quinta-feira, 31 de maio de 2007


Leilão de Livros – 4 e 5 Junho

A Livraria Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa) realiza nos próximos dias 4 e 5 de Junhona Sala Veneza do Hotel Roma – um Leilão de Livros. Encontrará à venda lotes estimadíssimos, a saber: Inquisição, Judaica, Etnografia, Ciências, Quinhentistas, Maçonaria, Mapas, Arte, História, Musica e Viagens. São 680 peças, entre valiosas e raras. Organização de Luis Burnay.

Algumas referências (Dia 4): Memoria Histórica-Economica do Concelho de Serpa, de José Maria da Graça Affreixo, 1884 / Traité des délits et des peines par C. B. Beccaria, Paris, 1797 / Livro das Plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental, por António Bocarro, Bastorá, 1937-40, III vols / Cadernos Coloniais, Editorial Cosmos, 70 numrs / Cantigas d'Escarnnio e Mal Dizer ..., ed. critica de Rodrigues Lapa, 1965 / O Casamento simulado com a photografia de Maria Eugénia dos Santos, Lisboa, 1886 [rara peça onde "se descreve o processo ao famoso militar Pedro Soriano", como se sabe "imortalizado" por Guerra Junqueiro] / Flores de Coral: Últimos Poemas, por Alberto Osório de Castro, Dili, 1867 [1º livro saído das tipografias em Timor, de reduzida tiragem, 320 expls] / Fêstes et Courtisanes de la Gréce ..., de Pierre Jean Baptiste Chaussard, Paris, 1821, IV vols / Chronica Constitucional do Porto, publicação portuense rara, 1832-1833 (52 numrs) / O Contemporâneo, revista rara e valiosa, 1874?-1886, 156 numrs / The sufferings of John Coustos, for Free-Masonry ..., London, 1746 [imp. para a história da inquisição e maçonaria portuguesa] / Definições, e Estatutos dos Cavalleiros, e Freires da Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo (Ordem de Cristo) ..., 1746 / A Fénix Renascida, ou Obras Poéticas ..., Paris, 1811 [valioso testemunho da poesia barroca portuguesa] / Outras Terras, Outras Gentes, de Henrique Galvão, Empr. Jornal de Notícias, s.d., II vols / Memoria sobre os Judeos em Portugal, de Joaquim José Ferreira Gordo, s.d. / A Harpa do Crente, por Alexandre Herculano, Lisboa, 1838 (rara) / Geschichte der Juden in Portugal, de W. Kayserling [ed. primeira e rara alemã (1867) e outra peça traduzida em português, de ed. Brasileira, 1971]

[nota: Luis Burnay está, pelo que nos é referido, on line. Não conseguimos aceder, mas o site está aqui, para todos os efeitos]

A Greve Seráfica

"a liberdade é um dom do mar” [Proudhon]

Não discutimos a greve. Geral, parcial, espontânea ou permanente. Ela é sempre legítima e democrática, tenha a capacidade inventiva e a dimensão íntima que tiver. Por isso não anunciamos a vossa, formal e de choro desvalido. Daí, também, que não nos pronunciemos sobre aquela outra, que é sempre "no bisel dos beijos". Um cavalheiro - sabem os democratas - nunca denuncia o amor ou ódio em público. Tem recato, nas horas vagas de serenidade. Fica, assim, para o putedo intelectual, para quem a greve é sempre a maneira vocativa da canalha ser obscena, alentar maliciosamente a análise e a interpretação sobre a caducidade da "coisa". O tédio de quem nunca trabalhou e a chateza da vida dão sempre origem a melodias anti-greve formidáveis, de puro exotismo.

Ontem - dia de greve - a bravata de algumas personagens, de sorriso seráfico, rendeu a mais boçal das récitas governamentais. A comunicação social, em especial o reaparecido Diário da Manhã, foi retumbante de gracejo político sobre a greve e os grevistas. E de extenuadas vénias ao poder. Para quem assistiu à investida exterminadora de uma sra. jornalista (TVI?) contra o "bom" do Carvalho da Silva, durante a sua conferência de imprensa, entenderá a fúria e coacção que por sobre os indígenas cai.

