sexta-feira, 5 de setembro de 2003

DUELOS IMPREVISTOS


Recordo-me sempre daquele dito de Pessoa, "basta a quem baste o que lhe basta /o bastante de lhe bastar", quando apanho o João César das Neves em alegre e desembaraçado debate. Hoje, por mero escapismo, apanhei-o num duelo (Sic noticias) frente ao perigoso gauchiste Louçã. Apesar do belíssimo gesticular do nosso professor, até agora não entendo como é que tão luminoso intelecto atingiu tão esforçada cadeira (económica, diga-se). Bem sei que o seu Manual de Introdução a Economia se lê obrigatoriamente em todas as cátedras, vende-se como pãezinhos quentes, pelo que deve ser de muito estimação. Mas sei, do mesmo modo, que há que fazer restrições a idiots savants, principalmente quando se preocupam (mesmo em ciência económica) somente com o seu próprio interesse sem que alguma vez questionem também o prazer que se tem com a felicidade dos outros (Smith, sempre). Ora, é o caso de JCN. Supondo, na sua inocência, que está frente a uma plateia de leitores do CM, da Maria ou do Record, teima em dar explicações populistas em torno do deficit e do PEC, sem qualquer capacidade de análise e de predição. Enquanto o seu colega de debate (Louçã) remetia para a análise económica (boa ou má, é indiferente), imediatamente o divino professor calçava as chinelas para discursatas no mercado do povo. O alegre autor de "O Estranho Caso do Livro de Economia", fechou-se economicamente por dentro e esqueceu-se da chave.

Sobre o assunto da comunicação económica (afinal, uma metacognição) e da necessidade das "mentiras ou falsidades" sustentadas por governos (como JCN defende a bem da Nação) em períodos (não)eleitorais, ver:

Algumas observações sobre a metodologia em economia (Sousa Andrade) – GEMF

As teorias de Ciclos Políticos e o Caso Português (Rodrigo A. Martins) – GEMF

[NOTA] Espera-se, e nada nos move do contrário, que dia 11 de Setembro, o programa Duelos Imprevistos seja excelente. Dois óptimos comunicadores: Mário Soares e José Pacheco Pereira. A seguir.