sexta-feira, 17 de junho de 2005

VÊM AÍ ... OS COMUNISTAS!


"Se alguma janela aberta o incomoda
peça ao condutor que a feche
" [Alexandre O'Neill]

João Miranda, o petit Dutra Faria do Blasfémias, está expungindo em redobradas postas o maligno comunismo & outros tantos ismos, livrando-nos do materialismo insano e do furor da sovietização. A chusma de gaiatos, todos piedosamente liberais, que sabem de economia libidinal, história do mercado & de poesis marxista, é laboriosamente pasmosa. Palmas! Nas suas prosaicas frivolidades, enunciadas sobre estes nossos calamitosos tempos de cárcere bolchevista, parca sementeira liberal e de pouca viril fecundação teorética, o vigário Miranda julga-se o chantre do rebanho de salvação libérrima, a luz dos indígenas lusos. A pastorícia neoliberal, assim tão caridosa entre os erradios nativos, é uma tarefa tão imperiosa, tão esmagadoramente necessária e urgente, que quase sempre se ornamentam os ânimos com o que a providência tem mais à mão: o vício do disparate.

O pasmo intelectual do jovem João, ao longo do inefável reportório de curiosidades e vistosas alegorias, legou para os vindouros a pranteada lei des débouchées, que todos desconhecem na sua aparição económica; condensou a memorável acareação entre o (seu) pai dos povos Hitler e o fascista Estaline de modo presencial & cristalino; autorizou a imortalização dos benefícios ministeriais como boa prática cristã-liberal, pelo que está inscrito; desconstruiu a fonte da riqueza abolindo qualquer construído produtivo a proletas, funcionários públicos ou mendigos, com sapiência elevada; finalizando, agora, o desabafo, grave & ilustrado, com a exigência da (re)nomeação da ponte dita 25 de Abril para a humana e reverente Ponte Salazar. Contumaz, o autor da nomeada, aventa todas as hipóteses sobre qualquer assunto ou moralidade, desde que possa escorchar na Abrilada. Porque vêm aí os russos, perdão ... os comunistas! Oh! horror! Ah! desgraça! Eia! João!