quinta-feira, 30 de novembro de 2006

ALMANAQUE REPUBLICANO


Almanaque Republicano - Actualização

Continuam os textos e a prosa no Almanaque Republicano. Para ledores ilustrados e de muito merecimento, temos em jeito de guião:

Francisco de Oliveira Pio (militar republicano oposicionista); foto do Grupo Seara Nova no lugar do Coimbrão (curiosamente onde também esteve "exilado" Mário Soares e perto da "casa de praia" de Aquilino Ribeiro, na Praia do Pedrógão, que foi destruída em 1974) e com um extracto de um texto de José Rodrigues Miguéis; foto de membros do Grupo do Integralismo Lusitano, com "algumas anotações sobre periódicos integralistas"; Primeira e Segunda Parte d'Os primórdios da imprensa republicana em Portugal, de recolha em velhos almanaques; post sobre o jornal A Lanterna [1868-1873]; um texto sobre a Imprensa Periódica Portuguesa seguido de Subsídios para uma bibliografia da imprensa republicana (a continuar); o In Memoriam a Mário Cesariny de Vasconcelos, com referências ao tema Surrealismo e Estado Novo, com bibliografia, de permeio; um post a propósito do Centenário do nascimento de Flausino Torres e respectivas notas bibliográficas.

Eis o Almanaque Republicano. Ao V. dispor!

Saúde e fraternidade!

domingo, 26 de novembro de 2006

IN MEMORIAM DE MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS



"Ama como a estrada começa ..."

"E agora o poeta começou por rir
rir de vós ó manutensores
da afanosa ordem capitalista"

"Assim como a poesia não é um par de sapatos, assim Fernando Pessoa não é para todos os dias. Não consta, porém, que Pessoa haja querido monopolizar os dias ..."

"os gatos são os únicos burgueses / com quem ainda é possível pactuar"

"Dois picapaus querelam, muito entusiasmados
que a dita dura dura que não dura
a dita dura dura ... dura desdita!
"

"o bem: os dignos professores do estado
o mal: os professores dignos do estado
resolução da antinomia: o professorado"

[Rebelião] "duas delegações de cidadãos no total de dez membros descerão de dois táxis palinha para atravessar o rossio de nudez"

"Essa tua Titânia é uma fraude, rapaz (...) Pois tu não dizes é alta, baixa, loura, morena, encarnada, branca. E as mamas, rapaz - secção fundamental - não te enlevam as mamas?"

Mário Cesariny - Pastelaria Castpost

IN MEMORIAM DE MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS [1923-2006]



"Gostava de ter daquelas mortes boas, em que uma pessoa se deita para dormir e nunca mais acorda (...) a morte a trabalhar, é que é chato" [MC.V., in Autografia, Atalanta Filmes]

"A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos com certeza ..."

"Em todas as ruas te encontro / em todas as ruas te perco ..."

"é preciso correr é preciso ligar é preciso sorrir é preciso suor
é preciso ser livre é preciso ser fácil é preciso a roda o fogo de artifício
é preciso o demónio ainda corpolento
é preciso a rosa sob o cavalinho
é preciso o revolver de um só tiro na boca
é preciso o amor de repente de graça"

"Amor / amor humano / amor que nos devolve tudo o que perdêssemos / amor da grande solidão povoada de pequenas figuras cintilantes"

Mário Cesariny - Queria de ti um país Castpost

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

ARRUMAÇÕES - VYNIL, CD'S E CASSETES PIRATAS



"Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar" [Sophia Mello Breyner, dito por Maria Bethãnia, in Canto de Oxum, Mar de Sophia]

Bethânia concebe o mar, essas "águas do meu querer ... beijando a areia", o chorado de azul, e, por isso, canta o seu feitiço, a sua benção, canta a Rainha do Mar, Nossa Senhora ou Iemanjá. Porque "dentro do mar tem rio", como Sophia Mello Breyner diria. Esse mar é sempre desejo, paixão, desamor, "águas salgadas mansas", felicidade nos "longes" por onde nos perdemos. As nossas praias desertas ou "felicidade a dois". Que pode ser no Sertão em sambas de roda ou no mar da Bahia de Todos os Santos, ou Kirimurê, que o "mundo é grande e cabe na cama, no colchão de amar e na janela sobre o mar". Memórias do mar ou voltas que o mundo dá.

