segunda-feira, 9 de abril de 2007


Mariano Gago e o caso Unigate

Um animado Mariano Gago consumiu a sua (há muito esperada) conferência de imprensa com factos confusos quando não obscuros e proclamou aos indígenas, sob uma encantadora indignação muito fora de prazo, um provisório encerramento compulsivo da Universidade Independente. A vexatória questão Unigate, a desvergonha do funcionamento (financeiro, curricular e pedagógico) daquela instituição de ensino privado e a solenidade do acto público, assim o exigia. Muito bem.

Porém, mesmo que a imaginação de quem respeitosamente o ouviu seja piedosa, parece que as piores das circunstâncias permanecem. O formidável trabalho de expurgação sobre a situação irregular da Universidade Independente, levado a cabo pela conferência de imprensa de hoje, e, do mesmo modo, a clarificação sobre o balbúrdia que foi a Universidade nos tempos idos de 1995/1997, rendeu muito pouco. A vassourada de Mariano Gago não foi higiénica, nem produziu efeitos. A questão, longe de se dissipar, permanece e agrava-se mesmo, tais as contradições presentes e, principalmente, a repugnante ousadia do Ministro em defesa de um ensino sem qualidade sustentado em certificados ou no esperançado canudo, sem que se prescreva a necessidade de esforço, de trabalho, de rigor e validade científica e pedagógica. E, aqui, reside a questão central em todo este caso Unigate. Aliás, pode dizer-se mesmo, de todo o ensino privado e público, do básico ao secundário, do superior ou cooperativo.

Não nos ocupamos, pois, do caso da credibilidade (ou não) do senhor primeiro-ministro, por muito respeitosos possam ser os admiráveis argumentos de Mariano Gago ou mesmo se tal provoca qualquer "regozijo" na canalha partidária. Convenhamos, apenas, que o discurso utilizado por Mariano Gago não é rigoroso nem justificado. Bastará referir a necessidade da existência de um continuidade curricular e pedagógica numa Universidade recém aberta (o que não se verificou entre 1995/97) e atender ao facto que as irregularidades existirem há muitos anos atrás, sem que o controle por parte da Inspecção-Geral da Ciência e do Ensino Superior tenha detectado qualquer falta séria.

Assim, o facto de a UNI passar, de um momento para outro, de uma instituição a funcionar normalmente para registar, depois, um "calamitoso" e "lastimoso" estado de degradação, só ornamenta a frontaria de quem quer. O que é evidente é que uma Inspecção Geral de Ensino que está dependente da tutela, por muito que os senhores inspectores consigam a proeza de terem estatuto de independência e autonomia, não pode apresentar nunca o vigor e a energia que se pretende e que, eles mesmo, exigem e aspiram. Saber que na velha Inglaterra a inspecção de ensino está afecta à Rainha, fora do compadrio partidário e da caridade política, diz muito e explica, também por aqui, a situação do ensino e da educação na paróquia. Vai-se seguir tal exemplo de idoneidade, ou irá continuar esse sentimento de indiferença e de imoralidade? Que o diga Mariano Gago, se para tal estiver interessado.