terça-feira, 11 de janeiro de 2005


Dashiell Hammett [m. 10 Janeiro de 1961]

"Hammett gave murder back to the kind of people that commit it for reasons" [Raymond Chandler]

"... Em Hammett, a conexão entre literatura e vida é radical e se processa de modo especialíssimo. Sustentei isso em outras ocasiões, e insisto: o melhor dele são os contos da fase inicial. Com o tempo, ganhou em fôlego e ambição, mas Estranha Maldição (The Dain Curse) é reciclagem de contos, emendados um ao outro. Sua última narrativa, A Ceia dos Acusados (The Thin Man) é, notoriamente, a mais fraca. Mesmo na obra-prima, O Falcão Maltês, há reaproveitamento de contos e inconsistências. Seu livro mais bem-acabado é aquele mais próximo do romance social, A Chave de Vidro. Encerrado o período produtivo de 12 anos, não fez mais nada. Tentou, buscou outros caminhos, saindo da esfera das histórias de detective, mas não conseguiu nem mesmo expandir lampejos de narrativa psicológica, a exemplo do belo conto Medo de Tiro, que está nesta colectânea, Tiros na Noite, sobre o covarde moribundo que, depois de seu único ato de coragem, quer refazer a vida para ir atrás de todos os que o haviam humilhado (...)" [ler aqui]

Locais: Dashiell Hammett (1894-1961) / Dashiell Hammett / Dashiell Hammett Biography / Dashiell Hammett / All about Dashiell Hammett / Bibliography / Dashiell Hammett / Dashiell Hammett (1894-1961) Guía de lectura / Dashiell Hammett e os mistérios da criação literária: um depoimento e um poema

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005


O turista Morais Sarmento

Morais Sarmento, numa ladainha déjà vue, deplora a "lamentável falta de sentido de Estado" dos portugueses que pagam os seus impostos, que não usam e abusam dos privilégios do aparelho do estado (que ainda os há, pasme-se!) e que, muito justamente, consideram despropositado a fadiga do turista Sarmento em terras de S. Tomé e Príncipe, em suposto trabalho porfiado de cooperação no audiovisual. Numa linguagem de trapos, o ministro da Presidência consente que o seu gabinete pronuncie uma enternecida e putativa indignação ministeriável aos estupefactos indígenas lusos, de uma grosseria nunca vista. Bem podem os habituais colunistas da pátria reclamarem, mais uma vez, da inveja lusitana, da grosseria do lumpen, da latrina da plebe. Sabemos os que os move.

A historieta é de tal modo dementada, que Santana Lopes se aproveitou, de imediato, do vigor emotivo e patriótico do seu ministro, para se dissociar do seu extenuante trabalho. A vingança em Santana Lopes costuma servir-se fria. De outro modo, o encantador presidente da RTP, misteriosamente nada nos diz sobre as desventuras do seu patrão em terras de S. Tomé. Afinal, se o incansável presidente da RTP não tem autonomia para assinar acordos na sua área, necessitando dar boleia a outros, para que é que serve? Pode-se saber?

domingo, 9 de janeiro de 2005


n. Kurt Tucholsky [9 Dezembro 1890-1935]

"Nothing is more difficult and nothing requires more character than to find oneself in open opposition to on's time and to say loudly: NO!"

"Si les élections pouvaient changer le cours des choses, elles seraient interdites"

"La censure n'existe pas en Suisse, mais elle y fonctionne très bien"

"People in Europe are proud of:
Being German.
Being French.
Being British.
Not being German.
Not being French.
Not being British" [K.T., in What People are Proud of in Europe, 1923]

"Ach, tivemos muitos senhores,
Tivemos tigres e hienas
Tivemos águias e porcos
Se foram melhores ou piores?
Ach, a bota sempre foi igual à bota.
E em nós deu,
Compreendem, quero dizer,
Que não precisamos doutros senhores
Senão de nenhuns" [K. T., trad: noosfera]

Locais: Kurt Tucholsky Literaturmuseum / Kurt Tucholsky - Gesellschaft / Kurt Tucholsky / Biographie / De la Philosophie Sociologique des Trous (Kurt Tucholsky) / Départ (poème de 1928) / A nosa terra: Kurt Tucholsky / Kurt Tucholsky Jornalista e escritor alemão / Kurt Tucholsky (poesia) / Tucholsky e Karl Kraus

"They who lose today may win tomorrow" [Cervantes]

A cantilena do nosso amigo inglês, bem nutrido de Cervantes, sobre aquele jogo no sítio d'Alvalade, pareceu-nos adulterada. Os brados da rapaziada verde eram pouco misericordiosos. O inglês não mostrava desvelo algum pelo pormenor. Bem tentámos apelar ao pecador, fã incondicional de Ferguson, para a generosidade do seu fervor à lide da bola, como se estivesse em Old Trafford. A imaginação não ocorreu, ao que julgamos.

