segunda-feira, 27 de junho de 2011

HOJE - LEILÃO DE LIVROS E MANUSCRITOS


LEILÃO: Livros e Manuscritos. Séculos XVI a XX;
DIA27 de Junho (21 horas);
LOCAL – Palácio da Independência (Largo S. Domingos, 11, Rossio), Lisboa;
ORGANIZAÇÃO – Leilões Artes e letras;
CATÁLOGOAQUI & AQUI.

A Leiloeira Artes e Letras (sob direcção de José Vicente & Luís Gomes) organiza um Leilão de Livros e Manuscritos (Século XVI a XX), de Literatura, Viagens, livros Estrangeiros sobre Portugal, livros ilustrados, Arte, HOJE, dia 27 de Junho (21 horas) no Palácio da Independência (ao Rossio, Lisboa). São 532 peças bibliográficas estimadas, valiosas e raras que são colocadas à venda.

Façam favor de consultar AQUI ou AQUI o seu Catálogo online.

CIRCO PAROQUIAL


"O circo é a vida. A Grande Festa... o circo somos nós todos... ou ainda mais (digo eu)" [Eduardo Guerra Carneiro]

Ao que parece, o sr. Passos Coelho vulgarizou o medo entre os indígenas. Por artes verbais & outros brados de espírito (lançados pela autorizada gramática do default) os paroquianos enxaguam as gotículas de vil terror que lhes tombam da cabeça etérea.

As manifs da Grécia (com o sereno Loukanikos a comando) e o medo da Europa do fugaz Barroso, a figura algida da sra. Merkel, a toga do conselheiro Noronha do Nascimento, o sorriso evangélico do ministro Álvaro da economia & outros mysterios (cumptos dos antigos companheiros da casa dos Limas), o olho pisco do prócere pregador Portas (lenda viva das Necessidades), o ultimatum às almas tormentosas pelo troveiro Ferreira do Amaral, o bucolismo expressivo da agricultora & maruja Assunção Cristas, eis os tão curiosos temas que lavram sombrias paixões e arrastam (para já) o cidadão lusitano para o infortúnio, agonia da pátria e, repito, vil terror. Dizem os noticiaristas, agora tudólogos.

O sr. Passos Coelho atrelou para a governação os sujeitos que tinha (vulgarmente) de expedir. A pouca (dizem) dilatada lista com que ofertou o país impressiona, descerrando milhares de lábios. Os novíssimos ministros & outras miudezas (a ofertar à Nação dia 28) esterilizaram, para já, o ruidoso e sonoro grupelho de amigos do sr. Sócrates (o conhecido José Lello, é certo, ainda estrebucha e, ao que parece, fugirá mesmo à bengalada rosa). Mas não é certo que, esse raminho de liberais, se eleve às alturas da situação e à devassa da ruína. O comércio intelectual não abunda, a improvisação ideológica e os impiedosos golpes vindo da Europa da sra. Merkel irão confirmar os obséquios fúnebres.

O sr. Passos Coelho está, portanto, a recibo verde. Cativo das suas promessas (como tantos ministros: veja-se Nuno Crato), escravo da superstição liberal, abrasado que estará pelo delírio do aparelho partidário, com um Cavaco Silva enxertado em hierofante económico e pouco esquivo às garotadas (e basófia) do sr. Portas, o sr. Passos Coelho está definitivamente prisioneiro: de si próprio e dos seus atribulados interesses. Quem viver, contará! O circo pode continuar ...

sábado, 4 de junho de 2011

MOMENTUS DE REFLEXÃO


"É justo que pensemos um pouco na Pátria. Porque enfim, temos uma pátria. Temos pelo menos – um sítio. Um sítio verdadeiramente é que temos: isto é – uma língua de terra onde construímos as nossas casas e plantamos os nossos trigos. O nosso sítio é Portugal" [Eça de Queirós, As Farpas, Janeiro de 1872]

"Portugal é uma nação enferma do pior género de enfermidade, o langor, o enfraquecimento gradual que, sem febre, sem delírio, consome tanto mais seguramente quanto se não vê órgão especialmente atacado, nem se atina com o nome da misteriosa doença. A doença existe, todavia. O mundo português agoniza, afectado de atonia, tanto da constituição íntima da sociedade, como no movimento, na circulação da vida política" [Antero de Quental, 1868]

"Portugal é uma fazenda, uma bela fazenda, possuída por uma parceria. Como vocês sabem, há parcerias comerciais e parcerias rurais. Esta de Lisboa é uma parceria política, que governa a herdade chamada Portugal … Nós, os Portugueses, pertencemos todos a duas classes; uns cinco a seis milhões que trabalham na fazenda, ou vivem dela a olhar, como o Barrolo, e que pagam; e uns trinta sujeitos em cima, em Lisboa, que formam a parceria, que recebem, e que governam. Ora eu, por gosto, por necessidade, por hábito de família, desejo mandar na fazenda. Mas para entrar na parceria política, o cidadão português precisa uma habilitação – ser deputado" [Eça de Queirós, in Revista Moderna]

