domingo, 18 de dezembro de 2011

NOTÍCIAS DA FRENTE


"O bibliófilo é essencialmente um amante de livros e de temas que entra em demanda, que alguns denominam de caça (a venatio librorum, referida por Borba de Moraes e Pina Martins) …" [Pedro Teixeira da Mota, in O Bibliófilo Aprendiz, Letra Livre, 2011]

[a menos de cinco dias do Solstício de Inverno] A inverneira, é sabido, dispensa a rua, até porque o tumor orçamental já nem com cataplasmas vai. O sr. dos Passos Coelho (criatura com acolhimento na austeridade teutónica de chez Merkel) cobrará (sempre) aos inexperientes da coisa pública quase tudo. Por isso, a mergulhia da "canalha" nos lavores caseiros não o atrapalham, até porque as dormideiras políticas ou a calda orçamental deste quasi selado ano lhe acalmaram as inflamações financeiras. Estamos deste modo soberbos no doce lar, que a sorte nos manda. A moléstia profunda virá já a seguir! É uma questão de tempo - entoamos nós, recorrendo à boa dicção do Gasparzinho da fazenda.

Por tudo isso, os errantes cultores de papéis andam felizes nos requebros do livro antigo. Afinal os amantes dos livros – esses – só se arrependem das obras não compradas. Os experimentados sabem (como recita o grande Palladio) que se o amador de livros for curioso não lhe faltará a graça do seu divino ofício e, evidentemente, copiosas bibliografias a respigar. E será então caso para dizer como mestre Borba de Moraes: "um colecionador sem bibliografias é um operário sem ferramentas".

- informam-se os estimados leitores deste estabelecimento, e para V. merecimento, que o regresso do Cão de Parar (ou moços do Vale do Mondego) ao V. aconchego vos (re)lança a sempre luminosa arte venatória (trabalhos de cena ou sacros) no meio dos mistérios ou ocultações bibliográficas que a alma do colecionador de livros perturbantemente professa … e cobiça. Para ledores caprichosos!

- o leitor - exaurido que anda nas leituras dos Top livreiros - não pode olvidar a republicação da preciosidade que é o "Bibliófilo Aprendiz", de Rubens Borba de MoraesAQUI adjudicado. Prosa farta e afamada, peça fervorosa, contendo inumeráveis gramáticas para uso do amador de livros. A ofertar neste anno gasparziano.

- nos próximos dias (20 a 22 de Dezembro, pelas 15 horas) haverá lugar a um "Leilão de Livros, Manuscritos, Gravuras, Postais e Cartazes”, em parte proveniente do "valioso conjunto da Colecção António Capucho". O martelo estará a cargo do Palácio do Correio Velho. Consultar o seu catálogo AQUI. O Leilão realiza-se, como habitual, na Calçada do Combro, 38 A - 1º, Lisboa.

- CATÁLOGOS do Mês: a Frenesi Loja (livros antigos, raros, esgotados, manuscritos), convenientemente alojada na Internet, lançou um Catálogo especial com 795 peças bibliográficas, de muita estimação e a preços fora de crise, com descontos consideráveis. Pedir AQUI; saiu o Boletim nº 120 da Livraria J. A. Telles Sylva, como sempre irrepreensível para o amador de livros; a Livraria Castro e Silva apresenta o seu 131º Catálogo com (680) peças muito estimados, seguramente de grande iluminação; a Livraria Moreira da Costa (Porto) lançou o seu Boletim de Dezembro, com um conjunto de peças bem curiosas.

- [LÁ POR FORA] a Librairie Ivres de Livres apresenta o catálogo do mês; é de seguir o curioso Leilão (dia 20) da Bibliothèque d’um Amateur pela Baron Ribeyre & Associés (Paris). Catálogo AQUI; de novo recorremos a estimada Weiser Antiquarian Books e, naturalmente, ao seu autorizado quanto invulgar 95 º Catálogo (online).

