sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

JOÃO ANTUNES [N. 10 FEVEREIRO 1885]

 

Dr. João Antunes [n. 10 Fevereiro de 1885-1956]
 
No passado dia 10 de Fevereiro, há 122 anos, nascia o dr. João Antunes, uma figura, hoje, estranhamente esquecida. Porém, foi relevante o seu trabalho (em Portugal) sobre a temática da tradição iniciática, do neo-espiritualismo, da filosofia hermética, teosofia e maçonaria, no começo do século XX. Espanta, de facto, que a copiosa obra (escrita) de João Antunes, publicada entre 1914 e 1928 (pelo que conhecemos), bem como a organização e direcção, que lhe cabe, da prestigiada Colecção Teosófica e Esotérica, ou Biblioteca do Teosofista - publicada pela Livraria Clássica Editora, de A. M. Teixeira & C.ª (Filhos), situada na Praça dos Restauradores, em Lisboa -, seja hoje misteriosamente sonegada. A tribo ligada ao debate ocultista, tão célere na propaganda e no devaneio de excêntricas figuras que nada acrescentam à trama espiritual da Lusitânia ou ao trabalho iniciático luso, resta um túmulo.

Compreende-se! Afinal uma boa parte do trabalho que dizem ter feito, saído (asseguram) inteiramente das suas cabecinhas pensadoras, provém, afinal, das profusas notas e reflexões de João Antunes. Porque não se crê que o que quer tenha ocorrido ao longo do seu percurso profano, possa, por si só, não merecer a estima dos trabalhos que nos legou e, em parte, explicar o silêncio de agora.
O dr. João Antunes é pouco referenciado e citado. Existe uma pequena biografia na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (Verbo), saída da pena de Banha de Andrade. É dito aí que nasceu em Lisboa, a 10 de Fevereiro de 1885, e faleceu a 9 de Junho de 1956. Lê-se: "Cedo se dedicou ao estudo das denominadas ciências ocultas, sobre que escreveu várias obras na colecção 'Psicologia Experimental'. De 1921 a 1924 dirigiu em Lisboa a Isis, revista de questões teosóficas e de ciências espirituais, e a revista Eleusis (Lx., 1927 a 1928). Tendo abandonado o exercício das ordens sacra, não é difícil concluir das suas publicações".

Ora, curiosamente, a colecção que João Antunes dirigia, Colecção Teosófica e Esotérica, foi na sua grande parte objecto de tradução pelo vate Fernando Pessoa (que assinou, segundo alguns, sob o nome de Fernando Castro e, ainda, de M.C.). Trata-se de, pelo menos, de 10 obras, e entre as mais conhecidas temos: a tradução do Compêndio de Teosofia, de Leadbeater; os Auxiliares Invisíveis, a Clarividência, do mesmo Leadbeater; os Ideaes da Teosofia, de Annie Besant; um curioso livro (1916), que é o nº VIII da Colecção, 'Luz sobre o caminho e karma', atribuído a M.C. (?), e com tradução de Pessoa; outro (ainda enigmático) intitulado 'A Voz do Silêncio: e outros fragmentos do Livro dos Preceitos Aureos', nº V da colecção, com tradução (para o inglês) e anotado por H.P.B., e versão portuguesa de F. Pessoa. É, ainda, possível que a tradução ao livro de Besant, 'No Recinto Externo' (1917, nº 9 colecção) e a de 'Cartas de Outro Mundo' (1926, nº X colecção), ambas traduzidas por Ellen Thorn Machado (?), sejam do próprio Pessoa. Quer dizer que, a maioria das obras saídas na colecção referida têm a participação de Pessoa, que, como se presume, conheceria bem o dr. João Antunes. Aliás as referências em F. Pessoa ao Martinismo, podem-se explicar pelo profundo conhecimento que João Antunes tinha, como estudioso ou, mesmo como alguns asseguram, como iniciado. Idem para as questões relacionadas com a Maçonaria e a Ordem dos Templários, que como se sabe é recorrente em Pessoa.

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