"Cada país tem o governo que lhe é adequado; a sociedade portuguesa, sustada sem seu desenvolvimento, nunca chegou a ser um organismo colectivo, vivendo do seu trabalho, com ideal político comum, capaz de se raciocinar e exprimir uma vontade geral. Ela constitui sem dúvida uma excepção na Europa, Ontem como hoje, tem sido sempre uma sociedade de aventureiros. Emudecida sobre as questões referentes ao bem da comunidade, só a interessam a emigração e as aventuras d’além-mar. O que cada um deseja é que o deixem sair”" [Alberto de Sampaio, in Revista de Portugal]

"Creio que isto é uma raça perdida. Começo a crer que biologicamente a nossa decadência degenerativa é manifesta. Não se trata apenas duma desagregação de alma colectiva, trata-se duma dissolução mais funda, mais íntima, passada na alma de cada um. Dá vontade de morrer – de vergonha" [Manuel Laranjeira, Diário Íntimo]

"Doze ou quinze homens, sempre os mesmos alternadamente possuem o Poder, reconquistam o Poder, trocam o Poder" [Eça de Queirós, Farpas, Junho 1871]

"A península Ibérica parece que herdou uma neurose – que em Espanha se tornou um génio raiado de loucura e, em Portugal, degenerou em imbecilidade misturada de velhacaria. Junte a isto (para Portugal), as influências hereditárias de uma avara genética, e explica muita coisa do País" [Eça de Queirós, A Capital]

"Em Portugal o cidadão desapareceu. E todo o País não é mais do que uma agregação heterogénea de inactividades que se enfastiam" [Eça de Queirós, Farpas III]

"O bacharel, tendo a consciência da sua superioridade intelectual, da autoridade que ela lhe confere, dispõe do mando; ao futrica resta produzir, pagar para que o bacharel possa viver, e rezar ao Ser Divino para que proteja o bacharel" [Eça de Queirós, Farpas III]

“O que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos decide no Chiado que Portugal seja – é o que Portugal é" [Eça de Queirós, O Francesismo]

in João Medina, "Eça Político", Seara Nova, 1974

sexta-feira, 3 de junho de 2011

ELEIÇÕES - LOGRO & FADO


"Os tempos não vão bons para nós, os mortos" [M. António Pina]

Este "capitalismo do desastre" [Naomi Klein] é cada vez mais um espectáculo de compra e venda a retalho da mentira, um comichoso & esquizofrénico comércio de ódios contra quem trabalha e (sobre)vive: uma tragédia contra a democracia. O seu proselitismo subversivo contra os valores da sociabilidade e da ética de estar na economia, no governo e na vida colectiva, estão por demais evidentes. A incapacidade - episódio maior destas eleições (!?) e que a boca dos correligionários do sr. Sócrates permite, a linguagem de trapos dos amanuenses do sr. Coelho exprime ou que o populismo miserável dos garotos de sr. Portas desvela - deste "Reino Cadaveroso" falar verdade e sem dogmas, é o "nosso" fadário. Trágico!

As cambalhotas político-económico-financeiras desta rapaziada da troika interna, encharcadas em plena crise de prosaicas (& floridas) mezinhas neoliberais vindas da troika externa, revelam que nada se aprendeu sobre o descalabro contínuo e persistente dos mercados financeiros, do declínio e construção da União Europeia e da selvática & intratável economia global. Quem nada entendeu sobre a incompetência e a insidia que foi a governação do sr. Sócrates poderá presentear os indígenas com novas-velhas historietas ou as derramas de promessas eleitorais por demais conhecidas, esquarteladas, provadas, mas de modo nenhum fugirá ao desaire final esperado. Porque não se trata apenas de "mudar de lugar" o que está "entre as pernas" [M.A.Pina], mas sim de abrir a porta à esperança de uma vida decente, honrosa, fraterna. Assuntos que estão arredados definitivamente e para sempre, deste lerdo aranzel comicieiro.

Por isso, estas eleições (!?) não são mais que um triste e extravagante memorial de capitosas mentiras, impiedosas omissões e asfixiantes inverdades, que o(s) memorando(s) da troika externa confirma e determina para uso & consumo da troika interna dos interesses e da irresponsabilidade. O arraial dessas luminárias ficará, mesmo que a coberto de pervertidos jornaleiros & conhecidos merceeiros da paróquia, como um marco das maiores tragédias da história pátria.

Nada de espantos, cada um é o que é … e domingo há eleições. Para respirar, ser livre e praguejar contra a servidão. A meio do enterro, e apesar disso, lá estaremos!