Lá explicámos, que nada mais humilhante que brincar ao futebol sem qualquer espírito de confiança, linha de rumo, fio de jogo, eu sei lá que mais. Até, por iluminação divina, revelámos compreender o modo com que os vermelhos da Sagrada Luz, permitiram deixar correr o cerimonial do jogo a favor dos abnegados jovens d'Alvalade. A rédea solta ao ímpio era para confundir, tá claro. O tom paternal não vingou. O amigo inglês começava, logo, a falar do Bruno Aguiar, dum tal João Pereira, daquele velho senhor que estava sentado no banco a ordenar.

Bem tentámos replicar que o que gramávamos era que o Filipe Vieira & Veiga concorrem-se à câmara do Porto, lado a lado com o exemplo vivo do intelectual tripeiro, Pôncio Monteiro & Costa, Inc.. Mas não houve convencimento. Há momentos em que o coração não pratica discursos, só prantos. E se o inglês continuava pouco complacente ... Valeu-nos um bar irlandês, para nossa vingança. O amigo de Sir Alex restou um túmulo. Fomos felizes na táctica escolhida.

n. em Setúbal Luísa Todi [9 Dezembro 1753-1833]

"... Não se sabe exactamente qual foi a primeira actuação de [Luísa] Todi no estrangeiro, mas tudo indica que foi em 1777, quando cantou "Le Due Contesse", de Paisiello, no King's Theatre de Londres. Foi, no entanto, em Paris, que obteve a consagração graças à sua actuação nos Concerts Spirituels (1778). Foi numa segunda fase destas apresentações (em 1783) que estabeleceu uma acesa rivalidade com a alemã Gertyrud Mara, a qual dividiu o público entre "maristes" e "todistes". Segundo as críticas publicadas na época, Mara parece ter-se distinguido sobretudo pela bravura e pelo virtuosismo, enquanto Todi, que possuia uma voz de meio-soprano, é elogiada pela sua apetência para ópera séria, pelo seu excelente "cantabile", a clareza de articulação, o domínio das línguas, a emoção e os seus dotes de actriz - uma lista de qualidades que fazem dela uma intérprete de extrema modernidade (...) [ler aqui]

sábado, 8 de janeiro de 2005


Já tomou seu bridge hoje?

"There are two times in a man's life when he should not speculate: when he can't afford it and when he can" [Mark Twain]

Nos tempos em que afogávamos a devoção às respeitáveis virtudes dos lentes de Coimbra, em afectuosa gratidão e máxima reverência, era certo e sabido que por clemência à sebenta nos espraiávamos, madrugada dentro, no empreendimento bridgístico. A máxima era sempre a costumeira citação de Kaplan: "a terrible year for wine but a great year for bridge players". Certo, era que a confissão nunca foi provada. Ao sacrifício das aulas apurávamos nos mistérios do vinho e na observância do cumprimento do bridge.

O reparo do ilustre jogador americano não nos afectava, por aí além. A rua dos Combatentes tinha sempre resguardo oportuno, que interpretávamos muito bem, principalmente quando a crueldade dos dizeres do marquês de Severo sobre os ditos não terminava, invariavelmente, em religiosas reflexões para enólogos assombrados. O zelo assim manifesto dava alento para as adversidades da madrugada, feita de contagens de mão, contratos doidivanas, choros a vazas perdentes, squezzes à la mode, falta de mãozinhas para o outro lado ou apuramentos pífios, sempre à sombra do morto que castigava, entretanto, em vazadas de um trago, um qualquer Douro amigo. Tempos gloriosos. Que hoje confirmámos.

Já tomou seu bridge, hoje?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005


n. em Lisboa, Pe. Teodoro de Almeida [7 de Janeiro de 1722-1804]

"Compôs os seis primeiros tomos da Recreação Philosophica levado do louvável impulso de utilizar aos que não possuíam princípios elementares, e preferiu a fórmula de diálogos, nos quais procurou ser claro, adoptando um método fácil para as inteligências vulgares. Daqui nasceu que esta obra, deficiente já no seu tempo, foi pouco estimada dos entendidos na matéria, censurando-se-lhe algumas opiniões singulares, como por exemplo, a substituição da teoria newtoniana da luz. Tacharam-na também, quanto à forma dialogística, de pouco peso nas objecções do filósofo peripatético, que facilmente o pedagogo destruía, incutindo a opinião própria. Contudo, é inegável que este escrito com todos os seus defeitos, concorreu muito para excitar a leitura de obras mais graves, e para difundir notavelmente o gosto pelo estudo das ciências naturais, então concentradas nas academias, e fora do alcance dos curiosos. Foi um serviço do P. Almeida, que é hoje reconhecido, e por esta razão o apresentamos como facto principal da sua biografia literária. Dos quatro volumes que completam as Recreações, nada diremos, se não que a apologia da religião, assunto dos dois últimos, foi ditada por boas intenções? [in Dic. Bibliographico Portuguez de Inocêncio F. Silva, tomo VII]

