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sexta-feira, 1 de agosto de 2003

ANOTAÇÕES

- FJV pergunta “o que fazem as Câmaras com os livros?”. Decerto, depois da devida catalogação, os põem à disposição dos leitores. É isso que se espera. Compreende-se que algumas não têm apetência para tal. Mas, é sabido que nalgumas bibliotecas da província o cuidado e o conhecimento (andam sempre juntos) são excelentes. Caso de Cantanhede, Figueira da Foz. O que é revelador que alguma coisa mudou, e para melhor.
Uma outra questão, bem curiosa, era seguir a trajectória de doações de bibliotecas particulares, algumas com espólios interessantes ou mesmo de alguma raridade, a diversas instituições de utilidade pública, bibliotecas, etc. Pelo que sei, além de desaparecimentos suspeitosos, os felizes possuidores da doação, depositam os livros, quadros, fotografias, numa qualquer cave ou sótão, ficando por lá anos a fio, e quando por acaso alguém vai ver o seu estado, deparasse-lhe com o espolio doado completamente estragado. Como não podem vender, resta-lhes atirar para o caixote do lixo os livros e documentos. Afinal, quantos espólios se perderam dessa maneira?

- MacGuffin regressou esplendoroso. O seu WITTGENSTEIN VS. POPPER estava uma delícia

- Um texto estimulante de Alexandre Franco de Sá sobre o conservadorismo. ("Porque, no conservadorismo, não há propriamente uma posição. Para a ter, ser-lhe-ia necessário ter um topos, um sítio, uma radicação num lugar, o que é justamente aquilo que lhe falta" ). Ficamos à espera da replica dos neocons. Talvez depois se possa, de uma vez por todas, estabelecer as destrinças entre o conservador e os seus neo. Espero é que não se esgrima a ideia, como hoje teve um conhecido analista da nossa praça (na Sic Notícias), de tentar definir o neoconservadorismo americano como um lugar de um "não-lugar", sabido que os seus profetas vieram da extrema-esquerda americana. Vamos esperar.

- Dois belíssimos textos no Reflexos: Indícios e Adulto. Copy-paste obrigatório.

domingo, 27 de julho de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


* Pacheco Pereira e as "Criticas que (me) levam a pensar duas vezes" - Dizia Raul Proença que "na critica nunca vai um ataque a pessoas; divergir em ideias não é sentir a raiva no coração; é sentir a independência do nosso juízo". Nada mais exacto.

E ao ler o que um leitor do Abrupto (Carlos Queirós), citado no blog, considera em torno do comentário de JPP ao "caso Berlusconi", tive a certeza que essa independência de que fala RP não pode resultar em pessoas, que de modo mais ou menos subtil, "se entricheiraram num campo, e que ficam inibidas de pensar, ou de se expressar com total liberdade" (CQ). Como me parece ser o caso de alguns escritos de JPP. Do mesmo modo que CQ, também eu parti para a leitura do artigo tentando saber como é que JPP o ia defender. E, como em escritos de outros colunistas, "mete impressão" tal exercício. Pode ser estimulante, mas não devia acontecer.

Confesso que alguns articulistas fazem parte da "nossa" família. Acompanhamos as suas intervenções, estamos atentos ao que nos sugerem, seguimos-lhes o percurso, o jogo e a vida. Todas as semanas nos jornais, rádio ou TV. Os registos afectivos são sempre assim. Por isso os lemos. Não há nenhuma dedicação especial no facto, mas tão só a constância da presença de uma revelação comunicacional que desvela a gramática da vida: aquilo sobre que falamos com o outro. Que passa sempre por essa ponte sólida entre o saber e a liberdade. Ora, à primeira vista o horizonte de JPP esbate-se contra essa assumpção, mesmo que sugira um saber contra o(s) poder(es). O caso da invasão do Iraque e seus contornos imperialistas, que conduziu a administração americana a uma situação de violação total dos direitos e garantias do ser humano, mesmo no seu próprio país, foi o culminar dessa apologética argumentativa utilitarista que JPP esgrimiu, para nosso desprazer. Nem é preciso recorrer a exemplos da política caseira para afirmar a nossa preocupação relativamente a essa inibição de falar e (des)dizer em liberdade, que nos fala CQ, e que está presente em muitos dos nossos analistas. Basta saber quem são e do que falam.

Verdade seja dita que JPP é um caso à parte. Parece-nos existir dois JPP: um que é militante do PSD e outro que fala e escreve de coisas que gosta e ama, referidas com paixão no seu blog e nalguns textos de jornais. O que nos levou a sorrir, quando no penúltimo Expresso o vimos caricaturado daquele modo (e que não resistimos a publicar), em isolamento suspicaz, perante o anedotório de outras personagens. JPP é dos nossos, mas de qual falamos quando falamos de JPP?

