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quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

À VOLTA DOS BLOGS & CIA



* João Oliveira dá missiva no seu blog sobre a produção da comunidade bloguística da zona de Aveiro * Sous les pavés, la plage - o regresso em versão blog de alguns dos fazedores do saudoso projecto Zona Non. De novo Coimbra e os seus encantamentos. Bem-vindos Rui Bebiano, Tiago Barbosa Ribeiro, Tó Lopes e Carlos Osório * Fernando Pinto Amaral, Nuno Júdice, Mário de Carvalho, Hélia Correia, Francisco José Viegas, Mia Couto, os rostos da escrita postados pela Silvana da Costa no Cometas * Regresso do Outro Eu, cada vez mais prendado e de merecida estimação. Transmissível ... sempre! * O Princípio da Atracção de Teresa Direitinho, ou o amor à luz da Ciência como nos foi indicado por um amigo. A ler, evidentemente. * Para leedores caprichosos, eis que saiu o número de Janeiro 2004 da Revista de Cultura Agulha: Ciência e surrealismo de Estela Guedes; Heidegger e Artaud: o percurso da angústia, por Wilson Coelho; Picasso versus Duchamp e a crise da arte atual, por Alberto Beutenmuller; Poesia Completa, de Cecília Meireles: a edição do centenário, por Antonio Carlos Secchin; Saramago e Drummond: o verdadeiro senhor dos arquivos, por Maurício Matos; Surrealismo e marxismo? por Claudio Willer; desenhos de Júlio Resende.

Nota: O Rio já corre. O venerável escriba do blog sem mancha e patriarca do Correio da Manhã, jornal para intelectuais debutantes ou espaço lúdico fogoso e subtil para seguir o bem e afugentar o mal, esta de volta. Com ditos sentenciosos, espirituais & morais, deu à estampa uma prudentíssima posta, bem esgalhada por sinal, que perdura entre um relato de futebol a João Marcelino e uma vigorosa discursata Bushiana, varrendo sem empacho as postumeiras dissertações do terrível Sousa Tavares. Na verdade "pretium laborum non vile". Evidentemente.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

SER O QUE NÃO É



Na sequência do que Luís Carmelo refere em "Tragédia de um Esquecimento", a propósito da alusão da Rua da Judiaria sobre os "350 anos "sobre a chegada dos primeiros emigrantes judeus à colónia holandesa de Nova Amsterdão", é possível a partir do pensamento de Miguel Real (que cita), na sua obra "Portugal Ser e Representação" (Difel, 1998), ter em apreço aquilo que Miguel Real denomina como "tentativa de encontrar uma forma corporis do povo português", afinal uma demanda da característica dominante do português, e que configuraria um "ser o que não é" ou "estar onde não está", e que pode, de algum modo, levemente contribuir para as interrogações sugeridas no belíssimo texto de Luís Carmelo.

Assim, a partir de diferentes contributos - de Teixeira de Pascoaes a Eduardo Lourenço; de Agostinho da Silva a A. José Saraiva, ou com referências a autores como Fernando Pessoa, Álvaro Ribeiro, Antero, Dalila Pereira da Costa, António Vieira, Marcello Duarte Mathias, António Telmo, Pinharanda Gomes, etc - o autor de Portugal Ser e Representação refere os seguintes "traços":

- "habita-nos ... uma funda religiosidade, expressão actual de setecentos anos de domínio quase absoluto de códigos religiosos de comportamento, âncora histórica de uma cosmovisão bíblica que inundou a mentalidade cultural portuguesa até ao século XVIII. (...) O excesso desta visão religiosa portuguesa, ou talvez, a sua condensação numa ideologia, originou o messianismo providencialista português, a que nenhum grande autor nacional foi imune, pela positiva ou negativa ..." (pag. 181- 183)

- existência de uma "característica profundamente emotiva, apaixonada, sentimental, do comportamento dos portugueses em detrimento de uma visão racionalista, calculista, programada, técnica e cientifica da vida". Como consequência daí resultante: "ausência de um corpo coeso de obras cientificas e filosóficas; ausência de um espírito técnico e tecnológico de envergadura; predominância de uma mentalidade lírico-emocional que tem atravessado toda a nossa literatura" (pag. 184)

- "estar onde não se está" (...) Esta característica tem permitido ao português uma errância mental e física, ou, talvez melhor, uma plurivalência entre o que de facto é as mascaras ou as imagens por que se disfarça ora um jubilo se si, ora numa humilhação rendida, isto é, tem permitido ao português ser o que não é: religioso, mas herético; ortodoxo, mas heterodoxo (toda a filosofia portuguesa religiosa desde o sec. XIX); emigrante, mas não colonizador (miscegenização); aventureiro, mas radicado (...); pobre, mas generoso (comunitarismo); culturalmente atrasado, mas crente que possui um destino vanguardista (messianismo)" (pag. 185-186)

Concorde-se ou não com o autor, a obra é demasiado estimulante para passar despercebida, por isso aqui fica a sugestão da sua leitura.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