Dois álbuns, Mar de Sophia e Pirata - ambos de Maria Bethânia - para vadiar, navegar, chorar e "respirar". Assim, para decorar a alma de ledores em pecado de vontade, para moças lindas "com esperança de casar", para paraíso nosso e vosso, eis

Maria Bethânia - Debaixo d'Água Castpost

e para marinheiros abandonados, deuses do mar suspirados no berço do oceano ... temos para ouvir

Maria Bethânia - Marinheiro Só (O Marujo Português) Castpost

Boa noute!

MARIA VELHO DA COSTA & ARMANDO SILVA CARVALHO



"Despachar no nosso livro as cenas do ódio. Não vai ser fácil. Somos ambos afinal um mar de espinhos, cravados cedo no coração tenro e incauto" [M.V.C., in Em Dueto e em Duelo, texto de Maria José Oliveira, Mil Folhas, 24/11/06]

"Há pessoas que merecem ser denunciadas, esse é o termo. Somos agressivos com pessoas que também nos agrediram ou com outras pelo facto de existirem como existem. Há uma certa impunidade naquilo que dizem e que fazem, que são coisas escandalosas ..." [M.V.C., idem, ibidem]

"... o que leva dois autores consagrados, Armando Silva Carvalho e Maria Velho da Costa, nascidos ambos em 1938, à desabusada escavação da infância? Por que é que, sem perder Laclos de vista, foram ambos induzidos à narrativa da intriga? (...) Leitura do mundo: obras, autores, prémios, família, castas, ódios, equívocos, querela, política, dinheiro. O Meio à lupa, sem licença (...). Tão simples como isto ..." [Eduardo Pitta, in A Infância, os Outros, Mil Folhas, 24/11/06 - ler aqui]

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

CATÁLOGO NATAL


Catálogo Natal da In-Libris

Saiu um Catálogo (Especial) Natal da In-Libris (Porto). Apresenta algumas peças bem curiosas, de literatura, culinária, cinema e fotografia, monografias, história, edições estimadas e raras de António Botto, o raro trabalho de Bento Carqueja "O Capitalismo Moderno e as suas origens em Portugal" (1908), o Mappa de Portugal Antigo e Moderno do Padre Joaõ Bautista de Castro (1762, em III vols), o conhecido Sangue Suor e Lágrimas de Churchill, um Dicionário de Jogos de Alleau (c/ trad. de António Lopes Ribeiro), ainda Os Costumes dos Israelitas (dito "livro muito curioso, especialmente procurado pelos coleccionadores de temas judaicos"), o estimado livro de Maria Lamas "As Mulheres do meu País", o primeiro livro de Manuel Laranjeira (?Amanhan?), o procurado Livro das Mil e uma Noites (pref e trad, Aquilino Ribeiro e outros escritores lusos), Os Discursos de Oliveira Salazar, primeiras edições de Eça de Queiroz e outros mais autores.

A consultar on line

O SÉCULO XX NOS JORNAIS PORTUGUESES


Lançamento do Livro

... Primeiras Páginas - O Século XX nos Jornais Portugueses, de Luís Trindade. Será apresentado por Mário Mesquita e Fernando Rosas, sábado, dia 25 de Novembro de 2006 às 17h00 na FNAC do Chiado.

"Trata-se de um original álbum ilustrado que nos conta a História do século XX através das primeiras páginas dos principais jornais portugueses. Luís Trindade seleccionou 45 acontecimentos ilustrados por 135 primeiras páginas de jornais surpreendentes" [Bertrand]

Local de leitura e consulta: aqui

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

ANÚNCIO



Anúncios completamente Grátis.
A bem da nação!