- por último, os nossos curiosos ledores ao Vale de Coimbra têm o privilégio de assistir aos Natais do Torga pela Bonifrates (nossa casa paterna), nos próximos dias 20 (21,30 horas) e 22 (18,30 horas) na Casa Museu Miguel Torga. A não perder!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DR. VALENTE AND MR. PULIDO


e esta? Não era costume
personagem tão nobre entrar assim
quando a peça vai ainda no ensaio
” [M.C.V.]

Vasco Pulido Valente (funcionário público), por caridade ao Estado que o amamenta e em concupiscência bem académica, planta a sua conhecida boa-língua ao dono da paróquia – o varonil Passos Coelho. Que na moita de Mr. Pulido caiba - em absoluto - meio mundo, do híbrido Portas à Führer Merkel, passando pelo paisano Gaspar até ao bardo Álvaro, não incomoda nem é de espantar nesta exótica botica. O funcionário público é um sujeito (à cautela) esquecido, irrepreensível na oratória à voz do dono, esmerado nos confeites e nas ilusões das migalhas do poder e outras minudências. Vasco Pulido Valente (funcionário público) é, assim, juiz em causa própria. E não haverá sobressalto patriótico algum que o tire do seu doce remanso.

Vasco Pulido Valente (ilustre historiador), por decência pessoal e amor às belas letras, afina as sua croniquetas nos jornais por diatribes palavrosas ao naufrágio histórico dos nossos egrégios avós. O conhecido historiador verbera & especula pranchas salvíficas enquanto escavaca (meticulosamente) os nossos sucessos inglórios, a nossa proverbial “vil tristeza” e a colossal “habilidade indígena”. O Dr. Valente (mito vivo da superstição “libaral”), à míngua da farpela universitária destes dies irae, em que pontificam alucinados merceeiros-contabilistas, numa assuada sem nenhuma argumentação credível, adscreve, num perfeito manual de civilidade, a desvirginação do casto Coelho, encomendando a sua viciada alma e o vulgar corpo a santa Merkel, a fim (como diria P. Louys) de o voltar a ser. A torrente “neolibaral” inspira sempre, por chateza pátria, um qualquer historiador.

Temos, assim, na tribunícia anti-Estado, o dr. Valente e mr. Pulido, de olheiras pisadas pela velha República (à atenção do inefável contador de histórias Jorge Morais) e esbugalhado pela turgência do novo império alemão, a defender o pleito de Coelho & Portas, numa notável quanto desastrada facúndia. Nada de bipolar ali é esculpido, porque ao dr. Valente e mr. Pulido – que como se sabe, não é “capado politicamente” - após a sombra vem sempre a luz. O doce eflúvio está a florir. Esperemos, portanto, “sobre os dois seios de Trafalgar Square” [M.C.V.]. Disse!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

ANNIE ERIN CLARK - ST. VINCENT "STRANGE MERCY"




"Strange Mercy" - St. Vincent

"Oh little one I know you've been tired for a long, long time
And oh little one I ain't been around a little while
But when you see me, wait

Oh little one your Hemingway jawline looks just like his
Our father in exile
For God only knows how many years
But when you see him, wait
Through double pain
I'll be with you lost boys
Sneaking out where the shivers won't find you ..."
[AQUI]

LOCAIS: St. Vincent / St. Vincent / St. Vincent - "Strange Mercy"

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O BIBLIÓFILO APRENDIZ


LIVRO: O Bibliófilo Aprendiz [c/ apresentação de Pedro Teixeira da Mota];
AUTORRubens Borba de Moraes;
EDIÇÃOLivraria Letra Livre.