[A ilustração de JPP é de António Martins (com Mário Ramires), retirada do Expresso, 19/07/2003]

"Sim, meus senhores, a Imprensa portuguesa, a grande Sacerdotisa, já não acha sabor algum neste verbo: orientar, o seu verbo hoje é outro; é seguir.
Seguir! Eis a grande descoberta que eles fizeram. Seguir, ser transportado no fluxo dos acontecimentos, como um folha que redemoinha ao vento. Não sentir dentro de si nenhuma espécie de resistência espiritual, nenhum centro de gravidade, nenhuma obstipação sagrada e profunda, mas ser como a pena que obedece ao sopro quási insensível dum bebé, e aí vai na atmosfera (...) Seguir, não ser autónomo, ser massa, prazer supremo, - ir na corrente que leva os outros ...
Não pergunteis, pois, aos jornalistas de grande «circulação» o que é que eles pensam. Eles não pensam - circulam. Circulam, vão com os outros, seguem. De aqui em diante não lhes pergunteis mesmo: «Como vai o senhor?», mas: «Como segue o senhor?». Porque na maneira de seguir é que está toda a higiene do espírito. Almas sem nenhuma espécie de profundidade, que passam a vida a fazer gestos vãos, cabriolas, retórica, lindezas, jogos de palavras, - almas sem paixão, almas sem existência séria, grave, profunda, almas áridas e pobres onde as ideias, os sonhos, as paixões não criaram raízes, - almas de contrabando, de prostíbulo, de quem-mais-dá, de aluguer, eles só possuem hoje um instinto: o do desfile; um prazer: o do acompanhamento; um espectáculo em que desejam colaborar e fundir-se: o da procissão. Nem por um só momento eles poderiam vislumbrar a pureza da atmosfera que respira uma rude alma solitária. Fundem-se os sinos, tocam os sinos - e ei-los na rua, à primeira badalada, a caminhar em série, a ir com os outros, a seguir. Neste sentido, que é o mau sentido da palavra, o jornalismo português é o mais «democrático» de todos os homens - quere dizer, o mais desprezível
."

[Raul Proença, O Ultra-romantismo politico do Diário de Noticias, Seara Nova nº 265, 1/10/1931]

terça-feira, 22 de julho de 2003

VOX POPULI



* Faz-se saber ao publico que José Manuel Fernandes prepara copioso ensaio, com prefácio desse exegeta blairiano Pedro Lombas, intitulado: "BBC não foi económica com a verdade ou as 3 Fontes". Á venda na Typ. Liberal.

* Avisam da Catedral da Luz que está em curso a subscrição a favor da compra do undécimo jogador para os necessitados de Alvalade. Basta de miséria!

* Top Posts - Foi o máximo o Top Posts do Valete Frates. 6 Posts 6 estimulantes. Como cortesia aqui deixamos pistas para próximas novidades: "Onde canta o bloguista, gagueja o jornalista"; "Força! Força companheiro Bush"; "Pedimos desculpa por este post, o blog sai dentro de momentos"; "Blair & Campbell com batatinhas fritas"

* Mata-Mouros pretende conhecer inconformistas liberais para troca de impressões sobre fadas, génios e encantamentos. Traz camionetas do país profundo.

sábado, 19 de julho de 2003

SEMINARE SEMEN



Como está admirável a blogosfera. Como são tão delicadamente militantes e de muita estimação, os nossos bloguistas. Não se trocam contra reclamações. Hoje rumei por todos eles. Cá no burgo e na estranja. Fomos bem aventurados. Ficámos com um rasto luminoso na alma. Fomos felizes.
Não nos apetece dizer o que quer que seja. Hoje ficámos com a "emoção presa na garganta". Presumimos, depois, que a hora era de companhia. Fomos cavalheiros.

Diremos sobre a blogosfera, tendo em conta o que o Aviz e o Abrupto incomodamente referiram, o que noutro contexto Herberto Helder escreveu:

"Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam
de um lado para o outro, e encontravam-nos, a eles, ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos
como seus, e eles eram seus de verdade. As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído.
E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso. E não devemos malquerer às mitologias assim, porque
são das pessoas, e neste assunto de pessoas, amá-las é que é bom. E então a gente ama as mitologias
delas. À parte isso o lugar era execrável.
"

[Herberto Helder, in Revista Via Latina, Coimbra 1991]

quarta-feira, 9 de julho de 2003

BOAS


De regresso, fico estupefacto com tantas novidades em tão poucos dias. Isto na blogosfera. Porque o país e o mundo estão na mesmíssima posição (perigosos à maneira de Pulido Valente).