Por tudo isso, não espantou que um raminho de zelosos subordinados do eng. Sócrates, com o inefável Silva Pereira, o clássico João Figueiredo e o garoto Fernando Medina à ilharga, se ocupassem do empolgante trabalho de manipular e intimidar cidadãos livres, ao longo do dia. Os comissários partidários, como no tempo do Botas de S. Comba, regressaram em força. Frescos, buliçosos e desprovidos de hábitos democráticos, tais personagens que parecem comentadores de um jogo de futebol, explicam que de 2007 para 1973 "o olhar trocou-se / não se trocou o cheiro" [O'Neill]. Conhecemo-los bem.

terça-feira, 29 de maio de 2007


4 Anos de Luxo

"C'est moi, femmes, je trace mon chemin" [W. Whitman]

No passado dia 17 deste mês de Maio, estação onde se colhem "as ervas para fenar", consentimos o nosso tranquilo 4 aniversário. Fomos brandos na quietação. Não carpimos mágoas, nem carecemos de pedir conforto à pátria. Os nossos cândidos amores prolongaram as festividades. A natureza "trabalhou" a nosso favor: vigiámos a colheita dos fólios, lavrou-se a kultura em pousio, enxofrámos a vinha. Metemos a estaca ... no jardim! Fomos felizes. Lá diz o ditado: "semeia a aveia a fugir,/ e a cevada a dormir”". Cumprimos. Foi por tudo isso que, ó desgraça!, esquecemos o jubiloso aniversário. Não por nós, mas por vós ... sereníssimos ledore(a)s.

Assim, em gratidão afogueada, para que não se instale um cisma na alma e enquanto não tomba em cima de nós o cajado do sr. Santos Silva, daqui, das terras do Mondego, vos enviamos, com muita estima, o aroma delicado de



Boa noute. Sois encantador(a)s!

Aniversários: nota sobre a equação do tempo

A mui conhecida "equação do tempo" desregulou, de vez, as nossas festividades na blogosfera. Ainda de chinelos (em louvor da sra. Margarida, de quem se fala) por distracção não colhemos a data que os "bons esprits" ruidosamente e abundantemente nos blogs comemoraram. Trata-se, ó neófitos nobilíssimos, da costumeira recitação aos aniversariantes. O nosso cativeiro, que a moléstia socrática forçou, não nos permitiu tecer cânticos públicos e publicados aos raminhos de bloggers que festejaram o aniversário. Não temos perdão!

Deste modo, para que os garganeiros não surjam e a dissolução blogosférica não aconteça, saudamos a nossa princesa dedicada, a Bomba Inteligente, o navegador sereníssimo J.P.P., os marujos suavíssimos do Mar Salgado e o cívico Bicho Carpinteiro. Que o céu esteja convosco. Disse!

JPP: livros de recordações

Serenamente, afastado do bulício do eng. Sócrates e longe do sepulcro do dr. Marques Mendes, o nosso JPP revisita-se. Em sagaz exercício espiritual posta os livros da sua vida. Que é, afinal, a de todos nós. Curioso caminhar esse entre viciosos cardápios e estimáveis (grandes) capas. O livro e a sua história são toda uma vida de trabalho e de prazer. As memórias guardam-se, também assim.

Lá em cima, olhando-nos, eis um livro editado e traduzido pelo JPP & Maria Helena (Cadernos Vanguarda 1, Livraria Júlio Brandão, VNF, Junho de 1971). Um livro de muitas vidas e algumas iras.