O ALMOCREVE DAS PETAS NAS ARCADAS DO TERREIRO DO PAÇO


"Não há sitio em Lisboa que mais dano cause ao espírito publico do que a arcada do Terreiro do Paço. O Almocreve das Petas [de José Daniel Rodrigues da Costa] parece que fez ali estalagem onde amarra e arraçôa a récova dos seus gordos carapetões. Quem pretende andar bem estribado nas novidades do dia, vai lá, escolhe um boato, bifurca nele a imaginação, chouta de grupo em grupo, espalhando o boletim da arcada, e ao cabo de alguma horas está a cidade inçada de carapetões, que são a praga de Lisboa (...)

Iremos ouvir mil petas,
Quando mais o sol se empina,
Vendo acérrimos jarretas,
Junto a Santa Catharina.
Argumentando em gazetas
"

[Alberto Pimentel, in Vida de Lisboa, 1900]

O PRESIDENTE E O ECONOMISTA CAVACO SILVA



"Stick to the plan, stick to the plan" [coro socialista no governo]

O dr. Cavaco deu uma entrevista pouco inteligente a Maria João Avillez. De tal modo foi, que fez divertir (e baralhar) alguns jornalistas e comentadores. Além do "timing" escolhido (que não deixa de ser curioso) e da motivação que a serviu (que ninguém descortina) a entrevista é fastidiosa e aborrecida. Saber o que faz correr o dr. Cavaco é uma enorme trapalhada.

Para nós, o episódio de assistir, em televisão, o Presidente Cavaco Silva dissuadir e calar o economista Cavaco Silva, não deixa de ser curioso. Declara o Presidente estar "ao lado das reformas do Governo". E não tem dúvida (seguindo a douta máxima do clássico dr. Cavaco) em considerar que "a economia e as finanças [estão] no rumo certo". Tal amabilidade não é sustentável por nenhum economista sério. O dr. Cavaco-Presidente corre assim, sem habilidade alguma, riscos variados. Fica imobilizado economicamente e, ao mesmo tempo, faz ressabiar políticos, sindicalistas e ... a classe média. Essa mesma, aquela que o eng. Sócrates trata como "um lugar-comum".

Varrido que foi o economista Cavaco Silva da genialidade indígena, pela lição do presidente de "todos" os portugueses, importa lembrar que bastaria ao Cavaco-Presidente recorrer à bondade do "lente" Aníbal, nos bons tempos do ISCEF. Estamos tentados, portanto, a revisitar o assistente Cavaco, leccionando a cadeira de Finanças I, juntamente com Ferreira Leite e Silveira Godinho. E estamos a imaginar o ar estupefacto do bom aluno da fazenda indígena (o Teixeira dos Santos) se na oral da cadeira com o assistente Cavaco Silva, ao lhe ser solicitado abrir o Orçamento de Estado para o Ministério da Economia, o abrisse ao acaso, sem excelência ritmada. Diria logo o nosso assistente Cavaco: "Vê-se bem que não folheou o Orçamento do Estado". Que significava, apenas, para o retardatário aluno, um valente chumbo. Eram tempos de rigor ... em Finanças Públicas. Lá isso era!

LIVRARIA BIZANTINA


Catálogo 72 da Livraria Bizantina

Saiu o Catálogo 72 da Livraria Bizantina (Rua da Misericórdia, nº 147, Lisboa). Conjunto curioso de peças biográficas, históricas e monográficas, a preços convidativos. A não perder.

