domingo, 18 de dezembro de 2011

NOTÍCIAS DA FRENTE


"O bibliófilo é essencialmente um amante de livros e de temas que entra em demanda, que alguns denominam de caça (a venatio librorum, referida por Borba de Moraes e Pina Martins) …" [Pedro Teixeira da Mota, in O Bibliófilo Aprendiz, Letra Livre, 2011]

[a menos de cinco dias do Solstício de Inverno] A inverneira, é sabido, dispensa a rua, até porque o tumor orçamental já nem com cataplasmas vai. O sr. dos Passos Coelho (criatura com acolhimento na austeridade teutónica de chez Merkel) cobrará (sempre) aos inexperientes da coisa pública quase tudo. Por isso, a mergulhia da "canalha" nos lavores caseiros não o atrapalham, até porque as dormideiras políticas ou a calda orçamental deste quasi selado ano lhe acalmaram as inflamações financeiras. Estamos deste modo soberbos no doce lar, que a sorte nos manda. A moléstia profunda virá já a seguir! É uma questão de tempo - entoamos nós, recorrendo à boa dicção do Gasparzinho da fazenda.

Por tudo isso, os errantes cultores de papéis andam felizes nos requebros do livro antigo. Afinal os amantes dos livros – esses – só se arrependem das obras não compradas. Os experimentados sabem (como recita o grande Palladio) que se o amador de livros for curioso não lhe faltará a graça do seu divino ofício e, evidentemente, copiosas bibliografias a respigar. E será então caso para dizer como mestre Borba de Moraes: "um colecionador sem bibliografias é um operário sem ferramentas".

- informam-se os estimados leitores deste estabelecimento, e para V. merecimento, que o regresso do Cão de Parar (ou moços do Vale do Mondego) ao V. aconchego vos (re)lança a sempre luminosa arte venatória (trabalhos de cena ou sacros) no meio dos mistérios ou ocultações bibliográficas que a alma do colecionador de livros perturbantemente professa … e cobiça. Para ledores caprichosos!

- o leitor - exaurido que anda nas leituras dos Top livreiros - não pode olvidar a republicação da preciosidade que é o "Bibliófilo Aprendiz", de Rubens Borba de MoraesAQUI adjudicado. Prosa farta e afamada, peça fervorosa, contendo inumeráveis gramáticas para uso do amador de livros. A ofertar neste anno gasparziano.

- nos próximos dias (20 a 22 de Dezembro, pelas 15 horas) haverá lugar a um "Leilão de Livros, Manuscritos, Gravuras, Postais e Cartazes”, em parte proveniente do "valioso conjunto da Colecção António Capucho". O martelo estará a cargo do Palácio do Correio Velho. Consultar o seu catálogo AQUI. O Leilão realiza-se, como habitual, na Calçada do Combro, 38 A - 1º, Lisboa.

- CATÁLOGOS do Mês: a Frenesi Loja (livros antigos, raros, esgotados, manuscritos), convenientemente alojada na Internet, lançou um Catálogo especial com 795 peças bibliográficas, de muita estimação e a preços fora de crise, com descontos consideráveis. Pedir AQUI; saiu o Boletim nº 120 da Livraria J. A. Telles Sylva, como sempre irrepreensível para o amador de livros; a Livraria Castro e Silva apresenta o seu 131º Catálogo com (680) peças muito estimados, seguramente de grande iluminação; a Livraria Moreira da Costa (Porto) lançou o seu Boletim de Dezembro, com um conjunto de peças bem curiosas.

- [LÁ POR FORA] a Librairie Ivres de Livres apresenta o catálogo do mês; é de seguir o curioso Leilão (dia 20) da Bibliothèque d’um Amateur pela Baron Ribeyre & Associés (Paris). Catálogo AQUI; de novo recorremos a estimada Weiser Antiquarian Books e, naturalmente, ao seu autorizado quanto invulgar 95 º Catálogo (online).

- por último, os nossos curiosos ledores ao Vale de Coimbra têm o privilégio de assistir aos Natais do Torga pela Bonifrates (nossa casa paterna), nos próximos dias 20 (21,30 horas) e 22 (18,30 horas) na Casa Museu Miguel Torga. A não perder!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DR. VALENTE AND MR. PULIDO


e esta? Não era costume
personagem tão nobre entrar assim
quando a peça vai ainda no ensaio
” [M.C.V.]

Vasco Pulido Valente (funcionário público), por caridade ao Estado que o amamenta e em concupiscência bem académica, planta a sua conhecida boa-língua ao dono da paróquia – o varonil Passos Coelho. Que na moita de Mr. Pulido caiba - em absoluto - meio mundo, do híbrido Portas à Führer Merkel, passando pelo paisano Gaspar até ao bardo Álvaro, não incomoda nem é de espantar nesta exótica botica. O funcionário público é um sujeito (à cautela) esquecido, irrepreensível na oratória à voz do dono, esmerado nos confeites e nas ilusões das migalhas do poder e outras minudências. Vasco Pulido Valente (funcionário público) é, assim, juiz em causa própria. E não haverá sobressalto patriótico algum que o tire do seu doce remanso.

Vasco Pulido Valente (ilustre historiador), por decência pessoal e amor às belas letras, afina as sua croniquetas nos jornais por diatribes palavrosas ao naufrágio histórico dos nossos egrégios avós. O conhecido historiador verbera & especula pranchas salvíficas enquanto escavaca (meticulosamente) os nossos sucessos inglórios, a nossa proverbial “vil tristeza” e a colossal “habilidade indígena”. O Dr. Valente (mito vivo da superstição “libaral”), à míngua da farpela universitária destes dies irae, em que pontificam alucinados merceeiros-contabilistas, numa assuada sem nenhuma argumentação credível, adscreve, num perfeito manual de civilidade, a desvirginação do casto Coelho, encomendando a sua viciada alma e o vulgar corpo a santa Merkel, a fim (como diria P. Louys) de o voltar a ser. A torrente “neolibaral” inspira sempre, por chateza pátria, um qualquer historiador.

Temos, assim, na tribunícia anti-Estado, o dr. Valente e mr. Pulido, de olheiras pisadas pela velha República (à atenção do inefável contador de histórias Jorge Morais) e esbugalhado pela turgência do novo império alemão, a defender o pleito de Coelho & Portas, numa notável quanto desastrada facúndia. Nada de bipolar ali é esculpido, porque ao dr. Valente e mr. Pulido – que como se sabe, não é “capado politicamente” - após a sombra vem sempre a luz. O doce eflúvio está a florir. Esperemos, portanto, “sobre os dois seios de Trafalgar Square” [M.C.V.]. Disse!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

ANNIE ERIN CLARK - ST. VINCENT "STRANGE MERCY"




"Strange Mercy" - St. Vincent

"Oh little one I know you've been tired for a long, long time
And oh little one I ain't been around a little while
But when you see me, wait

Oh little one your Hemingway jawline looks just like his
Our father in exile
For God only knows how many years
But when you see him, wait
Through double pain
I'll be with you lost boys
Sneaking out where the shivers won't find you ..."
[AQUI]

LOCAIS: St. Vincent / St. Vincent / St. Vincent - "Strange Mercy"

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O BIBLIÓFILO APRENDIZ


LIVRO: O Bibliófilo Aprendiz [c/ apresentação de Pedro Teixeira da Mota];
AUTORRubens Borba de Moraes;
EDIÇÃOLivraria Letra Livre.