Nota: hoje, dia 29 de Maio, pelas 22h no Casino da Figueira da Foz, JPP estará participando nas Tertúlias do Casino. Lá estaremos.

domingo, 27 de maio de 2007


Mapa de Portugal

Novo Mappa geral, cartas, planos e plantas das povoações, lugarejos, montes, casais e quintas do Reyno de Portugal e seus domínios, indispensável ao indígena da rosa e ao curioso escriba, arbitrado e revisto pelo Eng. Mário Lino, e que o Ill.mo e Ex.mo senhor Primeyro Minystro mandou fazer para effeitos do santa governação de cada dia. Aprovado por ordem do mui alto e poderoso Presidente Cavaco Silva. Com todas as licenças necessárias, Lisboa, Off. do Largo do Rato de José Sócrates, 2007, I pag.

[Interessante, curioso e pouco vulgar mapa ilustrado de Portugal, um clássico da cartografia lusa e obra única, publicado por um iberista anónimo do sec. XXI, de maior interesse artístico e regional. Impressão cuidada em papel de qualidade. Justamente apreciado e muito procurado. Almeida Santos, II, p. 24; Jorge Coelho, I, pg.1; Jorge Sampaio, II, p. 153]

sábado, 26 de maio de 2007


Lambiscadas

"Só quando sou falso sou fiel / Sou tu quando sou eu" [Paul Celan]

O trabalho anda ciclópico. Catrapiscámos algumas "jóias" que por essas [e Eça(s)] estantes andavam. Estamos abridores de coisas impressas. Levantamos, em aprumo harmonioso, encadernações com folhas dentro. Não temos tempo para as impiedades que fascinam qualquer indígena da paróquia. Mordemos o freio. Somos, por um momento, simples amador da coisa amada. Havemos de condimentar a vil torpeza quando os catálogos se esgotarem. Até lá, estamos meigos. Voltaremos.

Ovarense ... olé!

Uma Ovarense deslumbrante venceu, hoje mesmo, a Liga Profissional de Basquetebol. E incendiou os nossos corações. Ovar, terra bairrista e de desejo ardente, "pintou a manta". E nós, por aqui exilados em conversa domingueira e muito pouco socrática, aclamámos. Somos ainda fiéis!

Que belo é Ovar assim de gente abraçada, obstinada, sem medo ou manhas. A nossa história (trivial, diga-se) foi buliçosa em terra vareira. O café Progresso, então requintado local de encontro e conspiração das várias sinecuras, é recordação estimável e segura. O GAV era sempre providencial. A Livraria Carvalho agarrava-nos. O fatal rendez-vous no Furadouro, a nossa perdição alumiada, uma bem-aventurança. Tantas noutes de desmandos. Tanta história caprichosa. Alguma, atrevidamente feliz. Tanta gente a recordar. E, lembrar depois de tudo isso, que jogamos na primeira equipa de basquetebol que a Ovarense teve ... merece particular festejo. Que assim seja. Estamos por tudo.

Ovarense ... olé! Ovarense ... olé! Até logo.

domingo, 20 de maio de 2007


O Circo de Lisboa

A capital da paróquia - a bela e mansa Lisboa - está travestida política e socialmente num enorme circo. De vida alegre e fácil, plena de radiosas e abundantes personagens de que não se sabe o modo de vida, a Lisboa civilizada, moderna, cosmopolita e optimista de outrora é fantasma de si mesma. Apagou-se, definitivamente! A saloiada partidária reformou-a. Lisboa é hoje apenas uma mercearia da classe política, um medíocre estábulo onde os sôres dôtores encostam o rabo, simples emprego rendoso. Lisboa já não tem amigos, nem sentimentos, nem gosto, nem nada. Coitada dela!

Não se compreende, portanto, o pânico, a inquietação e o choro que alguns tresmalhados indígenas ensaiam ao ver Lisboa "ardendo" suavemente. Nem temos paciência para ouvir os coveiros de ontem, na sua rotina de fantasia elogiativa, proclamarem, com sóbria audácia, a "grande barrela à cidade". O sr. Costa, florido rapaz que cavalga tais ditames, disse os adeuses à desvairada e incompetente governação da qual é adepto e pretende fugir para o pousio da Câmara. Com piada, faceta curiosa que o eng. Saraiva não vislumbra, pretende vir a ser um infeliz náufrago do governo. Sonha, na sua lamúria por Lisboa, que escapa à fogueira da sorte. Puro engano.

