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quarta-feira, 21 de março de 2007


In Memoriam Fernando Alvarenga [1930-2007]

"O poeta Fernando Alvarenga deixou-nos, no passado dia 19 de Fevereiro. Já debilitado de saúde, vivia desde há cerca de um ano, num lar da terceira idade, em Amarante, onde uma infecção respiratória o obrigou a internamento hospitalar e o vitimou.

O funeral teve lugar na cidade de Ermesinde, na manhã do dia de Carnaval, em altura que seria, por certo, do agrado do poeta.

Nascido em Ermesinde a 14 de Abril de 1930, e nos últimos anos da sua vida aqui radicado, viveu também em Angola, de 1969 até 1975, circunstância que contribuiu para uma das facetas mais marcantes da sua obra poética, que alguns críticos consideraram única pela originalidade de ter sido o primeiro criador de rimances africanos em língua portuguesa.

«Figura incontornável da Cultura da nossa cidade», como 'A Voz de Ermesinde' já antes o tinha apresentado, Fernando Alvarenga foi poeta e ensaísta, tendo a sua obra de ensaio ficado dispersa por numerosos jornais e revistas. Foi, aliás, colaborador de 'A Voz de Ermesinde', a quem ofereceu os direitos de autor de novas edições das suas obras, como noticiámos a 30 de Março de 2004. “A Voz de Ermesinde” dedicou-lhe uma série - 'Fernando Alvarenga' - com a publicação continuada de uma página apenas com ensaios e poemas seus, durante onze números (do n.º 704 ao n.º 714). Foi autor de uma obra consistente, presente em várias antologias ao lado de renomados nomes da Literatura e Ensaística portuguesa" [in A Voz de Ermesinde - ler mais aqui]

[via Lugar Efémero, com a devida vénia]

segunda-feira, 5 de março de 2007


Alface (1949-2007) Escritor excelentíssimo - por Vasco Santos

Quando Alface morreu, na súbita noite de quinta-feira, o Campo Pequeno continuava económico lá fora e o tempo era favorável, caloroso, na comunidade de leitores que, devagar, o descobriam.
Os gregos chamavam kairos ao momento oportuno, ao tempo distenso, aquele em que a vontade dos deuses e dos homens se encontra e o sujeito assume a absoluta figura do seu destino. (Assim era.)

(...) Por detrás das suas sete dioptrias Alface topava-nos na nossa lusa alma de barata com pessimismo, ironia e superior inteligência. Em resumo: palavra festa brava. Alface escreveu, ainda, para jornais, publicidade, rádio, televisão e cinema sem nunca desvirtuar, no gosto da escrita, a liberdade que considerava ser a sua essência e justificação.

O João Carlos foi um homem livre e generoso. Era mordaz e, havia dias, um céptico quase pirrónico. Possuía um humor swiftiano, desconcertante e lúcido e aristocrático.
Dançava.
Gostava muito do Alentejo, do Benfica, de ler. De ler por exemplo o Gombrowicz, o Maurice Pons, mas gostava também da Associação Pedrista de Montemor-o-Novo e da boa cozinha destas terras. Era um ouvinte delicado.

Habitava-o uma humanidade que a inteligência não destruía. Talvez por isso não tenha acabado os cursos de direito e psicologia preferindo uma lateral ars de viver.
Aprendi muito com ele. Diverti-me muito com ele. (Só não gostava apaixonadamente de gatos, algo que nos separava). Foi dos meus autores o mais leal, o mais justo. E nunca usou grandes sapatos no escritório.

Tinha um narcisismo de vida e gostávamos de jantar em família, a sós, ou com o Carlos Coelho Campos, o Victor, o Bicker e muitos outros. O Alface tinha uma disponibilidade imensa e muitos amigos, muitas amigas.

Ele faz-me muita falta. O Alface faz-nos muita falta.
E só não faz falta à literatura portuguesa porque escreveu depressa e partiu cedo, sem prosa algaliada a atravancar a loja, pelo que os seus livros vão andar muito tempo por aí, numa luminosidade inconveniente.

[João Carlos Alfacinha da Silva, Alface (1949-2007) Escritor excelentíssimo, por Vasco Santos (Editor da Fenda), in Público, 5/03/07 - sublinhados nossos]

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

In Memoriam José Afonso



"de um outro lar ou pátria ou céu ou nada" [Jorge de Sena]

domingo, 26 de novembro de 2006

IN MEMORIAM DE MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS



"Ama como a estrada começa ..."