CLUBE DE FANS DE FERREIRA LEITE

Acaba de aderir ao extraordinário Clube de Fans de Ferreira Leite, o marujo Nuno Mota Pinto. Agora sentado no cadeiral do Banco Mundial, vê a economia portuguesa com novíssimos óculos made in Ciéié. As postas colocadas pelo erudito economista de Coimbra sobre a teorética do défice fizeram sorrir a doce Faculdade e os seus clientes.  Abandonada a tese que a "economia é apenas uma narrativa", conforme lhe foi assegurado nos bancos da Dias da Silva, o novo yuppie do neo-liberalismo consegue esmifrar o Prof. Cavaco & Cia, ao enveredar pela argumentação da defesa intransigente das medidas da Mercearia Ferreira Leite, da qual é membro aderente. Esquecendo deliberadamente que a consolidação orçamental é inexistente; que o défice externo aumenta constantemente; que não há qualquer medida de politica económica digna desse nome (Carlos Tavares ...existe!?), que permita ganhos de produtividade, nem sequer modelo de desenvolvimento económico que se conheça; que as reformas para a modernização do Estado não foram feitas nem serão; que o facto de se ser contra as medidas irracionais e irresponsáveis de Ferreira Leite não significa, tout court, que não se proponha cortes na despesa pública; que o investimento no ensino e educação falhou completamente, dado a separação entre o tecido económico e as práticas curriculares do ensino actual, o que gravíssimo; que não é honesto estabelecer automatismos entre os pressupostos do controlo do défice e o famoso modelo de desenvolvimento económico que NMP jura estar aí a saltar; o nosso NMP dá-nos, deste modo, uma versão simplista da realidade económica portuguesa que terá, bem como outros, de justificar depois. E não se pede, como punição, que vá à oral, mas tão só que evite a cegueira que as novas lentes lhe provocaram.

quarta-feira, 26 de novembro de 2003

MEUS KIDOS MOSQUETEIROS



Meus kidos mosqueteiros:

Fui no outro dia ao escritório do meu pai com a minha irmã para ela me contar a história dos três mosqueteiros que vem num jornal qualquer acho que é um tal Indy porque a minha stora diz para ler para não vir a ser uma merceeira como a senhora Leite e depois dar erros nas redacções trocar os números e nâo saber a tabuada e a irmã Berta contou-me a estória do menino Lomba, do Mexia e desse como me jurou a mana que fala do Zorro diz os números da tabuada e fala francês e que é o Luciano que é nome bonito demais para fazer carreira jornalística disse o mana e que falou sobre halterofilismo ou lá o que é isso e que eu já vi na TV num programa ou da Teresa Guilherme ou do Bush não me recordo bem e a mana Berta leu um bonito conto sobre os meninos e as meninas de 16 anos que querem votar mas o Barroso não deixa e gostei de ouvir dizer que os meninos de 16 anos não tem frustrações que é aquilo que os stores da universidade tem quando vão para as aulas e elas tem um cadeado e depois conheci que me leu a mana o Pacheco que só tinha visto pela televisão e que tem um computador e um lápis que escreve no computador e depois aparece num ecrã de cinema e sabe os países e a geografia como a minha stora de ciências também sabe e depois parece que o menino Lomba não gosta do menino Cunhal que o meu avô está sempre a falar e não percebi porque o Pacheco tem de dizer o que dizem todos que é dizer mal do Cunhal apenas porque como também diz o meu avô é revolucionário como me explicou a minha empregada que está sempre a falar de Abril que é um mês bonito mas adiante que eu quero é falar daquele que tem um nome bonito demais para ser jornalista que escreveu sobre uma reunião de meninos em paris de França ao que parece segundo disse o meu papá o Luciano é mais velho que a fotografia do jornal porque até se recorda dos maoistas e dos troskas que não sei bem o que são porque segundo me disse a minha empregada depois um menino mau de nome staline mandou bater neles todos mas o Luciano tem suores que lhe embaciam os óculos como me explicou a mana e só vê socialistas e comunistas em todo o lado coitado ao que me contaram apanhou a doença infantil do bushismo que é pior que uma gripe como me disse a stora na aula e não há vacinas para isso como se queixa o Luciano que diz que há sinais de delinquência politica dos grandes países europeus o que é verdade pois eu vi como em França o balneário dos jogadores de futebol foi estragado e coitado deles não se puderam vestir em condições como disse aquele senhor que é major e depois a minha mana não me contou mais porque tinha que fazer os deveres mas eu gostei muito de ler os Três Mosqueteiros e por isso vos mando esta carta

Belinha

quarta-feira, 19 de novembro de 2003

EPISTOLÁRIO




Caro camarada a Dias:

Mando-te junto a croniqueta que o pessoal do Indy me pediu, porque sei que sociologicamente falando preferes o CM, o Crime e a Maria ou esse Record de grande jornalismo e não tens pachorra para leres prosas intelectuais. Dado os meus afazeres bloguísticos e, agora, com compromissos profissionais de monta, não te posso ir abraçar e dar-te uma monumental maçada sobre politica, música e futebol. Eu que até vesti a pele de mouro e tudo, enfim obrigações de intelectualóide lisboeta. Uma merda, pá. Mas o que me custa, é andar com os tipos do Público em cima. São uma cola, lá se dizia no Nino's Show, e não me posso ausentar das Lisbias. Deves compreender, que és nortista.
Tenho dias que não dá para blogar. Até pensei se não seria melhor começar a escrever obras de grande espessura, que o país precisa é leituras pesadas para adormecer com liberalidade, apesar de reinar a ordem em todo o país, mas depois penso que até uma segóvia era melhor. Coisas de tímido. Estava melhor era a fazer testes ao governo, mas a rapaziada neocon lá do jornal não compreenderia. A propósito, sabes que por vezes fico com a sensação (vi isso no A Perfect World, de Clint Eastwood) que o JPC é um infiltrado, assim que a modos que com prosa afiada de lumpen-fnacista a atirar para a sociedade sem classes? Enfim, com o PM é que não se pode contar, agora que anda em pousio pelos cafés e restaurantes em trabalho de escopofilia ao mulherio. Espero é que não tome a peito aquela máxima comuna de "a mulher a quem a trabalha". Seria a catástrofe. Que o céu não lhe caia em cima.
 
Tenho de acabar que estou com pressa de ir escrever dois ensaios ("Algumas palavras de conselho e estimulo aos nossos trabalhadores de blogs nobres" e "Ninguém há-de chorar os avós da classe operária"), um opinativo protestatório sobre "Jorge Sampaio em presidência à Berta" e terminar o livro de propaganda que o Portas me encomendou (quinhentinhos já cá cantam) que intitulei, "Schwarzenegger: um homem Lusitano".