- Direi que o fecho do Blogo não é aceitável. E como tal, proponho uma manif bloguista contra a decisão do(s) mentor(es) desse importante espaço que agora desaparece. Não há substituição possível. Volte ao work, já!

- Fiquei comovido pelo bestial figurino do amante de Berlin, o nosso caro MacGuffin. Rodeado de livralhada, a mão docemente segurando o peso da teoria liberal, o Carlos deu a cara no Contra a Corrente. Fez bem. Cada um dá o que pode. Só lamento que em vez de referir o ar “de puto” que supostamente tem, não termine o MacGuffin com a velha máxima de Baudelaire, “A verdade enfática do gesto nas grandes circunstâncias da vida”. Dava uma atmosfera mais erudita.

- Lemos com o recato possível, sem ousar corar por uma única vez, a crónica da Charlotte em estylo maviosamente Carlos Castro (como sugere o JPP) sobre a elegante e cuidada reunião da UBL. Post de impressões (in eternum manebit et ultra) é um curioso documento para a história da blogosfera. Ficámos sabedores da inteligência do Lomba (a juventude é um mystério), compreendemos a timidez Mexiana que depois é transposta para a poesis com sucesso, também concordamos que O Intermitente deve ser castigado, enquanto os giros De Direita não por serem giros. Até aqui tudo bem, mas quer no post da piedosa bloguista Charlotte, quer naquele outro do Pedro Mexia, nada nos é dito sobre os pormenores da desbunda gastronómica havida, nem nos é referido as sinopses das comunicações proferidas, pelo que suspeito deve ter ocorrido o que o narrador de Fradique Mendes nos diz: “Nada de ideias! Deixem-me saborear esta bacalhoada, em perfeita inocência de espírito, como no tempo do senhor D. João V, antes da democracia e da crítica».

terça-feira, 1 de julho de 2003

FESTA DOS TABULEIROS


Não me apetece escrever. A Net está tão bem nutrida que um tipo se perde nela, alegremente, enquanto cai a noute.

Poderia dar um bravo pelo texto do Daniel Oliveira no Público de hoje. Espantoso de força, pertinente nos argumentos. Arrasador. Ficámos, porém, preocupados dado a dama de Matos ser nossa cliente desde sempre. Nunca perdemos uma boa gargalhada com os paroquiais textos da senhora. E, também, suspeitamos que possa andar amancebada intelectualmente com o profeta César das Neves. Que tal um "Breve Tratado da Raiva", ó dupla maravilhosa?

Assim, fica para amanhã referir a FESTA dos TABULEIROS, ou FESTA DO ESPÍRITO SANTO, que acaba no próximo fim de semana. A não perder em Tomar. E, já agora, alumiadas as almas, será sempre útil castigar o corpo com a gastronomia local.

segunda-feira, 30 de junho de 2003

À VOLTA DOS BLOGS

- Memória Inventada é assim: abriu as portas do seu blog a "desenhos, vinhetas, pequenas animações e aguarelas” dos leitores. Boa malha! Ficamos à espera de revelações.

- Rui Knopfli em Obra Completa. Leio no Aviz que leu no Desejo Casar que ouviu no Acontece. Nestas coisas é bom passar palavra. Les bons esprits …
On line: "O tema da escrita em Memória Consentida de Rui Knopfli", por José Maria Aguiar Carreiro; Bibliografia na "À Esquina do Mundo", page de António Cardoso Pinto, onde pode ouvir poesia dita por A.C.P. do livro de R.K. , “O Monhé das Cobras”.

- José Mário diz-nos:"quem esperava sangue a correr pelas ruas, rasgar de vestes ou gritaria" na resposta, publicada no DNA a Pedro Rolo Duarte pode ficar desiludido. Homessa! Quem esperava tal? Nós sempre pensámos, como Karl Marx, que a "humanidade não põe questões que não pode resolver". Pode-se é ficar a pensar que, e afinal, os nossos revolucionários revelam que "já não há senhores, apenas escravos comandam outros escravos". Bem nos dizia Deleuze & Guattari.

- O esteta da Contra a Corrente, título assombroso e excelente paradoxo da pós-modernidade dado os interstícios ideológicos onde navega, anda cada vez menos Berlin e criativamente mais pela poesis. O problema é que entre as politicamente correctas reflexões sobre toiros e tourada e a arte poética avassaladora que posta, fica o vazio liberal. Estamos a ficar preocupados.