"E agora o poeta começou por rir
rir de vós ó manutensores
da afanosa ordem capitalista"

"Assim como a poesia não é um par de sapatos, assim Fernando Pessoa não é para todos os dias. Não consta, porém, que Pessoa haja querido monopolizar os dias ..."

"os gatos são os únicos burgueses / com quem ainda é possível pactuar"

"Dois picapaus querelam, muito entusiasmados
que a dita dura dura que não dura
a dita dura dura ... dura desdita!
"

"o bem: os dignos professores do estado
o mal: os professores dignos do estado
resolução da antinomia: o professorado"

[Rebelião] "duas delegações de cidadãos no total de dez membros descerão de dois táxis palinha para atravessar o rossio de nudez"

"Essa tua Titânia é uma fraude, rapaz (...) Pois tu não dizes é alta, baixa, loura, morena, encarnada, branca. E as mamas, rapaz - secção fundamental - não te enlevam as mamas?"

Mário Cesariny - Pastelaria Castpost

IN MEMORIAM DE MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS [1923-2006]



"Gostava de ter daquelas mortes boas, em que uma pessoa se deita para dormir e nunca mais acorda (...) a morte a trabalhar, é que é chato" [MC.V., in Autografia, Atalanta Filmes]

"A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos com certeza ..."

"Em todas as ruas te encontro / em todas as ruas te perco ..."

"é preciso correr é preciso ligar é preciso sorrir é preciso suor
é preciso ser livre é preciso ser fácil é preciso a roda o fogo de artifício
é preciso o demónio ainda corpolento
é preciso a rosa sob o cavalinho
é preciso o revolver de um só tiro na boca
é preciso o amor de repente de graça"

"Amor / amor humano / amor que nos devolve tudo o que perdêssemos / amor da grande solidão povoada de pequenas figuras cintilantes"

Mário Cesariny - Queria de ti um país Castpost

sábado, 29 de outubro de 2005


In Memoriam Joaquim de Carvalho

"Apesar de contestada [a filosofia portuguesa] por uns, indiferente à maior parte, mas aproveitada por estranhos, pensámos sempre que o Génio Nacional, como unidade viva e livre, se deveria reflectir na Filosofia.
Com efeito, se uma nacionalidade é em si um produto espiritual, para nós mais representativo do que a comunidade de interesses, sentimentos, tradições, língua, caracteres étnicos, autonomia do poder politico, etc, com que ordinariamente é definida, se, por outro lado, a filosofia não é estéril e vão exercício da inteligência, mas uma exigência imperiosa do espírito, o que impede teoricamente que um povo livre, na plenitude da sua autonomia, se afirme e reconheça, independentemente doutras manifestações, na Filosofia?..."

"Se sobre todas as coisas reina a dignidade da consciência humana; qualquer ideário político, qualquer arquitectura do Estado que a esqueça, esmague ou remova para o fundo do cenário, é intrinsecamente falsa e moralmente pecaminosa ..."

"Quando um país tem a dita de possuir uma oligarquia de políticos, claros nos propósitos, seleccionados e confirmados pelo voto de opinião, honrados com o adversário quando lhe chega a hora de governar, o povo vive subtraído às oscilações extremistas das leis do pêndulo e podem chover estrelas ou picaretas que não se abalará a paz interna.
Se esta meia-dúzia de homens se desentender, se se deixar atrair pela sereia do mando, tapando os ouvidos à frágil voz do Servir, na bigorna da politica soa o timbre das espadas, com as quais, como advertiu Talleyrand, se podem fazer muitas coisas, salvo sentar-se alguém nas pontas.
Sempre assim foi e será, assim como, pelo contrário, sempre foi e será o diálogo claro e publico entre os dirigentes políticos o bastião inabalável da paz civil. Governe a direita, governe a esquerda, o essencial é que, no círculo dos oligarcas, quem governa saiba demitir-se, e quem quer o poder saiba esperar"

[Joaquim de Carvalho, in Diário Liberal (1933 e 1938), citado por Cruz Malpique, in Perfil intelectual e moral do prof. Joaquim de Carvalho, 1959]

segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

IN MEMORIAM DE ARY DOS SANTOS [1937-1984]





"Nós amamos a carne das palavras
sua humana e pastosa consistência
seu prepúcio sonoro sua erecta presença.
Com elas violentamos
O cerne do silêncio
"

[José Carlos Ary dos Santos, in A Luxúria, 1968]

sábado, 3 de janeiro de 2004

IN MEMORIAM EDUARDO GUERRA CARNEIRO [1942-2003]