"Só ontem pude iniciar a leitura, por outras sucessivamente adiada, de ‘O Bibliófilo Aprendiz’, de Rubens Borba de Moraes (edição Letra Livre). Tratando-se, como bem avisa nota de capa, da ‘prosa de um coleccionador para ser lida por quem gosta de livros’, não me deixei intimidar pela circunstância de não ser coleccionador de obras raras, ainda que visitante episódico e pouco criterioso de alfarrabistas. Entro nos alfarrabistas como entro nas igrejas vazias, para sentir a atmosfera, namorar e folhear, e quando calha, comprar livros que, naquele momento, me possam seduzir. Não tenho um plano, salvo se procuro alguma edição preciosa para apoio ao trabalho na rádio. Entrei, assim, neste livro, com um aprazimento desobrigado de quem apenas se rende à prosa fina e cativante de um homem de muito saber. Logo no prefácio, ele faz uma declaração de intenções:

Falar de livros é a melhor das prosas’.

Rubens Borba de Moraes, falecido em 1986, fundou e dirigiu bibliotecas, coleccionou e estudou livros antigos. A biblioteca de Borba de Moraes, tomada por um outro coleccionador [José Mindlin] brasileiro (que a juntou à sua já considerada uma das mais importantes da América Latina) foi doada à Universidade de São Paulo. Estou a lê-lo como se o escutasse falando de livros agora que, como ele escreve, ‘não se proseia mais à porta de livraria, não há mais café onde se possa conversar, não se vai mais à casa de um amigo dar uma prosa, com medo de perturbar o seu programa de televisão’.

Ele escreve para bibliófilos e não me sinto excluído. Sigo o fio das suas histórias, como se ele folheasse para mim, proseando, o ‘Tratado único da Constituição Pestilencial de Pernambuco’, de João Ferreira da Rosa, impresso em Lisboa em 1694, o livro em que surge ‘a primeira observação, a descrição clara e inconfundível da febre amarela’, um livro raríssimo. Ou o primeiro livro sobre o Brasil escrito em português, ‘Historia da prouincia sa[n]cta Cruz a que vulgarme[n]te chamam Brasil", impresso em Lisboa em 1576, escrito por Pêro de Magalhães Gândavo, do qual eram conhecidos sete exemplares em todo o mundo até que, em 1946, surgiu um oitavo que ele, Borba de Moraes, comprou para a Biblioteca Nacional do Rio.

Coleccionar não é juntar livros (...) É o prazer em encontrar o exemplar desejado’, escreve ele. E mais: ‘O verdadeiro bibliófilo sabe o que compra’. Isso o distingue do mero comprador de livros. Ora eu, mero comprador de livros, que tantas vezes não soube o que comprava, vou continuar a mergulhar neste livro como se entrasse num lugar de culto. Como um bibliófilo aprendiz.
" [Fernando Alves, in programa SINAIS, TSF - sublinhados nossos]

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL


"Em 1640, uns bravos que não olhavam para os homens do país vizinho, positivamente como nós olhamos para as mulheres, tiveram a ideia de os despedir da sua longa visita de sessenta anos e, um dia, ao jantar, atiraram-lhes com os pratos à cara, voltaram a mesa de banquete e arremessaram-nos pelas portas e janelas.

Este facto, que pode parecer, à primeira vista, de uma indelicadeza espantosa, tem todas as cores de uma bela acção, quando se pense que os portugueses entravam no banquete para servir à mesa, de onde os haviam tirado à força.

Ora a luta pela vida é uma verdade incontestável e fatal; demais os hóspedes comiam como uns desalmados e os pobres criados limitavam-se a escorropichar os copos ou a engolir sorrateiramente alguma batata frita, no caminho da cozinha para a casa de jantar.

Isto era triste, e como a paciência tem limites, um belo dia levantaram-lhes a manjedoura, como se costuma dizer, furaram uns, esfolaram outros, e esta coisa foi chamada a Restauração de Portugal


in A comedia portugueza: chronica semanal de costumes, casos, política, artes e letras, 1 de Dezembro de 1888 [digitalizado via Hemeroteca Municipal de Lisboa]

via ALMANAQUE REPUBLICANO