Algumas referências: In Memoriam de Afonso Lopes Vieira, 1947 / Diccionario dos Políticos, ou Verdadeiro Sentido das phrases e Vozes mais usuaes entre os mesmos, por D. Juan Rico y Amat, 1875 / Chorographia Histórico-Estatistica do Distrito de Coimbra, de Agostinho Rodrigues d'Andrade, 1896 / Memorias Histórico-Estatisticas de Alguma Villas e Povoações de Portugal, por Brito Aranha, 1871 / Os Últimos Anos da Monarquia, de José d'Arriaga, 1911 / As Freiras do Lorvão, por T. Lino d'Assumpção, 1899 / A Fábrica da vista Alegre, por João Teodoro Ferreira Pinto Basto, 1924, III vols / Diccionario Jurídico-Commercial, de José Ferreira Borges, 1856 / As Canções de António Botto. Nova Edição, 1932 / Brado aos Portuguezes. Opúsculo Patriótico Contra as Ideias da União de Portugal com a Hespanha, 1860 / Memorias de um Estudante de Direito, de Rafael Salinas Calado, Coimbra, 1942 / O Espêto. Sociedade Conhecida de Responsabilidade Limitada a ceias e Piqueniques, de Ernesto de Carvalho, 1914 / Os Assassinos da Beira, de Joaquim Martins de Carvalho, 1922 / Manual Político do Cidadão Portuguez, de Trindade Coelho, 1906 / Compromisso da Misericórdia de Lisboa, Lisboa, 1739 / As Constituintes de 1911 e os Seus Deputados, 1911 / Uma causa Celebre. O Crime de Serrazes, por Cunha e Costa, / Manual Prático do Passarinheiro, de J. W. edrich / Coimbra dos Doutores, de João Falcato, 1957 / Dicionário histórico de Efemérides Universais, de M. A. Silva Ferreira, 1914 / O Integralismo e a República, de Carlos Ferrão, III vols / Lista de Alguns Catálogos de Bibliothecas Publicas e particulares, de Livreiros e Alfarrabistas, por Martinho da Fonseca, 1913 / Fátima, por Tomaz da Fonseca, 1955 / Pombeiro da Beira, de Sanches de Frias, 1896 / Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, ed. Sirius, 1941 / Tempos Idos. As Minhas Memórias, de Cunha Leal, 1966-68, III vols / Portugal e o Socialismo, de Oliveira Martins, 1873 / História de Portugal, por Rocha Martins, 1930 / Memórias e Trabalhos da Minha Vida, de Norton de Mattos, 1944-45, IV vols / Um Ano de Política, de Egas Moniz, 1919 / Lusitânia Transformada, de Fernão d'Álvares do Oriente, 1781 / Textos de Circunstancia, por Luiz Pacheco, 1977 / Memórias, de Pedro Theotonio Pereira, 1972-73, II vols / Orphanologia Pratica, por António de Paiva e Pona, 1759 / Centro Católico Português, por Oliveira Salazar, 1922 / As Opiniões que o DL teve, de José Saramago, 1974 / Memoria Histórico-Chorographica dos Diversos Concelhos do Districto Administrativo de Coimbra, de António Luiz de Sousa Henriques, 1853 / Memorias de Mondim da Beira, de Leite de Vasconcellos, 1933

sábado, 18 de novembro de 2006

HOMENAGEM A DONALD H. RUMSFELD



"O sol levanta
nas pequena árvores
vasto hélio de Outono
depois da noite passada -

Três homens estendem-se ébrios
na mata de vide
na pequena lixeira
acabaram o whiskey
...
O universo é tão alto
no ar que só precisamos de nos erguer
frios e andarmos pela lixeira
de madrugada para estar no Céu"

[Allen Ginsberg, in Alvejado a tiro nas costas por uma folha caída. Cliché do Inimigo Público, edição Pùblico]

VASCO PULIDO VALENTE - BALANÇO E CONTAS


"Há vinte e cinco anos que me ocupo na actividade anormal, solitária e finalmente frustrante de escrever. É o género de extravio pelo qual não se pede desculpa e que nem para o próprio, sobretudo para o próprio, exige ou tolera qualquer justificação. Quem escreve, como modo de vida, postula, tem de postular, a bondade intrínseca do acto de escrever. Mais do que isso, visto que se trata de uma profissão mal remunerada e de pouco prestigio social, quem escreve tem de se imaginar revestido por uma graça única, que o põe à parte e acima das criaturas vulgares. Sem uma arrogância intelectual e a convicção intima mas devastadora da sua superioridade, nenhuma força no mundo o arrastaria para a frente do papel em branco e o faria pacientemente fabricar filas e filas de palavras, com um fervor maníaco que aplicado a objecto menos inofensivo o conduziria à cadeia ou à manufactura terapêutica de cestos.