"Só ontem pude iniciar a leitura, por outras sucessivamente adiada, de ‘O Bibliófilo Aprendiz’, de Rubens Borba de Moraes (edição Letra Livre). Tratando-se, como bem avisa nota de capa, da ‘prosa de um coleccionador para ser lida por quem gosta de livros’, não me deixei intimidar pela circunstância de não ser coleccionador de obras raras, ainda que visitante episódico e pouco criterioso de alfarrabistas. Entro nos alfarrabistas como entro nas igrejas vazias, para sentir a atmosfera, namorar e folhear, e quando calha, comprar livros que, naquele momento, me possam seduzir. Não tenho um plano, salvo se procuro alguma edição preciosa para apoio ao trabalho na rádio. Entrei, assim, neste livro, com um aprazimento desobrigado de quem apenas se rende à prosa fina e cativante de um homem de muito saber. Logo no prefácio, ele faz uma declaração de intenções:

Falar de livros é a melhor das prosas’.

Rubens Borba de Moraes, falecido em 1986, fundou e dirigiu bibliotecas, coleccionou e estudou livros antigos. A biblioteca de Borba de Moraes, tomada por um outro coleccionador [José Mindlin] brasileiro (que a juntou à sua já considerada uma das mais importantes da América Latina) foi doada à Universidade de São Paulo. Estou a lê-lo como se o escutasse falando de livros agora que, como ele escreve, ‘não se proseia mais à porta de livraria, não há mais café onde se possa conversar, não se vai mais à casa de um amigo dar uma prosa, com medo de perturbar o seu programa de televisão’.

Ele escreve para bibliófilos e não me sinto excluído. Sigo o fio das suas histórias, como se ele folheasse para mim, proseando, o ‘Tratado único da Constituição Pestilencial de Pernambuco’, de João Ferreira da Rosa, impresso em Lisboa em 1694, o livro em que surge ‘a primeira observação, a descrição clara e inconfundível da febre amarela’, um livro raríssimo. Ou o primeiro livro sobre o Brasil escrito em português, ‘Historia da prouincia sa[n]cta Cruz a que vulgarme[n]te chamam Brasil", impresso em Lisboa em 1576, escrito por Pêro de Magalhães Gândavo, do qual eram conhecidos sete exemplares em todo o mundo até que, em 1946, surgiu um oitavo que ele, Borba de Moraes, comprou para a Biblioteca Nacional do Rio.

Coleccionar não é juntar livros (...) É o prazer em encontrar o exemplar desejado’, escreve ele. E mais: ‘O verdadeiro bibliófilo sabe o que compra’. Isso o distingue do mero comprador de livros. Ora eu, mero comprador de livros, que tantas vezes não soube o que comprava, vou continuar a mergulhar neste livro como se entrasse num lugar de culto. Como um bibliófilo aprendiz.
" [Fernando Alves, in programa SINAIS, TSF - sublinhados nossos]

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL


"Em 1640, uns bravos que não olhavam para os homens do país vizinho, positivamente como nós olhamos para as mulheres, tiveram a ideia de os despedir da sua longa visita de sessenta anos e, um dia, ao jantar, atiraram-lhes com os pratos à cara, voltaram a mesa de banquete e arremessaram-nos pelas portas e janelas.

Este facto, que pode parecer, à primeira vista, de uma indelicadeza espantosa, tem todas as cores de uma bela acção, quando se pense que os portugueses entravam no banquete para servir à mesa, de onde os haviam tirado à força.

Ora a luta pela vida é uma verdade incontestável e fatal; demais os hóspedes comiam como uns desalmados e os pobres criados limitavam-se a escorropichar os copos ou a engolir sorrateiramente alguma batata frita, no caminho da cozinha para a casa de jantar.

Isto era triste, e como a paciência tem limites, um belo dia levantaram-lhes a manjedoura, como se costuma dizer, furaram uns, esfolaram outros, e esta coisa foi chamada a Restauração de Portugal


in A comedia portugueza: chronica semanal de costumes, casos, política, artes e letras, 1 de Dezembro de 1888 [digitalizado via Hemeroteca Municipal de Lisboa]

via ALMANAQUE REPUBLICANO

sábado, 19 de novembro de 2011

BIBLIOTECA DE ANTÓNIO BARATA - LEILÃO DIAS 21 A 23 DE OUTUBRO


LEILÃO: Biblioteca de António Barata e Outras Proveniências;
DIAS21, 22 e 23 de Novembro (21 horas);
LOCAL – Palácio da Independência (Largo S. Domingos, 11, Rossio), Lisboa;
ORGANIZAÇÃOJosé Vicente, Leilões
CATÁLOGOAQUI

José Vicente (Livraria Olisipo) organiza um curioso Leilão de Livros, Pintura, Gravura, Desenho, Serigrafia e Fotografia nos próximos dias 21, 22 e 23 de Outubro (21 horas) no Palácio da Independência (ao Rossio, Lisboa). São 1513 peças bibliográficas de muita estimação. Parte delas eram pertença do "distinto" livreiro António Barata, fundador da mítica Livraria Barata (Av. De Roma) e que toda uma geração de bibliófilos ou simples amigos dos livros e da leitura muito bem conhece.

Consultar AQUI o CATÁLOGO.


"António Barata (1925-1983) foi um distinto livreiro, fundador da Livraria Barata, na Avenida de Roma, em Lisboa. Dedicou mais de meio século de vida ao livro. Começou a actividade na pequena livraria e tabacaria, dando mais tarde lugar ao espaço ampliado que hoje conhecemos. A biblioteca, com escolha criteriosa é composta de livros de arte, descobrimentos, história, regionalismo, literatura e poesia, muitos em tiragens especiais acompanhados de desenhos ou serigrafias, de que destacamos a importante obra de André Malraux - Roi, Je T’Attends à Babylone, ilustrada com 14 pontas secas de Salvador Dali e assinada pelo autor, por Dali e pelo editor Skira, publicada em Genève, em 1973. Compreende ainda muitos livros de oferta, com as dedicatórias dos respectivos autores.

Para melhor compreendermos esta figura da cultura portuguesa, seleccionamos algumas frases suas e de personalidades da cultura incluídas na obra - António BarataUm perfil

'...Da vária e intensa colaboração que Barata, a seu modo, deu à cultura portuguesa é supérfluo falar. Retenhamos apenas a anotação breve de que, na sua dedicação á actividade que exerceu, António Barata contribuiu para que nós, os escritores, pudéssemos existir…' [Vergílio Ferreira]

'...Tal como o próprio livro que «só se abre se o alguém o abre», como escreveu João Cabral de Melo Neto, António Barata, no natural retraimento da sua personalidade, a ninguém desejava impor-se – e antes pacientemente aguardava que o «folheassem», que o consultassem, para só então entre mostrar todo o imenso tesouro da sua sensibilidade e da sua inteligência….'. [David Mourão-Ferreira]

Em 1964, António Barata foi preso pela PIDE na sequência de imensas buscas à Livraria e á sua residência. Permaneceu um mês na cela 11 do Aljube.

'Estive preso, não por pertencer a algum movimento, como muita gente pensava, mas por causa dos livros.'

'O fim do negócio é sempre o lucro, mas neste ramo, é um pouco diferente, a paixão já é uma quota parte desse lucro.'

Após a sua morte, a esposa D. Zélia Barata mandou proceder ao inventário da biblioteca. A empresa encarregada da catalogação, colocou no frontispício dois carimbos distintos: um com o nome de D. Zélia e outro com uma minúscula barata. Este último carimbo aparece também em algumas folhas do texto.

Uma biblioteca que ficará disponível para ser ser disputada por bibliófilos, comerciantes e coleccionadores. Cumpre-se o círculo: Os livros são pertença da humanidade e pagamos para os ter durante um período da nossa vida"

José F. Vicente, in Biblioteca de António Barata - nota introdutória ao Catálogo do Leilão da Biblioteca António Barata e Outras Proveniências

domingo, 23 de outubro de 2011

VIVA BRASSENS!





