segunda-feira, 12 de julho de 2010

VIVA ESPAÑA




"... el fútbol es la única religión sin ateos" [Eduardo Galeano]

O Sr. Carlos Queirós vibrou com a vitória da España no Mundial 2010. Com latinidade & decência, el ímpetu de los jugadores d’España fez Carlos Q. (el prodigioso portuga) engrossar o grupo de adeptos – de Rui Santos a Bruno Prata – fãs do orgullo vizinho. Queirós assegura, com toda a graça, que a selecção de España ganhou a Portugal e posteriormente (naturalmente) ei-la vitoriosa deste mundial. Portanto a vieja eloquência do fútbol dialogal indígena do sr. C.Q., embora confundido que foi pela pelota na África do Sul, permite-lhe ser um vencedor natural. Assim como o eterno Madail, el resignado. Ou os rapazes dos tamancos alaranjados.

Vosotros, como diria Rafael Alberti, "no caísteis", Ó Queirós. Que poderias fazer contra Casillas, Xavi (um valente), Villa, Puyol, Iniesta, Howard Webb, a rainha Sofia ou o polvo Paul!? Nada! Absolutamente nada! Afinal, como disse Nénem Prancha: "futebol moderno é que nem pelada. Todo o mundo corre e ninguém sabe para onde". Entendes, Queirós?

Viva Espanã, por supuesto.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

THANK YOU VERY MUCH!



Hoje estamos assim. Thank you very much!

Folheámos a ode heróica ou máxima moral de D. Maria de Lurdes Rodrigues sobre a Escola Pública, género dramático do eduquês ou as 24 arcades que igualam os melhores escryptos do Diário da República (parabéns, meu caro amigo João Pedroso, pela erudição).

Gostámos, mesmo, foi da obtida vernissage da obra rodriguiana, pois nunca se tinham encontrado, nesse responso contra a Escola Pública & os docentes, algumas das figuras mártires indígenas, como o ressuscitado Sobrinho Simões, o sr. dr. David do curriculum amestrado, a privada Isabel Soares (um beijo!), o notável sr. Sócrates (que rabiscou – dizem - qualquer coisa) e outras almas sorumbáticas do noli me tangere paroquial. Consta até que o dr. Pacheco Pereira, enxudioso de dinamite cerebral, mourejou por lá, decerto julgando estar a caminho do ISCTE. Alguns referem mesmo que o galanteador (de esquerda rouxinol) Pedro Adão e Silva até lá colheu a genealogia da senhora para o próximo circunlóquio de gauche. E que a abismática (& bela) F. Câncio conseguiu distinguir, definitivamente, um escolar de um estudante. Há que inspirar!

Gostámos, também, dos sermões da garotada liberal postos a correr nos linguados dos jornais e nas paineleirices da TV sobre a (des)dita "golden-share" da troupe da PT. Seguidores em aleluias da superstição (neo)liberal, castos no verdadeiro método de estudar política económica, tais senhores expandiram em idioma & orgulho patriótico o prosaísmo regulamentar do sr. Passos Coelho, o bisonho. O gracioso regimento foi seguido de perto pela parelha fragateira da blogosfera (boa noute Ò sr. João Miranda, a sua benção), que tem como máxima: sol na eira e chuva no nabal. Tudo em harmonia!

Em remate, gostámos de saber que o cavalheiro Ricardo Rodrigues, o gualdripador de gravadores, foi distinguido pelo DIAP. Um clássico! Ora se nem a sra. Ana Catarina Mendes, uma das admiradoras do génio ricardiano, conseguiu um padre-nosso pelo visado, parece-nos que a historieta será curiosa de seguir via imprensa. Talis vita finis ita.

Thank you very much!

sábado, 3 de julho de 2010

MORRENDO À CARLOS QUEIROZ


"a pátria em calções e chuteiras, a dar rútilas botinadas" [Nelson Rodrigues]

O inevitável aconteceu: a selecção portuguesa, brasileira e argentina, todas ungidas no lirismo patrioteiro, caíram mortas de tédio e gratuitas de irrelevância futebolística. Os teams, ungidos em ferocidade por essa fatal "invasão da estupidez" dos curiosos de bancada, sucumbiram à própria ideia da civilização e mentalidade desportiva. Perante a vida de futebol pragmático dos espanhóis, no regresso da autêntica "velocidade burra" holandesa e face à maldição da organização e frieza alemã, a tragédia (mesmo se "Deus é esférico") teria de acontecer.