Ao contrario do que julgam os amadores, os verdadeiros profissionais de escrever nunca são assaltados pelas célebres 'dúvidas e interrogações' sobre o valor e a utilidade dos seus escritos. A sombra de uma dúvida, a longínqua ameaça de uma interrogação impediriam o trabalho regular e metódico, indispensável ao pagamento da hipoteca da casa, da educação, dos filhos e das contas dos restaurantes. Nós, infelizmente, não andamos aqui para nos divertir ..."

[Vasco Pulido Valente, Balanço e contas, in Grande Reportagem, nº 6, 11 Janeiro 1985]

sexta-feira, 17 de novembro de 2006


O Homem e a Mentira - Colóquio no Porto

Decorre, hoje e amanhã, na Fundação Eng. António de Almeida, no Porto, um colóquio organizado pelo Instituto de Psicanálise do Porto sobre "O Homem e a Mentira". Tema bem curioso, tem a participação de excelentes pensadores, da área da psicanálise, da filosofia e dos média.

Refira-se, em especial, para o dia de amanhã (18, pelas 9 horas), a comunicação de Fernando Catroga (Mentira, História e Memória), uma outra de António Pedro Pita (A Arte e a Mentira ou "A Linguagem Ideal da Alma"), a intervenção de Carlos Amaral Dias (A Alma da Lingagem), a mesa redonda "Os Média e a Mentira" (com Fernanda Câncio, Fernando Alves e José Manuel Pureza, com moderação de João Maria André), a comunicação do prof. Anselmo Borges (A Mentira da Morte e a Morte da Mentira), a presença da socióloga Celeste Malpique (A Morte não Mente) e a comunicação de Júlio Silveira Nunes (O Sexo (Des)Mente). Ver Programa, aqui.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006


Almanaque Republicano - Actualização

No "Itinerário, tábua ou fragmentos da Alma Republicana" ou Almanaque Republicano pode ler: Efemérides de Novembro, José Cardoso Vieira de Castro, Augusto Casimiro, Raul Brandão, José Pereira de Sampaio (Bruno), Vasco Pulido Valente, Herculano, Oliveira Martins, Cecílio de Sousa, José Acúrcio das Neves, Dr. Estevão de Vasconcelos, novidades da Revista História, O Grupo dos Budas ou Grupo de Madrid.

Uma casa fraterna e ao Vosso dispor.

Crise para que vos quero!

"Foi decretada a mobilização geral.
...
Davam-lhe alpista,
mas arroz nunca lhe davam e,
por isso
foi decretada a mobilização geral.
...
Voltamos todos a tocar corneta
e sem espingarda na algibeira
pois se tinha gasto toda
com o andar,
porque não lhe tinham dado botas"

[in Intervenção Surrealista ... pois claro!]

Noticias do bloqueio

- alheio aos encómios ao governo, sempre mui bem estudados pelos jornalistas, a boa administração indígena pretende acabar com a Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas. Muito bem. É o fim da propaganda rosa. Pode-se, desde já, dispensar o Silva Pereira, sempre se poupa uns eurozitos. Aliás, temos gente nos blogs que fazem esse trabalho sujo. O que impressiona na simpática classe é que trata as "regalias adquiridas" dos outros com desprezo, mas considera, na sua prosa saloia, que lhe querem acabar com os "direitos". Evidentemente, adquiridos. Viva a classe!

- o duplo de Sócrates, o enfant terrible Santana Lopes está de volta aos jornais, depois de ter andado extraviado. Parece que anda meio mundo, pelas boticas da política, a qualificar o homem e a sua obra (se se pode chamar isso em público) literária, referindo-se a ela depreciativamente. Não colhemos tal. O Lopes tinha direito ao contraditório, com ou sem atrevimento. E se anavalhou alguém, en passant, diremos: gostámos! Esperem só pelas percepções e realidades do seu meio-irmão, o eng. Sócrates, daqui a algum tempo. Talvez o reverendo prior do Rato, Jorge Coelho, não se engasgue, então.