O sr. Marques Mendes, com a inteligência que lhe coube, teve o despautério de fazer arribar à capital a toleirona figura do sr. Negrão. Com ele arrastou, de novo, a gentalha dos putativos notáveis. E, para que a cerimónia circense fosse inteligível, a garotada do sr. Portas, agora sebento de gozo, fez reaparecer o sempre valentão Telmo. A demência não justifica tudo, mesmo que Lisboa estivesse fadada para o calvário que aí vem. Porém ... é a vida.

Entretanto, os enxertados sr. Júdice e esse tratadista da corrupção, o sr. Saldanha Sanches, com inchadas modéstias e num alarido enjoativo, vieram, ao que dizem, em socorro de Lisboa. Não se percebe a que se deve tanto desvelo de missão. Deixando, por ora, o pitoresco Júdice balbuciando as suas inúteis trivialidades, espanta-nos o caso solitário de Saldanha Sanches. Este guerreiro da imaculada anti-corrupção, num passe de encantamento aparece a suportar uma vereação e um partido que não se pode orgulhar do que quer que seja nessa matéria. O probo sr. Sanches não desconhecerá a história camuflada dos autarcas socialistas de Lisboa, nem do resto do país, e dos apoios com que sobrevivem. O probo sr. Sanches, decerto estará a par da circulação de um famoso documento sobre o ranking financeiro que se pode pessoalmente obter das cidades e vilas nesta insana paróquia e que tem levado a esses lugares, numa corrida desvairada, a folgada classe política. O probo sr. Saldanha Sanches não é tido por idiota, nem consta que reze o Padre-Nosso aos prevaricadores. Se assim é, para cooperar com todo este circo, o que faz correr o nobre fiscalista? A que se quer habilitar, o probo sr. Sanches? Pode dizer?

sábado, 19 de maio de 2007


Conselhos ao Porteiro

À lembrança do sr. José Miguel Júdice e do sr. Saldanha Sanches:

"Se estiver ao serviço de um Ministério de Estado, seu amo só se encontrará em casa para o alcoviteiro, o lisonjeador-mór, os escritores que subvenciona, o espião e informador sob contrato, o impressor em serviço activo, o solicitador, o corrector ou o inventor de novos fundos, e o usurário".

[Jonathan Swift, Preceitos para uso do pessoal doméstico, Estampa, 1970]

Esta Semana estivemos ... assim

"o tempo é o nada em que giramos" [Durrell]

Esta semana fechamos tanto os olhos que "não conseguimos ver o chão, de tal maneira ele se encontra(va) juncado de flores". Ao longo da semana, tal como na Casa das Belas Adormecidas, de Kawabata, o jogo presumia-se perverso. De tal modo foi que não conseguimos deixar de velar esse virtuosismo da "floração", que é a festa de "provocar, de se defender, de ceder, de se voltar a encontrar, de fugir, de se juntar, de se isolar". Vaillant sabia desse embaraço. Nós tropeçamos no enigma como se a fadiga animal não fosse esse momento azado. Puro desespero. Ainda assim, no encanto da fuga deixámos cair a memória, pois "aquilo que se diz da beleza é uma armadilha". Herberto Helder a enlouquecer. Em nós, a receita estival, custou-nos a alma.

Depois, ao longo da semana, ao cair do sono e porque decerto as "grandes almas têm necessidades de alimentos", a sonoridade encantada foi deslizando com


Ainda há semanas assim! O tempo que o diga, se puder.

sexta-feira, 18 de maio de 2007


In-Libris - Catálogo Extra Literatura - Maio 2007

Saiu um Catálogo Extra da In-Libris (Porto), neste mês de Maio, com um conjunto de obras estimadas e raras de literatura. A não perder.