Um abraço

sexta-feira, 14 de novembro de 2003

MARÉ NEGRA DO "PRESTIGE" - UM ANO DEPOIS

















Maré negra do 'Prestige' - Um Ano Depois


"Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.
" [Jorge de Sena]

Dias Estranhos / La Hispaniola / Lembra-te / Nunca Mais / Burla Negra

segunda-feira, 3 de novembro de 2003

É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!



É já no próximo dia 31 de Novembro, às 13.00h, na FNAC junto à estante dos modernistas, ao Chiado, que decorrerá um ciclo de encontros "É a Economia, Estúpido!". Os participantes vão poder, finalmente, debater a economia libidinal, poesia sobre o deficit, luxúria de desemprego, neoliberalismo na comunidade primitiva, no que se seguirá um painel para aumento de ordenados, emagrecimento do Estado, luta por um caviar bolsista, em frente pela Barca Velha para todos, etc. Das comunicações a debate ao longo da jornada, refira-se as seguintes:

- Summa de casos de consciência, con advertencias muy provechosas para confessores, à cargo da Mercearia Ferreira Leite
- Descrição económica do eurobeatismo no território da comarca do Chiado, e próxima à margem direita da Benard, por Pedro Lomba
- Depois de Marx Abril, contributos para uma nova esquerda, por José Mário Silva
- Discursos sobre los comercios de havanos, donde se tratan materias importantes de gastronomía, y guerra, pelo Fumaças
- Uma seara nos dentes. Descobrir Berlin, pelo MacGuffin
- Genuína exposição das relações internacionais na Praça da Republica, ou o marasmo em que caiu a U. Coimbra e os seus lentes, por Ivan Nunes
- Alphabeto da malícia das mulheres com deficit ou dicionário de ardis, estratagemas e caprichos que o liberalismo combate, pelo Pedro Mexia
- O priapismo orgástico do proletariado na 1ª metade do Barrosismo, pelo Meu Pipi
- Este deficit é seu, estime-o, por NMP
- M. Oakeshott e a maligna engenharia social. Estórias de assombramento, por J. P. Coutinho
- Manual prático da cultura das batatas, e do seu uso na economia socialista, pelo Comprometido Espectador
- O deficit na hora da nossa morte. Contributos escatológicos, pelo Almocreve
- Modas e Bordados ou a Saliva Americana, pelo Homem a Dias

Dança de cadeiras na F. Foz

Absolutamente encantadora está a movida de cadeirais na Câmara Municipal da Figueira da Foz. O extraordinário Presidente Duarte Silva - segundo nos informa o jornal O Publico - "abichou" nada menos que 12 pelouros, anteriormente subtraídos a ilustres vereadores, mas num gesto despretensioso e altruísta atribuiu, de imediato, o pelouro das obras municipais nas freguesias a dois cidadãos figueirenses. Assim, a zona urbana foi graciosamente cedida ao inefável Lídio Lopes (chefe de gabinete), enquanto José Elísio (assessor de Lídio Lopes e presidente da concelhia do PSD) irá fazer a gestão da parte rural. Pouco interessa saber que nenhuns desses cidadãos foram eleitos, ou mesmo se a Lei nº169/99 configura tal desvelo presidencial. Apenas se regista que esse ávido leitor de BD e Presidente da localidade, assume com brilho e sapiência este novo período pós-moderno e santanista figueirense. Afinal, como diz a cantiga popular: Pilriteiro, dás pilritos / Porque não dás coisa boa? / Cada qual dá o que tem, / Conforme a sua pessoa. Os nossos aplausos!

sexta-feira, 31 de outubro de 2003

FIGURAS PITORESCAS



"Quando eu, rua, per vós vou
Todolos traques que dou
São suspiros de saudade!
" [Gil Vicente]

O Especialista – Eis o talentoso profissional da análise politica. As suas sabatinas nos telejornais, de muito atrevimento, são avidamente soletradas pelos indígenas, que vêm nele um enxerga democracia de muita estimação. Oh clemência! Quando investe à desfilada sobre a coisa pública, esbanjando nonchalance, o terror invade as quatro assoalhadas de um qualquer professo ministro, secretario, guarda-nocturno ou, mesmo, um simples Tribunal. O seu pensamento íntimo está prenhe de descomposturas aos prevaricadores. Que o diga Madame Catalina. Como "em cada português esconde-se ou tresanda um inquisidor" [Pacheco, o Luiz], o especialista é sempre um facundo crítico de qualquer coisa, e o bom e nobre cidadão não se inibe de participar, porque muito matutou no que o especialista pensou.

O Psi - Analisa as misérias do Ego, observa cenas infantis patogénicas, descreve histerias de defesa e perversões outras. Viciado em pulsões de autoconservação, profundo conhecedor da inveja do pénis, o especialista frequenta por vezes o Tribunal, a TV e os jornais. Quando entrevistado o especialista boceja de tédio. Têm a monomania, o Psi, de se recomendarem uns aos outros em rituais ruidosos. Por vezes não trazem o canudo, o que não os impede de serem muito felizes. E darem muitas consultas.

O Xico Esperto – Ouve com atenção o Mister pregar antes, durante e após os jogos. Já bichanou que estava zangado com o mundo, a cidade e a relva. Está na moda, o que o faz dar reprimendas aos colegas, adversários de preferência. É tratado com toda a ternura filial pelo Mister-Pregador, que capricha em sua defesa, mesmo fora da sacristia dos balneários. O Xico Esperto alarda certezas. Eis a última atribulação do Xico Esperto, contada pelo próprio: «O processo disciplinar é injusto, pois não se tratou de uma agressão. Com a expulsão, limitei-me a dar-lhe a chuteira porque já não iria precisar dela, mas a minha intenção nunca foi a de agredir». Disse!