"Je veux dédier ce poème
A toutes les femmes qu'on aime
Pendant quelques instants secrets
A celles qu'on connait à peine
Qu'un destin différent entraîne
Et qu'on ne retrouve jamais ...
"

GEORGES BRASSENS - Les Passantes

O BELO E O MONSTRO


"Princeps legibus solutus"

Nesta insultuosa contenda sobre a "crise", onde o malabarismo verbal convida muitos gênios e tudólogos da felicidade económica - quase todos ex e actuais funcionários públicos (como o inefável Eduardo Catroga ou o funcionário público VPV) -, a perorar o amanhã que pronunciará a eficiência económica indígena (com Musgrave, claramente, alheio a essa douta actividade de afectação e estabilização de recursos) e a pensar os bens públicos e o nível da sua despesa (e como mediram o seu output? Oh! respeitáveis sábios) com atrevidos óculos "libarais", a nossa putativa remissão será sempre essa comédia ingénua (ou esse cavar de vida) de a tudo isso complacentemente assistirmos, provincianos que somos.

O túmulo que nos espera, fruto desse fervor neoliberal talhado por um curioso grupelho provocatório & de ambição desmedida, cerra (de vez) a nossa incontornável falta de assombro cívico, de vigor para com o progresso e a evolução social e ornamenta a nossa frontaria duma colossal falta de liberdade e exercício cívico, liberdade essa que, aliás, nunca soubemos (ou quisemos) exercer. O cortejo fúnebre do rebanho dos eleitores da governação será (é, já!) colossal.

O enxertado governo (ou agremiação de suicidas) que preside à paróquia age numa vaidade escouceante e total impunidade. Na sua singular agonia, a gerência da fazenda é, em modéstia e por piedosa falha de verve intelectual, administrada por duas figuras aventureiras e obscuras, ambas curveteadas a essa "grande arte de viver" (Cícero) da ortodoxa troika.

Um tacteia a intimidade doméstica do país em sucessivas mentiras programadas (batendo copiosamente o eng. Sócrates) e, em messiânicos discursos (decerto, por modéstia profissional), julga-se o salvador da pátria, numa assombrosa e dissimulada impostura; o outro, o "idiota útil" – aquele que uma vez sublimou o espírito com a leitura de Marx –, enturvado no seu ódio ao Estado e ao funcionalismo público, representa o poder dos burocratas e do grupo de interesse neoliberais. Sem mácula, o belo "idiota útil" assume que a eficiência nos custos da austeridade são os que transportam menores "custos de peso-morto" no mercado político (e que levaria - sem rebuço - ao óptimo de Pareto), pelo que a eficiência e equidade das medidas tomadas contra a canalha do funcionalismo (essa corja!) estariam explicadas, mesmo se a lacrimosa advertência do economista Cavaco Silva (o monstro) o acosse. O belo "idiota útil", na sua mecânica racional e estouvada utilidade métrica da austeridade, poderá destruir o Estado, anestesiar os indígenas, sangrar o país e o que mais lhe aprouver na sua monomania ideológica, mas nunca vergará a liberdade individual de participar na res publica e de assim sermos, com dignidade, homens livres - patiens quia aeternus.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

LEILÃO DE LIVROS, MANUSCRITOS, FOTOGRAFIA, PINTURA, GRAVURA, DESENHO, ACÇÕES – 24 A 26 DE OUTUBRO


LEILÃO: Livros, Manuscritos, Fotografia, Pintura, Gravura, Desenho, Acções
DIAS24, 25 e 26 de Outubro (21 horas);
LOCAL – Palácio da Independência (Largo S. Domingos, 11, Rossio), Lisboa;
ORGANIZAÇÃOJosé Vicente, Leilões
CATÁLOGOAQUI

José Vicente, estimado alfarrabista de Lisboa (Livraria Olisipo), organiza um interessante Leilão de Livros, Manuscritos, Fotografia & outras peças de grande valor, no próximo dia 24, 25 e 26 de Outubro (21 horas) no Palácio da Independência (ao Rossio, Lisboa). São 1597 peças seleccionadas muito estimadas, valiosas e raras que são colocadas em praça e que os amantes dos livros (ou simples curiosos) podem AQUI confirmar, via o seu esmerado catálogo.

ALGUMAS REFERÊNCIAS: importante e valioso conjunto de Manuscritos (mais de 100 lotes, de assuntos variados, sendo de realçar as Pruebas de Nobleza e Hidalguia de D. Martin de Hondategui Urrutia, um Auto da Fé celebrado em Lisboa em 24 de Outubro de 1717, uma curiosa carta de Lyon de Castro convocando (mais uma) reunião conspirativa contra Salazar, autógrafos (67), Estatuto da Venerável Ordem Terceira, dois Diplomas Maçónicos proveniência do GOLU emitidos a Euclides Goulart da Costa, etc.) / um conjunto bem curioso de Acções e Títulos (sec. XIX e XX) / Pombalina (lote de leis interessante) / um conjunto apreciável de Desenhos, Gravuras e Serigrafias de distintos autores (Stuart Carvalhais, Cruzeiro Seixas, Francisco valença, Vieira da Silva, …) / lotes de Fotografias (de notáveis figuras nacionais) / a invulgar e rara peça de colecção de José Maria Bomtempo, Compendios de Matéria Medica …, 1814 / [revista] Almanaque (18 vols), Graal (IV vols), Litoral (VI numrs), Mundo Literário (53 numrs), Operação 1 (do Jornal do Fundão) / Enciclopédia Tauromáquica Ilustrada, de J. Duarte de Almeida, 1962 & (do mesmo autor) a importane História da Tauromaquia, 1951, II vols / a raríssima Arte da Cavallaria de Gineta e Estardiota …, de A. Galvão d’Andrade, 1678 / A História Geral dos Jesuítas …., de Lino de Assunção / rara obra publicada em Londres, Authentica Memoirs Concerning the Portuguese Inquisition …, 1761 / a rara obra Mosteiro da Batalha, do Visconde de Condeixa, 1892 / A Chronica do descobrimento e Conquista da Guiné, de Azurara (1841) / peças bibliográficas de Camões (o raríssimo Lusíadas, Off. Vicente Alvarez, 1612 & outras edições do vate Camões), D. Duarte (Leal Conselheiro, 1854?), Francisco Sá de Miranda, José Agostinho de Macedo, Charles Darwin (Zoonomie, ou Lois de la Vie organique, IV vols), William Beckford, Duarte Nuno de Leão, Kircher (Sphinx Mystagoga, 1676, 2º ed.), Louis Ligier (notável peça), Bourgoing (Voyage du Duc du Chatelet, en Portugal, 2ª ed., II vols), Buffon, Chaumeton (Flore Medicale, 1814, VI vols), José Ferreira Borges, Capello e Ivens, J. Martins de Carvalho (de interesse maçónico) / os 16 vols da procurada Biblioteca de Instrução Profissional / os 18 notáveis opúsculos editados por Rómulo de Carvalho / o raro Órgão dos Bombeiros Voluntários Portugueses, Porto, 1889-92 / a admiravel, importante e muito rara Galeria Biographico-Contemporanea Luso-Brasileira (120 biografias, com respectiva fotografia, em III vols) / uma curiosa Camiliana (registe-se as edições primitivas do Amor de Perdição, Bohemia de Espírito, Delictos da Mocidade, Echos Humoristicos do Minho, Maria da Fonte, Maria! não me mates que sou tua mãe, Mosayco e silva, Nostalgias, 8 opúsculos da Questão da Sebenta, O Regicida, A Sereia, Seroens de S. Miguel de Seide, etc.) / Obras (edições primevas) de Agustina Bessa Luís, Alberto Pimentel, Alexandre O’Neill, Almada Negreiros, Ana Haterly / António Botto, António Feijó, António Ramos Rosa, Aquilino Ribeiro, Bocage (as Eróticas, publ. Bruxelas), Eça de Queiroz (importantes e raras peças), Eugénio de Castro (excelente acervo), Fernando Pessoa (vide a 2ª e muito rara ed. da Mensagem), Ferreira de Castro, Fiame H. P. Brandão, Garrett, Henrique Galvão, Herberto Helder (vide A Colher na Boca), José Cardoso Pires, José Régio, Mário Domingues (10 obras), Mário Henrique Leiria, Manuel de Lima, Melo e Castro, Miguel Torga, Natália Correia, Padre Manuel Bernardes, Raul Brandão, Reinaldo Ferreira (ou o Repórter X), Rocha Martins (curioso!), Rodrigues Miguéis, Rosalia de Castro, Ruy Belo, Ruy Cinatti (5 peças notáveis), Sophia Mello Breyner, Sttau Monteiro, Tomás da Fonseca, Vergílio Ferreira (Mudança, 1949), Vitorino Nemésio (8 peças ).

