terça-feira, 9 de maio de 2006


Neno Vasco [n. 9 Maio 1878-1920]

Gregório Nazianzeno Moreira de Queiroz Vasconcelos, aliás Neno Vasco, nasceu em Penafiel, a 9-5-1878. Seguiu para o Brasil (S. Paulo) aos 8 ou 9 anos de idade, em companhia do pai e madrasta, tendo regressado de novo a Portugal, para casa dos avós paternos (Amarante). Aí acabou o liceu, tendo-se matriculado depois na Faculdade de Direito, onde "teve como companheiro e amigo íntimo o inspirado poeta Teixeira de Pacoaes" (foi amigo de Faria de Vasconcelos e de António Resende), tornando-se bacharel em 1901.

Em 2 de Março de 1901 subscrevia, em Coimbra, um folheto - A Academia de Coimbra ao Povo Portuguez - onde se reclamava contra as arbitrariedades da polícia. Neste mesmo ano começou a sua colaboração no jornal O Mundo, jornal republicano que se publicava em Lisboa, sob a direcção de Mayer Garção. Parte em seguida para o Brasil (fins de 1901) e, em contacto com anarquistas italianos toma conhecimento profundo da obra de Henrique Malatesta, que o influencia profundamente e com quem se corresponde. As suas ideias, "concepções" e "prelecções" literárias são modificadas a partir daí. Disso é sinal, quer o que diz sobre o livro Catedral (de Manuel Ribeiro) quer o que refere (na Sementeira) sobre literatura, revolucionários e literatos, a propósito da morte de Octávio Mirbeau.

Assim, durante a sua permanência no Brasil [casou com Mercedes Moscovo, em 1905, filha de emigrantes espanhóis e de família de raízes anarquistas] desenvolveu uma intensa actividade de propaganda, fez escola e deixou muitos seguidores do seu ideal. Edita em S. Paulo [com Benjamim Mota, Oreste Ristori, Giulio Sorelli, Tobia Boni, Ângelo Bandoni, Gigi Damiani, etc], em 1902, o Amigo do Povo [de 1902 a 1904, nº 62], que teve na sua génese alguns dos principais intervenientes do movimento anarquista brasileiro, bem como um conjunto apreciável de mulheres que tomam em reflexão a questão da "emancipação" feminina [refira-se a intervenção de Neno Vasco na refutação da tese de Emílio Zola acerca da fecundidade]. Em 1905, ainda em S. Paulo, edita o periódico A Terra Livre com Edgard Leuenroth, Moscoso e outros [nº1, 1905 até 8 de Junho 1907; depois reaparece no Rio de Janeiro, até Julho de 1908, passando novamente a S. Paulo até Maio de 1910].

[Nota: no Brasil militaram, à época e logo depois, vários anarquistas de origem portuguesa: Adelino Tavares de Pinho (comerciante do Porto e prof. da Escola Moderna no Brasil), Marques da Costa (do jornal O Trabalho), Manuel Cunha, Diamantino Augusto, Amílcar dos Santos, Raul Pereira dos Santos, José Romero, etc]

Após a proclamação da República em 1910, Neno Vasco regressa a Portugal [algumas ref. dizem que foi expulso do Brasil]. Em 1911, mais concretamente, a 11, 12 e 13 de Novembro de 1911 realizou-se o 1º Congresso Anarquista Português, em que participa. Em 1912, com Lima da Costa, lança a colecção 'A Brochura Social' (edita-se 2 obras), participa em diversos encontros anarquistas (Conferência Anarquista de Lisboa, 1914), publica no semanário de Pinto Quartin, Terra Livre, o folheto "Geórgias: ao trabalhador rural", colabora nos cursos dados aos Jovens das Juventudes Sindicalistas, nos cursos d'O Germinal, desentende-se com Emídio Costa (em 1914, por motivos de estratégia face à guerra), foi amigo de muitos que militaram no movimento anarquista português.

Morre, de tuberculose, a 15 de Setembro de 1920, em S. Romão de Coronado (Trofa), pobre e anarquista. Refira-se que na «cidade de Nova Iguaçú, Estado do Rio de Janeiro, existe desde 1976 um edifício com o nome 'Pr. Neno Vasco

[continua]