O Pregador – Com pose de passar à posteridade, o Pregador recita as melhores produções do seu reportório, em constantes conferências de imprensa e entrevistas a desoras, que aprendeu na estranja enquanto emigrante. Quando fustigado, confessa que gosta. É masoquista assumido. Por vezes diverte o público com palhaçadas, sempre com ar expressivo, queixando-se deste "mundo vil e suado" que não o sabe merecer, o que não o impede de bramir o bastão cultural futebolês. Aqui, choram as desvalidas peixeiras da Ribeira, enquanto conhecidos desordeiros tecem as mais belas florações ao talento do Mister. Este abalizado teórico é um Mouro de trabalho, entre o riso e o tédio do País. Bem-haja!

Blog d’arromba – O arreabátapageviews está de volta. Zelador da sanidade intelectual da praça, pretende correr a pau e tecla os mendigos da blogosfera. Traz consigo um homem-a-dias, para entrevistas de circunstância, que lhe distribui os prospectos, enquanto se apresta a vender, agora, os últimos figurinos de literatura liberal ao povo cão. Servente de uma "escrita [que] é um exercício onde" comunica "algo de muito profundo", o regressado apóstolo tacteia, ainda, o campus da lide literária em prosa de pé quebrada, encontrando-se, por ora, a medir a dureza da posição de escriba virtual. Sentimentalão nas suas croniquetas escrituradas, atrevido nos seus cariciosos borrões, vai ser um florilégio encantador para debutantes de literatura para ociosos. Assim se espera. Para que haja sempre um intelectual insuspeito por detrás de cada blog. É dar-lhe para a frente, Dom Coutinho!

segunda-feira, 13 de outubro de 2003

A FIGUEIRA ESTÁ NA MODA



O presidente da Câmara da Figueira da Foz, semanas atrás, indignou-se com a opinião pública figueirense por esta questionar o negócio camarário da venda do terreno da Ponte Galante. Não foi primoroso nem cortês, muito menos fidalgo, quando ameaçou com o tribunal quem ousasse por em dúvida esse extraordinário negócio (conforme salientámos). Ninguém entendeu tais desmandos aos nativos figueirenses. Acontece que neste sábado passado, o jornal O Publico no seu suplemento local, refere que a "PJ investiga negócio entre o grupo Amorim e a Câmara da Figueira". Ao que parece, o Procurador-Geral da Republica considerou pertinente a queixa anónima (que o jornal teve acesso), bem como os documentos em anexo, enviada para Lisboa. A denúncia, pelos vistos, foi considerada procedente e está em investigação. Ainda bem. Deste modo ficará esclarecida a questão que tem ocupado boa parte das conversas das gentes da Figueira (vidé O Palhinhas e o Amicus Ficaria). A ser verdade, poderá ficar mais tranquilo o engenheiro Duarte Silva. E os cidadãos figueirenses agradecem, certamente.

Título de Fim-de-Semana - Expresso: "Portas convoca mancebos". Estamos a ver o rebanho, muito arrumadinho em camionetas, zarpar para a Câmara Municipal de Lisboa, que o Dia da Defesa Nacional oblige! Mais, gostámos de saber que um dos grandes objectivos é "sensibilizar os jovens para a temática". Ou que há almoços grátis (que dirá César das Neves!?). Enfim, em defesa tudo comunica. Inolvidável.

Curtas: "Provem que há corrupção", pergunta, docemente, Luís Guilherme, esse diletante da Comissão de Arbitragem da Liga. António Costa estremeceu, enquanto Martins dos Santos e Lucílio Baptista confessaram não tomar cimbalinos antes dos jogos * A História não absolverá Hermano Saraiva, dizemos nós e o nosso camarada Fumaças confirma. E porquê? Pois o doutor José Hermano Saraiva abichou uma garrafa de Royal Salute 50 Years Old (inf. Expresso) e ainda não nos convidou para a castigar como seria nosso desejo. Tal heresia em torno da rara garrafa de Chivas (255 exemplares) com uma "encadernação" sublime (porcelana azul e o rótulo esculpido em ouro e prata) leva-nos às lágrimas. Quem arranja uma cunha? Pode-se saber!? * Está admiravelmente vivo e recomenda-se: Robert Wyatt e Cuckooland. Nada a fazer, o homem é incorrigível. Nós também!

domingo, 5 de outubro de 2003

ANTÓNIO GUERREIRO




António Guerreiro e a pragmática do discurso dos blogs

" (...) O facto curioso, em Portugal, é que o interesse pelos blogs não foi suscitado, em primeiro lugar, por terem acedido à livre publicação indivíduos e grupos que dela estavam excluídos, mas por terem entrado na «blogosfera» (numa posição de domínio, pois aqui também se criaram hierarquias) nomes que, regularmente ou de maneira esporádica, escrevem nos jornais ou são convidados pelas televisões. Este é um sinal eloquente de que há hoje uma corrida ao espaço público mediático (sintoma de uma perda da efectualidade da cultura e das instituições do saber) e de que este não é capaz de se estruturar de outra maneira que não seja segundo o regime do mandarinato. É este regime o responsável pela hipertrofia da «opinião» que caracteriza a imprensa, em Portugal, e que a grande maioria dos blogs prolonga na perfeição. Os blogs mais frequentados, isto é, aqueles para onde estamos constantemente a ser remetidos através dos «links», quando entramos na «blogosfera», apresentam-se, assim, como uma esfera funcional das paginas de opinião dos jornais, mesmo quando têm um registo diarístico e pessoal. Digamos que os blogs economizaram algumas etapas e chegaram ou aspiram chegar aos jornais: o da conversa desenvolta, cujos intervenientes são muito mais actores do que autores, ao serviço do espectáculo integral. Tão próximos estão - jornais e blogs - do mesmo universo cultural e funcional que não é possível fazer a crítica de uns sem fazer a crítica de outros. O que alimenta a maior parte dos blogs não é uma escrita mas uma conversa, como aquela que se pode ter no café com os amigos, e que se esgota numa troca que promove a confusão da esfera pública com a esfera privada (...)
O discurso inócuo do «fait-divers» político-cultural e da conversa de família ou de amigos domina, de modo geral, os blogs. Evidentemente, não se trata de algo que seja estranho aos jornais. Mas a questão é esta: porque é que professores universitários, poetas, escritores, críticos desejam tanto jornalizar-se (no duplo sentido do discurso jornalístico e do discurso diarístico) através da «bavardage», do exibicionismo, da falsa subjectividade opinativa? (...)
Não é preciso ter lido Habermas para perceber que a expressão individual e o direito à opinião que alimentam a maior parte dos blogs têm um grande valor decorativo mas não têm nada que ver com uma esfera pública critica (que, de resto, tem cada vez menos condições, em Portugal, para se constituir). (...) Esta teoria democrática da expressão da expressão individual (...) é duplamente falaciosa: 1) porque esquece deliberadamente que o sistema é hipertélico, isto é vai para além dos seus próprios fins e anula-se na sua finalidade; 2) porque se baseia no principio imposto pelos «mas-media» de que tudo o que eles fazem aparecer é bom e não resta outra tarefa senão a de jornalizar o discurso da cacofonia generalizada. Esquecida fica a responsabilidade de interromper a conversa. Esta lei da submissão ao ruído publico - e da dependência visceral que ele cria – não é senão a lógica dos «grandes redutores», dos que não conseguem pensar fora da lógica do jornalismo e da agitação politica e cultural."

