sexta-feira, 15 de setembro de 2006


Liberais, vos papiers!

"Uma história não se inventa, encontra-se" [Peter Handke]

O último "Prós e Contras", que colocou frente a frente o dr. Soares e o dr. Pacheco Pereira, foi excelentemente pastoreado pelos "bons espíritos" da blogosfera lusa. A autoridade organizada - nova "doença" indígena entre alguns propagandistas liberais, neoliberais ou generosos reaccionários - mobilada pelo "velho" conceito Schmittiano sobre a política caseira, segundo a qual todas as matérias da paróquia configuram, obrigatoriamente, a antítese "amigo/inimigo", foi esclarecedora e bem viciosa. Portanto, os bons espíritos da blogosfera obraram, corporativamente, um ror abundante de impropérios & outros castigos menores sobre o "inimigo" anti-americano e, na hora, desancaram o dr. Soares. O terrorismo é, para a inteligência doméstica, um mero fenómeno de cordel, que nalguns dos seus argumentos lembra a "autoridade" de Goering quando afirmava: "Eu é que determino quem é judeu!". E a que os nossos insignes teóricos liberais contrapõem: "Nós é que determinamos quem é terrorista e como se deve combatê-los". Evidentemente!

A trovoada de fantasias sobre o "perigoso" esquerdista Soares (pai) é, por demais, conhecida: um perigoso anti-americano, entusiasta preclaro das Nações Unidas, um "mendigo" inconformista, artificioso "poeta" do direito internacional, um adepto da teoria conspirativa do "mas", um residente de Porto Alegre. O costume, que o farnel não acaba nunca. A novidade da época, impudentíssima, é a presença dum caceteirismo blogosférico, assente curiosamente em relatos aparentados a Gabriel Alves, sem nenhum provimento, modéstia intelectual e de imensa insensatez. O estrondo da denúncia foi duma loquacidade devota, bem ao espírito do velho Botas de S. Comba.

Neste particular, o espadachim mais prestimoso, pelo que ficará entronizado para todo o sempre, foi o nosso estimado politólogo, agora curiosamente avesso ao dialogismo & demais "realismos", que zurziu inopinadamente no "delirante" dr. Soares. A feroz reprimenda, mesmo que feita à la Gabriel Alves, espanta pelo vigor e, procedente de quem vem, surpreende muito. Quer-nos parecer, afinal, que a ressaca teórica exibida não é mais que a mistura de algum [Rohan] Gunaratna com uma pitada de [Robert] Dreyfuss, nada de Ms Mowlam, nenhum [Kenneth] Waltz ou [Richard] Rorty e muito [Joseph de] Maistre à mistura. A teoria anda perigosa. Mas não se percebe como. Acontece, apenas. E para pior.