segunda-feira, 20 de novembro de 2006

ANÚNCIO



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A bem da nação!

O ALMOCREVE DAS PETAS NAS ARCADAS DO TERREIRO DO PAÇO


"Não há sitio em Lisboa que mais dano cause ao espírito publico do que a arcada do Terreiro do Paço. O Almocreve das Petas [de José Daniel Rodrigues da Costa] parece que fez ali estalagem onde amarra e arraçôa a récova dos seus gordos carapetões. Quem pretende andar bem estribado nas novidades do dia, vai lá, escolhe um boato, bifurca nele a imaginação, chouta de grupo em grupo, espalhando o boletim da arcada, e ao cabo de alguma horas está a cidade inçada de carapetões, que são a praga de Lisboa (...)

Iremos ouvir mil petas,
Quando mais o sol se empina,
Vendo acérrimos jarretas,
Junto a Santa Catharina.
Argumentando em gazetas
"

[Alberto Pimentel, in Vida de Lisboa, 1900]

O PRESIDENTE E O ECONOMISTA CAVACO SILVA



"Stick to the plan, stick to the plan" [coro socialista no governo]

O dr. Cavaco deu uma entrevista pouco inteligente a Maria João Avillez. De tal modo foi, que fez divertir (e baralhar) alguns jornalistas e comentadores. Além do "timing" escolhido (que não deixa de ser curioso) e da motivação que a serviu (que ninguém descortina) a entrevista é fastidiosa e aborrecida. Saber o que faz correr o dr. Cavaco é uma enorme trapalhada.

Para nós, o episódio de assistir, em televisão, o Presidente Cavaco Silva dissuadir e calar o economista Cavaco Silva, não deixa de ser curioso. Declara o Presidente estar "ao lado das reformas do Governo". E não tem dúvida (seguindo a douta máxima do clássico dr. Cavaco) em considerar que "a economia e as finanças [estão] no rumo certo". Tal amabilidade não é sustentável por nenhum economista sério. O dr. Cavaco-Presidente corre assim, sem habilidade alguma, riscos variados. Fica imobilizado economicamente e, ao mesmo tempo, faz ressabiar políticos, sindicalistas e ... a classe média. Essa mesma, aquela que o eng. Sócrates trata como "um lugar-comum".

Varrido que foi o economista Cavaco Silva da genialidade indígena, pela lição do presidente de "todos" os portugueses, importa lembrar que bastaria ao Cavaco-Presidente recorrer à bondade do "lente" Aníbal, nos bons tempos do ISCEF. Estamos tentados, portanto, a revisitar o assistente Cavaco, leccionando a cadeira de Finanças I, juntamente com Ferreira Leite e Silveira Godinho. E estamos a imaginar o ar estupefacto do bom aluno da fazenda indígena (o Teixeira dos Santos) se na oral da cadeira com o assistente Cavaco Silva, ao lhe ser solicitado abrir o Orçamento de Estado para o Ministério da Economia, o abrisse ao acaso, sem excelência ritmada. Diria logo o nosso assistente Cavaco: "Vê-se bem que não folheou o Orçamento do Estado". Que significava, apenas, para o retardatário aluno, um valente chumbo. Eram tempos de rigor ... em Finanças Públicas. Lá isso era!

LIVRARIA BIZANTINA


Catálogo 72 da Livraria Bizantina

Saiu o Catálogo 72 da Livraria Bizantina (Rua da Misericórdia, nº 147, Lisboa). Conjunto curioso de peças biográficas, históricas e monográficas, a preços convidativos. A não perder.

Algumas referências: In Memoriam de Afonso Lopes Vieira, 1947 / Diccionario dos Políticos, ou Verdadeiro Sentido das phrases e Vozes mais usuaes entre os mesmos, por D. Juan Rico y Amat, 1875 / Chorographia Histórico-Estatistica do Distrito de Coimbra, de Agostinho Rodrigues d'Andrade, 1896 / Memorias Histórico-Estatisticas de Alguma Villas e Povoações de Portugal, por Brito Aranha, 1871 / Os Últimos Anos da Monarquia, de José d'Arriaga, 1911 / As Freiras do Lorvão, por T. Lino d'Assumpção, 1899 / A Fábrica da vista Alegre, por João Teodoro Ferreira Pinto Basto, 1924, III vols / Diccionario Jurídico-Commercial, de José Ferreira Borges, 1856 / As Canções de António Botto. Nova Edição, 1932 / Brado aos Portuguezes. Opúsculo Patriótico Contra as Ideias da União de Portugal com a Hespanha, 1860 / Memorias de um Estudante de Direito, de Rafael Salinas Calado, Coimbra, 1942 / O Espêto. Sociedade Conhecida de Responsabilidade Limitada a ceias e Piqueniques, de Ernesto de Carvalho, 1914 / Os Assassinos da Beira, de Joaquim Martins de Carvalho, 1922 / Manual Político do Cidadão Portuguez, de Trindade Coelho, 1906 / Compromisso da Misericórdia de Lisboa, Lisboa, 1739 / As Constituintes de 1911 e os Seus Deputados, 1911 / Uma causa Celebre. O Crime de Serrazes, por Cunha e Costa, / Manual Prático do Passarinheiro, de J. W. edrich / Coimbra dos Doutores, de João Falcato, 1957 / Dicionário histórico de Efemérides Universais, de M. A. Silva Ferreira, 1914 / O Integralismo e a República, de Carlos Ferrão, III vols / Lista de Alguns Catálogos de Bibliothecas Publicas e particulares, de Livreiros e Alfarrabistas, por Martinho da Fonseca, 1913 / Fátima, por Tomaz da Fonseca, 1955 / Pombeiro da Beira, de Sanches de Frias, 1896 / Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, ed. Sirius, 1941 / Tempos Idos. As Minhas Memórias, de Cunha Leal, 1966-68, III vols / Portugal e o Socialismo, de Oliveira Martins, 1873 / História de Portugal, por Rocha Martins, 1930 / Memórias e Trabalhos da Minha Vida, de Norton de Mattos, 1944-45, IV vols / Um Ano de Política, de Egas Moniz, 1919 / Lusitânia Transformada, de Fernão d'Álvares do Oriente, 1781 / Textos de Circunstancia, por Luiz Pacheco, 1977 / Memórias, de Pedro Theotonio Pereira, 1972-73, II vols / Orphanologia Pratica, por António de Paiva e Pona, 1759 / Centro Católico Português, por Oliveira Salazar, 1922 / As Opiniões que o DL teve, de José Saramago, 1974 / Memoria Histórico-Chorographica dos Diversos Concelhos do Districto Administrativo de Coimbra, de António Luiz de Sousa Henriques, 1853 / Memorias de Mondim da Beira, de Leite de Vasconcellos, 1933

sábado, 18 de novembro de 2006

HOMENAGEM A DONALD H. RUMSFELD



"O sol levanta
nas pequena árvores
vasto hélio de Outono
depois da noite passada -