Curiosamente, se a um certo senhor Carlos Queiroz o detalhe da planificação (curta & extravagante) o torna cego e lerdo de tanto pensar, já em Dunga a nostalgia defensiva e o pavor da correria dos holandeses o fazem ficar muito longe da máxima do grande Neném Prancha:"o jogador de futebol deve ir na bola como se fosse num prato de comida". Ora tal verbete, mesmo se documenta a equipa do vate Maradona, só pode ser enunciada com organização e "sandálias de humildade".

Quanto a nós, e resumindo a coisa, diremos que o verdadeiro brasileiro, o único argentino, é o argentino-brasileiro prof. Carlos Queiroz. Faz três em um e sempre com um alienado discurso nos lábios. Frouxo, manso, mau de bola, mas muito malabarista da palavra, eis o vaidoso Queiroz. Uma promoção Madail, um negócio (ao que parece) para continuar ... hors concours.

domingo, 27 de junho de 2010

LEILÃO DA COLECÇÃO CAPUCHO - BIBLIOTECA (Parte IV)


LEILÃO ANTÓNIO CAPUCHO - Arte, Literatura, Revistas de CulturaHistória, Ex-Libris, Mapas, Cantochão, Pergaminhos Iluminados, Gravuras e Registos, Desenhos, Estudos de Azulejaria, Heráldica, Genealogia, Numismática, Viagens, Livros Miniaturas, Manuscritos, Cartas d'Armas Portuguesas e Espanholas - CATÁLOGO ONLINE AQUI

Continuação do Leilão (PARTE IV) do riquíssimo espólio (Colecção e Biblioteca de António Capucho) que foi pertença de António Emídio Ferreira de Mesquita da Silva (1918-2009), pai do Presidente da C.M. de Cascais, António d’Orey Capucho, conforme AQUI temos vindo a registar. Faltará, ainda, uma 5ª e 6ª parte, deste importante e valioso espólio.

LEILÃO - BIBLIOTECA ANTÓNIO CAPUCHO (PARTE IV)
DIAS - 28, 29 E 30 DE JUNHO DE 2010
LOCAL - Calçada do Combro, 38 A, 1º, Lisboa
ORGANIZAÇÃO - Palácio do Correio Velho

sábado, 26 de junho de 2010

O BIBLIÓMANO


"Le Bibliomane thésauriseur est heureux de posséder ses livres, parce qu'il les aime avec jalousie: sa bibliothèque est un sérail ou les eunuques même n'entrent pas; ses plaisirs sont discrets, silencieux et ignorés: il ne permet pas à un ami la vue d'une de ses maîtresses, souvent fort peu dignes d'exciter l'envie; il se persuade que nul rival ne lui dispute les attraits d'impression et de reliure desquels il est épris; il jouit solitairement : il nie ses richesses, comme s'il craignait les voleurs; il en rougit comme s'il les avait mal acquises; il se fâche quand on le presse de questions à ce sujet, et il mentira plutôt que de s'avouer propriétaire d'un volume qu'il a légitimement acheté.

Ses livres gisent enfermés à triple serrure, cachés derrière un rideau opaque, semblable au voile de l'arche sainte; encore ces précautions sont-elles rarement justifiées par la nature même des ouvrages, qui ne franchissent guère la rigoureuse catégorie de la morale et de la religion: il y a chez ces bibliomanes une passion concentrée, purement égoïste et nourrie de son propre aliment, passion qui se croirait profanée si l'objet n'était pas un mystère au monde.