Façam favor de consultar AQUI o Catálogo online.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

OBRIGADO! PROFESSOR GOMES CANOTILHO


Hoje [dia 19 Outubro] teve lugar, no auditório da Faculdade de Direito de Coimbra, a jubilação do professor doutor José Joaquim Gomes Canotilho: uma vida académica de um "vigor intelectual" [Jónatas Machado] generoso e eloquente, de raro brilhantismo e sincera eloquência, um guardião da ideia de liberdade e um "tribuno do direito e da justiça" [ibidem], um pensador activo e livre, "indiscutivelmente um aristocrata republicano da cultura e do talento" [ibid.], um "jurista completo" [ibid.], um cidadão íntegro.

Ao professor Gomes Canotilho o nosso Obrigado!

[na filosofia e na ética republicana] "as principais temáticas estão condensadas nas obras dos 'maitre-penseurs' (...): republicanismo, humanismo cívico, comunitarismo, democracia deliberativa, Estado de Direito e democracia, inclusividade política e social, e republicanismo pós-nacional. Afinal, a República é passado e futuro" [G.C. - ver AQUI]

"O núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efectivado através de medidas legislativas deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na prática numa ‘anulação’, ‘revogação’ ou ‘aniquilação pura e simples desse núcleo essencial. A liberdade do legislador tem como limite o núcleo essencial já realizado" [Gomes Canotilho]

"É uma prova de humildade assumir que temos as mãos sujas" [e] "isso começa por nós" [G.C.]

via Almanaque Republicano

terça-feira, 18 de outubro de 2011

PEDRO PASSOS COELHO - BEST OF 2010/2011



PEDRO PASSOS COELHO - BEST OF 2010/2011 [via Aventar]

"não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra" / "Não basta austeridade e cortar… não se pode cortar cegamente" / "espero que este orçamento não traga mais impostos" / "espero como futuro primeiro-ministro, nunca dizer ao país ingenuamente, que nunca conhecemos a situação" / "passados 5 meses o governo limitou-se a aumentar os impostos. Foi o próprio governo que confessou a sua incapacidade ... sempre o caminho mais fácil" / "...que não matemos o doente com a cura" / "não basta austeridade e cortar ..." / "...o IVA não é para subir" / "o governo está a prometer alienar participações como quem quer vender os anéis para ir buscar dinheiro" / "e que representa sempre o mesmo esforço, de tratar os portugueses à bruta e dizer ... agora não há outra solução ... nós temos um défice muito grande e temos de o pagar" / "o Estado deve dar o exemplo. Não devemos aumentar os impostos ... o orçamento que foi apresentado na AR este ano (ahhh) de alguma maneira vai buscar a quem não pode fugir ... que é os funcionário públicos ... e portanto precisamos de um governo não-socialista em Portugal".

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O INTELIGENTE



"O mais inteligente dos homens é, em douta opinião, aquele que se chama imbecil ao menos uma vez por mês, e hoje quem vai nisso? É reparar no que dizem, escrevem e fazem os nossos pluralistas duma figa.

Noutros tempos, um imbecil compenetrava-se de que o era, até convinha. Na longa noite fascista (oh, estes lugares-comuns são deliciosos) era prudente. Agora, acabou-se! E baralharam tão bem as cartas, numa batota tão sabida e repetida, que um homem inteligente já não se distingue do imbecil. Estes tipos, pós 25 de Novembro, fizeram-no de propósito.

Um imbecil, aliás não tem preço. Isto é, não vale nicles. Um traque sempre é qualquer coisa. E esta referência escatológica lembra-me que estou na hora de jantar..."

Luiz Pacheco, in Textos de Guerrilha

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ORAÇÃO REPUBLICANA


"Mãe Nossa, que estais na Terra, bem abençoada seja a Vossa face, venha a todos nós a Justiça, a Igualdade sem demagogia, o sentirmo-nos gente entre gentes, capazes de fruir da Felicidade que o nosso Trabalho for capaz de conquistar, e seja feita a nossa vontade, nós que somos Obreiros do Tempo e da Charrua, da Pena e do Escopro, da Enxada e da Espátula, do Músculo e da Palavra. O Pão nosso de cada dia haveremos de o conquistar, contra o devorismo e a desmedida ambição, contra a manipulação e o Privilégio. Nós, que somos gente comum, sem deixarmos de ser Gente de suma importância nos caminhos do Futuro, nós que temos a universal certeza de que em nós reside o pão e a sopa quotidiana, o saciar da fome e a vingança da Iniquidade, nós, gente comum entre seres humanos vulgares, nós que somos a gota de água no deserto, o grão de trigo na Terra Inóspita do Sem Fim, nós que temos na palma da nossa mão o querer de uma vida mais séria e melhor, nós aqui vimos, junto da ara da Humanidade, colados à responsabilidade da Nossa precária Humanidade, para te dizeremos, Irmão de todas as estações, que não desistiremos de fazer a Justiça, de fazer a Liberdade sem licença, de edificar a Res Publica sem corrupção, para que as Crianças possam nascer em Paz e para que o Sol nascente nos ilumine a todos, nós aqui declaramos o nosso AMEN, como charneira de Salvação, como Arca de Aliança para todo o Sempre. Amen !"

Amadeu Carvalho Homem [in blog Livre e Humano]

via Almanaque Republicano

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

VIVA A REPÚBLICA!



VIVA O 5 DE OUTUBRO! VIVA A REPÚBLICA!


FADOS DA REPÚBLICA - DESTRUIR A MONARQUIA


VITORINO - FADO REPUBLICANO

"Sou republicano e livre-pensador por um ditame de consciência ou, por outras palavras, por um mandamento de moral" [Raul Proença]

"... para um verdadeiro democrata, não há apenas a liberdade, mas nada existe, como fim humano, superior à liberdade; nada se pode fazer só com a liberdade, mas nada de humano de pode fazer também, sem ou contra ela. Que ideias tão maneirinhas não tenham ainda penetrado na consciência republicana é o que nos pode explicar muita coisa (…) Numa palavra, somos em geral maus democratas porque somos maus pensadores; por outras palavras, porque pensamos falsamente. O maior serviço que se pode prestar, pois, a este país, é obrigá-lo a pensar justo. Obrigá-lo … significa aqui criar todas as condições para se criar uma nova mentalidade …" [Raul Proença]

VIVA A REPÚBLICA!

