segunda-feira, 8 de setembro de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


- AVISO: Ivan, regressado de Copacabana com luminosidade, faz saber que retomou à vida. Assegura que tem intenção de recrear o espírito com assuntos comezinhos como as invectivas da política caseira, o debate sobre o eixo do mal, a existência de um governo e (pasme-se) tricotará uma dissertação sobre a sua extraordinária vida XXI. Cansado de olhar para o seu umbigo, esmagado pelo peso da cultura de Nelson Rodrigues, avisa que vai tentar ser solidário, estimulando o umbigo alheio. Dá consultas.

- Por seu turno, o Abrupto paira entre os acepipes ornamentais de uma saborosa Ribeirada e o novíssimo debate sobre o trotskysmo. Este último, com o dorso alapado na IV Internacional (ainda existe?) tarda em sair da sua horta celestial. Espera-se uma corrida de "pablistas", "lambertistas", "mandelistas" e afins em prosa vernacular. Ó tempora, ó mores.

- Secret: assegura-se que o Blog de Esquerda será doravante escrito a uma só mão. Afinal "o silêncio só é louvável numa língua de vaca fumada e numa rapariga já sem esperanças de casar". Daniel, siempre!

- Admoestação: consta que foi severamente advertido, por mau uso de bushismo e porte blairiano, o conhecido MacGuffin. Assim aconteceu no redil do Fialho d’Évora, entre uma garrafa de Tapada de Coelheiros e uma perdiz, quando se invocou Berlin. Chegado o mestre, numa mão o Karl Marx, His Life and Environment (edição de 1939), na outra um raro vinil de Stravinsky, logo abriu o debate advertindo que "things and actions are what they are, and their consequences will be what they will be: why then should we seek to be deceived?", o que provocou arrepios entre os comensais. Depois de porfiada oratória em torno do pecado da carne, onde castigámos uma sopa de pés de porco à moda de Pavia, foi-nos dito: "A raposa sabe muitas coisas, e o ouriço apenas uma importante". Estremecemos. Como as noites são belas e a paixão imensa.

- Protestação: causou impacto no Sindicato dos Homens a Dias, a confissão de total desconhecimento por ag de um escritor como Luís Sepúlveda. A heresia, comentada na Mercearia Liberal, foi colmatada pela confissão que José Afonso teria sido um "bobo ideológico". A insolência serviçal verificada, apesar de mostrar que os funcionários aprendem vocabulário contemporâneo, revela porém que o obsequioso ag não tem em devida conta que Zeca Afonso (para os amigos), como antigo estudante de Coimbra, obrava sem sujar a capa. Tal capacidade operatória não é crível ser entendida por criados de servir zelosos. Recomenda-se-lhe a obra: "Tratado de botar águas fora sem molhar quem passa", obra útil a funcionários desatentos. Vende-se por pouco mais de nada.