Le Bibliomane vaniteux a de belles éditions, de splendides reliures, une bibliothèque bien choisie et bien rangée: il dépense des sommes immenses pour la compléter; c'est un soin dont il se remet entièrement à un bouquiniste intelligent, à un bibliographe officieux; du reste, il ne lit pas, et souvent il n'a jamais lu: il collectionne des livres, comme il ferait des tableaux, des coquilles, des minéraux, des herbiers. Sa bibliothèque est une curiosité qu'il montre à tous, au premier venu, à des femmes, à des agents de change, à des enfants, peu lui importe que les gens sachent ce que c'est qu'un livre, et, qui plus est, un beau livre !

Le Bibliomane envieux désire tout ce qu'il ne possède pas; et, dès qu'il possède, son désir change de but: sait-il que tel livre existe chez un amateur avec lequel il rivalise, aussitôt sa quiétude est aux abois; il ne mange plus, il ne dort plus, il ne vit plus que pour la conquête du bienheureux livre qu'il convoite; il emploie tout, jusqu'à l'intrigue et la séduction, pour attirer à lui le bien d'autrui; les refus, les difficultés augmentent, irritent sa concupiscence; bientôt il sacrifierait sa fortune entière à un seul instant de possession; mais un rien , la découverte d'un second exemplaire du même livre, une critique en l'air, une réimpression, voilà cette impatience qui s'abaisse et cette ardeur qui se glace. Tout à l'heure l'envieux souhaitait la mort du maître de ce cher livre, afin de s'enrichir aux dépens du défunt! Ce bibliomane est malheureux, comme tout envieux doit l'être, et son malheur recommence à chaque nouveau désir. C'est le Lovelace des livres: il en devient amoureux, et il les poursuit avec acharnement jusqu'à ce qu'il les ait entre les mains; alors il les dédaigne, il les oublie, et il cherche une autre victime.

Le Bibliomabe fantasque n'adore ses livres que pour un temps; il les recueille avec curiosité, il les habille avec générosité, il les installe avec honneur, il les entretient avec faveur; tout-à-coup l'amour se lasse, se refroidit, s'éteint: le dégoût a commencé! adieu, gentes demoiselles! le grand Seigneur réforme son harem: aux Circassiennes succéderont les Espagnoles, aux blanches Anglaises, les négresses du Congo; le grand Seigneur vend ses femmes à l'encan; mais demain il en achètera de moins jolies qui auront pour lui le charme du caprice et de la nouveauté.

Le Bibliomane exclusif ne fait cas que d'un certain ordre de livres, et ne courtise ni les plus rares ni les plus singuliers; il a une collection, c'est là son dieu et son âme; tout ce qui est en dehors de sa collection ne l'intéresse pas; mais il ne néglige aucune recherche, aucuns frais, pour étendre cette collection, pareille à ces immenses et informes monuments orientaux élevés sur le bord des chemins, avec les pierres que chaque voyageur y dépose en passant. Le bibliomane exclusif consacrera son temps, son argent et sa santé, à l'entassement d'une bibliothèque toujours curieuse, mais aussi toujours monotone. Ici, Pétrarque se multiple en douze cents volumes; là, ce sera Voltaire en dix mille pièces réunies une à une, ou bien le théâtre seul fournira des milliers de brochures, ou bien la Révolution française régnera paisiblement sur des cimetières de paperasses"

Extracto de "Les Bibliomanes", por Paul Lacroix (Bibliophile Jacob) - via Blog "LE BIBLIOMANE MODERNE" [ler mais]

sexta-feira, 25 de junho de 2010

BRASIL: FAZER A FEIRA DE VÉSPERA


"Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades" [Barão de Itararé]

Quando acabou o jogo Portugal-Brasil a dificuldade era saber, do Brasil, que equipa era aquela que andou por ali a "trocar fichinha". À promoção brasileira que Portugal era freguês de caderno, exportada por alguns "idiotas da objectividade" (quer nos brasis quer entre os nossos paroquianos), concluiu-se que o Brasil, para além da frustração de andar a "jogar de ouvido", nada mais tem para dar aos seus torcedores, mesmo que faça a feira de véspera.