Três homens estendem-se ébrios
na mata de vide
na pequena lixeira
acabaram o whiskey
...
O universo é tão alto
no ar que só precisamos de nos erguer
frios e andarmos pela lixeira
de madrugada para estar no Céu"

[Allen Ginsberg, in Alvejado a tiro nas costas por uma folha caída. Cliché do Inimigo Público, edição Pùblico]

VASCO PULIDO VALENTE - BALANÇO E CONTAS


"Há vinte e cinco anos que me ocupo na actividade anormal, solitária e finalmente frustrante de escrever. É o género de extravio pelo qual não se pede desculpa e que nem para o próprio, sobretudo para o próprio, exige ou tolera qualquer justificação. Quem escreve, como modo de vida, postula, tem de postular, a bondade intrínseca do acto de escrever. Mais do que isso, visto que se trata de uma profissão mal remunerada e de pouco prestigio social, quem escreve tem de se imaginar revestido por uma graça única, que o põe à parte e acima das criaturas vulgares. Sem uma arrogância intelectual e a convicção intima mas devastadora da sua superioridade, nenhuma força no mundo o arrastaria para a frente do papel em branco e o faria pacientemente fabricar filas e filas de palavras, com um fervor maníaco que aplicado a objecto menos inofensivo o conduziria à cadeia ou à manufactura terapêutica de cestos.

Ao contrario do que julgam os amadores, os verdadeiros profissionais de escrever nunca são assaltados pelas célebres 'dúvidas e interrogações' sobre o valor e a utilidade dos seus escritos. A sombra de uma dúvida, a longínqua ameaça de uma interrogação impediriam o trabalho regular e metódico, indispensável ao pagamento da hipoteca da casa, da educação, dos filhos e das contas dos restaurantes. Nós, infelizmente, não andamos aqui para nos divertir ..."

[Vasco Pulido Valente, Balanço e contas, in Grande Reportagem, nº 6, 11 Janeiro 1985]

sexta-feira, 17 de novembro de 2006


O Homem e a Mentira - Colóquio no Porto

Decorre, hoje e amanhã, na Fundação Eng. António de Almeida, no Porto, um colóquio organizado pelo Instituto de Psicanálise do Porto sobre "O Homem e a Mentira". Tema bem curioso, tem a participação de excelentes pensadores, da área da psicanálise, da filosofia e dos média.

Refira-se, em especial, para o dia de amanhã (18, pelas 9 horas), a comunicação de Fernando Catroga (Mentira, História e Memória), uma outra de António Pedro Pita (A Arte e a Mentira ou "A Linguagem Ideal da Alma"), a intervenção de Carlos Amaral Dias (A Alma da Lingagem), a mesa redonda "Os Média e a Mentira" (com Fernanda Câncio, Fernando Alves e José Manuel Pureza, com moderação de João Maria André), a comunicação do prof. Anselmo Borges (A Mentira da Morte e a Morte da Mentira), a presença da socióloga Celeste Malpique (A Morte não Mente) e a comunicação de Júlio Silveira Nunes (O Sexo (Des)Mente). Ver Programa, aqui.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006


Almanaque Republicano - Actualização

No "Itinerário, tábua ou fragmentos da Alma Republicana" ou Almanaque Republicano pode ler: Efemérides de Novembro, José Cardoso Vieira de Castro, Augusto Casimiro, Raul Brandão, José Pereira de Sampaio (Bruno), Vasco Pulido Valente, Herculano, Oliveira Martins, Cecílio de Sousa, José Acúrcio das Neves, Dr. Estevão de Vasconcelos, novidades da Revista História, O Grupo dos Budas ou Grupo de Madrid.

Uma casa fraterna e ao Vosso dispor.

Crise para que vos quero!

"Foi decretada a mobilização geral.
...
Davam-lhe alpista,
mas arroz nunca lhe davam e,
por isso
foi decretada a mobilização geral.
...
Voltamos todos a tocar corneta
e sem espingarda na algibeira
pois se tinha gasto toda
com o andar,
porque não lhe tinham dado botas"

[in Intervenção Surrealista ... pois claro!]

Noticias do bloqueio

- alheio aos encómios ao governo, sempre mui bem estudados pelos jornalistas, a boa administração indígena pretende acabar com a Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas. Muito bem. É o fim da propaganda rosa. Pode-se, desde já, dispensar o Silva Pereira, sempre se poupa uns eurozitos. Aliás, temos gente nos blogs que fazem esse trabalho sujo. O que impressiona na simpática classe é que trata as "regalias adquiridas" dos outros com desprezo, mas considera, na sua prosa saloia, que lhe querem acabar com os "direitos". Evidentemente, adquiridos. Viva a classe!

- o duplo de Sócrates, o enfant terrible Santana Lopes está de volta aos jornais, depois de ter andado extraviado. Parece que anda meio mundo, pelas boticas da política, a qualificar o homem e a sua obra (se se pode chamar isso em público) literária, referindo-se a ela depreciativamente. Não colhemos tal. O Lopes tinha direito ao contraditório, com ou sem atrevimento. E se anavalhou alguém, en passant, diremos: gostámos! Esperem só pelas percepções e realidades do seu meio-irmão, o eng. Sócrates, daqui a algum tempo. Talvez o reverendo prior do Rato, Jorge Coelho, não se engasgue, então.

- Carmona Rodrigues, o prodigioso edil de Lisboa, em peleja de martírio & dissimulação, retira os vínculos profanos à dra. Nogueira Pinto. O Carmona de Lisboa é um obstinado generoso. Irradia confusão, desleixo e inaptidão em tudo. Daí que os lisboetas o tenham reconhecido como um dos seus. Parabéns, alfacinhas!

- a malícia da economia e a praga financeira, continua a fazer das suas. Tanta gente a adorar o controle orçamental, era fatal. Quando exaltados funcionários do governo, de momento travestidos de académicos ou directores de jornais, vindicavam a boa pratica orçamental, era evidente que a coisa não tinha satisfação merecida. A não ser que o tapete rosa fosse elástico, não se via onde podiam esconder as maleitas. Agora sabe-se!

