segunda-feira, 5 de junho de 2006


[Fora do Gráfico]

"O melhor momento de futebol, para um técnico, deve ser o minuto de silêncio. É quando os jogadores ficam parados, mais ou menos na sua posição designada no desenho da escalação. É no minuto de silêncio que o jogador mais se parece com o botão, ou com as cruzinhas ou a bolinha, que o técnico usa na instrução. Por um breve instante materializa-se no campo a sua onipotência diagramada. Ali estão as peças do seu pequeno universo, exactamente onde ele as quer. Sem o movimento e todas as suas imperfeições - o erro, o infortúnio, a desobediência, o esquecimento, a bola espirrada. Enfim, os acontecimentos. Todo o técnico deve saborear aquele último minuto antes de perder o controle, antes dos seus jogadores saírem do gráfico e caírem no real. Aí o juiz apita, as teorias se evaporam e começa a confusão, que é um outro nome para a vida ..."

[Luis Fernando Veríssimo, in A Eterna Privação do Zagueiro Absoluto, 1999]