[António Guerreiro, "A Reportagem Universal", in Actual (Expresso), 4/10/2003]


O texto de António Guerreiro, ao pretender analisar o movimento estratégico presente na pragmática da comunicabilidade discursiva dos blogs (considerada por alguns, uma nova gramática de contornos mass-mediáticos), aponta para a existência de uma bricolage, onde o bricoleur (bloguista) "fala por meio das coisas", mas sempre dentro do território do poder e dos seus encantamentos. Isto é, o novo fenómeno corporizado nos blogs não adquiriu, quer os instrumentos conceptuais necessários para o exercício da actividade, quer uma pregação noviciada que se afaste do mero registo jornalístico, que usa e abusa até à exaustão. Quer dizer: o discurso bloguista está muito além desse "longo movimento de aviltamento do poder", como diria Sartre. Daí que seja um "discurso inócuo" que navega entre uma ecologia de afectos públicos e privados, de mero "valor decorativo", "exibicionista". E, portanto, se o exercício discursivo dos blogs se entrecruza nos interstícios do poder (jornalizar enquanto investimento comunicacional), então nesta lógica, a "expressão individual" e o "direito à opinião" teria como fim uma intenção de "reconstruir" a competência e a performance dos media. Fica assim registado o dizer de António Guerreiro, que centrando a sua atenção narcísica sobre os efeitos do discurso, problematiza o território do poder fora do território do "corpo" (superfície privilegiada do registo cultural, no dizer de F. Gandra) e da sua fruição. Os blogs não seriam espaço conversável, linguagem ingente ou desejo antigo. Porém, nós, que acabámos de ser, uma hora atrás, miseravelmente squeezados num contrato de 6 Copas num redentor jogo de bridge, compreendemos a inquietude do corpo revoltado ou significante despótico, ou não soubéssemos que "há seduções tão poderosas que não podem ser senão virtudes" (Baudelaire)

domingo, 21 de setembro de 2003

DOS JORNAIS & BLOGOSFERA LUSA


- Atarefados andam os jornalistas indígenas com o "fenómeno blogáctico". É vê-los atarefados à volta do PC, sofrendo essa estranha doença da confusão, de tudo o que lhes é demasiado humano. Quase em apoplexia, ar lambido de voyeur, correm a blogosfera como em dias de folguedo. Para quem há semanas não soletrava a palavra blog, é obra. E afinal, ainda "ninguém viu o motor que produz a luz". As rápidas melhoras.

- O dever e o devir dos weblogs em Braga foi, ao que dizem, uma intensa actividade multidisciplinar e há muito ansiosamente esperada nos meios intelectuais da blogosfera lusa. Ao que consta o prof. José Luis Orihuela Colliva pretende anotar, registar, recensear, ordenar, catalogar, quotar, carimbar, apreciar, regulamentar, classificar, controlar, evangelizar a narcísica blogosfera. Eis uma psicopatologia da blogosfera inquietante. A outros competirá construir uma "teoria de resistência" , em auto-serviço, experiência limite da corporalidade e dos seus encantamentos. Até lá sigamos a tecnologia do Ego.

- Enganam-se aqueles que pensam que os génios não cometem erros, assaz comezinhos. Na verdade, as instruções aos neófitos e correlativos da blogosfera lusa levadas a cabo pelo JPP sobre um inominável blog, tem, com ironia, um efeito perverso. Nós próprios caímos em pecado venial, lendo as prodigiosas, insólitas e portentosas linhas desse inominável blog, graças a JPP. Pela desdita nos penitenciámos. Assim o mestre Abrupto, face às suas extraordinárias análises, também o fizesse. Mas cremos que estará mais interessado em catequizar os seus leitores que reflectir sobre tão inconcebível estratégia. Que o céu não lhe caia em cima, é o que se deseja.

- Vasco Graça Moura, estudioso da "Internacional Pirómana" prepara-se para dar à estampa três obras notáveis: Os Últimos Dias de Portugal, Imitado de Bulwer, Edições Choque e Pavor; Escudo Laranja ou dissertação histórica, escolástica e teológica em defesa dos injustos golpes da opinião pública, Typografia Laranjal; Alfabeto por ordem de materiais, e cronologia, dos assentos, ordens, cartas, alvarás, provisões, decretos e resoluções sociais-democratas atinentes às posturas de um verdadeiro militante, constantes de livros antigos e modernos, e transladado das ditas, Typografia O Emigrante.

