segunda-feira, 29 de setembro de 2003

MIGUEL DE UNAMUNO



Miguel de Unamuno [n. 29 Setembro 1864-1936]

" ... donde resbala el Mondego entre los chopos sollozando las estrofas que Camões dedicó a Inés de Castro y murmurando cantos de João de Deus ..." [Unamuno]

"Cuánto anhelo volver por ese Portugal! La última vez fué em 1914. El primir mes de la Guerra lo pasé en Figueira; desde allí segui las peripecias de la batalla del Marne. Quiero volver ... Cuándo?". [Carta a Teixeira de Pascoaes]

"(...) Que teus cantos sejam cantos esculpidos,
âncora na terra enquanto eles se elevam,
a linguagem é sobretudo pensamento,
pensada é sua beleza.

Em verdades do espírito prendamos
as entranhas das formas passageiras,
que a Ideia reine em tudo, soberana:
esculpamos, pois, a névoa. " [Credo Poético, Unamuno]

Basco, romancista, poeta, filósofo, foi professor de língua grega e de filologia latina, mais tarde reitor, da Universidade de Salamanca. De boa cepa liberal, sentiu as diatribes dos ditadores, amou e desiludiu-se com a Republica, foi exilado politica (passe o apoio que deu aos golpistas franquistas de 1936) e é conhecido a resposta que deu a um discurso proferido no Dia da Festa da Raça (e que lhe valeu ficar com residência fixa, tendo morrido semanas depois), na Universidade de Salamanca pelo general Millan Astray (mutilado de guerra), onde este injuria o País Basco e a Catalunha no meio de forte aplauso dos seus correligionários que gritavam "Viva a morte". Unamuno ergueu-se e disse:

"Há circunstâncias em que calar-se é mentir. Acabo de ouvir um grito mórbido e destituído de sentido: Viva a morte! Este paradoxo bárbaro é-me repugnante. O general Millan Astray é um doente. É verdade. Cervantes também o era. Infelizmente, há hoje em Espanha doentes a mais. Assusta-me pensar que o general Millan Astray poderia fixar as bases de uma psicologia de massa. Um doente que não tem a grandeza de espírito de um Cervantes procura normalmente alivio nas mutilações que pode causar à sua volta" [Dirigindo-se em seguida pessoalmente a Millan Astray] "Vencereis, porque possuís mais força bruta do que precisais. Mas não convencereis. Porque, para convencer, é preciso persuadir e para persuadir falta-vos a Razão e o Direito na luta. Considero inútil exortar-vos a pensar a Espanha. Tenho dito". [in, Morrer em Madrid, Bertrand, 1975]

Com profunda ligação a Portugal, numa lusofilia surpreendente que encontrou nos escritos e poesias da "geração de 70?" e na amizade com Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoaes, Eugénio de Castro, Manuel Laranjeira e Fidelino de Figueiredo [Ver Julio García Morejón], e que soube compreender nas inúmeras visitas a Portugal - Espinho, Figueira da Foz, Porto, Amarante, Guarda ("Foi Laranjeira que me ensinou a ver a alma trágica de Portugal, não direi de todo o Portugal mas, do mais profundo, do maior. E me ensinou a ver muitos caminhos dos abismos tenebrosos da alma humana").

"El Cristo español - me decía una vez Guerra Junqueiro - nació en Tánger; es un Cristo africano, y jamás se aparta de la cruz, donde está lleno de sangre; el Cristo portugués juega por los campos con los campesinos y merienda con ellos, y solo a ciertas horas, quando tiene que cumplir con los deberes de su cargo, se cuelga de la cruz." [Tierras de Portugal Y de España, 1911]

"Não sei se este livro [Por tierras de Portugal y España, 1911], simplesmente admirável, foi lido em Portugal. É de crer que não. E todavia nada se escreveu em livros estrangeiros, a nosso respeito, de mais belo, de mais profundamente interessante e verdadeiro. A nossa paisagem e a nossa alma aparecem, ali, surpreendidas nos seus aspectos mais ocultos, transcendentais e originais". [Teixeira de Pascoaes, in A Águia]

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