Com uma indisfarçável má vontade em jogar futebol, com uma irritada e irritante linha de jogo e um grupo de jogadores que se espraiam a morcegar ao mesmo tempo que dão pau [Felipe Mello é leviano e sarrafento] "antes de molhar a camisa" [Nelson Rodrigues dixit], a mais deslavada das selecções brasileiras arrisca-se a ir para casa bem cedo.

Sem Kaká (Julio Baptista é jogador grosso) nem Robinho, a equipa de Dunga (agora entediado a estudar a história do apartheid) é banal, irretocável, uma droga. Nenhuma criatividade ofensiva, sem craques nem samba. Maicon não pode fazer muito (não é Ronaldo), está em versão de "bode cego" e levou, por isso mesmo, um banho de Fábio Coentrão que deu um passeio em campo. Lúcio (um fala barato) é um facilitador, um desastre, de tal modo que se Ronaldo tivesse jogado apoiado o jogo seria outro. Pena que o Raul Meireles desperdiçasse um golo mais que possível e, por que não, mais que justo.

A equipa portuguesa é uma incógnita. Por vezes raia a magia, noutras ocasiões são de uma permissividade e desorganização total. O erudito e ridículo Carlos Queiroz (aquela de Portugal entrar de fato de macaco e sair de smoking lembra a presença filosófica do dr. Cavaco Silva) apostou num esquema de jogo ainda mais fechado do que contra a Costa do Marfim. Burocrático, sem alma nem chama, Queiroz joga simplesmente para os pontos. Eis a sua religião. Eis a sua esperança. Até agora deu certo esse mundo espiritual do sr. Queiroz: "quem tem a bola ataca, quem não tem, se defende". Até surgir o dia onde "quem não faz, leva!".

quarta-feira, 23 de junho de 2010

XVI MARCHÉ DE LA BIBLIOPHILIE - PARIS



XVI Marché de la Bibliophilie (Paris) - 23 a 27 de Junho.

110 Livreiros, todos de grande estimação, montam as tendas na Place Saint Sulpice. Das 11 in matinas até ás 2o horas, haverá lugar a um corropio ao livro antigo, estimado, raro ou de ocasião. Paris me mata!

Organização: GIPPE

sábado, 19 de junho de 2010

MARCELO REBELO DE SOUSA: O ESPIRITUOSO



"O conselheiro de Estado Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou hoje a ausência do Presidente da República, Cavaco Silva, nas cerimónias fúnebres do escritor José Saramago, considerando que é mais importante a sua presença espiritual do que física"

Espiritual, o que é? Abrimos o útil José Pedro Machado e lemos: "Espiritual: Do espírito ou a ele referente || Que diz respeito à religião ou à consciência || Místico; incorpóreo".

Ora aí temos a traquinice joeirada do formidável intelecto de Marcelo R. de Sousa. Que nos diz Marcelo? Que o dr. CavacoPresidente da República de Portugalnão participa nas cerimónias fúnebres do mais importante cidadão da cultura portuguesa contemporânea, porque, com paciência existencial (quiçá esotérica) e só com essa superior instrução, deve, no seu ofício presidencial, estar presente indelevelmente em espírito e não na sua forma pessoal seca e tesa.

Dai que por vezes, durante as cerimónias fúnebres no edifício dos Paços do Concelho de Lisboa, se sentiu vagamente o fenómeno desse incredibile ergo divinum da presença espiritual do dr. Cavaco.

Em rigor, o que se passou é que esse ser etéreo que é o dr. Cavaco se tinha transladado incorporeamente para o local. Nesse espiritual "a posse ad esse" intimativo, como parece ser o apostolado da sua mundança como presidente, o dr. Cavaco evitou envolver-se esotericamente com esse demiurgo das letras (ainda um simples infra-etéreo, presume-se) que dá pelo nome Sousa Lara. Lamentavelmente, a providência não cuidou ainda deste último teleológico sujeito.

O mesmo já não acontece nos sermões exotéricos do prof. Marcelo, que, bem estremecido e sem tibiezas abusadas, declara hoje & para todo o sempre que vê o lampejar espiritual de Cavaco Silva a pairar sobre a paróquia. Espirituoso, este Marcelo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

OBRIGADO, SARAMAGO!