- a tragédia da educação e ensino em Portugal, não tem fim. O raminho de eduquês que está frente do Ministério cumpre a sua bizarra missão com expedientes curiosos. Depois de ter impressionado os indígenas acabando, definitivamente, com a profissão docente, eis que os quer transformados em empregados domésticos ou homens a dias da criançada (para milagre dos papás). Enquanto isso, as aulitas d'inglês (sempre tão iluminadas pelo padrinho Jorge Coelho) são leccionadas por qualquer bicho-careta, sem habilitação alguma, sendo uma excelente fonte de receita para empresários privados. Entreter a miudagem é preciso. Trabalhar e aprender, nem por isso. Eis o ensino do eng. Sócrates.

terça-feira, 14 de novembro de 2006


Diálogo sobre os críticos

"Manuel da Fonseca - Tenho para mim que existe realmente um divórcio entre a Crítica e o Público ...

Alexandre O'Neill - Para o grande público, ler uma crítica de poesia não lhe traz qualquer elucidação sobre o sentido da obra que o crítico pretende abordar. O crítico escreve para um pequeno clã, um grupo, uma «panelinha» - vá lá a expressão ...

Bernardo Santareno - O crítico não orienta. Particularmente no meu caso só desorienta; e não desorienta mais porque eu não deixo ...

Manuel da Fonseca - Muitas vezes eu deparo com críticas de eruditos e raramente com a crítica de um homem que vive imediatamente o clima artístico do meu país em determinado momento (...) A maioria dos críticos portugueses são espécies fracassadas de artistas , e subespécies de quase todos ...

Bernardo Santareno - Podemos dividir os críticos em 4 categorias. Os que dizem bem, um bem que não interessa nada. Esses são amigos, são às vezes oficiais do mesmo ofício que esperam que a gente diga bem deles um dia, e tal. Há os que dizem mal, um mal que não interessa nada ... [são] muito despeitados, fracassados. [o crítico] vai com uma coisinha, um compasso metálico para descobrir fragilidades (que são inevitáveis) e coisas quejandas (...) Há ainda uma terceira categoria: aqueles que têm uma boa organização crítica, que são (...) sérias, dignas, mas de tal modo dirigidas por uma orientação de tipo político, religioso ou ético que não conseguem aquela distância harmónica que deve existir entre o crítico e a obra de arte (...) o quarto grupo de críticos - aqueles que conseguem, numa tenaz e honesta maceração, colocar-se na posição do artista criticado. Mas esses são quase uma utopia ...

Manuel da Fonseca - Para mim, o critico, acima de tudo, é um homem de sensibilidade, não um indivíduo de conhecimentos livrescos, como a maioria dos nossos críticos. Por isso eles são uns pequenos cataventos a obedecerem ao último livro de que gostaram ...

Alexandre O'Neill - Eu uma vez fui entrevistado e referi-me à critica dizendo que, enfim, os versos custavam os olhos da cara e que os críticos os arrumavam com uma facilidade que não estava em relação com o trabalho (...) Eu acho que só há esta coisa: que a critica de um meio pequenino é realmente pequenina (...) [aos críticos] domina-os a preocupação de ter sistema, de terem chave universal e que, portanto, abrem todas as portas quando afinal a obra de arte é criada - e isto citando Rilke ? em grande solidão. Como disse, ela custa realmente os olhos da cara e o crítico tem a tarimba, tem a obrigação de publicação, tem os 300, 500 ou 600$00 a receber ... Ora estas duas coisas não se coadunam ..."

[Registo de parte da conversa, feita no programa 'Leitura' de Fernando Curado Ribeiro, entre Manuel da Fonseca, Bernardo Santareno e Alexandre O'Neill (todos ali em cima, à mostra), sobre a crítica e o público, publicado no Almanaque de Maio de 1960, pag.140-147. Tenha-se em atenção o ano (1960) da alegre converseta. Selecção e sublinhados nossos]

Revistas & Arrumações - Almanaque

Preciosa revista, que aqui fizemos referência, ainda hoje é um gosto lê-la. Os textos, o grafismo e a modernidade verificada, espantam nos dias que correm. É evidente que, com Cardoso Pires, Alexandre O'Neill, Baptista-Bastos, Abel Manta e Sebastião Rodrigues (que capas lindas!), Câmara Leme, Eduardo Gajeiro, Vasco Pulido Valente, Carlos Oliveira, Gomes Ferreira, Eugénio de Andrade, etc., só a felicidade era possível. Num momento em as revistas literárias & de aprazimento são escassas e más, por diversas razões, voltar ao passado é de todo recomendável.

"É claro que ninguém nasce aventureiro, como ninguém nasce já com chapéu à diplomata. Os aventureiros e os messieurs pomposos do nosso tempo fizeram-se a si próprios, são autênticos self made men deste ou daquele tipo. E porque não? (...) Na verdade a todos os jovens, mais tarde ou mais cedo, se põe o problema da escolha do tipo. (...)

O Português civilizado: ... este tipo é fácil de imitar e tem certo prestígio. Basicamente o português civilizado é um individuo que tem a consciência permanente do estrangeiro.

Por estrangeiro deve entender-se a gravata italiana, o 'blazer' inglês, o conhaque francês e o hábito de comprar jornais estrangeiros e revistas de arte. O português civilizado detesta Camilo e lê Eça de Queirós. É íntimo de dois ou três fadistas e vai jantar com raparigas bonitas ligeiramente 'déclassées'. Com estas raparigas discute a sua vida íntima, os romances da Sagan e, agora, o Pasternak. Trata-as como se elas fossem civilizadíssimas e obtém, durante o jantar, um ambiente de requinte intelectual e emotivo. O português civilizado cria, à sua volta, uma espécie de ilha de civilização. Normalmente tem um pequeno 'appartement', muito bem arranjado, onde oferece às raparigas conhque francês em copos de balão. Janta sozinho no restaurante onde possa ser visto mas, quando vai ao 'appartement', leva sempre um ou dois amigos para criar ambiente e fazer conversa. Não têm opiniões definidas sobre nada. Conhece os nomes dos pintores modernos e de alguns poetas mas não se arrisca a formular opiniões senão perante as raparigas um pouco 'déclassées' que deslumbra com a sua intelectualidade e o seu mundanismo. (...)

