quinta-feira, 2 de outubro de 2003

JOSÉ CARDOSO PIRES [1925-1998]

 
José Cardoso Pires [1925 -1998]

n. 2 de Outubro de 1925

Nasce em São João do Peso (Castelo Branco), o escritor José Cardoso Pires. Frequenta o Liceu Camões e estuda Matemáticas Superiores (FCUL), torna-se "praticante de piloto sem curso", viajando bastante, faz o serviço militar na Figueira da Foz (e Vendas Novas), frequentador do grupo surrealista de Cesariny (e outros), tem alma de ser agente de vendas, correspondente e interprete de inglês, lecteur no departamento luso-brasileiro de King's College (Londres), redactor e colaborador de revistas [Gazeta Musical, Todas as Artes, Eva, Afinidades (Faro, 1942), Bloco (c/ Salazar Sampaio, Luiz Pacheco, 1945), Almanaque (redacção composta por Sttau Monteiro, O'Neill, Vasco Pulido Valente, Augusto Abelaira e José Cutileiro), Estrada Larga, &ETC, JL, Letras e Artes, Seara Nova, O Tempo e o Modo, Vértice] e jornais [O Globo, Diário de Lisboa], é co-fundador da excelente colecção de bolso «Os Livros das Três Abelhas», uma obra e escrita notável.

"... Homem, nem de certezas nem de incertezas, nem olímpico nem angustiado, o autor de «O Delfim» investiu-se, como uma espécie de predestinação, no papel de detective por conta própria, apostado na descoberta de enigmas ou crimes, secularmente sepultados, sob o espesso silêncio português, raiz e matriz do tempo sonâmbulo (a frase é dele) que lhe coube viver. Viver e reviver em contos e romances inseparavelmente realistas e alegóricos, onde em quem os ler respirará um pouco aquele ar refeito de um passado português que foi o da sua geração e, eminentemente, o seu" [Eduardo Lourenço, in Publico, 27/10/98]

"O seu amor pela nossa língua, o sofrimento do seu trabalho exigente, palavra a palavra, vírgula a vírgula, a construção de um discurso lisboeta, José escrevia lentamente, como quem tece, sofrendo, irritado, como se uma palavra mal escolhida pudesse manchar irremediavelmente a brancura do papel. (...) Em tudo punha, sempre, um cuidado extremo. Emendava, emendava até à «boca da máquina», para nosso desespero. Tudo era terrivelmente importante para ele. Porque as palavras (traiçoeiras) arrastam às vezes outros sentidos, e a escrita, como a vida, além de uma estética, era para José fundamentalmente uma ética." [Nelson de Matos, in Expresso, 31/10/1998]

"[José Cardoso Pires] escrevia a solo, na Caparica, numa casa habitada como uma cela, com objectos esparsos que não desviassem o olhar do mar e da luz e da liberdade encostada à vida. Um escritor precisa de saber fazer frente ao tempo, pô-lo a andar e dizer-lhe para voltar mais tarde, daí a uns anos. O tempo apura a mão e ameaça a mão. A mão precisa do tempo e a relação entre os dois é sempre estranha, uma imprecisão cheia de equívocos e eternidades, uma relação de amantes. A mão e o tempo, juntos para sempre." [Clara Ferreira Alves, idem, ibidem]

Algumas obras: Os caminheiros e Outros Contos, Centro Bibliográfico, Lisboa, 1949 / História de Amor, Gleba, 1952 / O Anjo Ancorado, Ulisseia, 1958 / O Render dos Heróis, Gleba, 1960 / Cartilha do Marialva, Moraes, 1960 / O Delfim, Moraes, 1968 / O Hospede de Job, Arcádia, 1972 / Dinossauro Excelentíssimo, Arcádia, 1972 / E Agora José, Moraes, 1977 / O Burro-em-Pé, Moraes, 1979 / Corpo-Delito na Sala de Espelhos, Moraes, 1980 / Balada da Praia dos Cães, O Jornal, 1982 / Alexanfra Alpha, Dom Quixote, 1987 / A Republica dos Corvos, Dom Quixote, 1988 / A Cavalo no Diabo, Dom Quixote, 1994 / De Profundis, Valsa Lenta, Dom Quixote, 1997 / Lisboa Livro de Bordo, Dom Quixote, 1997

Algum roteiro: José Cardoso Pires / A Vida (biografia) / José Cardoso Pires / José Cardoso Pires (Vercial) / Um Delfim da escrita dialéctica e transparente / O Círculo dos Círculos (EPC) / Textos (sobre JCP) & Álbum de fotografias