"Escrever, não é outra tentativa de destruição, mas antes a tentativa de reconstruir tudo pelo lado de dentro, medindo e pesando todas as engrenagens, as rodas dentadas, aferindo os eixos milimetricamente, examinando o oscilar silencioso das molas e a vibração rítmica das moléculas no interior dos aços" [in Manual de Pintura e Caligrafia, Moraes, Dezembro de 1976]

"Vai Ricardo Reis a descer as Rua dos sapateiros quando vê Fernando Pessoa. Está parado à esquina da Rua de Santa Justa, a olhá-lo como quem espera, mas não impaciente. Traz o mesmo fato preto, tem a cabeça descoberta, e, pormenor em que Ricardo reis não tinha reparado da primeira vez, não usa óculos, julga compreender porquê, seria absurdo e de mau gosto sepultar alguém tendo os óculos que usou em via, mas a razão é outra, é que não chegaram a dar-lhos quando no momento de morrer os pediu ..." [in A Ano da Morte de Ricardo Reis, Caminho, 1984]

"... vejo o que esta dentro dos corpos, e às vezes o que está no interior da terra, vejo o que está por baixo da pele, e às vezes mesmo por baixo das roupas, mas só vejo quando estou em jejum, perco o dom quando muda o quarto da lua, mas volta logo a seguir, quem me dera que o não tivesse ..." [in Memorial do Convento, Caminho, 1982]

"O Pessoa [Fernando] seria o grande Nobel da nossa época. Esse sim. Mas como? Quem é que conhecia o Pessoa? Nem nós ..." [Saramago, Entrevista de Carlos Vaz Marques, in Ler, Junho de 2008]

"A felicidade, fique o leitor a sabendo, tem muitos rostos. Viajar é, provavelmente, um deles. Entregue as suas flores a quem saiba cuidar delas, e comece. Ou recomece. Nenhuma viagem é definitiva" [in Viagem a Portugal, Círculo de Leitores, 1981]

ATÉ SEMPRE JOSÉ SARAMAGO!


"As palavras mais simples, mais comuns,
As de trazer por casa e dar de troco,
Em língua doutro mundo se convertem:
Basta que, de sol, os olhos do poeta,
Rasando, as iluminem
" [in Os Poemas Possíveis, Portugal Editora, 1966]

"... o autor está no livro todo, o autor é todo o livro, mesmo quando o livro não consiga ser todo o autor ..." [Saramago, in "O autor como narrador", Ler, Verão 97]

"... tudo quanto é nome de homem vai aqui, tudo quanto é vida também, sobretudo se atribulada, principalmente se miserável, já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação ...” [in Memorial do Convento, Caminho, 1982]

Morreu Saramago. Partiu o escritor para o sono eterno, porque "os homens são mortais mas não se pode ter a certeza de que todos / o sejam só aqueles que são vistos morrer diante dos nossos olhos" [Saramago, in Primeiro e Segundo Poemas dos Mortos]. Saramago, "esse escolhedor de factos", fez de facto história. Escreveu, desassossegou, construiu mundos ficcionais & escrita da terra, tomou posições políticas assumidas (qualidade de homem livre), deixou-nos coisas luminosas e boas. Faz parte da nossa história (Lusa ou Atlante), mesmo se como portugueses tivesse acabado a "nossa missão histórica", porque "estamos cansados de viver". A Saramago a nossa eterna gratidão!

Parte José Saramago e leva já saudades. Subiu alto! E tal como outros dos nossos escritores & poetas (e foram muitos e foram os melhores de várias gerações) a viagem feita foi de exílio pátrio, cerradas que lhe foram as portas, desta paróquia provinciana, mal frequentada e de má fama. Venceu a mediocridade da fala & comércio dos Sousas Laras (esse polícia das letras), dos vários "Engenheiros" e demais incumbentes da coisa pública, prenhes de rosariadas insónias, que atentos e veneradores sempre alimentamos. José Saramago afrontou-os continuamente, seguro e viril, em nossa glória e por orgulho patriótico. Mas não o calaram! E, por isso, nós jamais o abandonaremos.