Saúde e Fraternidade

via ALMANAQUE REPUBLICANO

domingo, 2 de outubro de 2011

MANUEL DA FONSECA - "POR TODAS AS ESTRADAS DO MUNDO"




CONGRESSO INTERNACIONAL: "Por Todas as Estradas do Mundo" - No Centenário do nascimento de Manuel da Fonseca;
ORGANIZAÇÃO: Centro de Estudos Comparatistas da F.L.U.L., Museu do Neo-Realismo e Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, C.M. Vila Franca de Xira e C.M. de Santiago de Cacém;

DIAS:

- 7 de Outubro (Faculdade de Letras, Anfiteatro III, Lisboa);
- 8 de Outubro (Museu do Neo-realismo, Vila Franca de Xira);
- 9 de Outubro (Auditório C.M. Santiago Cacém);

ver PROGRAMA AQUI;

FICHA DE INSCRIÇÃO AQUI

via ALMANAQUE REPUBLICANO

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

NOTÍCIAS DA FRENTE


"Também conhecemos livreiros que faziam política e as sua lojas constituíam alfurjas que mantinham uma instituição bem ibérica – a conspiração política, estado permanente dos dois povos peninsulares, sempre virados para a revolução palaciana, para o caudilhismo, que se transportou para a América Latina. Não dizia o Eça que nós éramos a pevide e os outros, os brasileiros, a melancia...?" [Jorge Peixoto]

[no dia de S. Cláudio] Com os dias a diminuir, os trabalhos do amador de livros a quem não importa a vida alheia, mas sim a D. Bibliografia (cf. Matos Sequeira), são de enorme canseira. Começam os Leilões de Bibliotecas e as estantes altas garantem o seu papel, com graça e proveito. O negócio do livro abunda em método e labor. Os catálogos caem – se os CTT assim o entenderem – no regaço do aprendiz, que ainda tem essa capacidade de se espantar por todos esses livros em socorro perpétuo. O amador de livros deve escolher a peça bibliográfica com afago, certamente, mas também com a promessa de câmbio futuro. É que o sr. Gaspar das finanças já pronunciou o amanhã que nos espera. O nosso tormento é, portanto, salvar o livro e amparar o corpo. Não é pouco o nosso espanto e farta a nossa bolsa, porém arrematemos na praça sem hesitações ou gemidos de pânico. O amanhã cantará, por Santa Catarina!

- informa-se os estimados leitores & amantes de livros, que a ilustre & determinada Livraria Letra Livre irá dar a lume (edição fac-similada) a incontornável obra de Rubens Borba de Moraes, "O Bibliófilo Aprendiz". Estimada e grande merecimento, a peça bibliográfica de Borba de Moraes faz falta colossal (cf. Dicionário Perpétuo do Gaspar das finanças) aos aprendizes de bibliofilia.

- nos próximos dias (do dia 10 a 15 de Outubro, sempre às 21 horas) vai à praça uma "Biblioteca de Literatura, Arte e História, Livros raros ou curiosos coleccionados por um distinto bibliófilo portuense". Organização esmerada da Livraria Manuel Ferreira, sitiada na Invicta. Consultar o sempre estimado catálogo AQUI (II vols). O Leilão realiza-se na Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto), Porto.

- CATÁLOGOS do Mês: com a pontualidade costumeira está online o Boletim da Livraria J. A. Telles Sylva; a Livraria Castro e Silva apresenta o seu 129º Catálogo com (645) peças bibliográficas estimados e raros livros, evidentemente para esmerados bibliófilos de forte & vantajosos cabedais. Uma luxúria!; a Livraria Moreira da Costa (Porto) lançou o seu Boletim de Setembro, com um conjunto de peças portuenses muito estimadas. Em atenção o lote de Annuarios da Academia Polytechnica do Porto e um outro [Boletim] da Sociedade de Geografia, de merecida estimação.

- [LÁ POR FORA] Chama-se à pedra o 93 º Catálogo (online) de/sobre Aleister Crowley, que a estimada Weiser Antiquarian Books promove. Estas raridades, manuscritos e livros deste antiquário são para iniciados nos mistérios do mago "negro" ou colecionadores afortunados; a Liber Rarus, de São Paulo (Brasil) apresenta novidades na sua página, algumas referentes à paróquia. A ver com atenção; a 2ª parte da Biblioteca de Patrick de Brou de Laurière [clicar para ver o Catálogo] segue no próximo dia 1 de Outubro. Excelente lote de livros de arqueologia, a ler com atenção.

- [Vinil à Portuguesa - especial melómanos ou celestial música para curiosos ouvidores] o sempre estimado Bernardo Trindade, da preciosa Livraria Campos Trindade, promove no dia 8 de Outubro (a partir das 11 horas) uma Venda Especial de Discos de Vinil (em todas as suas rotações por minuto), colheita indígena de vários anos. Já por lá vimos um Artur Paredes, peça de colecção. A não perder!

VERGÍLIO FERREIRA




in VERGÍLIO FERREIRA uma semana de coloquios e de cinema, Editorial Inova, 1977

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MOLÉSTIA COLOSSAL


"Coveiro – Encarregado de esconder os segredos do boticário e as asneiras do médico" [in Dicionário João Fernandes, 1878]

A colecção de memórias económico-políticas destes últimos 30 anos (trinta e seis, mais exatamente) é colossal. O encontradiço apanha, na sua infecta relaxação, desde logo a figura do pregoeiro dr. Cavaco (o custo psicológico da crise), apanhando, nesta bula do mainstream economics, alguns mitos vivos da paróquia (que curiosamente não nos largam a braguilha televisiva) e que o repertório cavaquista construiu na sua irremissível tragédia – o inenarrável dr. Catroga; o fabulista & mui bem reformado (post tot tantosque labores) Silva Lopes; depois (ou ex-ante) o implacável homúnculo da vera casta económica, o dr. Bessa e as suas tábuas macroeconómicas; o galante homo ludens da estética económica, Miguel Beleza, um purista clássico na capacidade de gozo; os sempre sábios, o utilitário mercantil Braga de Macedo e o merceeiro (também investido de pitonisa) Medina Carreira.

A não esquecer, evidentemente, a presença desse durável alumbrado, Mira Amaral, posto que decorado, em evidência, pela sua discursata apofântica sobre a nova catalaxia, enquanto que, e curiosamente, o aprendiz (no sentido literal) leitor do The Wealth of Nations, o meante Pina Moura, depois de abolido os vínculos, surge cada vez mais insuspeito, mas por vezes pouco inventivo nas divinas parábolas sobre a ortodoxia do mercado. Já o mesmo não é de dizer, quando se escancara o asilo económico, do ex-vencido da economia, o autorizado "burger" Luís Campos e Cunha, agora misteriosamente arredado do respeitável auditório, ao que julgamos por modéstia ou puro amadorismo. Respirai, pois, a fragrância destes cultivadores da poção económica & financeira, o exército de reserva do dr. Cavaco, ad majorem gloriam.

A conversa em família do presidente Cavaco, ontem na TVI, vem confirmar a sua atávica irresponsabilidade política e desvela (à margem) a sua imutável estratégica de desenvolvimento económico (a doxa cavaquista no seu melhor), aquela que nos colocou na penúria e nos faz cair na barbárie. Cavaco, que curiosamente apareceu travestido de professor, confeccionando a matéria da aula sobre o exaurimento financeiro, lamentou que os seus apelos (?) sobre a "situação explosiva" financeira em curso não fossem "ouvidos", esquecendo (com dolo) que sempre foi um lídimo apoiante da governação de Sócrates & Teixeira dos Santos (uns reformadores da pátria, no seu preclaro entendimento).

