quinta-feira, 6 de outubro de 2005


Coimbra no dia 6 de Outubro de 1910

"Os emissários enviados no dia 5 a Lisboa, pelos republicanos de Coimbra, regressaram pelas 3 horas e meia da noite, com a carta de nomeação do dr. Francisco José Fernandes Costa para o cargo de governador civil. Conhecido o facto logo estralejam foguetes, acorrem milhares de pessoas e a Filarmónica «Boa União» sai para a rua tocando a Portuguesa e a Marselhesa, logo seguida pela Filarmónica «Conimbricense». Por volta das 8 horas foi içada a bandeira verde-rubra nos Paços do Concelho e, seguidamente, o dr. Fernandes Costa apresentou-se no Governo Civil, onde o dr. José Jardim, último governador monárquico, lhe deu posse e retirou, acompanhados do ex-administrador José Gaspar de Matos, tendo sido acompanhados, urbanamente, até à porta do edifício por Fernandes Costa e cumprimentados respeitosa e deferentemente pelos republicanos e pelo povo, ao que os depostos responderam correctamente.

A força que estava em Santa Clara recolhe ao quartel, ao tempo na Sofia, sendo aplaudido pelo povo.
Um cortejo, precedido pelas referidas bandas, sobe pela Calçada, Arco de Almedina, Rua Fernandes Tomás, Rua Joaquim António de Aguiar, Sé Velha, Rua Borges Carneiro, Largo da feira, Largo do Castelo e Rua Larga, para saudar o governador, e com ele, a República.
Nesta altura um exaltado propôs que se incendiasse a Biblioteca da Universidade. E, como encontrasse eco noutros exaltados, o barbeiro Joaquim Lobo contrariou a ideia, com o argumento de que, agora, a Biblioteca passava a ser do Povo e este não devia destruir o que lhe pertencia.
No edifico do Governo Civil, o dr. Fernandes Costa fez um discurso de agradecimento e recomendou brandura e generosidade. O cortejo retira e, pelas 13 horas, realiza-se uma sessão solene na Câmara Municipal, presidindo o dr. Fernandes Costa, secretariado pelo dr. António Leitão, novo administrador do concelho e pelo dr. Sílvio Pélico, presidente da Câmara,.

O dr. Fernandes Costa proferiu palavras de exultação pela proclamação da Republica, fez o elogio do Governo Provisório e propõe que a actual vereação continue até às novas eleições, visto ter sido eleita por sufrágio popular e ter feito boa vereação.
O dr. Sílvio Pélico responde fazendo o elogio do povo e, agradecendo a proposta, pede, renúncia de mandato.
O dr. Sidónio Pais, lente de Matemática, reforça o pedido do dr. Fernandes Costa, e o dr. Sílvio acaba por ceder (...)

As fábricas, oficinas, repartições e lojas fecharam e o povo trocava abraços, cheios de entusiasmo e, à noite houve iluminação e uma marcha aux flambeaux.
O testamenteiro do dr. Inácio Rodrigues andou pela freguesia de Santa Cruz a distribuir 100 mil reis por cada pobre pois que o testamento dispunha que tal se fizesse no dia da proclamação da Republica (...)

[in Efemérides de Coimbra, O Despertar, 12 de Janeiro de 1966]