sexta-feira, 18 de julho de 2003

BARROSO E A ECONOMIA POLÍTICA


A prestação do PM na TV foi um enorme bocejo. Já se esperava ouvir tão melodiosa discursata, alias inserida numa «petição de princípios» (que corresponde a falta de argumentação, no dizer de Perelman) por um Portugal a recuperar da tanga em que foi metido, a caminho de novo oásis paradigmático. Para época de veraneio até não foi mal pensado. Ainda olhámos de soslaio para o faccis do nosso PM quando chamado a dar explicação para a aparente contradição entre a vacina da empresarialização contra o monstro insano referido por Cavaco Silva e a desbunda da gestão da Amadora-Sintra. Ou mesmo quando foi chamado à pedra para analisar a consolidação orçamental, ou o celebre PEC e a evasão fiscal. Atento, o nosso PM não foi na cantilena Juditiana. Afinal não estávamos na fase de open mindedness. Não havia riscos a correr. Barroso não é definitivamente uma open-minded person (H. W. Johnstone, Jr.). Eis o estilhaçar da teoria da argumentação, em todo o seu esplendor. Talvez José Bragança de Miranda nos possa elucidar sobre esta costumeira pragmática do discurso televisivo do poder. Por mim, essa personagem conceptual do governante em conversas ao país é mera ficção retórica.

Mas o que é preocupante são as afirmações sobre a performance económica do governo. Compreendemos que governar, hoje em Portugal, seja "alta competição", como refere o PM, mas que sobre a economia e os economistas nos atire com lapalissadas, é constrangedor. Se o PM se refugia numa exercício escolástico baseado em que "a economia não é uma ciência exacta" ou que "não há nenhum economista que possa prever" o que pode acontecer, então não se pode entender a sua convicção na prestação da politica económica e orçamental, nem se pode defender o cunho fundamentalista da senhora ministra das Finanças em torno da problemática do deficit. E muito menos se pode falar no putativo modelo económico escolhido, porque não se sabe muito bem o que isso representa. Não era esperado que o PM esgrimisse ideias em torno da controvérsia neoclássica versus pós-keynesianos. Nem que explicasse as diferenças substantivas entre o grupo constituído por Miguel Cadilhe, Silva Lopes ou Cavaco Silva, e o outro onde fazem parte Miguel Beleza, o inefável Tavares Moreira e Ferreira Leite. Não era obrigado a tal. Mas apenas que tivesse em conta que em "alta competição governativa" não ter em conta os dados estatísticos, manipulando-os conforme as estratégias, se pode pagar caro a ousadia. É que, quem se mete com a economia ... leva!