouco. A vassourada de Mariano Gago não foi higiénica, nem produziu efeitos. A questão, longe de se dissipar, permanece e agrava-se mesmo, tais as contradições presentes e, principalmente, a repugnante ousadia do Ministro em defesa de um ensino sem qualidade sustentado em certificados ou no esperançado canudo, sem que se prescreva a necessidade de esforço, de trabalho, de rigor e validade científica e pedagógica. E, aqui, reside a questão central em todo este caso Unigate. Aliás, pode dizer-se mesmo, de todo o ensino privado e público, do básico ao secundário, do superior ou cooperativo.
Não nos ocupamos, pois, do caso da credibilidade (ou não) do senhor primeiro-ministro, por muito respeitosos possam ser os admiráveis argumentos de Mariano Gago ou mesmo se tal provoca qualquer "regozijo" na canalha partidária. Convenhamos, apenas, que o discurso utilizado por Mariano Gago não é rigoroso nem justificado. Bastará referir a necessidade da existência de um continuidade curricular e pedagógica numa Universidade recém aberta (o que não se verificou entre 1995/97) e atender ao facto que as irregularidades existirem há muitos anos atrás, sem que o controle por parte da Inspecção-Geral da Ciência e do Ensino Superior tenha detectado qualquer falta séria.
Assim, o facto de a UNI passar, de um momento para outro, de uma instituição a funcionar normalmente para registar, depois, um "calamitoso" e "lastimoso" estado de degradação, só ornamenta a frontaria de quem quer. O que é evidente é que uma Inspecção Geral de Ensino que está dependente da tutela, por muito que os senhores inspectores consigam a proeza de terem estatuto de independência e autonomia, não pode apresentar nunca o vigor e a energia que se pretende e que, eles mesmo, exigem e aspiram. Saber que na velha Inglaterra a inspecção de ensino está afecta à Rainha, fora do compadrio partidário e da caridade política, diz muito e explica, também por aqui, a situação do ensino e da educação na paróquia. Vai-se seguir tal exemplo de idoneidade, ou irá continuar esse sentimento de indiferença e de imoralidade? Que o diga Mariano Gago, se para tal estiver interessado.
Homenagem a Adriano Correia de Oliveira [n. 9 Abril 1942 -1982]
"Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada
Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema ..."
Hoje, dia 9 de Abril, na data de nascimento de Adriano Correia de Oliveira e em sua homenagem, a Câmara Municipal da Marinha Grande promove uma sessão, exposição e espectáculo musical à sua memória. Ao cantor e, principalmente, ao excelente homem que foi, e hoje muito injustamente esquecido, será feito o devido e justo reparo. Finalmente.
Leilão Amadeo - fotografias, livros, etc
Sob direcção de Luís & Bernardo Trindade (Lisboa) irá decorrer no dia 12 de Maio, pelas 16 Horas - no Centro Cultural de Belém - um Leilão de Fotografias, Livros e Equipamentos vários, sob o nome de Amadeo [de Souza Cardoso], com peças de grande valor e estimação. A não perder.
Pode consultar aqui, dentro de dias, o belíssimo e esmerado catálogo do leilão, que não pode passar despercebido. Um encanto, por demais. Tome nota.
Luiz Pacheco: entrevista ao Correio da Manhã
"Os óculos pesam nos olhos que cegaram. À cabeceira, o jornal 'Avante' e um livro de José Gomes Ferreira não são bibelôs, mas companhias. Luiz Pacheco, criatura de inteligência rigorosa, de lucidez sobrenatural, um livre pensador que disse e diz coisas que não são fáceis de serem ditas, está preso a um cadeirão, tem o robe vestido, o aquecedor ligado e uma manta para o frio não lhe magoar o esqueleto. Nasceu em Lisboa, na Rua da Estefânea, a 7 de Maio de 1925, pai de oito filhos - frutos de muitos amores, na vida escolhida, que foi dura por prazer, só fez o que bem entendeu (...)
- Oh miúda, eu já li muito. Nem queira saber o que eu já li. Agora é a minha filha que me lê os artigos de jornais e algum livro que eu queira ler. Ocupo o raio do tempo a ver a RTP Memória. Estou a ver coisas que nunca tinha visto. Como por exemplo, o Júlio Isidro, o Zip-Zip. Gosto de ver velhadas. (…)
[O melhor aluno do Liceu Camões gosta de velhadas...] - Não me faça rir. Mas fui o melhor daquela malta toda. Entrei em 1936 e fiquei lá oito anos. Sentava-me sempre na carteira da frente, porque os meus olhos já eram dois sacanas. O avô desse tipo chamado Eduardo Prado Coelho foi meu professor. Nós cagávamo-nos no gajo.
[Quando é que funda a editora Contraponto?] - A editora começou a funcionar em 1951, logo depois do primeiro número da revista. Nasceu no ensaio de uma terceira via e só tinha um critério: os gajos do Estado Novo não podiam entrar. Vivia um bocado à mercê do facto de eu e o Jaime Salazar sermos amigos. Quando foi publicado o 'Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano', de Mário Cesariny, o Jaime ficou f. Pensava que a editora era só para ele. Mais tarde, o mesmo aconteceu com Cesariny, quando Herberto apareceu. Razão tinha o Gaspar Simões em chamar-me 'O sacristão do Surrealismo', por publicar aquela gajada. Não faz muito tempo, vendi a editora à irmã do Manuel Alegre por um preço de m..