A consultar on line.

domingo, 13 de maio de 2007


Björk - I See Who You Are

O meu querido amigo Luís Guerra, no seu suave ócio de prazer, espera de Björk que "a natureza a complete" [Ípsilon, 4/0507]. Ao que nos diz, Björk um "ser híbrido metade mulher metade bicho" não pretende que o altar da humanidade a veja como "um ser humano". E daí o nosso melhor e mais moderno jornalista temer pela liberalidade da venerável senhora. A santificação da diva islandesa, que saiu este mês com um novo álbum contra o tédio (Volta), fica assim comprometida. Mas nada de menos exacto. Os anjos, como se sabe, estão sempre como diria Dürer "parando os ventos". Por ora, fazer "dançar a vida" é o que nos interessa. A natureza é apenas um pormenor. O meu querido amigo Luís, sabe bem disso.

Para ledores felizes, pais extremados & amantes respeitosos, aqui lhes enviamos:

Björk - I See Who You Are

"I see who you are
Behind the skin
And the muscles

I see who you are, now
And when you get older later

I will see the same girl
The same soul
Lioness, fireheart
Passionate lover

And afterwards
Later this century
When you and I have become corpes

Let's celebrate now all this flesh on our bones
Let me push you up against me tightly
And enjoy every bit of you

I see who you are
"


O inefável Lello

Sejamos breves: o pedante José Lello foi em tempos idos de 2005, mandatário da campanha do PS. Acontece que o lido e versado Lello desconhece, formal e categoricamente, a origem do financiamento da campanha eleitoral do PS no Brasil. Azar do pavão Lello. É que a única coisa que deveria ter conhecimento, na qualidade de dirigente com o cargo que lhe reservaram, era saber e apresentar os donativos e as contas da campanha, conforme compromisso constitucional. Porém o eng. Lello caiu na banalidade de não só desconhecer o que quer que fosse, como pronuncia judiciosos pareceres sobre a matéria, que não estão provados. Perante este curioso exemplo de sageza, ocorre perguntar o que, afinal, sabe o vaidoso eng. Lello? Nada, absolutamente nada. Para além de uns exercícios venatórios na TV e a redacção de cartas espirituais aos senhores deputados por ocasião natalícia, nada resta para contar. Compreender o que faz correr Lello é todo um programa.

Enfim, auri sacra fames, diria Virgílio. E dizemos nós.

Caem "políticos" nos jornais e na blogosfera

"Um político deve ser capaz de prever o que acontecerá no dia seguinte, na semana seguinte, no mês seguinte e ano seguinte, e ter depois habilidade de explicar porque não aconteceu" [Churchill]

Engordados pelas nouvelles eleitorais de França, alguns adoráveis paroquianos - conservadores, neoconservadores, simples rapazes ou mui eruditos jornaleiros/comentadores - caíram afrancesadamente em vénias graciosas ao sr. Sarkozy e ao seu (dele) labor liberal. Salvar la France do desastre pecaminoso dos filhos e netos de Maio 68, implodir o Estado-Providência, jogar "ao centro" à maneira de Blair, foi o pretexto para infindáveis postas "libertárias", nos media de papel e na blogosfera. Um novo "pensamento único", picaresco, anedótico e politicamente correcto, faz plágio do old, agora fora de moda. A receita é uma outra, mas o requinte da ideia está lá.

Temos como exemplo desse lirismo de pensamento "único" a circular posta a correr pela senhora Teresa de Sousa, que enquanto arruma cuidadosamente no armário as rendas, as flowers do Maio 68 e le portrait de Mao Zedong, tricota a novíssima "ruptura de inspiração blairista", obscenamente Socrática, e agora sentida no porvir Sarkozyano.

Como nos conta, em dose de purgante, a desordem (e a anarquia) de la France está, via futuro luminoso pós-Sarkozy, seriamente e irremediavelmente comprometida. A reforma e récita da new France, cuidadosamente guardada no intelecto de Sarkozy, curiosamente um dos autores que formataram o nefando monstro gaulês, está anunciada e tem, desde já, a sua guia de marcha. A senhora Teresa de Sousa garante-nos (e a rapaziada da blogosfera confirma) que a versão gaulesa do thatcherismo, após verduras inglórias, aparece sob a norma da autoridade, trabalho, mérito e identidade. A santa trindade, "pátria, família e trabalho" é ideia abalizada e de novo em voga. Portanto, meus caros amigos, estamos condenados a clamar ... vive la France!