Algumas Obras: Recreação Filosófica ou Diálogo sobre a Filosofia Natural, para instrução de pessoas curiosas que não frequentaram as aulas, IV tomos, 1751-1757 / O Feliz Independente do Mundo e da Fortuna, III vols., 1779 / Cartas Fysico-mathematicas de Theodosio a Eugénio, para servirem de complemento à Recreação Filosófica, 1784 [saíram sob pseud. de Dorotheu de Almeida] / Formosura de Deus, indeferida e declarada por suas muitas perfeições, assim como a frágil capacidade humana é possível, 1785 [obra atribuída] / Methodo para a Geographia, 1787 / Sermões, III vols., 1787 / Lisboa destruída (poema), 1803 /.../

Locais: Padre Teodoro de Almeida / Teodoro de Almeida, divulgador da Filosofia Natural / Teodoro de Almeida 1722-1804 / Recreación filosófica o diálogo sobre la filosofía natural para instrucción de personas curiosas que no frecuentaron las aulas (on line)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2005


Santos com vida ou vida de santos

"Cogitationes meae ... torquentes cor meum" [Job XVII.V.II.]

Movidos por letargia para o sofá, que a vida está fantasiosamente sonolenta, confessamos, vergonhosamente, que não sucumbimos ab lib aos abraços de Morfeu, esta segunda-feira última. Caso curioso, diga-se. Tudo isso porque uma epidemia de economistas e politólogos encartados protestou piedosas súplicas na venerável TV, já o dia estava alto e convidativo à poeira da livralhada.

Meus amigos: a fala de esperança e caridade de César das Neves, quando confrontada no dificultoso diz-kurso positivo de Nogueira Leite, ou com os exercícios espirituosos de Luís Campos, ou até mesmo nos terríveis golpes atenazantes de Paulo Rangel, sem esquecer a habitual penetração intelectual da funcionária pública Fátima Bonifácio, fez-nos ver claramente visto. O santo César era um adorno de eloquência, no invés de um caturra saloio.

Empalidecemos. Claramente surge que o nosso affaire d'honneur entre lúbricos papéis seria a nossa desgraça. Assim despojados do terrível alívio de ver o César entre iguais, ficámos tão sensíveis e arrebatados que o nosso horizonte só podia raiar com a leitura das listas de candidatos a deputados. O que fizemos. Imediatamente nos rebolamos no sono dos justos, em merecido descanso. A natureza está sempre disponível a aparecer na ocorrência de uma desgraça. Eis uma boa virtude.

Revista Almanaque

Almanaque, revista de Lisboa sob o patrocínio de J. A. de Figueiredo Magalhães "proprietário da Editora Ulisseia" [Daniel Pires, in Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX, 1900-1940, Edições Grifo, que seguimos doravante], com 18 números publicados, entre Outubro de 1959 a Maio de 1961. Teve no seu conselho de redacção, Cardoso Pires, Sttau Monteiro, Alexandre O'Neill, Baptista-Bastos, José Cutileiro, Augusto Abelaira, arranjos gráficos de Sebastião Rodrigues, João Abel Manta, fotografia de Armando Rosário, Eduardo Gajeiro, Mário Novais, João Martins e João Cutileiro, desenhos de Abel Manta, Câmara Leme e Pilo da Silva. Revista literária de assinalada importância na vida social e cultural de então, constitui no dizer de Daniel Pires, "uma radiografia rigorosa dos acontecimentos que marcaram a época". Convém referir que a maioria dos seus artigos não eram assinados e só o testemunho de alguns e a recordação de outros permite fazer o seu registo. De entre a colaboração prestada refira-se: Vasco Pulido Valente (vide artigo da Kapa nº1), Carlos de Oliveira, Eugénio de Andrade, José Gomes Ferreira, Palla e Carmo, Reinaldo Ferreira, etc..

"Um almanaque, dizem as enciclopédias, é um livrinho de calendário, bem medido e matérias várias de instrução e recreio, tábuas, coisas de todo o gosto, etc., etc., etc. (...)
Almanaque, não se sabe bem porquê, tem um certo sabor a ornato, a antiqualha e a papel amarelecido. Cheira a naftalina e anda salpicado de provérbios muito conselheirais, que se contradizem uns aos outros, e de anedotas de soldados que não conhecem a mão esquerda.
Ora, este almanaque é um verdadeiro irreverente dessa gloriosa família de anciãos. Vem ao gosto moderno, segundo a «linha 1959», trata por tu o teatro de Beckett e Ionesco, os escritores da Beat Generation, os Pat Boone ou os Georges Brassens, os íntimos de Françoise Sagan e as verdadeiras causas do caso Pasternak. Só não conhece os segredos sos painéis de Nuno Gonçalves, mas há-de chegar lá um dia (...)" [in Almanaque, nº1, Outubro de 1959, em nota de abertura]

Ex-libris in Virtual Museum

quarta-feira, 5 de janeiro de 2005


François Villon [n. 5 Janeiro de 1431 ?]

