terça-feira, 14 de junho de 2005

Dias Aziagos

"Quando um amigo morre, que nos resta senão tentar ressuscitá-lo? Com palavras (...) com lágrimas" [J. Gomes Ferreira]

Há uma desordem no tempo. Uma escuridão de espírito. Uma comoção insuperável. Uma amargura serena. Homens, cujas acções e qualidades de alma são sublimes manifestações da inteligência humana, que as turbas moribundas veneram ou odeiam, em rude préstimo, faleceram quase de seguida. Ainda o suspiro da noite se manifestava desamparado em brando refúgio, já nos consumíamos outra vez. As marcas do passado são tão céleres que nos fogem. Nunca se repousa nos afectos. O tropel da vida é sempre uma virtude fraterna, um exercício de memória & uma cavada paixão. Hoje, seremos assombrados pelo poeta, "o poeta do corpo", o "poeta solar" que glorificou a liberdade, "sem ruído, mas também sem hesitar". Que a poesia faz amantes. Amanhã, o sonho e símbolo de muitos, o respeito de todos e a honra, essa "puta triste" nos homens d'hoje, serão o fervor que brotará em memória de um lutador convicto e sincero. Que a todos marcou. As homenagens, sentidas, serão depósitos de saudade e de memória. Como na vida.