A barrela que agora pretende fazer é, sem sombra de dúvida, tardia, pouco habilidosa, inoperante. É tarde! Demasiado tarde! Cavaco - que nunca foi um estadista sério e consistente, um político completo, antes um simples técnico (e garantidamente medíocre) - não tem autoridade política (o monstro financeiro tem a sua paternidade) para procriar lamentações. E se nos lembrarmos que, ainda há poucos anos, nos requintou com a exaltação de se seguir o "excelente" trabalho da economia madeirense, então a tragédia está consumada. Não é por acaso que Jardim é deixado em sossego paroquial. O sr. Silva entende que pode dormir, para todo o sempre, indiferente às dívidas, tropelias e abusos daquele indivíduo.

Depois, em transe dominical, o putativo técnico faz recomendações à governança europeia. Do memorandum cavaquista, para além da bem humorada mensagem filosofante para "um programa de competitividade, crescimento e emprego", com insólitos remoques a frau Merkel, ressalva-se o projecto singular de um BCE a produzir "infinitamente" moeda (honeste vivere que tanto alumiou os governos de Cavaco) para cobrir a indisciplina orçamental dos estados. A exortação de Cavaco é bem conhecida. E temos fundadas razões para não aderir a este santo padroeiro, que em tempos frequentou York.

"Lass dir zeit", dr. Cavaco!

EU SOU ...



Eu sou
o mais boquiaberto
dos ministros.

Estas finanças
doem
como um calo.

Estas finanças
devem ser um galo
cantando o ouro
que urinam
as crianças.

Estas finanças
devem ser um falo
ubérrimo Brasil
de esquálidas
donzelas.


[Armando da Silva Carvalho, in Ovos d’oiro, 1969]

… de regresso ao V. aconchego, contra o sono do esquecimento. Boa noute.

Vale!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

MOODY'S JUNK MAIL



Moody's Junk Mail:

5 de Julho de 2011, a Moody's considerou Portugal "LIXO".

Na sequência disso, Pedro & Hugo, uma dupla de criativos aproveitou um tempo livre entre o seu trabalho na BBDO e mandou uma carta para a sede da Moody's em Nova Iorque. Uma carta com um pedaço de Portugal como ele é visto pela Moody's.

Só para que saibam que estamos a trabalhar para elevar o nosso rating ...

via Youtube

quarta-feira, 6 de julho de 2011

COELHO DESMASCARADO OU LETREIROS DO CATECISMO NEOLIBERAL


"Coelho – Ingénuo dos matos" [in Dicionário João Fernandes, 1878]

O raminho de adesivos, devotos da superstição liberal, que levita na obscura governação (!?) do sr. Passos Coelho, teve hoje, para lá da minúcias costumeiras, um dia de copiosa erudição doméstica. A paróquia, escoltando o comboio lusitano do default posto a correr pela santa Moodys, pasmou nas redobradas unções desses cavalheiros. O downgrade do rating da República anunciada repesou o discurso patriótico. O representório é farto e variado. Ninguém ficou de fora na caprichosa polémica sobre as agências de rating.

O indigenato, desde o conspícuo dr. Cantigas ao invulgar guarda-portão Durão Barroso e do ignorante zelador Zé Manel Fernandes (leia-se este anedotário económico) ao sábio vigário João Miranda, a fazer fé nos suspiros & pronunciamentos acasalados, soprou (prenhe de graça neoliberal) autorizadas explicações e demais "traficâncias dos áulicos". O sr. Passos Coelho confessa que levou com "um murro no estômago". Gasparzinho, orador das Finanças, assegura que a Moddys "ignora" os paliativos que se está a praticar. O nosso admirável raminho de banqueiros defende que se deve "romper com as agencias de rating". Álvaro, professo da tradição coimbrã, prepara, desde já, a venda da ilha Madeira aos chineses. O lavrador Portas espera um milagre bíblico: já telefonou a Bush. Frau Merkel, de resto clássico, discorda das manhas da Moddys. A dra Manuela Ferreira Leite, imperturbada no seu mausoléu partidário, ignora (agora) o sinal da Moddys de falta de confiança no Governo. E Sócrates, no segredo inviolável do exílio, dizem que sorri grávido como um filósofo. De facto, o país (e a Europa) virou uma coelheira, nestes dias.

Os amadores da coisa económica são, portanto, na opinião e autoridade intelectual, uma agremiação curiosa. E acordam sempre muito tarde, decerto por dever de ofício ideológico. O dr. Cavaco (por exemplo), num curioso diseur (Memorabilia Cavacus dicta), assegura "não haver a mínima justificação para que o rating de longo prazo de Portugal tenha sofrido tal corte" e, num decerto malfalante linguado, "congratula-se com a condenação da atitude da agência de notação financeira Moodys por parte da União Europeia". Que cacofonia. Que desatino. Ora que maçada! Lembra-nos sempre essa deliciosa paródia da primeira aula de Finanças Públicas do ano, tricotada pelo lente Cavaco Silva, quando anunciava (enternecido) a estatística dos chumbos do ano anterior. Mas não durou muito o rating cavaquista. Perante a recusa às aulas dos "clientes" assim escruciados, lá teve de caminhar o lente para terras de York. Admirável resposta! Acautelai-vos Ó Moddys.

E - pasme o leitor(a) pelo nosso testemunho - afinal em que ficamos? Continuamos nesta tresvairada (des)construção da União Europeia, sem lustre nem grandeza, vacilantes nos passos a dar, sem comandante nem barco, sem gente de respeito? Acaso o sr. Trichet (ou o servo Constâncio), distinto empregado do BCE, tem utilidade, visão ou rasgo para o lugar que (misteriosamente) ocupa? A quem obedecerá, na sua prece íntima ou linha de orientação estratégica, o inefável Presidente da Comissão Europeia? Como salvar o Euro e ao mesmo tempo, nos salvar do "estoiro" da economia norte-americana? Como jogar o jogo com as empresas de notações de risco, com exigência de transparência responsável e sem qualquer forma de manipulação? Como conseguir fugir à devassa, pagar os juros a vencer e os deficits futuros, que são o nosso fado? Como nos livrar desta soldadesta neoliberal, desta perversão maníaca dos mercados sem regulação, desta religião ou purga neoliberal? Quando seremos um país decente, economicamente produtivo e equilibradamente justo, civilizado no trabalho e na vida, fraterno e transparente nos rendimentos e na coisa pública? Haverá um amanhã? Afinal "que é o meu nada, comparado ao horror que vos espera" [Rimbaud].

segunda-feira, 27 de junho de 2011

HOJE - LEILÃO DE LIVROS E MANUSCRITOS


LEILÃO: Livros e Manuscritos. Séculos XVI a XX;
DIA27 de Junho (21 horas);
LOCAL – Palácio da Independência (Largo S. Domingos, 11, Rossio), Lisboa;
ORGANIZAÇÃO – Leilões Artes e letras;
CATÁLOGOAQUI & AQUI.

A Leiloeira Artes e Letras (sob direcção de José Vicente & Luís Gomes) organiza um Leilão de Livros e Manuscritos (Século XVI a XX), de Literatura, Viagens, livros Estrangeiros sobre Portugal, livros ilustrados, Arte, HOJE, dia 27 de Junho (21 horas) no Palácio da Independência (ao Rossio, Lisboa). São 532 peças bibliográficas estimadas, valiosas e raras que são colocadas à venda.

Façam favor de consultar AQUI ou AQUI o seu Catálogo online.