«Hé! Dieu, se j'eusse estudié,
Ou temps de ma jeunesse folle,
Et a bonnes meurs dedié,
J'eusse maison et couche molle,
Mais quoi? Je fuyoie l'escolle,
Comme fait le mauvais enfant.
En escripvant cette parolle,
A peu que le cuer ne me fent.
»

[François Villon, Le Testament]

"Aqui se fecha o testamento
E se finda o pobre Villon.
Vinde, pois, ao sepultamento,
Quando ouvirdes os carrilhões,
Em trajes rubro-vermelhões .
Foi mártir do Amor a servir,
Isso jurou por seus colhões
Quando mundo quis partir.

E julgo bem que ele não mente,
Pois foi banido sem razões
Dos amores, qual cão demente.
Tal que daqui a Rossillon
Nem espinhos nem esporões
O pouparam, diz sem mentir,
De ferir-se com aguilhões,
Quando do mundo quis partir ,,,"

[François Villon, Outra Balada, trad. Sebastião Uchôa Leite]

Locais: François Villon / Société François Villon / Versos do poeta marginal François Villon ganham reedição / Le Grand Testament / Poésie

A arte de viver contente em quaesquer trabalhos da vida

"Trabalho: do latim tripalium, instrumento de tortura" [JH]

Utilíssimo para todos os bloguistas com prodígios obrados nos seus posts, nova terra de cativeiro eleitoral & ultríssimo remédio para melhorar a impressão, este aviso ao mulherio ou appendix à natureza do mal por um esteta fiel. Não é uma escrita para dar uma de oftálmica por isso não precisa de almofada. Os requebros & meneios são uma imagem venerável (ver cliché ao lado), sempre muito retratada em distintos assuntos onde a fantasia inflamada e a devassidão conspícua são empresa colossal e de grande "construído estético". Não nos foi adiantada a magna questão de saber porque "não é propício ao acto sexual ter os pés frios", como assegura Aristóteles nos Problemas, mas decerto abundam as manufacturas em toda a cidade de Coimbra para o provar, como é mister.

Terminamos com abundância, citando O Jardim Perfumado:

"... Fiando como uma aranha sempre ocupada.
Disseram-me:«Por quanto tempo continuarás?»
Respondi-lhe:«Trabalharei até morrer»"

Fiat lux
[No Parlamento]

"... No Parlamento não está a representação nacional, está a representação oficial; não está uma representação espontânea, nobre e sentida, está uma representação ensinada e assalariada. O governo pode contar com essa, porque a educou, e porque a afeiçoou a si; o governo a maioria são como duas figuras duma tragédia, que se falam e replicam, de há muito ensaiadas nos bastidores (...) Aquela representação não é nacional, é ministerial: não representa o povo que a rejeita e que a censura, representa simplesmente os homens que lhe dão os cargos opulentos e os estipêndios largos; a maioria é o corpo diplomático do governo; ele trá-la ostentosa e bem fardada, e engorda-a com a magreza do povo ..."

[Eça de Queiroz, in Distrito de Évora, 14 Março de 1867]

domingo, 2 de janeiro de 2005


Os Melhores Blogs Portugueses de 2004

"Leia-se esta paisagem da direita para a esquerda e vice-versa, ou vice-versa e de baixo para cima, pode-se soltar as linhas que tremem debaixo dos olhos" [H. H.]

Eis o ano em que a Blogosfera lusa respirou, deu fôlego à vida e um cacete ao tédio da crise. Desnudou-se de palavras piedosas, intervalou o choro desvalido da populaça, tirou a espuma do canto da boca dos colunistas e das putas intelectuais, inspirou outros caminhos. Restabeleceu o gozo da leitura pública, pôs escrita em forma de voz, tornou-se recomendável. Já tem filhos que fazem um barulho bom. Urgente! Em remansos de paz elevou-se à quasi perfeição. Teve momentos de glória, de lisonjas, de autoridade. Tudo para "desengaçar a alegria do chato amável mundo", como diria Assis Pacheco.

Cabe, aqui, tal como em ano anterior, fazer o seu inventário, para que o mérito não fique distraído e a maternidade tenha sentido. A sedução dos espíritos inquietos é o nosso fadário. O nosso apostolado. Consultámos a listagem, acolá na coluna à esquerda e de muita estimação, e ordenámos os nossos blogs de acordo com os critérios anteriormente considerados. Estabelecemos uma natural limitação de este ter sido um ano de intensa politização, daí que aqueles, mais criativos, que adensaram a atmosfera apareçam em segundo posicionamento. Tivemos, ainda, em devida conta a dimensão dos jogos estéticos manifestados ou os templates que as mãos criaram. Em nosso louvor.