Ora acontece, se não soubéssemos que o discurso neoconservador é uma "navalha sem cabo, corta sempre as mãos dos que a usam", pensaríamos que uma "nova época" estava iminente. Mas, como acreditamos que o vade mecum liberal está longe desse insulto impresso por Sarkozy que é o projecto de uma União Mediterrânica, ou do vulgaríssimo proteccionismo que a direita tonta defende, ou se afasta (mesmo que seja por decoro) do novo racismo do sr. Sarkozy, julgamos que os enternecidos comentadores & outros tantos risonhos bloguers apenas respigam textos de circunstâncias. Nada nos detalhes do discurso Sarkozyano permite aderir à virilidade do novel génio da direita. Como o lúcido Jorge Almeida Fernandes nos diz: "Em breve se verá". Até lá, esperemos.

quinta-feira, 10 de maio de 2007


Catálogo LVIII da Livraria Moreira da Costa

Saiu o Catálogo do mês de Maio da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30 – Porto). Pode ser consultado on line.

Algumas referências: O Piloto Instruído ou Compendio Theorico-Pratico de Pilotagem, de António Lopes da Costa Almeida, 1851 / História da Afurada pelo primeiro pároco Padre Joaquim de Araújo, 1922 / António Nobre, por Guilherme Castilho, Lisboa, 1950 / Colecção Camoniana de José do Canto (pref- Hernâni Cidade), IN, 1972 / O Trabalho Indigena. Estudo de Direito Colonial, por J.M. da Silva Cunha, 1955 / A Sé Velha de Coimbra, de Pierre David, 1943 / Documentos da Aclamação de El-Rei D. Duarte II, Ed. das Juventudes Monárquicas, Lisboa, 1933 / Coimbra dos Doutores, de João Falcato, Coimbra, 1957 / Memórias de Camilo, por Joaquim Ferreira, 1965 / Os Portugueses na Flandres, por Fernando Freiria, 1918 / História d'Inglaterra contada aos meus netos por Guizot, Porto, 1881-86, IV vols / Brigadeiros e Generais de D. João VI e D. Pedro I no Brasil. Dados biográficos. 1808-1831, pelo Coronel Laurênio Lago, Rio de Janeiro, 1938 / O Marquês de Niza, de Eduardo de Noronha, 1907 / Para um dossier da oposição democrática (org. pref. Serafim Ferreira e Arsénio Mota), Porto, 1969 / Panfletos I. A Ditadura Militar, de Raul Proença, Lisboa, 1926 / O Cavalo Espantado, de Alves Redol, Portugália, 1960 / Revista da Marinha. Direc. Maurício de Oliveira, Lisboa, Ano I, nº 1 (31 Janeiro 1937) a Ano X, nº 285 (31 de Dezembro 1946) / Unidade da Nação Portuguesa, conferências de M. M. Sarmento Rodrigues, 1956, II vols / 'Sofia' e 'Profecia' na Filosofia da História de Sampaio Bruno, por Maria Helena Varela, BMPorto, 1990 / O Pensamento Integralista, por Fernão da Vide, Lisboa, 1923 /

domingo, 6 de maio de 2007


Engenheiros à moda da paróquia

"Festeja o almocreve / com banquetes, manjares desusados / frutas, aves, carnes e pescados"

Tome-se um raminho de engenheiros, limpos, novos e gordos, deite-se de molho para se lhe tirar o couro da Ordem e, sem ofender os ditos, enxugue-se num pano ácido. Cubra, de seguida, com pão ordinariamente ralado. Tempere-se com sal, ervas finas, pimenta q.b., uma cabeça de bom alho, uma capela de salsa, quatro cravos d'Abril e sumo de limão verde. Meta-se depois no espeto os curiosos engenheiros bem atados com barbante, pingando-os de quando em quando com a marinada feita, e estando bem assados passa-se pela peneira, juntando-se-lhes uma colher de culi, uma folha de lello, sumo de laranja azeda e um golpe de vinagre para engrossar o molho. Tendo tomado boa cor tire-se fora e sirva-se para o que se quer, com os ornamentos do costume. Chame-se o dr. Coelho para lavar as impurezas. Bom apetite.

