quinta-feira, 12 de janeiro de 2006


Notícias domésticas & a histeria à porta da Segurança Social

O mordomo da administração do eng. Sócrates, Fernando Teixeira dos Santos, economista por fervor académico e ministro por ofício, veio em declarações seráficas contar aos indígenas que "em 2015 o fundo de estabilização financeira da Segurança Social deixará de ter dinheiro para pagar as reformas". Tal episódio público, assim patenteado pelo douto ministro, provocou uma ponderosa jericada na populaça lusa - na altura em recolhimento & consolo agradecido sobre a futura prosperidade cavaquista (que vem já a seguir ... evidentemente) - logo seguida de pânico. Não houve um só nativo que, piedosamente, não fizesse a sua genuflexão patriota. Por um momento, e no mais concorrido preito jamais feito aos vários ministros das Finanças do reyno, cidadãos exemplares, em remorso financeiro, desocuparam o enérgico debate das noviciadas contratações do Glorioso SLB, saíram em mansidão do putativo casamento de César Peixoto contra Isabel Figueira e desbastaram três poesias gnómicas de Manuel Alegre. Muito bem! O povo, como se sabe, é sereno.

Ébrios de informação presidencial, os indígenas seguiram imediatamente a desejada explicação do candidato Cavaco Silva sobre tão notável questão. Debalde! Como se sabe, a opiniosa protestação do futuro presidente é tarefa espinhosa de se sintetizar. As mazelas financeiras não pertencem ao seu universo presidencial. Na sua falta (a autoridade do senhor Silva, ao fim de 10 anos, tem agora outras sonoridades), os mestres de fé da cartilha liberal (hayekiana ou não nem por isso) aguçaram as esferográficas. Não saiu nada. A tinta enrugou, de pasmo e vergonha. E lá correram os nossos liberais indígenas, apressados, de regresso à bicha cavaquista para o dia 22 de Janeiro. Entretanto a multidão obscura, em estratégia de sobrevivência ao pavoroso Socratismo, sopra impaciente. E evidentemente, os sindicatos, quais rouxinóis em primavera farta, ensaiam o conhecido "no pasa nada". Vaticínio espantoso. Um must.

Ao que parece, ninguém se lembrou que a peripécia sobre o défice da Segurança Social há muito era referida nos círculos académicos e em trabalhos económicos. E, pasme-se, houve mesmo um candidato há poucas semanas - o Francisco Louçã - que não só reconheceu tal possibilidade como elegeu tal problema como questão principal nos próximos anos. Onde estavam, na altura, a rapaziada dos jornais e das TV's? Os preclaros descendentes liberais de Hayek? Quem homenageavam? Quem louvavam, com hipócrita obsequiosidade? Evidentemente ... os fundilhos miraculosos do senhor Silva. A bem da Nação e da Pátria. Como sempre foi. E continuará a ser.

Não espanta, pois, que em curioso artigalho no jornal Público (ontem), o papa neocon luso José Manuel Fernandes revele andar embaciado por esse desgraçado "magna pastoso onde todos cabem" e, insidiosamente, pretenda amestrar os indígenas e outros bichos para a necessidade do contraditório e da separação ideológica das águas. O pranto do José Manuel Fernandes é conhecido, por demais. Apenas não se compreende como, na sua qualidade de director de jornal, não debateu tal copioso assunto na redacção, para tratamento formativo e informativo autêntico, confrontando partidos e candidatos com autoridade e seriedade. Em vez disso, preferiu alinhar no maior branqueamento ideológico que uma eleição permitiu e em socorro do indigente senhor Silva. Não superou, é certo, a vil direcção da SIC mas sabe-se que "optar pelo trapo / é topar o prato / na porta". Lá dizia O'Neill. Acertadamente.