Resta dizer que o nosso coração ficou suspenso no silêncio da Janela Indiscreta, um dos blogs mais interessantes e luminosos, que nos abandonou este 2004.
A escolha foi a que se segue:

1. Abrupto
2. Barnabé / Grande Loja / Blasfémias / Bloguitica / Causa Nossa / Mar Salgado / Portugal dos Pequeninos / Tugir
3. Rua da Judiaria / A Montanha Mágica / Um Blog Sobre Kleist / Gávea / Indústrias Culturais / A Forma do Jazz / Universos Desfeitos
4. Sous les Pavés, la Plage / A Natureza do Mal / Red Series / Avatares de um Desejo / A Memória Inventada / Quartzo Feldspato Mica / Thelma & Louise / Welcome to Elsinore / Fora do Mundo
5. Aviz / Blog de Esquerda / Terras do Nunca / Fórum Comunitário
6. There's Only Alice / Absurdo Ponto / Silêncio Digital / Os Espelhos Velados / Intervenções Sonoras / Last Tapes
7. Voz do Deserto / Quarta República / Contra a Corrente / Abnoxio
8. Bomba Inteligente / Desassossegada / Diotima / Sôfrega
9. Álbum Figueirense / Arqueoblogo / Cartas Portuguesas / Dias com Árvores
10. À Beira-Mar / Amicus Ficaria / Estarreja Efervescente / AveiroLx


Os Melhores Blogs de Autores Estrangeiros de 2004

1. Alexandre Soares Filho
2. Letteri Café / Hotel Céline / Giornale Nuovo
3. Andrew Sullivan / Body and Soul / Instapundit / The Rittenhouse Review
4. Arts & Letters Daily / Wood S Lot / Suburbana / Paulinho Assunção / O Expressionista / Pura Goiaba / Romanzieri
5. Prosa Caótica / Sub Rosa / Asakhira / La Letra sin Sangre / Mysterium
6. Incomimg Signals / Vigna-Marú / Wimbledon / The Black Blog / Life in the Present / Bookslut / Plep
7. Bibi Fonfon / Neurastenia / Dudi / Cipango /
8. Art Nudes / DeFocused / GmtPlus9
9. Largehearted Boy / King Blind / Chromewaves /
10. The Agonist / Talking Points Memo

2005 & exercícios textuais de fim d'ano

"Os homens, tendo podido curar-se da morte, da miséria, da ignorância, lembraram-se, para se tornarem felizes, de não pensar nisso. Foi tudo quanto inventaram para se consolarem de tão poucos males. Consolação riquíssima. Não se dirige a curar o mal. Esconde-o por um pouco. Escondendo-o, faz com que se pense em curá-lo. Por um legítima desordem da natureza do homem, não se acha que o tédio, que é o seu mal mais sensível, seja o seu maior bem. Pode contribuir mais do que qualquer outra coisa para lhe fazer procurar a sua cura. Eis tudo ..." [Lautréamont, in Contos de Maldoror]

"Não me venham com teorias, estou farto. Acontecimentos, seres, objectos, lugares. A coluna vertebral disto tudo. A posição vertical! - eis o que parece justo (...) Dormimos ou estamos acordados, conforme a escolha..." [H.H.]

"É inegável que somos europeus, e até podemos avançar que se fala de nós lá fora como um povo civilizado, desde que (...) Portugal ocupou um lugar honroso (...)
Caminhamos airosamente na via láctea do progresso, porque as estradas cá em baixo o mais que podem é pôr-nos em contacto com o progresso dos antípodas por meio dos abismos insondáveis que o macadame aperfeiçoou (...)
Temos tudo quanto podem ambicionar os netos daqueles que civilizaram mundos novos. Só nos falta - diga-se a verdade sem presunção - falta-nos uma pequena coisa, que faça os homens bons: falta-nos a virtude e a moral; falta-nos o respeito à lei, e a lei que deva respeitar-se; falta-nos esse quase nada que faz um povo de traficantes e de corruptos uma sociedade de irmãos e de amigos ..." [Camilo C. Branco, in Dispersos]

"Portugal precisa de um indisciplinador. (...) Trabalhemos (...) por perturbar as almas, por desorientar os espíritos. Cultivemos, em nós próprios, a desintegração mental como uma flor de preço. Construamos uma anarquia portuguesa. Escrupulisemos no doentio e no dissolvente. E a nossa missão, a par de ser a mais civilizada e a mais moderna, será também a mais moral e a mais patriótica. [F. P.]

sexta-feira, 31 de dezembro de 2004




10 Livros Portugueses de 2004 [colab. Bibliomanias]

1. Ou o Poema Contínuo, reed. (Herberto Helder, Assírio & Alvim)
2. Poesias Escolhidas (Pedro Homem de Melo, ASA)
3. Eu Hei-de Amar uma Pedra (António Lobo Antunes, Dom Quixote)
4. A Bíblia dos Jerónimos (Estudos de Martim de Albuquerque & Arnaldo Pinto Cardoso, fotografia de Massimo Listri, Bertrand & FMR)
5. Grécia Revisitada (Frederico Lourenço, Cotovia)
6. Uma Coisa em Forma de Assim, reed. (Alexandre O'Neill, Assírio & Alvim)
7. Repercussão (Gastão Cruz, Assírio & Alvim)
8. As Farpas de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão (cord. M.F.Monica, Principia)
9. O Gibão de Mestre Gil e Outros Ensaios (Eduardo Lourenço, Gradiva)
10. Biblioteca (Gonçalo M. Tavares, Campo das Letras)



