quarta-feira, 7 de março de 2007


Na Morte de Miguel Baptista Pereira (1929-2007)

A surpresa da morte de Miguel Baptista Pereira, quando o céu da manhã de ontem era medonho e o delírio do mundo porfiava, rasgou de vez qualquer virtude ou entusiasmo que tivéssemos para o dia. A morada solitária do filósofo, o seu génio luminoso, a dignidade moral e intelectual do dr. Miguel Baptista Pereira era uma evocação dolorosa. Inultrapassável. A sua perda deixa-nos mais sós, mesmo que a sua vida e obra (profunda, reveladora e perturbante) seja inigualável de atenção e vigorosa de esperança. A nobreza intelectual do dr. Miguel Baptista Pereira será, para todos os que o conheceram e o leram, sempre eterna.

«Na 'insuportável leveza do ser' calcorreada pelo caçador contumaz, que trocou a experiência cusana de sabedoria pela sofreguidão iluminista das evidências e sacrificou a gravidade do real à aferição e medição imponderáveis e levíssimas da consciência mensuradora, apagou-se já o pensar no sentido originário de pesar a densidade e a importância das coisas, da vida e do homem, cuja ausência é a dor primeira da consciência ecológica. Pensar é também não deixar morrer no esquecimento o que, apesar do seu peso e valor, não resistiu à voragem da morte, é manter viva na rememoração e na narração a herança do que vale, é agradecer o peso dos bens legados a fundo perdido e fazer da gratidão o terreno fértil de novas criações do pensamento» [Miguel Baptista Pereira, in Nota de Abertura, "Da Natureza ao Sagrado", Homenagem a Francisco Vieira Jordão, Porto, 1999]

Miguel Baptista Pereira nasceu a 10 de Maio de 1929, foi ordenado sacerdote em 1953, dedicou-se ao estudo da filosofia, tendo sido ilustre professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se jubilou. Publicou obra copiosa, principalmente, em revistas da especialidade (aqui e no estrangeiro), a par de alguns livros ou opúsculos. Em 2000, saiu o "Ars interpretandi: Diálogo e tempo - Homenagem a Miguel Baptista Pereira”, coordenação de Anselmo Borges, António Pedro Pita e João Maria André, Porto, Fundação António de Almeida.