- Carmona Rodrigues, o prodigioso edil de Lisboa, em peleja de martírio & dissimulação, retira os vínculos profanos à dra. Nogueira Pinto. O Carmona de Lisboa é um obstinado generoso. Irradia confusão, desleixo e inaptidão em tudo. Daí que os lisboetas o tenham reconhecido como um dos seus. Parabéns, alfacinhas!

- a malícia da economia e a praga financeira, continua a fazer das suas. Tanta gente a adorar o controle orçamental, era fatal. Quando exaltados funcionários do governo, de momento travestidos de académicos ou directores de jornais, vindicavam a boa pratica orçamental, era evidente que a coisa não tinha satisfação merecida. A não ser que o tapete rosa fosse elástico, não se via onde podiam esconder as maleitas. Agora sabe-se!

- a tragédia da educação e ensino em Portugal, não tem fim. O raminho de eduquês que está frente do Ministério cumpre a sua bizarra missão com expedientes curiosos. Depois de ter impressionado os indígenas acabando, definitivamente, com a profissão docente, eis que os quer transformados em empregados domésticos ou homens a dias da criançada (para milagre dos papás). Enquanto isso, as aulitas d'inglês (sempre tão iluminadas pelo padrinho Jorge Coelho) são leccionadas por qualquer bicho-careta, sem habilitação alguma, sendo uma excelente fonte de receita para empresários privados. Entreter a miudagem é preciso. Trabalhar e aprender, nem por isso. Eis o ensino do eng. Sócrates.

terça-feira, 14 de novembro de 2006


Diálogo sobre os críticos

"Manuel da Fonseca - Tenho para mim que existe realmente um divórcio entre a Crítica e o Público ...

Alexandre O'Neill - Para o grande público, ler uma crítica de poesia não lhe traz qualquer elucidação sobre o sentido da obra que o crítico pretende abordar. O crítico escreve para um pequeno clã, um grupo, uma «panelinha» - vá lá a expressão ...

Bernardo Santareno - O crítico não orienta. Particularmente no meu caso só desorienta; e não desorienta mais porque eu não deixo ...

Manuel da Fonseca - Muitas vezes eu deparo com críticas de eruditos e raramente com a crítica de um homem que vive imediatamente o clima artístico do meu país em determinado momento (...) A maioria dos críticos portugueses são espécies fracassadas de artistas , e subespécies de quase todos ...

Bernardo Santareno - Podemos dividir os críticos em 4 categorias. Os que dizem bem, um bem que não interessa nada. Esses são amigos, são às vezes oficiais do mesmo ofício que esperam que a gente diga bem deles um dia, e tal. Há os que dizem mal, um mal que não interessa nada ... [são] muito despeitados, fracassados. [o crítico] vai com uma coisinha, um compasso metálico para descobrir fragilidades (que são inevitáveis) e coisas quejandas (...) Há ainda uma terceira categoria: aqueles que têm uma boa organização crítica, que são (...) sérias, dignas, mas de tal modo dirigidas por uma orientação de tipo político, religioso ou ético que não conseguem aquela distância harmónica que deve existir entre o crítico e a obra de arte (...) o quarto grupo de críticos - aqueles que conseguem, numa tenaz e honesta maceração, colocar-se na posição do artista criticado. Mas esses são quase uma utopia ...

Manuel da Fonseca - Para mim, o critico, acima de tudo, é um homem de sensibilidade, não um indivíduo de conhecimentos livrescos, como a maioria dos nossos críticos. Por isso eles são uns pequenos cataventos a obedecerem ao último livro de que gostaram ...