10 Livros de Autores Estrangeiros de 2004 [colab. Bibliomanias]

1. O Único e a sua Propriedade (Max Stirner, trad. João Barrento, Antígona)
2. Poesia (Eugénio Montale, Assírio & Alvim)
3. Budapeste (Chico Buarque, Dom Quixote)
4. Michael Koolhaas, o Rebelde (Heinrich von Kleist, Antígona)
5. Catalogues de la collection d'estampes de Jean V, roi de Portugal, III vols (FCG e BNF)
6. Janelas Altas (Philip Larkin, Cotovia)
7. Eu:seis inconferências (e. e. Cummings, Assírio & Alvim)
8. Contos Completos, vol I (Nathaniel Hawthorne, Cavalo de Ferro)
9. Austerlitz (W. G. Sebald, Teorema)
10. Sobre a Industria da Cultura (Theodor W. Adorno, Angelus Novus)



10 Álbuns de 2004

1. You Are The Quarry - Morrissey
2. The Delivery Man - Elvis Costello & The Imposters
3. Franz Ferdinand - Franz Ferdinand
4. "i" - The Magnetic Fields
5. Seven Steps: The Complete Columbia Recordings of Miles Davis, 1963?1964
6. Medúlla - Björk
7. Absent Friends - The Divine Comedy
8. Real Gone - Tom Waits
9. Riot on an Empty Street - Kings of Convenience
10. Resistir é Vencer - José Mário Branco

quinta-feira, 30 de dezembro de 2004


SOLIDARIEDADE

AID (Índia) / AMI / CARE USA / CRS / Cruz Vermelha Portuguesa / Food for the Hungry / Karuna Trust / MAP / Médicos Sem Fronteiras / Mercy Corps / NDMC Sri Lanka / Network for Good / Sarvodaya / Save the Children / (UN) World Food Programme / UNICEF

[Informação] 2004 Indian Ocean earthquake / Asian quake - Missing persons (BBC) / Name Search in Thailand / One Thailand Info Centre / Phuket Gazette / Relief Web / Search Victims in Thailand / The Hindu Newspaper

[Blogs] A life with a View / Asha's Tsunami Relief / Bananeira / Bloggers Without Borders / Brand New Malaysian / Ceneus / Enquiries. Helplines. Emergency. Services / Extra Extra / Friskodude / Indonesia Help / Javajive / Life of Buddhi / ProPoor / Tsunami help / Tsunami Missing People / Tsunami News Updates / Wayward Mutterings

Dança de cadeiras

"Os partidos correspondem ao estado da nação. Fazem-me lembrar um homem que numa feira vendia vinho e vinagre, da mesma pipa. O vinho saía por um lado, e o vinagre por outro. A droga era a mesma. É o que acontece com a política dos nossos partidos: é igual e sai da mesma pipa. Só as torneiras é que são diversas ..."

[Guerra Junqueiro, citado por Bordalo Pinheiro in Pontos nos ii, aliás, in Guerra Junqueiro, por Lopes d'Oliveira, vol II, ed. Excelsior]

A lista dos putativos candidatos ao cadeiral de S. Bento é trabalho de uma chateza emotiva, mas revigorante. Quando se avista Luís Filipe Menezes a descer o escadório do Bom Jesus de Braga, sob os aplausos da ralé, a profanação é soberba. O frenético edil de Gaia não se machuca, nunca tropeça, não repousa. Ei-lo a contorcer-se de vaidade na ribeira de Gaia, no faccis um olhar vesgo à procura de Rui Rio. Enquanto isso, Zita Seabra, em delírio de gula política, prepara-se para atacar uns salmonetes e castigar uns doces de laranja, lá para os lados de Setúbal. A coisa vai de promessa ou não arribasse a Castelo-Branco o terrífico boxeur Morais Sarmento, a carpir saudades da juventude on the road. Enquanto muitos olham para as poltronas das suas ambições políticas, o genial camarada Lima, ex-João Carlos Espada, seguindo antiquíssima paixão, tricota mais um programa eleitoral, desta vez sob a silhueta do liberal Santana Lopes. E o brasileiro do costume, um tal Jacome da Paz, desenha a produção laranja. Lá vai a onda tsunamizar por aí.