... o candidate a intelectual genérico das esquerdas não necessita de ter origens. Fica-lhe, até, bem não ter origens. Se alguém lhe perguntar donde é a sua família, deverá responder que é o Areeiro. Revela assim uma grande independência de espírito e uma personalidade forte.
- Vocês donde são?
- Da Avenida Madrid ..."

[este delicioso texto saído no Almanaque de Janeiro de 1960 (pag. 117-121), intitulado "escolha o seu tipo", faz lembrar a mão de mestre V.P.V., e ficamos por aqui dado o escriba ter referido a nossa bem amada avenida, onde de facto a fauna existente era absolutamente inolvidável. Para o bem e o mal. Saudades desses tempos. Saudades da Avenida Madrid]

segunda-feira, 13 de novembro de 2006



Ex-Libris

Lunário curioso & útil ao Partido do Governo

[Em louvor de Pedro T. Mota que deixou o Borda d'Água]

Há muito a fazer no mês de Dezembro. A invernia pode vir por aí arriba, sem um queixume e tremenda de memória. Como o ano entrou num Domingo, dia do astro Sol, então será áspero o Inverno e, como o Sol tem a regência do ouro, pode observar-se sangria financeira, para o final do ano. Advirta-se que nem o mor Santo Coelho do Rato pode alentar os fiéis da rosa nessa pungente dor. A tardança é uma enxertia arrojada. A máxima será: quem planta no Outono leva um ano de abono. A semente a ser coberta deve obedecer à poética: bom estrume e bom lavor / traz tudo que é um primor. Um podador é, pois, preciso.

Sabe-se que Júpiter e Saturno deixam a quadratura em Dezembro próximo, significando que os ajustamentos serão tensos a partir daí. Saturno representa inquietações, desconfianças, misérias. Os trabalhos de casa, quando feitos sem cautela, não correrão conforme a prognosticação da fazenda. Desconfiai quando os tempos se trocam, denota carestia (thks old Lunario Perpetuo). Cautela, pois!

Nos empregos públicos, nos pregões matinais da Bolsa, nos hospitais e hospícios ministeriais (salvé Correia de Campos), nos estabelecimentos expostos à concorrência externa (thks ó César das Neves pela lição), na agricultura & jardins perfumados (como diz o povo: no minguante colhe bolotas), no expediente da Justiça & dotes, nas tabernas privadas e ofícios correlativos liberais, nas lojas de câmbio ou vulgo Bancos do Espírito Santo, nas hospedarias do Terreiro do Paço, nas mansardas (José Cid, off course) indígenas, aconselha-se mais vigor e menos resignação, limpar da vista e do coração os lambe-botas e tratá-los com a mesma cautela com que se colhem as rosas, ou vigiar de perto os éditos do José Manuel Fernandes.

Deve-se ser prudente à menor maleita, e se a condição de baixa não diminuir, pode-se administrar um caustico no peito do enfermo, continuar a dieta financeira, tomar vinho de quina (69 gr.), xarope de flor de rosa (1 onça), mudando-se o doente de posição. Se for caso grave, o tratamento começa por um vomitório simples, seguido de banhos frios, olhando de frente um cliché de mestre José Lelo embebido em vinagre, e se for tomado de conjuntivite no exercício, deve aplicar-se pomada Silva Pereira, a que não cansa a vista.

Vale

O Livro do Meio - Armando Silva Carvalho & Maria Velho da Costa

"Do início de 2006 a finais de Junho do mesmo ano, Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa decidiram pôr em correspondência uma cumplicidade de anos de convívio. O resultado é surpreendente, ocasionalmente chocante: Deus, Pátria e Família, revisitados com ferocidade e compaixão. Não é um ajuste de contas, mas anda, por vezes, perigosamente perto. Até para eles próprios. Nomes de gente viva e morta, memórias de infância, leituras e notícias do quotidiano, exaltante ou sórdido. Amigos e inimigos. Perdas e danos. Escárnio e louvor. A amizade indefectível de dois dos maiores autores de língua portuguesa à vista de quem quiser ler, sob a égide das Liaisons Dangereuses de Choderlos de Laclos. A indignação e a alegria da criação num meio cada vez mais hostil à Ética e à Literatura" [aqui, Editorial Caminho]

A Sessão de Lançamento: 29 de Novembro, 18.30 Horas, na Sala Europa do Hotel Altis.

Local a consulta: Pré-Publicação

Catálogo da Livraria D. Pedro V

Ao comemorar 3 anos, a Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16, Lisboa) publica um bom Catálogo com 50% de desconto sobre o preço de capa. A visitar e comprar.

Algumas referências: As relações diplomáticas entre Portugal e a França no reinado de D. João IV, de Moses B. Amzalak, 1934 / Descrição Geral d Histórica das Moedas cunhadas em nome dos Reis ..., por A. C. Teixeira de Aragão (2ª ed.) / Arquivo Histórico de Góis, 12 numrs, 1956-1971 / Cataláxia, de Pedro Arroja, 1993 / Novas Estrelas, de Mário Beirão, 1940 / Mandato Indeclinável, por Marcelo Caetano, 1970 / Os Armários Vazios, de Maria J. Carvalho, 1966 / A Selva, de Ferreira de Castro (ed. comem. do XXV aniv.), 1955 / As Palavras que Pena, de Y. K. Centeno, 1972 / Casas Pardas, de Maria Velho da Costa, 1977 / Senalonga. Pequenas Histórias de uma Vila em 1900, de Avelino Cunhal, 1965 / Os Telles de Albergaria, por Carlos Malheiro Dias / Documentos Políticos Encontrados nos Palácios Reais depois da Revolução Republicana, 1915 / Ossadas, de Afonso Duarte, 1947 / A Caravela Portuguesa e a Prioridade Técnica das Navegações, de Henrique Quirino da Fonseca, 1978, II vols / Guias de Portugal (vários) / Pátria, de Guerra Junqueiro, 1896 / A Velhice do Padre Eterno (il. de Leal da Câmara) / Commigo, de Manuel Laranjeira, 1923 / Filopólis, de Virgílio Martinho, 1973 / Dirpersos, de Oliveira Martins, 1924, tomo I e II / A Vénus de Kazabaika, de L. Sacher Masoch, 1966 (ed. Afrodite, Ribeiro de Mello) / Obra Poética, de Cecília Meirelles, Rio de Janeiro, 1967 / Jornal do Observador, de Vitorino Nemésio, 1974 / Três Dias em Olivença, de Hermano Neves, 1932 / Viagens Aventurosas de Felício e Felizarda ao Pólo Norte, de Ana Castro Osório, Lisboa, Lusitânia Editora, 1922 / As Amantes de Dom João V, por Alberto Pimentel, 1892 / Uma Fenda na Muralha, de Alves Redol, 1959 / Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro, 1891 (ed. D. José Pessanha) / A Procura do Silêncio, de Ernesto Sampaio, 1986

sábado, 11 de novembro de 2006

Fiama Hasse Pais Brandão

Para a nossa musa admirável, paixão de gratidão, única de santidade poética, Fiama Hasse Pais Brandão. Que se restabeleça definitivamente.

"Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho.

Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz"

[Fiama H. P. Brandão]

Economia para o indígena ou Sócrates explicado às crianças

"já estás grande de mais para o teu leito
instala-te de lado o perigo é enorme
barbeia-te com ódio a barba ajuda
" [M.C.V.]

A carreira Rato a S. Bento, passando pela Santa Blogosfera, aqui e aqui, e com apeadeiro em jornaleiros bem orquestrados, sugere um encontro de lentes louvaminheiros, taramelando formidáveis pareceres sobre a governação. Era fatal após o festivo dr. Santana e não deixa de ser fantástico depois da curiosa defumação de Ferreira Leite. A figura dessa gente, desprecavida de olímpica memória económica, política e eleitoral, daria gozo não fosse fatal a todos. Nesta borrasca anti-social que lavra doutrinariamente, acontece que por vezes a canalha, na sua fadiga intelectual, também tem razão! Coisa que a encantadora ignorância socialista e o zelo mísero de alguns comentaristas e outros tantos doutores estranham, tão inchados de autoridade andam, tão alquebrados de encómios persistem. A vida está uma canseira e, ao que parece, "a ociosidade forçada atirou os refugiados [da economia política] para os espaços públicos".

A labuta da semana, não sendo um padre-nosso ao Socratismo e à sua Mercearia (apenas uma cantata suave), colocou em todos os jornais e na curveteada TV um estranho e singular bando de comissários da boa política, sempre muito sobranceiros e tão ajeitadinhos na coisa pública, que no seu caprichoso ladrilhar académico sobre a ordem do mundo do eng. Sócrates sucede o melhor dos desígnios. A arrematação da boa governança, feita por Silva Lopes (o ilustre reformado da Caixa de Crédito Agrícola) na TV do dr. Balsemão, trocando medidas de politica económica com pueris devaneios fiscalistas e o extraordinário alvitre das cartas macroeconómicas e espirituosas de Teodora Cardoso, por todo o lado, à revelia dos manuais e do rosário económico, pelo espantoso desvario festivo opinioso, torna tudo pouco edificante e estampa bem a miséria intelectual da elite indígena. Na dementada afoiteza destas criaturas, a balbúrdia financeira e económica patenteada, todos estes anos muitos, estão a passos do seu fim. Que os Deuses sejam misericordiosos, mesmo que não estudem economia, é o que se deseja. Abençoados sejam!

(Re)pensar

"Se alguma coisa caracteriza a Civilização Ocidental é a possibilidade que confere, àqueles que nela vivem de a negarem. O progresso nela tem sido feito por quem, não aceitando inteiramente os valores herdados os repensou criando contra eles novos valores (...)

Pensar já foi uma necessidade, passou depois a ser um luxo, hoje em dia é um dever..."

[Almanaque, Julho 1960]


Aviso aos indígenas. Be nice to USA!

segunda-feira, 6 de novembro de 2006


Novo Blog: Almanaque Republicano

"O Almanaque Republicano é um álbum onde se vai perfilar uma geração sonhadora, generosa e messiânica, que é afinal o nosso costumado fadário, o nosso "eterno retorno". Da República de 1891 e da outra de 1910 há uma imensa viagem de encantos e desencantos, de "coisa esquecidas e mortas", um itinerário de bondade, pessimismo, ironia e sarcasmo. Há nele todo um movimento que "carecia de alma", como diria Pascoes. Essa Alma Republicana, seja ela qual for, será sempre essa jornada emotiva e social, espiritual e libertária, de encantos e desencantos vários, crença ou saudade do Encoberto, reformadora e socialista, liberal e popular, que da decadência à regeneração marcam para sempre o "espírito lusitano". A "Nova Era" redentora, quer fosse construída no cantar antiquíssimo da Renascença Portuguesa ou ressurgida pela demanda da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ou intencional na exaltação da luta pela emancipação das classes trabalhadoras e em redor do movimento operário e sindical, não deixa de ser, sem dúvida alguma, um dos momentos mais interessantes da história da sociedade portuguesa contemporânea. Afinal, "Ubi libertas, Ibi Patria".

Sitio de passagem e de euforias públicas, jornada de mil caminhos que o tempo percorreu, o Almanaque Republicano é um panfleto aberto e frontal da Alma Republicana" [Ler Aqui]

domingo, 5 de novembro de 2006


Luis Cernuda [1902 - m. 5 Novembro 1863]

"¿Cómo vive uma rosa / Si la arrancas del suelo?" [Cernuda]

"Tus ojos son los ojos de un hombre enamorado;
Tus labios son los labios de un hombre que no cree en el amor
Entonces dime el remedio, amigo,
Si están en desacuerdo realidad y deseo" [Cernuda]

"¿Mi tierra?
Mi tierra eres tú.
¿Mi gente?
Mi gente eres tú.
El destierro y la muerte
para mi están adonde
no estés tú.
¿Y mi vida?
Dime, mi vida,
¿qué es, si no eres tú?
"

[Luis Cernuda, Contigo]

Locais: Luis Cernuda (España, 1902-1963) / Centenario Luis Cernuda 1902 - 2002 / Homenaje a Luis Cernuda / Biografía de Luis Cernuda / Poemas de Luis Cernuda /Luis Cernuda poeta

Livraria Libres del Mirall - Obras Completas

De Barcelona, via Livraria Libres del Mirall, sai Catalogo de Obras Completas de importantes autores.