- Arranja-me um emprego, pode ser em Paris, concerteza, ademais não temos de estar alapados nos cadeirais do vetusto Palácio, entre a gentinha, o povo e aquele senhor que não sei o nome que me convidou para deputar, que eu sou uma artista da TV e jornalista encartada, e até sei segurar as alfaias no Alain Ducasse, vestir Christian Lacroix e ler o Fígaro, que por cá é tudo gentinha, que eu sou uma artista, e mereço mais. E mais.

- Foi acometido de forte ataque o conhecido gastrónomo MacGuffin. Com uma espinha de Daniel-Sampaismo na garganta, cedeu de imediato o flanco nas lides liberais. Na altura do acontecimento preparava-se para atacar uma miga de sardinhas à moda de Berlin. Era o requinte esperado, que Berlin nunca amargou. Só os doces.

sexta-feira, 19 de setembro de 2003

PARABÉNS CHARLOTTE



Parabéns Charlotte! Saúde e fraternidade. Beijos mil.

Faz da tua vida em frente à luz
um lúcido terraço exacto e branco,
docemente cortado
pelo rio das noites


[Sophia]

quarta-feira, 17 de setembro de 2003

À VOLTA DOS BLOGS ... AINDA OS NEURÓNIOS DE PACHECO PEREIRA


A rapaziada do Barnabé, decerto por ter a liturgia e vitalidade trostkista abalada, esquecendo a célebre divida de Marx, De omnibus dubitandum, julga ter encontrado uma cesta de neurónios do Pacheco Pereira algures na Cedofeita, chez um membro da defunta OCMLP. Ora nada mais errado. Nem os possantes neurónios de Pedro Baptista o permitiriam, mesmo agora que os doou na sua totalidade ao seu FCP.

Os putativos neurónios pachecais há muito foram entronizados pelo (também) defunto PCPml. Nada de extraordinário. Seja como for, o que se pode assegurar nesta questão é que Pires de Lima (filho) pediu de empréstimo neurónios, que a vida politica puxa muito do peito, mas não sabe de quem. Eu próprio, por vezes, tenho essa estranha sensação. No meu caso julgo que se deve ao facto de ser conservador depois do jantar, como alguém sugeriu. Nada que uma noute festiva não corrija. Deo Gratias.

sexta-feira, 12 de setembro de 2003

LUGARES


Barnabé

... Quando o Barnabé [Daniel Oliveira / André Belo / Rui Tavares / Pedro Oliveira / Celso Martins / Rosa Pomar] cá chegou toda a gente arribou ... O almocreve torna-se, desde já, assinante e envia saudações

"O Barnabé é um blogue sobre política e cultura. O Barnabé não é um blogue intimista. O Barnabé é tão Narciso como os outros, mas tem vergonha na cara. O Barnabé é um blogue pós-narcisista. O Barnabé é um blogue de esquerda e heterodoxo. O Barnabé não é um albergue espanhol. É um hotel de seis estrelas."

DUELOS IMPREVISTOS

Mário Soares versus Pacheco Pereira, na Sic Noticias.

Soares reflectiu, enquadrou e interpretou o 11 de Setembro a partir de uma multivariedade de leituras, num registo discursivo anti maniqueísta, contextualizando toda a polémica em causa, do simbólico ao politico/económico. Foi brilhante. Por vezes magistral, porque incomodo (a referencia à China, quando PP configurava o terror do regime de Saddam, baseado nos assassínios políticos, é brutal). O prazer do debate é manifesto. Está-lhe na alma.

Pacheco Pereira sobrevoou algumas das questões inicialmente colocadas. Começou mal. Quando procurou clarificar a sua leitura dos acontecimentos, caiu facilmente no facilitismo, no maniqueísmo simplório. Afinal o que haveria era uma "guerra de civilizações", tout court. Os enquadramentos para tal suposição, pela sua inexistência, dissolvem qualquer discussão séria. Pacheco Pereira manifestou poucos argumentos frente a um Soares mais ideologizado, sendo que o que restou foi o seu incondicional apoio ao novo Sol do mundo, os EUA. Daí que se entenda a necessidade de vir em defesa dos novos construtores do império, citados por Soares (Strauss, Perle, Wolfowitz). E espanta, que Pacheco Pereira com a inteligência que se lhe reconhece e o desafio intelectual que em tudo coloca, não questione, com fundamentação relevante, esses discípulos straussianos que tem assento na Casa Branca.

segunda-feira, 8 de setembro de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


- AVISO: Ivan, regressado de Copacabana com luminosidade, faz saber que retomou à vida. Assegura que tem intenção de recrear o espírito com assuntos comezinhos como as invectivas da política caseira, o debate sobre o eixo do mal, a existência de um governo e (pasme-se) tricotará uma dissertação sobre a sua extraordinária vida XXI. Cansado de olhar para o seu umbigo, esmagado pelo peso da cultura de Nelson Rodrigues, avisa que vai tentar ser solidário, estimulando o umbigo alheio. Dá consultas.

- Por seu turno, o Abrupto paira entre os acepipes ornamentais de uma saborosa Ribeirada e o novíssimo debate sobre o trotskysmo. Este último, com o dorso alapado na IV Internacional (ainda existe?) tarda em sair da sua horta celestial. Espera-se uma corrida de "pablistas", "lambertistas", "mandelistas" e afins em prosa vernacular. Ó tempora, ó mores.

- Secret: assegura-se que o Blog de Esquerda será doravante escrito a uma só mão. Afinal "o silêncio só é louvável numa língua de vaca fumada e numa rapariga já sem esperanças de casar". Daniel, siempre!