A resposta rosa não se faz esperar. Com vigor furtivo, o inefável Pina Moura ficará retido na cidade da Guarda, organizando palestras em catadupa. O laureado electricista espanhol é um compêndio escolar que muito irá instruir os indígenas locais, avaros da coisa económica. Na sua estância costumeira, Lisboa, Jaime Gama declara que não irá satirizar para a Bica do Sapato, enquanto confessa que tem ideias vigorosas e estimadas sobre tudo e está pronto para a acção. A peça não fica composta sem a graciosidade intelectual de Miranda Calha, em terras de Portalegre, o perfume espiritual de José Junqueiro em Viseu e, principalmente, sem a presença discreta de Alberto Costa, agora deslumbrado em terras do Rio Liz. A tudo isto se chama evolução e elegância socrática. Já vimos o filme.

Susan Sontag [1933-2004]

"Photographs are perhaps the most mysterious of all the objects that make up, and thicken, the environment we recognize as modern. Photographs really are experience captured, and the camera is the ideal arm of consciousness in its acquisitive mood." [ler]

"Não seria errado falar de pessoas que têm uma compulsão por fotografar: transformar a experiência em si num modo de ver. Por fim, ter uma experiência se torna idêntico a tirar uma foto, e participar de um evento público tende, cada vez mais, a equivaler a olhar para ele, em forma fotografada. Mallarmé, o mais lógico dos estetas do século XIX, disse que tudo no mundo existe para terminar num livro. Hoje, tudo existe para terminar numa foto"

Algumas obras: Against Interpretation and Other Essays (1966) / Death Kit (1967) / Styles of Radical Will (1969) / On Photography (1977) [Ensaios sobre Fotografia, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1986] / Illness as Metaphor (1978) / I, Etcetera (1978) / Under the Sign of Saturn (1982) / AIDS and Its Metaphors (1989) / The Volcano Lover (1992) / In América (2000) / Regarding the Pain of Others (2003)

Locais: The Susan Sontag Archive / A morte sob o signo de Saturno / Susan Sontag / Listen to the Susan Sontag interview with Don Swaim, 1992 / On Photography (Excerpt) / A fotografia enquanto representação da dor / Interview with Susan Sontag / A minha América é o Império (Entrevista) / Notes On "Camp" by Susan Sontag / A Arte de Escrever com Luz: memória, fotografia e ficção

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004



B(r)oas Festas!


Estamos de abalada. Estórias de assombramentos contadas à lareira esperam por nós. Todos os anos a mesma coisa. Trotar pelo campo, subir todos os muros, cruzar olhares, lembrar afectos. Seguir a vida, felizes no incêndio do nosso coração. Uma paisagem contra o tédio. Uma cadeia de milagres. Nesses instantes a alma não tem discursos. Só memória.

Natal

Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Sciencia a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é occulto.


[Fernando Pessoa, in Revista Contemporânea]

terça-feira, 21 de dezembro de 2004


m. Barbosa du Bocage (21 Dezembro 1805)

"... Eu mesmo a fui despindo, e fui tirando
Quanto cobria seu airoso corpo.
Era feito de neve; os ombros altos,
O colo branco, o cu roliço e grosso;
A barriga espaçosa, o cono estreito,
O pentelho mui denso, escuro, e liso;
Coxas piramidais, pernas roliças,
O pé pequeno ... Oh céus! Como é formosa!
Já metidos na cama em nívea Holanda,
Erguido o membro, té tocar no umbigo,
Qual Amadis de Gaula entrei na briga:
Pentelho com pentelho ambos unidos,
Presa a voz na garganta, ardente fogo
Exalávamos ambos; Nise bela
Ou fosse natural, ou fosse d'arte,
O peito levantado, ansiosa, aflita,
Tremia, soluçava, e os olhos belos
Semi-mortos erguia ..."

[Barbosa du Bocage, in Poesias Eróticas Burlescas e Satíricas, S. Paulo, 1969]

Passa por mim em Bruxelas

"Tenho uma ligeira oscilação quando ando, até uso uma bengala" [A. O'Neill]

Os altíssimos dias deste final d'annus horribilis deu para assistir à récita pública do Eurostat, sempre fidelíssimo nos 3% e em demanda de défices excessivos, e ao espalhar da fúria, flagelo e dedicação sublime de três admiráveis personagens da lide política doméstica. Fala-se, evidentemente, de Santana Lopes, Bagão Félix e Vítor Constâncio. Dir-se-ia que não nos deixam dar graças às festividades sem qualquer martírio confesso. Estranha forma de vida em que os dotes políticos são completados pela sacrossanta oratória.

A governação está em padecimento de corpo. O que, hoje, foi dado assistir em conferência de imprensa é verdadeiramente espantoso. Fora ninguém ter entendido o porquê da prece mediática, dado não se ter apresentado nada de substantivo, fica-se a saber que em vez da literatura económica e financeira os governantes preferem os jornais, mesmo que estrangeiros. Qualquer dia ainda os apanhamos a ler a Maria, o Record ou as crónicas do Delgado. Por fim, a dupla Lopes & Félix, em alegre coligada apresentam-se como arrependidos, prestam perjuro ao saudoso PEC. Como os desamparados do Barrosismo andam com amargos de boca, descontentes pelo seu sacrifício!