Algumas referências: Rafael Alberti, Poesías Completas 1961 / Vicente Aleixandre, Obras Completas, 1968 / Pio Baroja, Obras Completas, VIII vols / Jorge Luis Borges, Obras Completas, Buenos Aires, 1974 / Luis Cernuda, Prosa Completa, Barral Editores, 1975 / Miguel Cervantes Saavedra, Obras Completas, M. Aguilar, 1940 / Angel Crespo, Poesia, 1996 / Ruben Dário, Obras Poéticas Completas, Aguilar, 1937 / Federico Garcia Lorca, Obras Completas, Buenos Aires, Editorial Losada, 1946, VIII tomos / António Machado, Poesia y prosa, Ed. Losada, 1964 / Marcel Proust, En Busca del Tiempo perdido, Buenos Aires, Santiago Rueda Editor, 1947 / Jean-Jacques Rousseau, Escritos de Combate, Madrid, 1979 / Angel Valbuena Prat, Antologia de Poesia Sacra Española, Barcelona, 1940 /

sábado, 4 de novembro de 2006


Esta semana ... estivemos assim!

"A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciências:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência
...
A minha casa ... Mas é outra história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória"

[Vitorino Nemésio, A Concha]

sexta-feira, 27 de outubro de 2006


Esta noute deu-nos para os pastelinhos. De boca de dama. Não fazemos por menos. A coisa parece um tesouro. Ao lado d'outro que aqui temos. Ambas as proposta são tentadoras. Dizem-nos que ficamos aptos. Era isso mesmo que precisávamos.

Boa noute ... e nã se esqueça ... pastelinhos de boca de dama. Oferta totalmente grátis.

Flash desportivo: o eng. do Tenta

Não, não se trata de qualquer maledicência com Aquele (genuflexão!) que dá pontapés certeiros em programas eleitorais & outras graças menores. A nossa maldade, de facto, não anda distraída, apenas supinamente espinhosa. Portanto, deixemos o cómico eng. Sócrates no seu alegre despautério e falemos do eng. do Penta, o inefável Fernando Santos, e das suas alegres conversetas em família, lá para os lados da Grande Catedral.

Por mísera falta de leitura inducativa (assim mesmo), caiu-nos entre dedos essa bíblia do futebol indígena, noutros tempos bem regada por eruditas personagens lusas, que com fatuidade se chama, A Bola. Trabalho rijo de leitura, dado o oráculo futeboleiro pátrio ser sempre admirável de nebulosidades narrativas. O periódico da populaça do futebol é arrebatado de estilo, ameno com as corruptelas clubísticas, fero nos refrãos populistas, brioso & rendilhado de engenho. Enfim, um assombro de jornalismo, a fazer corar de inveja a rapaziada, dita, de referência. Lá dizia Bocage: "Musas, falai, nem todos podem tudo".

Acontece que o pranto último do eng. do Tenta oferecido aos adeptos do Glorioso na semana passada e castamente citado pela A Bola, sobre a subtileza arbitral (ou milagre oftálmico) que feriu o sr. Carlos Xistra e o levou a ser acometido da estranha doença dos cartões (cartolinas, para os iniciados), despertou a curiosidade da populaça. A nós e ao público, nem por isso. Vimos harpejar, em várias conferências de imprensa, o eng. Santos. E bem vestido estava de turbulência ética ou desportiva. O homem, afinal, mesmo eng. que seja, tem raciocínio. Mas não é original.

De facto, temos ideia (acontece aos melhores) que o eng. do Penta sabe bem mais, que a esqualidez lamecha que testemunha. Afinal, quando andou extraviado pela toca das Antas, a soldo desse Grande Português (genuflexão!) Pinto da Costa, ensinaram-no como "tosquiar" putativos adversários. São muitos anos de tirocínio azul na lide de afecto & devoção pela arbitragem. Portanto, eis o dogma do apuro do sistema. E que deve fazer pensar o neófito (José) Veiga, entretanto colhido em conversas dúbias ao telefone, que seria melhor restar mudo e quedo. E do mesmo modo, a ilustre & perpétua dupla Vieira & Vilarinho, Lda, novos sobas do nosso e vosso SLB.

Assim, quer o eng. Santos fazer o obséquio e aclarar o que decorou e sabe das maleitas & escapadelas arbitrais engendradas nas Antas, que nós desconhecemos de todo. Muito obrigado. Agradecido. Viva o Benfica! (momento de pura poesis).

Anarchist Bookfair

segunda-feira, 23 de outubro de 2006


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

Hoje estamos ... assim. Com desejos invocados, mesmo que errantes de gratidão. A noute venturosa tem um perfume de mulher que nos arranha de dentro, com cuidado, docemente. Trabalhos corporais. Ilustrados de luzes, campos de olhos doces, sem qualquer prudência & mando.

À nossa princesa ... Mayra Andrade - Comme S'Il En PleuvaitCastpost

Boa noute!

PREC



PREC- "Pensa, Rosna, Estica, Corta", nº 1

"quem faz o PREC fá-lo por gosto"

Aqui demos conta do lançamento do número zero do P[õe] R[apa] E[mpurra] C[ai], datado de Novembro de 2005. Jornal encorpado, papel de copiosa qualidade, leitura & textos contra o esquecimento e gozo. E anda, por aí, muito disso. De momento, ao que se sabe, saiu o nº1. O lançamento em Coimbra do P[ensa] R[osna] E[stica] C[orta] será no Teatro Académico Gil Vicente, dia 6 de Dezembro, pelas 18 horas. Hora celestial!

sábado, 21 de outubro de 2006


Boa noite, Ursula K. Le Guin [n. 21 Outubro 1929]

"Alguma vez pensaste nos vários mundos, nos homens e animais que os habitam, nas constelações dos seus céus, nas cidades que constroem, nas sua canções e modos de vida? Tudo isso se perdeu, tudo, tal como aconteceu com a tua infância. O que é que realmente sabemos da época em que fomos grandes? Uns poucos de nomes de mundos e heróis, uma baralhada de factos que tentámos coligir numa espécie de história ..."

[Ursula K. Le Guin, in A Cidade das Ilusões]

Locais: Ursula K. Le Guin's official website / Ursula K. Le Guin / Ursula K. Le Guin: uma biobibliografia

kultura & crise

um homem parou à minha frente e quiz à viva força vender-me a sua própria cabeça. trazia-a debaixo do braço e sangrava como um sol cortado muito perto. insistiu que era um artista: precisava de viver e sustentar o futuro e comprar uma camisa em rebaixa. e também que já não tinha inspiração nem faca e garfo
confesso que foi terrível e dum horror completo. mas
por sorte apareceu um polícia ou um santo (não me recordo muito bem) que resolveu legalmente o assunto

[António Aragão, in textos e pretextos, Loreto 13, nº2, 1978]

[O economista no Diário de Lisboa]

"Excelente, na sua cautela e lucidez, o artigo habitual do economista no Diário de Lisboa. Sem dúvida que o problema português é um problema de reforma fiscal no regime de taxa progressiva, que permitisse um maior rendimento aliviando o maior número, e uma questão de redistribuição da grande propriedade e da compulsão do investimento. De outro modo não é possível elevar o nível de um país que não é economicamente um país de investimentos coloniais, mas um país de rendimentos egoístas, aos quais o governo cria, à custa da restante população (à qual se dão lavadouros e futebol), o melhor dos mundos possíveis."