[Via Aviz] "ADEUS. Morreu Eduardo Guerra Carneiro. Era um bom poeta, esquecido por todos nós, e um jornalista esquecido pelos jornais. Morava no mesmo prédio onde viveu Agostinho da Silva, ao Bairro Alto. Escrevia em caderninhos lisos e tinha canetas de tinta permanente. Gostou muito. Foi muito amado. Tinha um brilho nos olhos que se foi perdendo à medida que ia envelhecendo, mas nunca foi um ressentido. Bebeu muito. Leu bastante. Escreveu o suficiente. Alguns livros: Isto Anda Tudo Ligado, Como Quem Não Quer a Coisa, É Assim que se Faz a História, Contra a Corrente, Lixo ou Dama de Copas. Era boémio, mas não era da boémia. Sentava-se ao fundo dos bares caboverdianos. Gostava de mornas, da sua terra do Norte (Chaves), dos salgueiros ao longo da estrada nacional n.º 2, dos choupos do Douro e de poetas que sabiam calar-se. Uma pessoa escreve «era um bom poeta» e sente que alguém desconfia, como se fossem bons todos os poetas que desaparecem. Não. Ele era um bom poeta que raramente ficava contente com os seus livros. Não se dava muita importância. Brigou muito. Tinha bom feitio. Tinha mau feitio. Tennyson repetiria: «O selfless man and stainless gentleman.» Bebia cerveja. Acho que bebia tudo. Tinha uma bela voz. Eduardo." [Francisco José Viegas, in Aviz]

"O Eduardo nasceu em Chaves, em 42. Depois foi à vida: perdeu-se um vossa excelência (4º ano incompletíssimo de história), ganhou-se um poeta (...) Livros, amores, deambulações, vagabundagens, cervejolas, empregos vários, carolices (o & etc agradece, no que lhe toca): uma generosidade (arrebatada, lírica, desmedida) que lhe alimenta a poesia (dor mais funda, alegria em sol maior) e lhe dá cabo da gravata. Assim o Eduardo é um poeta visceral. Talvez que já não saiba (nem possa) ser outra coisa) ..." [in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"O desafio, afinal tão simples!, de prosseguir um texto, vendo bem perseguir, conseguir mesmo despir-me das pequenas e grandes vaidades, como já foi dito. Dizias: o texto. Eu pensava na intriga a construir, nos antigos manuscritos onde se falava de música, sinfonia, órgão, retábulos de igreja, o que se liga à então recente leitura de qualquer clássico. Órgãos do prazer: funções vitais em totalidade. Procuro a linha enredada na complicada teia de aranha que em volta de mim próprio enlacei: aqui está a razão do desafio; os nós a desfazer; a pontuação a assinalar um modo de avançar «todo» sem receio mais que o discurso baço, vago, maricas afinal (...)

Daí, daqui: os textos que perseguem e rasgam o próprio ventre para nascerem pelas suas próprias mãozinhas: impressão digital marcada a sangue. Direi. Um corpo em movimento; a infância da invenção; o salto mortal da literatura; a destruição (corrosão) dos vocábulos ..." [E.G.C., Uma Teoria (da) Prática, in & etc, nº 9, 15/05/1973]

"Algumas palavras são mais que o som.
Soltam-se delas lâmpadas, por vezes gritos.
Palavras que demoram na boca
com o sabor da manhã de Outubro, o claro gosto
da terra húmida, castanha até doer
...
" [E.G.C., Zero, O Perfil da Estatua, 1961]

"Estamos no extremo ocidental de uma Europa gangrenada que teima ainda em conservar limpos os punhos e o colarinho, embora tenha podres nas meias e as cuecas estejam borradas de medo antigo, caca seca, agarrada aos Pirinéus, a montecarlos, montecassinos, urais ou andorras do báltico.
Estamos e continuaremos a estar até que a bomba rebente nos nossos tomates inchados, na goteira do sexo, nas moscas que teimam em disputar-nos a cerveja, nas putas que envolvem em dança os cromados dos bares de hotéis de gare. Poârto ou Parises; Tomar ou Bruxelas; Leiria ou Malmo: a mesma merda.
Estamos quase a rebentar as costuras deste maldito soutien com que nos apertam as mamas da invenção; quase a rebentar as cuecas com que nos espartilham os caralhos da revolta. De pé, ó vítimas da Europa decadente! Nuzinhos até Trancoso! Com pezinhos de lã até Almeida!.
Avançar assim, descobrindo novo discurso, importante porque me importa, também me faz bem, talvez te ajude, vos ajude, ajude afinal a acender o rastilho que vai fazer rebentar a bomba ..." [E.G.C., À Luz de Novembro, in Como Quem Não Quer a Coisa, & etc, 1978]