CIRCO PAROQUIAL


"O circo é a vida. A Grande Festa... o circo somos nós todos... ou ainda mais (digo eu)" [Eduardo Guerra Carneiro]

Ao que parece, o sr. Passos Coelho vulgarizou o medo entre os indígenas. Por artes verbais & outros brados de espírito (lançados pela autorizada gramática do default) os paroquianos enxaguam as gotículas de vil terror que lhes tombam da cabeça etérea.

As manifs da Grécia (com o sereno Loukanikos a comando) e o medo da Europa do fugaz Barroso, a figura algida da sra. Merkel, a toga do conselheiro Noronha do Nascimento, o sorriso evangélico do ministro Álvaro da economia & outros mysterios (cumptos dos antigos companheiros da casa dos Limas), o olho pisco do prócere pregador Portas (lenda viva das Necessidades), o ultimatum às almas tormentosas pelo troveiro Ferreira do Amaral, o bucolismo expressivo da agricultora & maruja Assunção Cristas, eis os tão curiosos temas que lavram sombrias paixões e arrastam (para já) o cidadão lusitano para o infortúnio, agonia da pátria e, repito, vil terror. Dizem os noticiaristas, agora tudólogos.

O sr. Passos Coelho atrelou para a governação os sujeitos que tinha (vulgarmente) de expedir. A pouca (dizem) dilatada lista com que ofertou o país impressiona, descerrando milhares de lábios. Os novíssimos ministros & outras miudezas (a ofertar à Nação dia 28) esterilizaram, para já, o ruidoso e sonoro grupelho de amigos do sr. Sócrates (o conhecido José Lello, é certo, ainda estrebucha e, ao que parece, fugirá mesmo à bengalada rosa). Mas não é certo que, esse raminho de liberais, se eleve às alturas da situação e à devassa da ruína. O comércio intelectual não abunda, a improvisação ideológica e os impiedosos golpes vindo da Europa da sra. Merkel irão confirmar os obséquios fúnebres.

O sr. Passos Coelho está, portanto, a recibo verde. Cativo das suas promessas (como tantos ministros: veja-se Nuno Crato), escravo da superstição liberal, abrasado que estará pelo delírio do aparelho partidário, com um Cavaco Silva enxertado em hierofante económico e pouco esquivo às garotadas (e basófia) do sr. Portas, o sr. Passos Coelho está definitivamente prisioneiro: de si próprio e dos seus atribulados interesses. Quem viver, contará! O circo pode continuar ...

sábado, 4 de junho de 2011

MOMENTUS DE REFLEXÃO


"É justo que pensemos um pouco na Pátria. Porque enfim, temos uma pátria. Temos pelo menos – um sítio. Um sítio verdadeiramente é que temos: isto é – uma língua de terra onde construímos as nossas casas e plantamos os nossos trigos. O nosso sítio é Portugal" [Eça de Queirós, As Farpas, Janeiro de 1872]

"Portugal é uma nação enferma do pior género de enfermidade, o langor, o enfraquecimento gradual que, sem febre, sem delírio, consome tanto mais seguramente quanto se não vê órgão especialmente atacado, nem se atina com o nome da misteriosa doença. A doença existe, todavia. O mundo português agoniza, afectado de atonia, tanto da constituição íntima da sociedade, como no movimento, na circulação da vida política" [Antero de Quental, 1868]

"Portugal é uma fazenda, uma bela fazenda, possuída por uma parceria. Como vocês sabem, há parcerias comerciais e parcerias rurais. Esta de Lisboa é uma parceria política, que governa a herdade chamada Portugal … Nós, os Portugueses, pertencemos todos a duas classes; uns cinco a seis milhões que trabalham na fazenda, ou vivem dela a olhar, como o Barrolo, e que pagam; e uns trinta sujeitos em cima, em Lisboa, que formam a parceria, que recebem, e que governam. Ora eu, por gosto, por necessidade, por hábito de família, desejo mandar na fazenda. Mas para entrar na parceria política, o cidadão português precisa uma habilitação – ser deputado" [Eça de Queirós, in Revista Moderna]

"Cada país tem o governo que lhe é adequado; a sociedade portuguesa, sustada sem seu desenvolvimento, nunca chegou a ser um organismo colectivo, vivendo do seu trabalho, com ideal político comum, capaz de se raciocinar e exprimir uma vontade geral. Ela constitui sem dúvida uma excepção na Europa, Ontem como hoje, tem sido sempre uma sociedade de aventureiros. Emudecida sobre as questões referentes ao bem da comunidade, só a interessam a emigração e as aventuras d’além-mar. O que cada um deseja é que o deixem sair”" [Alberto de Sampaio, in Revista de Portugal]

"Creio que isto é uma raça perdida. Começo a crer que biologicamente a nossa decadência degenerativa é manifesta. Não se trata apenas duma desagregação de alma colectiva, trata-se duma dissolução mais funda, mais íntima, passada na alma de cada um. Dá vontade de morrer – de vergonha" [Manuel Laranjeira, Diário Íntimo]

"Doze ou quinze homens, sempre os mesmos alternadamente possuem o Poder, reconquistam o Poder, trocam o Poder" [Eça de Queirós, Farpas, Junho 1871]

"A península Ibérica parece que herdou uma neurose – que em Espanha se tornou um génio raiado de loucura e, em Portugal, degenerou em imbecilidade misturada de velhacaria. Junte a isto (para Portugal), as influências hereditárias de uma avara genética, e explica muita coisa do País" [Eça de Queirós, A Capital]

"Em Portugal o cidadão desapareceu. E todo o País não é mais do que uma agregação heterogénea de inactividades que se enfastiam" [Eça de Queirós, Farpas III]

"O bacharel, tendo a consciência da sua superioridade intelectual, da autoridade que ela lhe confere, dispõe do mando; ao futrica resta produzir, pagar para que o bacharel possa viver, e rezar ao Ser Divino para que proteja o bacharel" [Eça de Queirós, Farpas III]

“O que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos decide no Chiado que Portugal seja – é o que Portugal é" [Eça de Queirós, O Francesismo]

in João Medina, "Eça Político", Seara Nova, 1974

sexta-feira, 3 de junho de 2011

ELEIÇÕES - LOGRO & FADO


"Os tempos não vão bons para nós, os mortos" [M. António Pina]

Este "capitalismo do desastre" [Naomi Klein] é cada vez mais um espectáculo de compra e venda a retalho da mentira, um comichoso & esquizofrénico comércio de ódios contra quem trabalha e (sobre)vive: uma tragédia contra a democracia. O seu proselitismo subversivo contra os valores da sociabilidade e da ética de estar na economia, no governo e na vida colectiva, estão por demais evidentes. A incapacidade - episódio maior destas eleições (!?) e que a boca dos correligionários do sr. Sócrates permite, a linguagem de trapos dos amanuenses do sr. Coelho exprime ou que o populismo miserável dos garotos de sr. Portas desvela - deste "Reino Cadaveroso" falar verdade e sem dogmas, é o "nosso" fadário. Trágico!

As cambalhotas político-económico-financeiras desta rapaziada da troika interna, encharcadas em plena crise de prosaicas (& floridas) mezinhas neoliberais vindas da troika externa, revelam que nada se aprendeu sobre o descalabro contínuo e persistente dos mercados financeiros, do declínio e construção da União Europeia e da selvática & intratável economia global. Quem nada entendeu sobre a incompetência e a insidia que foi a governação do sr. Sócrates poderá presentear os indígenas com novas-velhas historietas ou as derramas de promessas eleitorais por demais conhecidas, esquarteladas, provadas, mas de modo nenhum fugirá ao desaire final esperado. Porque não se trata apenas de "mudar de lugar" o que está "entre as pernas" [M.A.Pina], mas sim de abrir a porta à esperança de uma vida decente, honrosa, fraterna. Assuntos que estão arredados definitivamente e para sempre, deste lerdo aranzel comicieiro.