- Admoestação: consta que foi severamente advertido, por mau uso de bushismo e porte blairiano, o conhecido MacGuffin. Assim aconteceu no redil do Fialho d’Évora, entre uma garrafa de Tapada de Coelheiros e uma perdiz, quando se invocou Berlin. Chegado o mestre, numa mão o Karl Marx, His Life and Environment (edição de 1939), na outra um raro vinil de Stravinsky, logo abriu o debate advertindo que "things and actions are what they are, and their consequences will be what they will be: why then should we seek to be deceived?", o que provocou arrepios entre os comensais. Depois de porfiada oratória em torno do pecado da carne, onde castigámos uma sopa de pés de porco à moda de Pavia, foi-nos dito: "A raposa sabe muitas coisas, e o ouriço apenas uma importante". Estremecemos. Como as noites são belas e a paixão imensa.

- Protestação: causou impacto no Sindicato dos Homens a Dias, a confissão de total desconhecimento por ag de um escritor como Luís Sepúlveda. A heresia, comentada na Mercearia Liberal, foi colmatada pela confissão que José Afonso teria sido um "bobo ideológico". A insolência serviçal verificada, apesar de mostrar que os funcionários aprendem vocabulário contemporâneo, revela porém que o obsequioso ag não tem em devida conta que Zeca Afonso (para os amigos), como antigo estudante de Coimbra, obrava sem sujar a capa. Tal capacidade operatória não é crível ser entendida por criados de servir zelosos. Recomenda-se-lhe a obra: "Tratado de botar águas fora sem molhar quem passa", obra útil a funcionários desatentos. Vende-se por pouco mais de nada.

sábado, 6 de setembro de 2003

SUAVES

- O Jornal da TVI da noite do dia 5 de Setembro foi uma náusea, um vómito completo. Não bastava todas as noites (e em todos os canais) estar presente protagonistas do processo Casa Pia, como agora a senhora Manuela Moura Guedes faz acusações gravíssimas a indivíduos que estão sob suspeita de crime hediondo. Apenas me espanta que a dita senhora não seja processada por quem de direito ou recambiada para a cela da PJ para averiguações, dado o seu conhecimento profundo e seguro de quem é quem em todo este processo. Mas suspeito que essa preciosidade do sigilo das fontes impeça tal acto pedagógico. E, doravante, sem que se questione a função do jornalista e da informação face ao media, é possível aparecer mais Manuelas acusando quem quer que seja. Eis a TV transformada, definitivamente, no Canal do Crime ou do Insólito.

- [Via Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo]

Diálogo entre Casanova e Goudar

- E gostamos de nós mesmos?
- Certamente.
- E se não gostarmos?
- Se não gostarmos de nós mesmos, monsieur, então estaremos perdidos, pois um homem que não gosta de si mesmo está repleto de dúvidas. Nós sobrevivemos e existimos porque somos verossímeis. Quando a equilibrista duvida ela cai. Quando o espadachim duvida ele morre. Devemos temer mais a duvida do que um estilete.

- [Via Alexandre Soares Filho]

"Toda explicitação do implícito é uma grosseria. A dança é uma explicitação da música. Toda dança é uma grosseria. A dança está para a música como o arroto para a comida."

"Há um culto a Woody Allen, em que ligamos o abajur num fim de tarde chuvosa, ouvimos What is This Thing Called Love, rezamos a Santo Loquasto, e imaginamos que beijamos Mariel Hemingway aos 17 anos"

quarta-feira, 3 de setembro de 2003

QUESTÕES SOBRE NOTAS A UM COMENTÁRIO

JPP em resposta ao que é lhe é sugerido a partir do Terras do Nunca, revela-nos o que pensa sobre um conjunto de questões pertinentes, algumas das quais já explicitadas noutros locais, concluindo em breve nota existir uma equivalência entre "posições neo - nazis às de partidos parlamentares como o BE". O que consistirá essa equivalência não nos foi avançado, quer pelo TN quer por JPP. Portanto, somos tentados (dado a falta de conceptualização) a pensar que se trata de certezas adquiridas, verdades de propaganda sem qualquer nihil obstat. Ora, nada mais complicado que esse receituário político, assim tomado. Não sendo nosso mister a análise dessa overdose de referencial ideológico-politico, gostaríamos de participar no thread com duas sugestões e comentários:

- ao considerar que pós colapso dos sistemas socialistas de leste se mantêm os mesmos conceitos matriciais rígidos esquerda-direita, relativamente a um centro ele mesmo suposto fixo, não se poderá compreender as profundas mudanças operadas, a questão do poder global/local, a alteridade do jogo politico, e, como tal, cai-se numa escolástica tradicionalista em que não se quer ver o mundo tal como ele é. Onde se situa a 3ª via de Blair ou Clinton? E Guterres, ou Cavaco, onde se colocam? E que dizer dos conservadores alemães e dos que se dizem portugueses? Onde mora a social-democracia portuguesa? Os socialistas? Os liberais? E a esquerda estatista? Ou a esquerda revolucionária?

- o fenómeno da globalização económica ou do espaço globalizado (que só consta como reflexão na cartilha da direita portuguesa a não ser como não-evento) transporta-nos ao sujeito global e assim redefine-se o campus discursivo da esquerda e da direita. Dum lado os "tradicionalistas", do outro os "modernizadores". Questões como a distribuição de recursos, ecologia, o papel dos mecanismos de mercado e do Estado, o ordenamento mundial e o Estado-Nação, a dimensão do espaço privado e público, o papel da comunicação e das novas tecnologias de informação, são linguagens presentes em todo o espectro politico. Como e de que modo se traduzem em politicas? Ora, julgamos que não é possível fazer essa reflexão sempre à maneira antiga, mesmo que o "espectro do marxismo" ande por aí. Para alguns, à maneira tradicional, ainda bem incómodo.

terça-feira, 2 de setembro de 2003

AMICUS FICARIA

Blog Figueirense - Eis mais um blog directamente da Figueira da Foz, o Amicus Ficaria. Com algum tempo no activo, esse mar de gente figueirense, diz-nos que é "o primeiro Blog Figueirense criado para discutir sobre o concelho da Figueira da Foz, o Distrito, a Regiao e Portugal". Coisa extraordinária, assim de repente. Mas, tasse bem. Boa malhação é o que se espera. Cá estaremos para contar.