- Simplesmente genial a "INTRIGA NO MUNDO DOS DOURADINHOS".

sexta-feira, 27 de junho de 2003

AINDA ... SOBRE UM POST

O excelente Socio[B]logue de João Nogueira refere-se a nós num texto intitulado "Socioblogosfera: um Retrato Singular". Estamos gratos por isso. E, porque julgamos que não fomos esclarecedores em post anterior, voltamos a replicar para que se não instale entre nós qualquer "cisma na alma" (Tonynbee) e no desejo de se saber do que se fala nestes dizeres por nós enunciados sobre a blogosfera, agora tomada como locus de inscrição de outras cumplicidades e de novas problemáticas.

Trata-se de reflectir, a partir do espaço que a Internet (novo espaço antropológico por excelência) veio preencher, num conjunto de questões que a dita blogosfera (e o seu discurso) enuncia e da contribuição (modesta que seja) para a reinvenção de uma "racionalidade comunicativa" que permita aceder à "desconstrução" do paradigma. De outro modo, diria que é necessário referenciar alguns aspectos que a especificidade da blogosfera transporta e veicula enquanto confluência de uma intensa rede de interdependências (onde a blogosfera é, de facto, uma pequeníssima parte), tomada como novo topos de comunicabilidade, mas onde se entrecruzam, sempre, diferentes discursos (da tecnociência à sociologia, da economia à política) e sujeitos.

Não sendo nosso mister descortinar qualquer linha de água conceptual nesta área, até pela nossa impreparação científica, pode-se no entanto alinhavar duas questões, que julgo pertinentes, a saber:

- seguindo o trabalho de Lídia Silva (citada anteriormente), assume-se que a Internet "veio introduzir a metamorfose do conceito de território", com "mudanças estruturais potenciadas pelos suportes tecnológicos" (duplicação e divulgação de informação; bidireccionalidade; emissão multiponto; dimensão planetária da comunicação;...) que de algum modo "tem conduzido a uma reorganização dos fluxos de informação e dos procedimentos comunicacionais". Ora essa nova territorialidade urge compreender para descodificar, já que se pensa sempre a partir de um território interiorizado e familiarizado (geografia telemática). Como se nota, está já longe a controvérsia entre os apocalípticos e os integrados em U. Eco. E mais perto do corpo, território despótico, lugar do poder e da sua sedução.

- de outro modo, inútil referir o dizer de Lacan quando nos diz que "o sujeito está lá onde não tem consciência de estar", remetendo para que o "sujeito da comunicação" (Beneviste) está envolto num campo de teoria de jogos comunicacionais onde a circulação da palavra tem uma função reguladora. Assim sendo, o "jogador" deve perder-se nele (jogo) e o "jogo ultrapassar o jogador". Isto é, "jogar é sempre ser jogado" (Gadamer). Donde, pode-se estabelecer a articulação entre o sistema comunicacional e as estruturas do poder, isto se aceitarmos que no "reino das mercadorias" a utilidade (felicidade) dos sujeitos e do seu bem estar, é quantificável (a informação, a cultura perdem conteúdo na apropriação) e logo o consumo legitimado pelo manuseamento das NTI é, em si, factor de prestígio e de poder. Ora, é reconhecido que, no seu campo específico, o investigador/docente não domina a linguagem tecnológica (linguagem-máquina) o que é um sério obstáculo que o impede de partilhar o poder (académico/simbólico) que detém no campo do saber. E é aí que tudo se joga. Percebe-se, pois, as reticências reveladas por quase todos os docentes e investigadores no manuseamento das NTI. E daí o meu espanto quando se pretende que os docentes/investigadores "migrem" para este novo espaço comunicacional e ao mesmo tempo possam manter intacto o seu poder.

segunda-feira, 23 de junho de 2003

DO PRINCÍPIO DA REALIDADE AO PRINCÍPIO DO PRAZER

«(…) seria interessante ler blogues de outros cientistas sociais como António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, não?» [JN, Socio[B]logue]

Acabo de ler no blog de João Nogueira, um curioso exercício laudatório ao blogar enquanto um noviciado espaço sociológico a não perder, que permitiria o construído de uma nova «gramática» discursiva a partir dos espaços ou dos interstícios presentes na blogosfera. Está, assim, assumido que os blogs (e a sua sedução) podem ser um campus de analise «cientificamente analisável», novo investimento sociológico que, a partir de registos conceptuais de rigor, possa aceder aos liames de uma problemática sociológica dita interessante. Daí que João Nogueira acredite, piedosamente, que a overdose de blogs caída sobre as nossas cabeças, permita que os cientistas do social deixem a parcimónia dos seus maples escolásticos, saiam do seu altar iluminado e iluminante, e corram para a desconstrução do real e do seu simulacro.
Mas nós tememos que esta nova comunicabilidade, expurgada da «ideologia dos dons» escolásticos que os cientistas sociais interiorizariam, levaria ao abando da constante acção de controlo social disciplinar, onde a confusão entre o trabalho curricular e não-curricular surgiria, o que seria manifestamente perigoso e, logo, de pouca aceitabilidade.

