terça-feira, 14 de junho de 2005


Eugénio de Andrade [1923-2005]

"Sei onde o trigo ilumina a boca.
Invoco esta razão para me cobrir
com o mais frágil manto do ar.

O sono é assim, permite ao corpo
este abandono, ser no meio da terra
essa alegria só prometida à água.

Digo que estive aqui, e vou agora
a caminho doutro sol mais branco.
" [Eugénio de Andrade, 20/02/79

"O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul" [idem, in As Amoras]