sábado, 30 de agosto de 2003

À VOLTA DOS BLOGS, JORNAIS & OUTROS MAIS


- O texto (28/08) de Maria José Oliveira n'0 Público (Gazeta dos Blogues) é um exercício jornalístico curioso. A autora considera que há um debate político (e a modos que moderado ... tudo gente encantadora, é bom de ver) entre aqueles que apoda de "blogs politizados", todos bem intencionados a educar o mundo e que no seu mister esgrimem ideias para a crise, chaves e outras quinquilharias para acabar de vez com a crise da crise. Uma verdadeira e árdua "secção de pronto a pensar", digamos. Apesar de se saber que "tudo o que existe, não pode ser verdade", partimos, mesmo assim, em busca desse esperançoso corpus politikus que esses noviciados arautos proclamariam. Nada encontrámos que nos fizesse espanto, êxtase, gosto de olhar (em sentido freudiano), encantamentos redentores ou, mesmo lobrigámos, essa "crueldade lingual" que falava Pacheco. Apenas descobrimos uma "menopausa do espírito". O mito do debate/polémica nem "aparece nem desaparece: nunca acontece". Decididamente os Portas & Barrosos, os Guterres & Ferros, os Zé Fernandes ou os Graça Moura, não são de muita excitação, nem o novo melhoral contra o tédio da política caseira. Assim sendo - regressando ao texto - a prosa adocicada da jornalista leva, portanto, à consideração que o prazer displicente de outros "menos politizados", habitando na blogosfera lusitana, jaz estigmatizado à mesa do computador, pois muito mal armado está pelos Thomas Mann, Joyce, Dostoiewsky, Pessoa, Cesariny, Herberto, Gabriela Llansol, Derrida, Bourdieu, Espinoza, Giddens, Deleuze, O'Neill, Pacheco, que sei eu. Como as "massas" gostam de aparatchiks "politizados", temos de ter paciência, porque "nunca tivemos atados os tomates a nenhuma manjedoura" (Jorge de Sena). Vale!

- [sacado do Aviz]

"(...) Desconfio daqueles que vêm educar as massas e arrebanhar multidões (acho o proselitismo muito discutível). Desconfio ainda mais daqueles que se vêem investidos da missão de «acordar consciências» para pôr toda a gente a discutir e a «debater». Aqui deixamos o que queremos e só somos julgados por isso. Acho bem que existam blogs que citem, citem, citem, que exponham as suas paixões e que escondam os seus amores. Tudo se nota, quando é escrito. Escrever profundamente é mostrar os lugares da paixão (a paixão, a divergência, o ressentimento, o amor, a delicadeza, a tranquilidade), mas só quando se quer. Muitas vezes é só insónia. Só perguntas: e a noite, o que é? — por exemplo." (FJV)

- " (...) o factor mais importante para explicar muito do que se passa hoje no Iraque não é a "ocupação" americana do país, mas sim a verdadeira revolução social e política que esta provocou – o fim do poder hegemónico da minoria sunita face à maioria chiita". [in Abrupto, com o JPP em versão marxiana sobre "o poder". As saudades que eu já tinha!]

- "(...) Assim como grandes repórteres investigativos podem ser cronistas sofríveis, o facto de que tenho o poder de inaugurar minha página na Internet não deve me levar a concluir que tenha alguma coisa a dizer. Já vi ótimos comentaristas culturais que, deixados a sós com seu brinquedo, o blog, transformam-se em Narcisos pueris (...)". [via A Carta Roubada]

- um "blog optimista sobre o Benfica", eis o Nietzsche & Schopenhauer. Daqui, do castelo altaneiro nas margens do Mondego, mando um forte e caloroso abraço [via Aviz]

- para especialistas curiosos: "Schwarzenegger's Sex Talk", in The Smoking Gun

terça-feira, 5 de agosto de 2003

MACGUFFIN - O PROF.


No dia 4 deste mês, o putativo MacBloguerGuffin pensou durante um jantar, esta extraordinária, mas acertada pérola de Nelson Rodrigues, o guru:"Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio. Há toda uma massa de frases feitas, de sentimentos feitos, de ódios feitos". É bom durante repastos assim, tão confabulativos, pensar (suspirar) em Nelson Rodrigues.

MacGuffin o bloguista não é desses que fala Nelson. Nada disso. MacGuffin tem sempre opiniões sólidas, apessoadas, não assistenciais. Por vezes foge-lhe a chinela intelectual para esses pequenos ódios de estimação que existem dentro de cada um de nós. Mário Soares é um deles, como podia ser a viúva-alegre ou o Antunes da mercearia, é bom de ver. Nada de extraordinário. O que é espantoso são as tiradas a favor da corrente do liberal MacGuffin. Tomemos nota.

- "(...) tenho sérias dúvidas que em Portugal, um país que viveu durante 34 anos sob a doutrina castradora, proto-socialista e paternal de um homem de Santa Comba Dão (...)" [um verdadeiro incêndio literário, é bom de ver]

- "O que será, então, o Dr. Mário Soares? Depois de consultar vários compêndios, achei: o Dr. Mário Soares é um "quisto sebáceo". [uma reprimenda anatómica verdadeiramente liberal, claro]

- "Cara Maria Manuela: foi um prazer ler a sua carta e perceber que existe gente com espírito conservador, tal como eu o imagino. (...) O dogmatismo e a presunção de uma certa esquerda - sempre pronta a catalogar e fazer uso dos 'slogans' - não escolhe idades." [a arqueologia do tédio no pensamento MacGuffiniano]

- "Este ano já arderam 80.000 ha, dos quais 54.000 «apenas» na última semana. Leram bem: oitenta mil hectares. Ontem, combatiam-se 522 incêndios, espalhados um pouco por todo o país. Leram bem: quinhentos e vinte e dois." [a elegante matematização no seu esplendor filosófico]