É evidente que blogs de António Barreto, Manuel Villaverde Cabral, Paquete de Oliveira ou Boaventura de Sousa Santos, seriam «socialmente úteis» e espaços conversáveis por excelência. Mas a questão é bem outra: porque razão os docentes universitários portugueses e as Universidades em geral, manifestam o mais completo desprezo pela utilização das novas tecnologias de informação, sendo raro encontrar páginas (ou blogs) sobre os seus docentes e os seus trabalhos académicos? O que no estrangeiro é absolutamente normal, por cá, a resistência aos novos modelos comunicacionais que as NPI permitem é elucidativo da não aceitação desse novo «espaço público», ou nova Àgora (Lídia da Silva, U.A.). E, assim, é de louvar essa «moral de prazer» que, ao comportar riscos vários e muitas vezes «iniciações» conflituosas, alguns bloguistas como JPP, JN, FJV, NM, VA, bem como os nossos jornalistas bloguistas, souberam defender, sem submissões.

Ou como diria René Char, é verdade que «o desejo de saber, é sempre o desejo de saber sobre o desejo».

quinta-feira, 19 de junho de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


Continuamos a tomar nota dos blogues, que o esforço permite. De repente, sem avisar, regressa o Pedro Mexia (espera-se que sem a poesis costumeira) e irrompe Francisco José Viegas, o que levou a minha tribo a dar gritos de contentamento (o poder das mulheres é cada dia mais complicado). Nós temos, há que dizê-lo, um misto de amor/ódio pelo Mexia. Mexe-se bem (dizem as más línguas, claro), satiriza com elevação, é bestialmente conhecido no DNA, dá conferências em grupo, fragmentos ensaísticos em linguagem pura e elegante, escreve despudoradamente bem. Veio só, ou abrindo caminho com a eloquência e o manual de etiqueta no bolso. Como somos leitores encartados, pode crer que não perdemos uma.

De Aviz, Francisco. Sempre foi, cá em casa, de grande estimação. A revista Ler foi (é) inolvidável. Corremos logo para a estante, para sacar o “Lourenço Marques”, ainda não lido, nem sequer à la Marcelo, diagonalmente. Mas agora temos Francisco à tecla. E não esqueceremos.

quarta-feira, 18 de junho de 2003

PARA O ABRUPTO ...

Para o Abrupto, seguido de vénia:

«Já Voltaire disse um dia a Luís XV que um rei precisava de coleccionar qualquer coisa, como curiosidade e alegria do espírito. Parece que o filho do rei Sol lhe respondera.

“A única coisa que vale a pena coleccionar são mulheres. E mesmo isso tem mais de curiosidade do que de alegria”. Seja como for, todos nós coleccionamos qualquer coisa, mesmo sem dar por isso. (…) À parte a preocupação mundial de coleccionar selos e moedas, borboletas e caixas de fósforos, rótulos de hotel, bengalas e garrafas, existem alguns persistentes maduros que reuniram famosos agrupamentos de armas, espadas, azulejos, livros de memórias, baralhos de cartas, autógrafos, leques, caixas de rapé e até escovas de dentes célebres. Um amigo nosso, valenciano de alta categoria diplomática, possui um volumoso álbum de desenhos de touros, com especial particularidade de estes serem vistos e desenhados por toureiros. São, evidentemente, sanguíneas.»

[in, Corvos, Leitão de Barros e Abel Manta, Vol.II, E.N.P., s/d]

terça-feira, 17 de junho de 2003

BLOGS, "CLOSER" E MEC


«Se eu vos disser que não me lembro de andar tão excitado desde o meu contrabando da matriz do "Closer" dos Joy Division, escondido numa fita que dizia "Grupo Folclórico de Monção" na caixa, talvez fiquem com uma ideia de como ando entusiasmado com os blogues portugueses».