[Jorge de Sena, Diário do Tempo das Evidências, 9/03/1954. Jorge de Sena escreveu este diário no tempo em que era "secretário do Eng. Carmona, presidente da Comissão para o estudo das ligações entre Lisboa e a margem sul do Tejo" - in Nova Renascença, nº 32/33, 1988/89]


A senhora Ministra da Educação

quinta-feira, 19 de outubro de 2006


Solidários com os professores - parte II

Noutro registo, menos paciente ou virtuoso (se quiserem) e sem inocência, porque cansados estamos de alguns escribas do eduquês, que tão chorosos andam aos pés da senhora ministra da educação e da política socrática para o ensino, continuamos, porque "há pessoas que são como aviões no ar: / precisam de muita gente a apoiá-los de terra" [O'Neill]

Considerando a originalidade do pensamento dos respeitáveis amigos da ministra, que aplaudem freneticamente o charco de contradições presente na proposta de alteração do ECD, há que confessar que o registo conceptual que expandem não é o mesmo. O saco ministeriável colhe, desde os despeitados da escola que culpam qualquer professor (a "sintomatologia do abandónico" é bem real), os empastados da política (caso do vendedor televisivo Miguel Sousa Tavares), maviosos ex-responsáveis governativos (o malfadado Grilo está em todas), o cacho de uvas liberal (assombrados pela provisão da coisa pública), uns tantos aliterantes da prosápia anti funcionário-público, a nauseabunda cáfila partidária (atenção! genuflexão e gorjeio ao dr. Sócrates!) & outros vaidosos figurinos do funcionalismo público universitário. A divertida opinião de tantos seria ternurenta, se tivesse substância argumentativa. Ou, mesmo, se tivessem estudado, conceitos e práticas educativas, entre o folguedo das suas putativas afirmações. Mas nada disso, em geral, se verifica. Simples perfídia.

Dos oradores assinalados, de onde partem os mimos com que escorcham os docentes e as suas revindicações? Ponto de parte a bondade de alguma análise romântica de graciosos comentaristas, deixando de vez excitantes caricaturas vindas de néscios, resta a frescura arrancoada pelo grupo, perfumada de intriga caseira, dos amigos da senhora ministra. Um ajuntamento curioso, cujo lindismo teorético acampa aqui, alardeia ali ou segrega acolá. De comum, a carícia de serem todos socialistas e terem, ainda, os primeiros o enlevo de pertenceram à notável ourivesaria do regime, o ISCTE, onde pontifica a senhora ministra. Diga-se, desde já, que esse registo nunca foi escondido. Muito bem.

Dir-se-ia que a estes últimos mancebos se exigiria uma argumentação conceptual e trabalho teórico, sociologicamente falando, mais robusto e estruturado no campo e problemática da sociologia da educação, identificando o papel da Escola, a sua dimensão comunicacional (relação pedagógica, organização do espaço e relações de mando e poder), traçando as necessárias competências do acto educativo e sua interdependência em contexto escolar, a representatividade, legitimação e poder dos seus clientes, bem como os recursos exigidos para uma gestão e administração mais dinâmica e autónoma da Escola. E depois, evidentemente, sem jogos de linguagens (à maneira de Wittgenstein) partir para "tricotar" a relação funcional da Escola e o processo "produtivo", na lógica modernizadora da reorganização e reestruturação do sistema educativo. Depois disso, um possível e aceitável conceito de profissionalização para os docentes, poderia ser esculpido, bem como o seu estatuto.

Tais enquadramentos, absolutamente necessários para qualquer conversação séria sobre a análise em causa (reformulação do ECD), esbatem-se sempre por estes exaltados sociólogos, em aplicações recheadas de automatismos neotayloristas, privilegiando-se a máxima racionalidade economicista, decalcada de processos e técnicas de "management", e onde a Escola é tomada como uma qualquer "organização formal" sem "construído cultural". A performance assim proposta configura, sem brilho algum, uma ilusória decomposição do político no domínio do tecnocientífico, o que remete, em último lugar para o fim das ideologias. Mas isso é outra história.

Daí que a colorida argumentação resida, apenas, no fulminar dos incautos leitores com uma barragem de dados estatísticos (aqui, tais escolásticos, simulam um Medina Carreira vergastando números infindáveis, esquecendo qual é a questão em debate) que acabam por escancarar a faccis do indígena. Eles são vencimentos luxuosos que auferem os docentes, acompanhados por mapas, tão vigorosos como irreais, da putativa desbunda financeira do ensino educativo não-universitário, necessariamente a encolher. Pouco mais dizem, a não ser, por certo, acompanhar a hilariante teorização do eng. Sócrates, à rapaziada acofiada dos jornais e em resposta à pretensão dos professores de não aceitarem as cotas para efeitos de mérito avaliativo, quando declara: "Nem todos os jornalistas chegam a editores". Fulminante! Ao que parece a escola argumentativa do dr. Pinho está a tornar-se uma praga. E um desastre! Enfim ... é a vida!

Solidários com os professores

Já, aqui e aqui, prescrevemos o que vai resultar a movida iniciada pelo trio virtuoso & exuberante do Mi(ni)stério da Educação. A saber: a destruição total do ensino e da educação no país. A implementação do renovado ECD, que daí resulta, irá conduzir (mais do que já está) ao caos educativo.