Algumas Obras: O Perfil da Estátua, Silex, 1961 / Corpo Terra, Ed. Autor, 1965 / Alguma Palavras, Nova Realidade, 1969 / Isto Anda Tudo Ligado, Cadernos Pensinsulares, 1970 / É Assim Que se Faz a História, Assírio & Alvim, 1973 / Como Não Quer a Coisa, & Etc, 1978 / Dama de Copas, & Etc, 1981 / Profissão de Fé, Quetzal, 1990 / Lixo, & Etc, 1993 / O Revólver do Repórter, Teorema, 1994 / Outras Fitas, Teorema, 1999 / A Noiva das Astúrias, & Etc, 2001

terça-feira, 19 de agosto de 2003

IN MEMORIAM HAROLDO DE CAMPOS [1929-2003]



No passado dia 16 de Agosto morreu o poeta, ensaísta, tradutor Haroldo de Campos. Funda (com Augusto de Campos e Décio Pignatari) em 1952 o Grupo Noigandres, de poesia concreta, que influencia a corrente concretista e experimental portuguesa, em especial E. M. de Melo e Castro [vidé PO-EX textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa, Ana Hatherly & E. M. de Melo e Castro, Moraes, 1981], e depois trabalha "como tradutor, crítico e teórico literário, além de Professor Titular do curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Literatura na PUC/SP" [Ver]. "O grupo formado por Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari usou pela primeira vez a expressão «poesia concreta» no Festival de Música de Vanguarda do Teatro Arena em 1955. No ano seguinte, o movimento Concretista seria definido com uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo." [idem]. Traduz Joyce, Dante, Mallarmé, Ezra Pound, Maiavóski ...

Morre aos 73 em São Paulo. Uma vida intensa de crítica ás ditaduras, uma resistência estética e literária exemplar. "Extemporâneo, nunca cedeu. Perspassou a média e a mediocridade dominante. Internacionalizou a literatura brasileira, ao tomar para sí, e reativar os valores da antropofagia rebelde de Oswald de Andrade, posta à margem, pelos mesmos epígonos sectários de sempre. Sem vacilos ou recuos, arriscou-se na continuidade, consciente, seguindo nas experiências e experimentações, do percurso desbravado antes pelo 'patriarca' de nossa modernidade literária. Comprou briga com tudo que era passado de todas as épocas e na rasteira deste combate, foram 'redescobertos' Sousândrade, Pedro Kilkery ,Gregório de Mattos,Mallarmé, Joyce , Maiackóviski, com Décio Pignatari e o irmão Augusto e Velimir Klebinikóv em parceria com Aurora Fornomi Bernadini. (...) Instigante, revolucionário, vigoroso na demolição de ranços e rancores incrustados em nossa literatura." (Thaelman Carlos 16/08/2003, CMI Brasil).

terça-feira, 15 de julho de 2003

IN MEMORIAM HENRIQUE BARRILARO RUAS



"Se a terra falasse, havia de contar, por entre abundantes lástimas, muitos sinais do amor dos homens por ela... Terra humanizada é sempre mais que terra trabalhada. Se o homem só a quisesse como nascente de ouro, talvez já ela se tivesse extinguido. Mas, se a terra dá o pão à gente, também nós lhe damos pão. E o pão mais rico que lhe damos não é tanto a semente que a fecunda; é a alma que lhe confiamos."

[Henrique Barrilaro Ruas - in, Cultura Portuguesa nº 2, Janeiro-Fevereiro de 1982]

quarta-feira, 9 de julho de 2003

IN MEMORIAM AUGUSTO ABELAIRA


AUGUSTO ABELAIRAIn Memoriam

Não podia deixar passar: gostava da escrita de Augusto Abelaira. “Bolor” e “Sem Tecto entre Ruínas”, com certeza. Mas, também, as crónicas do Jornal das Letras ou no Jornal. O romancista era demasiado humano para ser de companhia. Mas quem o conheceu sabe que entre a timidez e os infortúnios vários, existia um homem livre. Talvez por isso fosse pouco compreendido. Pouco lido. Nós dizemos – obrigado Abelaira.