Começa, assim, o texto de Miguel Esteves Cardoso no DNA último e que está disponível no Pastilhas. Lembrei-me logo do Padre António Vieira, quando dizia que «a maior saudade é a da vida». Tinha razão. E estou a ver o Miguel com «as fitas matrizes de ‘Closer’ num saco de plástico da Sapataria Lisbonense» (Escrítica Pop, Miguel Esteves Cardoso, Querco, 1982), para imaginar o gozo que sentiu. Com um sorriso, cúmplice, de Vieira. E nosso, já agora!

«’Closer’ é limpidamente belo – tem a transparência silenciosa da solidão, sem nunca se transformar em auto-compaixão ou sentimentalismo. É o momento em que nos damos fé duma tristeza insolúvel, e da futilidade de a conhecer. Não há revolta – apenas um lento despertar, corajosamente assumido e aceitado. O encanto principal dos Joy Division não é o virtuosismo, ou sequer a criatividade da música – é, sobretudo, uma inesquecível sinceridade (…)» (op.cit.)

Não há qualquer «messianismo» ou nostalgia, olhando para trás. Apenas o gozo que a libido ainda nos permite. E o blogar não é mais que isso mesmo. O prazer de encantamentos mil, livre e liberto. Ou modo de estarmos vivos. Ainda.
Mas, se nenhuma leitura é inocente, e algumas são mesmo perversas, a decifração ou desconstrução das linguagens e discursos presentes no «território» da blogosfera, exije meios de inscrição conceptuais, que permita aceder à «provocação» que o movimento da blogosfera faz aos velhos medias e a todos nós, intervenientes e leitores. Porém não é, ainda, o tempo de os blogs serem «objecto cientificamente analisável», embora se comece já a notar algumas fissuras na rede de interdependências que o discurso deste novo medium configura e que aos media institucionais (des)legitima. Alguns blogs deixaram argumentação - Abrupto, Pastilhas, Mar Salgado, Blog de Esquerda, Montanha Mágica, Gato Fedorento - sobre a matéria. Temos alguma dúvidas, mas o que nos interessa salientar são os seguintes pontos nodais, a saber:

- as novas tecnologias de informação contaminam toda a cultura, nivelam o imaginário de todos e conduzem a novas formas de sociabilidade, no sentido das «tribos» em Maffesoli. As redes de «unidades sociais afectivas» contra a desconstruções dos afectos, só podem decorrer a partir das condições materiais de existência (Marx ou Bourdieu).

- o dizer de Maffesoli, quando refere «uma cultura de sentimento» num «presente vivido colectivamente» e que a Internet transporta, muito bem, dado que o simulacro se cola ao real, habita essa «comunidade emocional». E, aí está a União dos Blogs Livres, ou a listagem classificada nalguns blogs, todos diferentes, porém todos iguais.

- poderá esta «socialidade» moderna ('presenteísta, tribal e estética') provocar uma guerrilha com os media? Que reencantamento encontrar num veículo comunicacional que destabilizaria (como alguns assumem) a organização e os conteúdos jornalísticos?

- a «estetização da vida quotidiana» (Featherstone) invade todos os saberes, tornando-os tecnicamente utilizáveis (circulação de imagens, textos, signos, …). Este jogo tecnológico – de sedução plena – presente nos intervenientes da blogosfera conduzirá a um novo mercado de «signos-mercadoria», a outro negócio? E se sim, então o saber cairia (sempre assim foi ou será?) ou existiria, apenas, como valor de troca, ou mercantilização do saber através das competências ou performances operacionais.

- o jogo comunicacional (destinatário/ destinador) é uma relação desigual, dado que na falta de regras não haverá «jogo». Outros jogam pelo prémio do «jogo» e não mais pelos simples «jogo», gozo ou fruição. A chegada à blogosfera de militantes partidários, é disso prova.

- um controlo disciplinar exercido por alguns (simbolicamente, sò que o seja) permite estratégias de sobrevivência, numa lógica de cuidado curiosa nalgum discurso bloguista. Afinal o putativo «umbiguismo» e a lucidez dessa praxis discursiva, é isso mesmo. Ritos de passagem? Rituais perdidos?

Enquanto a problemática ganha o fedback necessário para uma «gramática» blogosferiana, fiquemos recostados nos maples,em auto-serviço, fazendo espaço conversável. Se nos permitirem

terça-feira, 10 de junho de 2003

LUSITANA ANTIGA LIBERDADE


Lusitana Antiga Liberdade

Eis que arribou à blogosfera Henrique Barrilaro Ruas, li no Santa Liberdade. Faz tempo que não leio nada dele. Lembro-me esse espantoso texto sobre Santa Maria de Seiça, publicado na Cultura Portuguesa. E a soidade regressa. Seja bem vindo Henrique.