Benfica: destruir ... dizem eles!

A equipa do Benfica arrasta-se, dolorosamente e melancolicamente, em campo. Como qualquer incipiente equipa, vegeta ao longo do tempo sem força física e anímica que se veja. Os últimos jogos confirmam (mas não seria só por eles) que o Benfica tem sido admiravelmente destruído. Não há paciência para, todos os anos, assistir à grosseria de ouvir dizer que "se vai (re)construir uma equipa", quando ela é, simplesmente, liquidada.

O inefável Presidente da instituição Sport Lisboa e Benfica muito contribui para esta faina paupérrima e degradante da equipa. Coleccionador de cacofonias para a canalha do peão sorrir de malvadez clubística, o senhor Luís Filipe Vieira, meio guerrilheiro de bancada meio palrador alucinado, devia respeitar mais os associados, os adeptos e a camisola do clube. E o seu grandioso passado! Mesmo que os saloios do velho 3º anel acreditem, e obscenamente assim acontece, o ensaio da tão putativa equipa-sonho confunde qualquer observador de futebol não-fundamentalista. Aquilo não é uma equipa de futebol. Quanto muito um alegre grupo excursionista que em horas varonis dá uns pontapés numa bola.

O sábio engenheiro (não inscrito na Ordem) Fernando Santos, singular escolha do sr. Vieira, é a miséria das misérias nativas. Aluno megalómano da excêntrica táctica do triângulo invertido, não conseguiu nunca entender para que serve aquilo. Descaradamente, o valor da história que lhe venderam é nulo. Pior que isso! É que a equipa ficou, de vez, sem aquilo que os mais tradicionais chamam de meio-campo e sem qualquer ligação entre sectores. A menos que essas minudências tenham desaparecido da prática de futebol, pode-se afirmar que como organizador e treinador de equipas de futebol o eng. Santos presume que dá cavadelas na relva mas não apanha minhoca alguma. A obra do eng. é completa, soberba e eficaz para acabar de vez com um grupo de trabalho. O dr. Artur Jorge, ao pé dele, é um principiante. Erudito, bem entendido. Mas principiante! Decididamente.

Sigmund Freud [n. 6 Maio 1856–1939]

"Ah!, como estas coisa são ditas / em termos freudianos!"

"Se a lei é primeiro que tudo informada por um conjunto de princípios morais, estes representam uma espécie de genitalidade da moral que é sustentada e imposta para indicar uma modalidade de contrato com o qual a lei e os corpos devem ter uma relação (...) O ideal da pessoa é o que sobretudo a instituição quer conformar; mas como o ideal envolve portanto uma dimensão especulativa (no duplo sentido); concerne por isso o espelho. Produzir sósias é, de facto, para a instituição o ideal absoluto, divino (…) A 'pessoa' é pois constituída como carecida, imperfeita e por isso instituída numa falta de submissão à lei”" [Giancarlo Ricci]

"Deus é a mulher tornada inteira" [Lacan]

"A fala, o canto, os movimentos da língua e da pena estão investidos de um simbolismo genital: a palavra representa o pénis e o movimento da língua ou da pena, o coito" [Didier Anzieu]

