segunda-feira, 24 de outubro de 2005


Os Equívocos de Cavaco Silva

"Que gente reiterativa. È tão bom!" [A. O'Neill]

Cavaco Silva regressou. Parece repousado, pasmado de 10 anos de espera, pouco abundante em palavras, desatento aos anos da sua longa (des)governação e muito festivo, demasiado talvez. Afastado, prudentemente, da crise penosa em todos estes anos, ambiciona sair das trevas da política indígena repelindo os seus dilectos "filhos" e "enteados". Cavaco jura que não é mais um "Aníbal político". E, de fronte erguida, ar emproado e um tanto pedante, apresenta-se escondido da turba laranja, essa "canalha" que tão bem iluminou no caminho ao assalto da administração pública e aos subsídios da União Europeia.

"Pai" e "mãe" do "monstro" que é o Estado e que inventivamente construiu para os incautos, Cavaco Silva "destruiu-se" no "território da corrupção" com que risonhamente embalou a sua governação. Hoje tresanda de hipocrisia. E mesmo que o seu dissídio seja honesto, não se vê como se deva perdoar o seu diminuto carácter no exercício da coisa pública.

Cuida o dr. Cavaco que o (quase) silêncio com que friamente e pacientemente se remeteu faz desaparecer o fastio destes 20 anos de miserabilismo pátrio e os seus 10 de governação. Aonde depois, Guterres, sem paciência nem capacidade, compreende, e tarde demais, que os "boys" da rosa estimavam esses bons e animados tempos do dr. Cavaco. E, é claro, daí só pode dar em fuga ... envergonhada. Onde assoma Barroso, crescido nesse melífluo redil de antanho e que habilidosamente dá um salto ainda maior, sem qualquer rebuço ou pudor. Depois, por complacência de Sampaio, cai-nos sobre as nossas cabeças a histriónica dupla Lopes & Portas, que de tão incompetentes foram no deslumbramento da governação que deixaram tudo à mostra e o país à beira de um ataque de nervos. E onde, de momento, Sócrates baralha e torna a dar, para ficar tudo como estava. Vinte anos calcetados na mais desvairadas das políticas e com a mais grosseira classe dirigente conhecida. Que tornou Portugal no país mais atrasado da Europa.

Eis o quadro negro de 20 anos de pronunciamento Cavaquista. Onde o trecho inaugural da "obra" portuguesa ou "oásis" trôpego se começa a desenhar, em chacota carnavalesca. Onde a "competência", a "capacidade de decisão", a "honestidade" e a "responsabilidade" (para seguir o madrigal político do sr. Ramalho Eanes, agora muleta pegadiça de Cavaco) nunca existiu. E que só o disparate da fraseologia eleitoral, a demagogia e o populismo tornam banais. Lucidez precisa-se! Que a memória não nos torne irracionais.