Alexandre O'Neill - Eu uma vez fui entrevistado e referi-me à critica dizendo que, enfim, os versos custavam os olhos da cara e que os críticos os arrumavam com uma facilidade que não estava em relação com o trabalho (...) Eu acho que só há esta coisa: que a critica de um meio pequenino é realmente pequenina (...) [aos críticos] domina-os a preocupação de ter sistema, de terem chave universal e que, portanto, abrem todas as portas quando afinal a obra de arte é criada - e isto citando Rilke ? em grande solidão. Como disse, ela custa realmente os olhos da cara e o crítico tem a tarimba, tem a obrigação de publicação, tem os 300, 500 ou 600$00 a receber ... Ora estas duas coisas não se coadunam ..."

[Registo de parte da conversa, feita no programa 'Leitura' de Fernando Curado Ribeiro, entre Manuel da Fonseca, Bernardo Santareno e Alexandre O'Neill (todos ali em cima, à mostra), sobre a crítica e o público, publicado no Almanaque de Maio de 1960, pag.140-147. Tenha-se em atenção o ano (1960) da alegre converseta. Selecção e sublinhados nossos]

Revistas & Arrumações - Almanaque

Preciosa revista, que aqui fizemos referência, ainda hoje é um gosto lê-la. Os textos, o grafismo e a modernidade verificada, espantam nos dias que correm. É evidente que, com Cardoso Pires, Alexandre O'Neill, Baptista-Bastos, Abel Manta e Sebastião Rodrigues (que capas lindas!), Câmara Leme, Eduardo Gajeiro, Vasco Pulido Valente, Carlos Oliveira, Gomes Ferreira, Eugénio de Andrade, etc., só a felicidade era possível. Num momento em as revistas literárias & de aprazimento são escassas e más, por diversas razões, voltar ao passado é de todo recomendável.

"É claro que ninguém nasce aventureiro, como ninguém nasce já com chapéu à diplomata. Os aventureiros e os messieurs pomposos do nosso tempo fizeram-se a si próprios, são autênticos self made men deste ou daquele tipo. E porque não? (...) Na verdade a todos os jovens, mais tarde ou mais cedo, se põe o problema da escolha do tipo. (...)

O Português civilizado: ... este tipo é fácil de imitar e tem certo prestígio. Basicamente o português civilizado é um individuo que tem a consciência permanente do estrangeiro.

Por estrangeiro deve entender-se a gravata italiana, o 'blazer' inglês, o conhaque francês e o hábito de comprar jornais estrangeiros e revistas de arte. O português civilizado detesta Camilo e lê Eça de Queirós. É íntimo de dois ou três fadistas e vai jantar com raparigas bonitas ligeiramente 'déclassées'. Com estas raparigas discute a sua vida íntima, os romances da Sagan e, agora, o Pasternak. Trata-as como se elas fossem civilizadíssimas e obtém, durante o jantar, um ambiente de requinte intelectual e emotivo. O português civilizado cria, à sua volta, uma espécie de ilha de civilização. Normalmente tem um pequeno 'appartement', muito bem arranjado, onde oferece às raparigas conhque francês em copos de balão. Janta sozinho no restaurante onde possa ser visto mas, quando vai ao 'appartement', leva sempre um ou dois amigos para criar ambiente e fazer conversa. Não têm opiniões definidas sobre nada. Conhece os nomes dos pintores modernos e de alguns poetas mas não se arrisca a formular opiniões senão perante as raparigas um pouco 'déclassées' que deslumbra com a sua intelectualidade e o seu mundanismo. (...)

... o candidate a intelectual genérico das esquerdas não necessita de ter origens. Fica-lhe, até, bem não ter origens. Se alguém lhe perguntar donde é a sua família, deverá responder que é o Areeiro. Revela assim uma grande independência de espírito e uma personalidade forte.
- Vocês donde são?
- Da Avenida Madrid ..."

[este delicioso texto saído no Almanaque de Janeiro de 1960 (pag. 117-121), intitulado "escolha o seu tipo", faz lembrar a mão de mestre V.P.V., e ficamos por aqui dado o escriba ter referido a nossa bem amada avenida, onde de facto a fauna existente era absolutamente inolvidável. Para o bem e o mal. Saudades desses tempos. Saudades da Avenida Madrid]