"O caralho pequeno, a cona frígida, o pénis-clitóris, a família assassina, os amigos canalhas: se tivesse sido diferente, teria sido possível ter! E ter-se-ia conseguido falar: ver tudo aquilo que ninguém tem, a que ponto somos todos idênticos na privação e na 'infortúnia', como cabe a cada um o mesmo mortificante baralho de cartas viciadas, graças à qual já ninguém se dá conta daquilo que realmente vive, ou poderia viver segundo a paixão incarnada, desejo concreto, vontade de se realizar. Em vez disso, contempla-se esfomeado a imagem do Outro magnífico, imensamente profuso de tudo aquilo que nos falta. A isso, pelo menos, e já é muito, sabem os amantes escapar efemeramente. Se eles se olham, é porque sabem ver-se. Desejam-se, logo reconhecem-se. Desiludem-se, logo sabem o que procuram. Odeiam-se, logo sabem que não bastam a si próprios" [Giorgio Cesarano]

sábado, 5 de maio de 2007


Cidade Proibida – Eduardo Pitta

No dia 16 de Maio, pelas 18,30 horas na FNAC do Chiado, será o dia (há muito esperado) do lançamento do romance de Eduardo Pitta [Da Literatura], "Cidade Proibida", sob a chancela da QuidNovi.

A apresentação estará a cargo do escritor Fernando Pinto do Amaral.

A não perder.

In-Libris - Catálogo de Maio 2007

Catálogo da In-Libris (Porto), com um conjunto de peças mui estimadas de Adolfo Casais Monteiro, Al Berto, Alberto Pimenta, Álvaro Ribeiro, Alexandre O'Neill, Ana Hatherly, António Ramos Rosa, Ferreira de Castro, Fiama Hasse Pais Brandão, Helder Macedo, Herberto Helder, José Cardoso Pires, José Gomes Ferreira, José Régio, José Rodrigues Miguéis, José Viale Moutinho, Manuel Bandeira, Manuel da Fonseca, E. M. Melo e Castro, Mendes Corrêa, Natália Correia, Óscar Lopes, Paulo Quintela, Revista Oceanos (vários numrs), Urbano Tavares Rodrigues, entre outras obras.

A consultar on line.

terça-feira, 1 de maio de 2007


A Cantiga é uma Arma – G.A.C. Vozes na Luta

"Levai a má consciência que afirmais eu ter para a barricada que frequentais e aquecei com ela, amigos, o pequeno-almoço auroral das vossas boas consciências" [Alexandre O'Neill]

Estamos em tempo de saudosismo neste "país em diminuitivo". Viemos de outras estórias que a idade (ainda!) não larga, até porque regressa o presuntivo responso que o "respeitinho é que é preciso" [evidentemente ... O'Neill]. Mas há gente que não se esquece. Não queriam mais nada? Na certeza que os novos "conquistadores de almas" fazem o coro da criadagem da governança, muito ao jeito de "uma casa uma janela, fazer contas dentro dela" [Salazar citado por O'Neill], daqui, neste 1º de Maio de 2007, vos oferecemos

para esta viagem aos bocados, "uma sílaba, um conselho, um cigarro", uma canção de tempos imemoriais

A Cantiga é uma Arma - G.A.C. & José Mário Branco

Boa noute!

Vamos mudar isto

"Isto está insuportável. A nossa sociedade está irracional, barbarizada, desumanizada. E isto é o nosso olhar de intelectuais. Mas depois começamos a pensar nas pessoas que estão mesmo mal, naqueles olhares que vemos no telejornal, aqueles que ao fim de trinta ou quarenta anos de trabalho vão para casa sem nada, apenas com um casaco nas mãos (...) isto tem de ter uma leitura política qualquer (...) Isto não serve. Não tem nada a ver com os valores da humanidade, tanto a nível quotidiano como global. O capitalismo está a destruir famílias, pessoas, comunidades ['é para repetir os horrores do passado?'] não. Então o que é? Não sabemos. Temos é que tentar. Ir buscar aquilo que houve de mais válido nas ideias e nos sonhos transformadores do passado, ver o que estragou aquilo, e conseguir um novo caminho (...) Mudar de vida"

[José Mário Branco, Vamos mudar de vida, in Ípsilon-Público, 27/04/07]