O mistério do défice, a perfeição orçamental, a tabuada contabilística, comove qualquer indígena. Santana Lopes, um crónico incompetente consciente, generoso na sua sabedoria, imolou-se na miséria da mercearia Ferreira Leite. Como desconhece o que quer que seja, acreditou em tudo, seguiu «o Cherne». Pois se todos os extraordinários economistas e olheiros orçamentistas laranjas abraçavam a bondade das medidas do seu amigo Barroso, porque razão se haveria de verter lágrimas? Bagão Félix, o pudibundo cristão do orçamento cheio de graça, faz testemunho de ideias mal arranjadas e, num admirável discurso, dá uma valente sova no talento alemão. Inolvidável. Ligeiro, o despachante do Banco de Portugal, de nome Vítor Constâncio, revela o espírito do provado funcionário público: na falta de patrão, não há receitas extraordinárias para ninguém. No tempo da senhora Ferreira Leite é que era, suspira o piedoso economista. Mas afinal, o que seria uma Nação sem estes talentos bizarros? Pode-se saber?

[Remédios]

"... Vi um médico, de espírito sublime, que possuía, a fundo, a ciência do governo. Tinha consagrado as suas vigílias, até à data, a descobrir as causas dos males do Estado e a encontrar remédios para curar os maus fígados dos que administram os negócios públicos (...) «Os homens encarregados da administração pública, as mais das vezes, estão cheios de humores movediços, que lhes enfraquecem a cabeça e o coração, causam-lhes convulsões, contracção dos nervos da mão direita, fomes caninas, indigestões, vapores, delírios, e outros males»
Propunha tomar-se-lhes o pulso quando estivessem para se reunir em conselho. Por este processo tratava-se de ver se se descobria qual a espécie de doença de que eles padeciam (...)
E porque, ordinariamente, todos se queixam da pouca memória que tem os validos dos príncipes, queria o nosso doutor que a todo aquele que tivesse de tratar com eles alguns negócio fosse permitido a liberdade de dar ao senhor valido esquecido um piparote no nariz, de lhe puxar pelas orelhas ou espetar-lhe um alfinete nas nádegas, a fim de que a pretensão fosse sempre lembrada (...) Queria também que um dos senadores, depois de haver apresentado a sua opinião e ter dito, em abono dela, o que tivesse para dizer, fosse obrigado a formular a opinião contrária ..."

[J. Swift, in Viagens de Gulliver]

domingo, 19 de dezembro de 2004

[No dia de nascimento (1924) de Alexandre O'Neill]

"Aqui dormi.
Aqui sonhei.
Aqui me masturbei.

Da parede,
o mesmo azul do mapa
me convida.

Mas não fui «de longada».

De lombada em lombada,
quanta estante corrida!
"

[Alexandre O'Neill, in O Quarto]

Excitações Lusitanas & mais do mesmo

- os domésticos socialistas da cidade do Porto, sempre pródigos nas suas perturbações de fé eleitoral, congratularam-se pelo providencial apoio do senhor Pinto da Costa contra o insolente Rui Rio. O país nem um sorriso profundo manifesta. Nem um esgar incómodo declara. Ninguém se chega à frente em reparos. Mas sabe-se que os mistérios portuenses dão sempre em alucinações entusiastas, que invariavelmente acabam em arriscadas hermenêuticas no Bolhão.
O brinde do virtuoso Papa Costa foi disputadíssimo. O estremado Francisco Assis deu o amem rosa. Fernando Gomes comoveu-se pelo altíssimo discurso do sr. Pinto da Costa, esse incansável paladino da democracia. Nuno Cardoso amuou. A tralha socialista reclama um regresso. Sócrates resta um túmulo. Enquanto isso, o inefável Marco António confessa que frequenta as Antas aos domingos e dias santos. Consta, ainda, que Luís Filipe Menezes teve uma apoplexia, politicamente falando, é claro. Como são puros os ares da província.

- a economia já era. As lambiscadas dos tediosos opinion-maker's da coisa económica andam cansativas. Enjoam pelos testemunhos. Todas as manhãs lá vêm a ordem de argumentos em defesa do defunto. Entre as trevas da política económica, saltam as vozes puristas do professorado. Miguel Cadilhe consegue ver a borda do precipício, mesmo que esteja à sombra de quem o construiu. O deslumbrado Miguel Frasquilho, aleijado pelas mazelas pós-keynesianas, entretém os indígenas na comédia divertida do choque fiscal. Ignora-se, apenas, como entende imolar o Estado. O professor Cavaco, em magnifico delirius oeconomicus, fustiga os seus imediatos da governação, cavalga a besta do apocalipse pátrio, taramela qualquer coisa. A lenga-lenga do prof. Cavaco esquece o caudal económico dos disparates Barrosistas e, principalmente, a mercearia da senhora Ferreira Leite. Mas não faz mal a sabatina económica. O charivari é ensurdecedor. A turba indígena está de consoada. O bacalhau não desaparece, de vez. Deo gratias!