domingo, 10 de outubro de 2004


O panfletário moderno

Miguel Horta e Costa tresanda aristocracia debaixo do seu formidável nariz inglês. Tem cursos vários, um admirável Jaguar, muitas secretárias de serviço, é um financeiro arrojado, incansável, intuitivo, canta glórias em louvor da PT, pavoneia-se no Conselho de Administração da Lusomundo Media, anda de barco, distribui bonomia por amigos e conhecidos, não faz análises políticas, não se ruboriza com o estado na nação, não é ingénuo, muito menos murmura crenças sobre a imprensa, a liberdade de expressão ou as novidades literárias do reino. Não faz folhetos de cordel, não pretexta comentários, nem estimula polémicas, não faz versos, e por isso tem parcos leitores, para além daqueles que o ouvem para as bandas do Fórum Picoas. Oferece aos indígenas lusos um ror de títulos de jornais e revistas, a cargo da Empresa Global Publicações, S.A, e basta de afazeres.

O prodigioso Miguel Horta e Costa é um visionário. E como tal, irresistível a obras perfeitas, necessita de trabalhadores laboriosos, caprichosas carpideiras do poder, desprovidos de angústias, inchados de espiritualidade liberal, para validar a sua imodesta intelectualidade. Nasce assim para a Lusomundo Media, o polemista virulento, gorgolejando insultos e ameaças, o inebriante caixeiro mediático Luís Delgado, agora na pele de Presidente Executivo. Não está só na sua espaventosa récita aos indígenas, trazendo consigo o ex-trovador do DN, de nome Bettencourt Resendes, para dar sorte à imaginação. A ideia de por o panfletário Delgado a dar remoques nos jornais e TV's, em fúria alucinante, não parece adequado ao seu novo pelouro, dado até as possíveis acareações ou o pedido do contraditório que cada intervenção escrita ou falada do Presidente Executivo da Lusomundo Media suscita. Terá o cavalheiresco Horta e Costa pensado na questão? Os accionistas? Ou o incendiário Delgado não conhece os regulamentos?