«Terras por onde passa (a meia hora) a linha dos comboios e, um pouco mais além, a estrada de Lisboa ao Porto não podem ser terras de ceara farta do Espírito. A não ser, meu Deus, que seja certo que o Espírito sopra donde quer e para onde quer. E pode ser que lá venha o dia em que novos Povoadores e novas Cisteres, como os outros que despertaram dos séculos de ferro, tragam de novo a bênção. Já nem sei se de azeite, de vinho, de broa e de carqueja, de tojo e de giesta, de caça miúda e de couves mais altas que um homem - mas de Alegria, Senhor... Da alegria que nasce de um coração que aprendeu e compreendeu a antiga e veneranda regra:"Ora et labora!

[SANTA MARIA DE CEIÇA, in, Cultura Portuguesa nº 2, Janeiro-Fevereiro de 1982]

segunda-feira, 9 de junho de 2003

É A CULTURA ESTÚPIDO!

Leio e assino, por baixo, o que o Contra a Corrente diz com seriedade:

«A blogosfera é, acima de tudo, um espaço de liberdade onde, cada um, alinhava uma espécie de diário inconsequente, sobre os mais diversos temas: política, amor, literatura, futebol, cinema, suinicultura, etc. É um espaço de comunhão, afectos, humor, vaidade (muita vaidade!), ódios. É um meio de comunicação efémero: não sendo palpável, como o são as folhas de um livro, jornal ou revista, nem um recorte se guarda. Vai tudo ficando para trás, por entre links e links de arquivo, que nunca mais se lerão. Terá o seu tempo, que pode ser de meses, anos ou décadas. Não é alternativa a nada, nem se substitui a nada. Como dizem os políticos, em relação às sondagens, “vale o que vale.”».

Absolutamente de acordo.

domingo, 8 de junho de 2003

AGRADECIMENTO AO FUMAÇAS


Com especial enlevo quero deixar ao João Carvalho Fernandes, do Fumaças, um agradecimento sincero , pela atenção que nos dedicou. Se bem que pensemos, que o JCF é bem melhor a dar-nos dicas sobre a nona arte (a gastronomia, como diria Forjaz Sampaio), vinhos de perdição e sobre puros (Será JCF pró-cubano confesso, como espero?), do que a interpretar a degustação da política nos tempos modernos (já se vê que estamos noutro lado da mesa), ficariamos mal se não lhe prestassemos uma justa atenção. Com tempo, depois do Verão, lhe darei uma listagem de livros de cozinha antigos ( o Zé Quitério é fundamental, mas bem recente), que fica sempre bem num blog de mesa e escritos como o Fumaças.
E como castiguei, ao jantar, uma Quinta de Vale Meão, aproveito para com ele saudar o JCF, dizendo como o velho jornalista e bibliófilo Cardoso Martha:

«Da vida sábia e sem perda
Melhor exemplo não topo
Que um livro na mão esquerda
E na mão direita um copo.

Com igual fervor constante
Tua mão colide e agrega
Bons livros, na tua estante
Bons vinhos, na tua adega!»

sábado, 31 de maio de 2003

À VOLTA DOS BLOGS


Confesso que há blogs para todos os gostos e feitios. Truculentos uns, gratulatórios outros, dissidentes todos. Alguns poéticos, outros instruídos pregadores da mocidade, outros ainda pasmados de tanta informação. Dá gosto lê-los, que nem todos podemos ser intelectuais. Hoje, fui ler os ditos.

- Contra a Corrente - óptimo discurso recitado pela paróquia de Isaiah Berlin. O Carlos estudou Berlin mas não pratica. Opina como qualquer anti-liberal sobre valores do Estado, hierarquizando-os como um maltrapilha social anti-individual, toma partido. Berlin não foi, aqui, totalmente, digerido. Á parte isso, tem um bom gosto na música que ouve. Ao menos nisso, é coerente. Afinal misturar perigosos Miles Davis, Stan Getz e João Gilberto, num perigoso pluralismo musical, é corajoso, é tolerante num adepto de Isaiah. Bom blog

- Fumaças - A direita liberal que descobriu os 'puros'. Ali estão eles, fálicos, ao gosto de João Carvalho Fernandes. Quando jogar bridge e praticar desporto líquido (como diria mestre Baptista Bastos) estará instruído. Não exigimos Batuta, pode descansar. Pode começar por prazeres mais terrestres e menos burgueses. Bom blog

- Janela Indiscreta - De muita estimação. 6-bloguista-6 prudentissimos. Com informação e fruição q.b. Um achado, o que juntamento com o anterior referência que tinha do umblogsobrekleist, já dá 2 blogs a não perder.