Alguns exemplos mais: aumento da conflitualidade entre os diversos corpos escolares (a avaliação sendo feita por todos, não é por ninguém); persistência de graves insuficiências científicas e pedagógicas na Escola, quer pela via da nova estrutura hierarquizada pretendida (docentes de diferentes disciplinas, em sede de área curricular/departamento, a darem putativo apoio científico e pedagógico uns aos outros, é de um total nonsense e puro disparate) quer pela inexistência de acções de formação de profs com características científicas (não há dinheiro para acordos com as faculdades respectivas, nessa matéria, nem o eduquês ministeriável permitiria tais aventuras, decerto bem "perigosas"); a presença de constantes litígios entre os docentes, sendo que os professores (os não-titulares) terão todo o trabalho e os titulares farão exercer a autoridade (que em muitos casos, quer cientifica quer pedagógica, é nenhuma), o que contraria a linha orientadora esboçada pela ministra para o aparecimento de dois tipos de docentes (na altura, obrou a senhora ministra que os profs mais antigos deviam trabalhar mais, daí a proposta avançada); impedimento, real e objectivo, de docentes excelentes atingirem o topo (e a chefia da gestão pedagógica escolar) dado que o mérito anunciado pela ministra se sagrar em 1/3 do corpo docente, fazendo com que a Escola seja entendida (aliás como seria de esperar vindo de quem tal pensou) como a tropa, onde a velhice é um posto, independentemente da real valia científica e pedagógica de cada um. E haveria muito mais a registar. Fiquemos por aqui.

Estará tudo bem? Evidentemente que não, aliás nunca esteve. Mas as pretensões da ministra tornarão tudo ainda pior. É difícil construir, sabe-se bem, mas para destruir é bem mais fácil. E, certo é, que alguns se afadigam muito bem. Mesmo que seja a coberto da paranóia do défice.

Resulta desta inquietação, muito nossa, que a educação e o ensino, pela demagogia dos vários e alucinados ministros (alguns ex, com audácia, dão entrevistas a jornais, como nada se tivesse passado), pela indiferença dos pais e educandos (que querem mais, é que lhes guardem os filhos), apoiados pelo oportunismo partidário (em todos os governos foi sempre assim) e formatado pelo amigueiro corporativo mais demagógico, dizíamos nós que a educação, restará um espectáculo medonho, onde a interdependência entre o ensino, a aprendizagem e a avaliação estarão a saque. Onde, o prodígio instrutivo destes anos tantos de eduquês e os objectivos educacionais que lhe correspondem, incidirão, doravante, no exercício da mera "passagem administrativa" (para efeitos estatísticos da UE) e onde o rigor, o esforço, o trabalho e a avaliação não serão encarados, como deviam. Triste maldição, a nossa.

[continua]

terça-feira, 17 de outubro de 2006


Livraria Artes & Letras - Catálogo

... assim mesmo se pode ler na capa do último Catálogo da Livraria Artes & Letras, dado à luz pelo estimado livreiro antiquário do Largo da Trindade, 3-4, Lisboa. 1809 peças à venda, versando Antropologia, Enologia, Bibliografia, Culinária, Gastronomia, Vinhos, Direito, Ensaio, Filosofia, História, Lisboa, Literatura, Literatura Africana, Mar, Marinha & Pesca, Música, Teatro e Ultamar. O site está em remodelação, pelo que a espera ... desespera.

Algumas referências: Malaposta, de Azinhal Abelho, 1945 / Poema primeiro, por António Aragão, 1962 / Na senda da poesia, de Ruy Belo, 1969 / vários de António Botto [Cantares, 1928, 2º ed. / Ciúme. Canções, 1934 / O meu amor pequenino, 1934 / The Childen's book] / O Pobre de pedir, por Raul Brandão, 1931 / Memória descritiva, de Rui Cinatti, 1971 (mais 3 outros do mm autor) / A Área. Ode didáctica na primeira pessoa, por João Pedro Grabato Dias (aliás ps. de António Quadros), 1971 / Mar Alto, de António Ferro, 1924 / Agiológico rústico. Santos da minha terra, de Tomas da Fonseca, 1957 / Engrenagem, de Joaquim Soeiro Pereira Gomes, 1951 / A Torre de Babel ou a porra do Soriano seguida de as musas, por Guerra Junqueiro, 1979 / A Pata do pássaro desenhou uma nova paisagem, de Manuel de Lima, 1972 / É proibido apontar. Reflexos de um burguês, de José Rodrigues Miguéis, 1964 / Lote de Wenceslau de Morais (ref. Aquela tremenda gargalhada, 1954, etc.) / O segredo do Ouro Preto e outros caminhos, de Vitorino Nemésio, 1954 / Lote de Luiz Pacheco (ref. Critica de Circunstancia, 1966, O libertino ...) / Paquita, de Bulhão Pato, 1894 / Antologia de poemas portugueses modernos, 1944 (ed. por Fernando Pessoa e António Botto em 1929) / Sobre Sade diga-se que (plaquete Surrealista assim. por António José Forte, Ricardo-Dácio, Bruno da Ponte, Manuel de Castro, Ernesto Sampaio e Virgílio Martinho) / Obras de Eça de Queiroz (ed. centenário), XV vols / Espólio, de Alves Redol, 1943 / Lote de José Carlos Ary dos Santos (ref. Insofrimento in sofrimento, 1969) / Lote de Mário Cesariny Vasconcelos / In Memoriam de Ferreira de Castro, 1976 / Portuguese hebrew grammars and grammarians, por Moses B. Amzalak, 1928 / Sousa Viterbo e a sua obra, de Victor Ribeiro, 1915 / Poemas, de Reynaldo Ferreira, 1960 / Terras do sol, e da febre ?, por Julião Quintinha, 1932 / Arqueologia e História, X vols, 1922-32 / Historia da Expansão Portuguesa no Mundo, de António Baião, 1937-40, III vols / Da reorganização social dos trabalhadores e proprietário, por João Bonança, 1875 / Economia Política, de Bento Carqueja, II vols, 1926 / Cartas Políticas, por João Chagas, 1908-10, V vols / A verdade Monárquica, de Alberto Monsaraz / Lote de António Sardinha (ref. A Epopeia da Planície, 1915) / Figuras Gradas do Movimento Social Português, por Alexandre Vieira, 1959 / Nobreza de Portugal e do Brazil, por Afonso Eduardo M. Zuquete, 1960-61, III vols / Crime de cárcere privado. A censura medica pelo Tribunal da Boa-Hora, por José de Castro, 1909 / Tradições populares e vocabulário da Guarda, por A. Gomes Pereira, 1912 / Obras de Júlio de Castilho (A Ribeira de Lisboa; Lisboa Antiga Bairros Orientais; O Bairro Alto de Lisboa) / O Carmo e a Trindade, de Gustavo de Matos Sequeira, 1939-41, III vols / Colecção de Leis sobre a Pesca desde Março de 1522 até Janeiro de 1891 / Angola (Para uma nova política), de Henrique Galvão, 1937