[Era amigo de Cesariny?] - Essa pergunta traz água no bico. Dizem que nós éramos amantes. Um disparate. O gajo não fazia o meu género. Eu nunca tive a mania de Paris. Ele tinha.
[É autor de muitos livros, mas nunca escreveu romances] - Porque é preciso ter disciplina. Mas não é como escritor que posso ser importante. Se me perguntarem da minha importância é como editor. Editei muitos livros que eram muito baratos. Tinha bons autores, Raul Leal, Natália Correia, António Maria Lisboa, Herberto Hélder, Vergílio Ferreira, Mário Cesariny. Jamais editaria, por exemplo, o Fernando Namora. Ele era um aldrabão. Ou o José Agualusa, que não escreve nada. É um pateta alegre.
[O que nos diz dos políticos?] - São uns m. Comparados com eles próprios. Aquela que foi ministra das Finanças era uma tipa séria, mas era cá um camafeu.
[Gosta do José Sócrates?] - Quem é? Não o conheço.
[Mas gosta de Pedro Santana Lopes?] - É um 'bom vivan'. Não deixou obra nenhuma, mas sabe viver. Andava nas discotecas e estes gajos – o pequeno, o gajo que é quase anão – fez-lhe a folha. O Santana é um senhor. Gosta das noites. E bebe o seu copinho. Eu deixei de beber há uma semana. Ao almoço bebia vinho - tinto, pois está claro. Quando se fala em vinho fala-se em tinto.
[O País reconhece as pessoas?] - Não podemos falar de um só País. De Lisboa ao Porto existem dois países ou, talvez, existam quatro países em Portugal. Por exemplo, o Mário Soares, quando era Presidente da República, deu-me 650 contos. Uma vez, no Chiado pedi-lhe 20 paus emprestados. E ele deu-mos. Este presidente, o actual, que tem aquela cara, não me deu nada.
[Vive de alguma pensão?] - Tenho um subsídio de 120 contos, graças ao Alçada Batista. E também ao Balsemão, que teve a feliz ideia de inventar o decreto do mérito cultural. O Santana despachou um decreto que favorece pessoas que estão na minha situação. Mas não é por isso que gosto do rapaz. O tipo sabe o que é bom. O que é bom para mim são umas garotas, que vêm cá de manhã para me fazerem a higiene. Não é mau"
[Luiz Pacheco entrevistado por Miriam Assor, in Correio da Manhã, 8/04/2007 - sublinhados nossos]
sábado, 7 de abril de 2007
Momento de vacationes
Andamos em trovas, antigas e modernas, de forma dialogal e sem apetites doutrinários. O nosso affaire é semear o olhar e a depravação. Entre um tinto barroca, bem feminino por sinal, que é uma intemperança de malvadez, copiosas livrarias de uso beneditino, os jogos do Glorioso superiormente temperados por receitas que nenhuma pragmática pode castigar, duas ou três postas no Almanaque, eis que a nossa vidinha é esta: "sem ter pátria, nem lei". O vate Gomes Leal sabia-o bem! São, pois, os nossos exercícios pascoaes de imensa validade, ou não fôssemos "um profissional de velhas gerações" [Nelson Rodrigues dixit]. A coisa, de tão admirável se descobre, faz-nos revigorar.
Estamos assim afastados das confecções levadas a cabo pelo ilustríssimo dr. Santos Silva, o novel evangelizador socrático e do escarcéu da Universidade Independente (ou, do mesmo modo, da converseta do falso lento Zé Mariano). E embora nos custe conferir o que em tempos foi o legítimo Santos Silva (idem para o Mariano) e descobri-lo, agora, arrastando-se em lastimoso dever de obediência censória e de notório mau gosto, recusamos, por ora, produzir qualquer prancha. As nossas transacções, como se nota, são inocentemente limpas. Porque, afinal, "o mais do azar / É Salazar / que sabe de palavrinhas mansas / e não consta que faça hipoteca" [mestre Vespeira, ele-même]
Terminamos, enviando ao futuro Ilustríssimo Senhor Director da Divisão de Censura & Diversões Públicas do Governo, com a devida vénia, e para os nossos prudentes ledores
Tom Zé - Requerimento à Censura
In-Libris – Catálogo de Abril 2007
Catálogo da In-Libris (Porto), de novo com um conjunto de peças curiosas e estimadas, entre as quais obras de Álvaro Lapa, Alves Redol, Ana Hatherly, António Sérgio, Bento Carqueja, Campos Lima, Carlos Queiroz, D. Leite de Castro (Folk-Lore Vimaranense), Eugénio de Andrade, Ferreira de Castro, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Inocêncio Francisco da Silva (Dicionário), Joaquim Costa, Luís Augusto Palmeirim, Luiz F. Gomes (Jornalistas do Porto), Mariana Alcoforado (trad. Eugénio de Andrade), Melo e Castro, Mons. J. Augusto Ferreira (sobre Vila do Conde), Viriato Barbosa (monografia da Povoa de Varzim), Visconde de Vila-Maior (O Douro Illustrado), Wenceslau de Moraes.
Um bom Catálogo. A consultar on line.
Semanada
Esta semana ... estivemos assim. Oh! Hum! "nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovídio]
Foto - Adega da Quinta do Noval, in Catálogo da In-Libris
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