(continua)

quinta-feira, 22 de maio de 2003

À VOLTA DOS BLOGS

À Volta dos Blogs

Como hoje o tempo foi de maçada, resolvemos bolinar de encontro aos vários blogs que copiosamente, aqui, encontramos referenciados. Começamos a caminhada, que «pretium laborum non vile», por aqueles que a memória não atraiçoa.

umblogsobrekleist - de vasta erudição, encantador e útil. De leitura diária obrigatória, mais a mais se se pensar o que seria a nossa vida, sem um joguinho de xadrez, antes, depois ou com o cinema. Lembrei-me agora, completamente a despropósito, que a Rosa Luxemburgo era brilhante jogadora de xadrez. Facto que os Manos Silva decerto não devem esquecer, nas sua guerrilhas psicológicas com a malta Infame.

Aproveite-se o pretexto para dizer Pedro Oom, em «Os Legados do Surrealismo», tirado da revista Sema:

"Mário Cesariny herdou as botas rotas
de André Breton
António Josè Forte herdou a gabardine
de Benjamim Péret - que não chegou a
ver a cor porque se perdeu no caminho.

Natália Correia herdou o chinó que
Nora Mitrani usava no púbis

Eu estou à espera que Marcel
Duchamp me deixe o tabuleiro
de xadrez.
"

terça-feira, 20 de maio de 2003

BLOG PARA O EXPRESSO, JÁ!

Na blogosfera caiu um manifesto petulante de sabedoria e prenhe de seriedade, dada à lux como resposta a um artigalho intitulado «Pacheco Pereira agita a Web» no Expresso, pelo Paulo Querido. O agitprop incompreensível, porque revelador do perfil de altar iluminado e iluminante que o bando dos oito nos lança sobre a forma de choro desvalido, torna-se assim o novo melhoral para a azia jornalística existente no burgo, e de que, curiosamente, os subscritores se afastam como o diabo da cruz. Assinam, todos muito arrumadinhos, os da A Coluna Infame, Blog de Esquerda, Blogue dos Marretas, O País Relativo, Cruzes Canhoto, Prazer_Inculto, Valete Fratres!, O Intermitente.

A coisa não seria de espantar, se a excitação demonstrada pelo bando militante não fizesse a ponte entre a direita engraçada e a esquerda festivaleira. Sem empacho algum, desatam num chorrilho de postumeiras vontades sobre jornais e jornalistas, seguindo o farol da tradição que «inimici sui amicum nemo in amicitias sumit», no que foi acompanhado imediatamente por outros blogs, todos eles numa de «amicus fidelis». Afinal se pretendiam dizer mal do amigo Pacheco Pereira, porque não passaram a publicidade, e deram por bem empregada a pena?

Afinal que tinha o artigalho de Paulo Querido, que é bem melhor jornalista que xadrezista, assim tão bizarro? Acaso não é verdade, que a entrada do Pacheco na blogosfera agitou a dita? E não nos é referido, ao longo do texto, que PP foi recebido com fidalguia e com a etiqueta devida? E será que, de facto, não vem PP «reforçar qualitativamente uma blogosfera de expressão portuguesa»? Ou era só para bater no Expresso, tecendo mandas aos do DN sempre bestialmente governamental e a esse jornal de extrema direita, que é hoje o Independente?

Ora parece que a furibunda diatribe do bando, assim atirados como gato a bofe contra Paulo Querido, é mais uma pose de magister a dar uma de lição de blogar, que outra coisa qualquer. E vindo de um Lombas, agora bolinando entre a teimosia de querer ser conhecido pelo Luiz Pacheco da direita e a chateza de não saber se Paulo Portas mentiu ou não ao tribunal; ou de um fogoso mercador de poesia, de nome Mexia, que calcorreia o rincão natal a dar desvairadas meta-comunicações sobre a poesis aos crentes; ou que dizer, desse luzeiro dos jornais, suspicaz filósofo encartado no seu isolamento de vida de cão, no Independente, e que conseguiu à sua custa baixar supinamente a tiragem do seu jornal, tal o bom-gosto e o bom-senso que o move; afinal, a trombeta assim esgrimida por tais personagens, iluminada com tão íntegros profissionais da imprensa como subscritores, explica-nos bem a brandura que têm com a direcção dos seus jornais. É que, de facto, não há qualquer diferença entre o engenheiro Saraiva e os seus pares Ribeiro Ferreira ou Inês Serra Lopes. Não é tempo de fustigarem os seus directores, meu caros bloguistas, em vez de mandar missivas por portas travessas?