Por isso, estas eleições (!?) não são mais que um triste e extravagante memorial de capitosas mentiras, impiedosas omissões e asfixiantes inverdades, que o(s) memorando(s) da troika externa confirma e determina para uso & consumo da troika interna dos interesses e da irresponsabilidade. O arraial dessas luminárias ficará, mesmo que a coberto de pervertidos jornaleiros & conhecidos merceeiros da paróquia, como um marco das maiores tragédias da história pátria.

Nada de espantos, cada um é o que é … e domingo há eleições. Para respirar, ser livre e praguejar contra a servidão. A meio do enterro, e apesar disso, lá estaremos!

terça-feira, 24 de maio de 2011

BOA GENTE!


A memória é como o homem atingido
pela flecha envenenada: antes que curem
a ferida ele pergunta quem o atingiu,
como se chama, onde está, o seu aspecto.
Então talvez saiba mais sobre a flecha
e o archeiro, mas é demasiado tarde
para ser salvo


Pedro Mexia, "A Flexa Envenenada", in "Em Memória", 2000

sexta-feira, 20 de maio de 2011

PUERTA DEL SOL: UN ESPACIO PARA LA INDIGNACIÓN


"El problema no es cuál sea nuestro ideario sino de dónde provenga, el problema real no es lo que está ocurriendo sino qué nos están contando y cómo nos lo están contando. La información es PODER. ¿Lo sabemos ya todos? ¿Sí? Pues entonces nosotros, los que tenemos más de cincuenta años y hemos tragado con carros y carretas, los que hemos padecido, sorteado y luchado contra la censura manifiesta que nos fue impuesta en los años oscuros… ¿qué vamos a hacer ahora ante lo que estamos viendo con nuestros propios ojos?" [ler AQUI]

LOCAIS: MANIFIESTO “DEMOCRACIA REAL YA" / Puerta del Sol: un espacio para la indignación / ¿Qué hacemos las personas mayores ante lo que está pasando en la calle? / El Movimiento 15-M decide no moverse de Sol / Miles de manifestantes vuelven a pasar la noche en la Puerta del Sol / La #spanishrevolution se extiende a todo el mundo / Se concentrarán en la Puerta del Sol en la jornada de reflexión / La Junta Electoral prohíbe las «concentraciones» del fin de semana / Radiocable.com / ¿De dónde viene tanta indignación? / Spanish ‘revolution’: Thousands gather in Madrid’s Puerta del Sol Square [Washingtonpost-Video] / Vista aérea de la concentración en Sol 17M #acampadasol

HORAS DE LUTA. HORAS DE COMBATE


"Depois de caçar tiranos
Vamos caças borboletas!
" [G. Junqueiro]

“A sociedade portuguesa está organizada para o mal. Não é já o mal esporádico e fortuito, em casos isolados que rapidamente se combatem. Não; é o mal colectivo, o mal em norma de vida, o mal em sistema de governo. Os poderes funcionam deliberadamente, com um fim: produzir o mal. Porquê e para quê? Porque o mal são eles e querem conservar-se. Um regímen corrupto só na corrupção subsiste. Mantém-se na corrupção, como alguns bacilos na porcaria. O seu ódio ao bem é fundamental e orgânico.
A filosofia da vida dum tal regime é a filosofia do porco: devorar” [ibidem]

"Então o povo que deixa prostituir a consciência, roubar os direitos, vilipendiar a história, o povo cobarde que não defende a honra, quer defender a camisa?
Que lha levem, com o último pão, os últimos andrajos! Que ruja de frio, que estoire de fome! A fome é como o fogo: abrasa e depura. Os que aviltam gozando, só se regeneram sofrendo. Não venham libras, venham desastres. Sobre a nossa infâmia chovam calamidades e tormentos" [ibidem]

"Já cai de podre o mundo velho e um mundo novo se elabora: Já surgem profetas e se martelam cruzes em calvários. Ciclones de dor e de infinito varrem, troando, o negro mar da humanidade.
Pão! Venha pão! – ululam bocas formidandas.
Ideal! Ideal! Ideal! – gritam as almas às estrelas.
Porque as bocas têm direito ao pão e as almas têm direito à luz.
Se acaso nós, revolucionários, nós que clamamos por direito e que bradamos por justiça, aqui um dia implantarmos uma nova forma de governo, que ela seja, antes de tudo, o caminho aberto para uma nova forma de civilização ..." [ibidem]

Guerra Junqueiro, in Horas de Luta (Livraria Lello) e Horas de Combate (Livraria Chardron)

via Almanaque Republicano

domingo, 15 de maio de 2011

CASO E PROVA


"Não há boas leis, só há boas repressões" [Fourier]

"O nosso século, em face do século XIX, parece um renascimento da Fatalidade" [André Malraux]

"Certo pobre pedia esmola a um arcebispo, dizendo-lhe: Monsenhor, estou cheio de fome. Ao que o prelado respondia: Bem podes dar-te por contente, mariola. Palavras justas de ambas as partes, pois se para o pobre é uma desgraça não ter nada de comer, para o arcebispo, que tem sempre a mesa posta, ter fome só pode ser uma alegria" [Fourier]

"O pêndulo do relógio tornou-se a medida exacta da actividade de dois operários, como o é também da velocidade de duas locomotivas. E então não se deve dizer que uma hora de um homem vale uma hora de outro homem, mas antes que um homem de uma hora vale outro homem de uma hora. O tempo é tudo, o homem já não é nada, quanto muito é a carcaça do tempo" [Karl Marx]

"Sabemos perfeitamente como o cretinismo quantitativo sabe reivindicar-se da democracia para a esmagar sob as piores ditaduras ou para fazer dela a coutada dos intelectuais. Ela levou ao poder o nazismo, o fascismo, o estalinismo, o integrismo, a corrupção política e esse parlamentarismo tão ignorante da vida, que pretende alimentá-la com o feno da democracia e a protecção mafiosa. Basta fazer engolir sapos aos homens e aos povos, para que eles defequem víboras" [Raoul Vaneigen]

"Necessariamente, expomos um caso e o provamos. Não podemos expô-lo e omitir a prova, ou apresentar esta sem declarar o caso; aquele que prova deve ter o que provar e aquele que antecipa uma declaração fá-lo com o objectivo de prová-la." [Aristóteles]

"Dissimular o que se é, simular o que não se é... Isto implica inegavelmente: não dizer – nunca – o que se pensa e o que se crê; e também: dizer – sempre – o contrário." [A. Koyré]

"Quando se faz uma estátua, não se deve estar sempre sentado no mesmo lugar; é preciso vê-la de todos os lados, de longe, de perto, de cima, de baixo, em todos os sentidos" [Montesquieu]

"Mas a liberdade começa na escravidão e a soberania na dependência. O sinal mais vivo da servidão é o medo de viver. O definitivo sinal da liberdade é o facto de o medo deixar espaço ao gozo tranqüilo da independência.
Dir-se-á que preciso de ser dependente para conhecer o gozo de ser livre! É certamente verdade. À luz dos meus actos, percebo que toda a minha vida parece não ter tido por objectivo senão construir o seu próprio infortúnio: sempre me escravizou o que devia tornar-me livre" [Stig Dagerman]

"A falta profundamente sentida de personalidade criou um estado de incêndio espiritual. Os bois evadem-se dos currais a meio das chamas; o publicista evade-se do assunto a meio da cultura. A meio desta pestilência espiritual, a gente tapa as ventas" [Karl Kraus]

"Quando os vassalos recusarem sujeição e os funcionários se demitirem dos cargos, a revolução está feita" [Henry D. Thoreau]