Daqui, destes campos sacros e antiquíssimos do Mondego, o nosso derradeiro Vale! de despedida.

Até sempre Saramago!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

EU VI O VALTER LEMOS!



"Gaita! Sempre tem feito um calor" [Dr. Pluma, in Primavera autónoma das estradas, de M.C.V.]

No remanso do lar, após porfiado pousio do prazer da blogosfera (dote de paragem), descortinámos entre a camuflagem da TV (na RTPN ou, melhor, no media delirante do felicíssimo reinado do sr. Sócrates), o pressuroso Valter Lemos, dito secretário de Estado do Emprego.

Dantes, o Valter Lemos, ou fazia de prodigioso vereador em Penamacor, evangelista atribulado do eduquês indígena, presidente de um qualquer humilíssimo instituto albicastrense, ou fazia de assessor em Macau, missionário da educação nativa, ou Secretário de Estado da Educação. Agora exportou-se para a secretaria de Estado do Emprego. Onde é regente!

Era dantes, o Valter, utilizado na "chasse à la tiresse", curiosa expressão que os franceses usam quando (na caça) se referem à utilização do cão para empurrar a caça para a armadilha. Não tinha, Valter Lemos, qualidades, não tinha know-how, habilidade intelectual, urbanismo. Tinha, Valter Lemos, apenas adversários (todos nós) que cumpria empurrar para a "rede" da mentira política. Na fadiga caiu V. Lemos na secretaria do Emprego. Onde faz alexandrinos poéticos ao "emprego" e à formação profissional, para júbilo do loquaz Vieira da Silva e delírio da inefável Helena André. O casto João Proença, esse divertido amarelo sindical, pode, doravante, dormir como um cevado (Deo juvante).

Hoje mesmo, o verboso Valter Lemos proclamou na "Antena Aberta" da RTPN, perante terríveis desencantos mundanos, que o "desemprego" caiu nos centros de emprego (harmoniosamente, pensa-se). A natureza, a perfeição e o desvario televisivo do Valter Lemos - sempre ocioso entre a desafinação estatística e a patusca quanto gaguejante argumentação sobre esse melífluo tombo do desemprego – trouxe de imediato uma assuada de comentários, que o pobre coitado cegou de pânico. Depois de ser corrido (com belíssimos letreiros, diga-se) da vida escolar, pelos docentes, eis que o jactante V. Lemos se presta a ser agraciado com insultos, pelos desempregados deste país.

É que, por detrás desse corpus alienum do "desemprego" (que cai ou não cai) está apenas a manipulação estatística do génio imaginativo desses "novos" garotos políticos, que a pós adesão á União Europeia fez nascer em toda a parte. Com graciosidade! E bizarria! Para nossa escravidão.

terça-feira, 1 de junho de 2010

LEILÃO DA BIBLIOTECA DO DR. ARTUR NOBRE DE GUSMÃO


DIAS – 31 de Maio e 1 a 3 de Junho de 2010
LOCAL - Rua Agostinho Lourenço (ao Areeiro, Lisboa), 20 C
ORGANIZAÇÃOLeiloeira Renascimento
CATÁLOGOAQUI

Continua hoje e até ao dia 3 de Junho o LEILÃO DA BIBLIOTECA do Dr. ARTUR NOBRE DE GUSMÃO.

Artur Nobre de Gusmão [n. 1920 - m. 2001], professor Catedrático jubilado de História de Arte pela Universidade de Lisboa, apaixonado por arqueologia e história da arte, especialista em arte Cisterciense, foi, ainda, director do serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gubenkian, deixa-nos, na sua área de estudos e de paixão bibliófila, uma Biblioteca copiosa em peças bibliográficas de grande valia e raridade.

O Catálogo online, sob tutela de José Vicente, assim o revela.

sábado, 29 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A GAFANHA - CAMPOS LIMA



"A Gafanha, meus caros senhores, não é senão esta boa terra de mesquinharias e de toleimas, a fingir de nação da Europa e que nem ao menos por decoro anda de tanga. A Gafanha é a ‘piolheira’, onde só é gente o sr. Burnay. A Gafanha são os padres do ‘Portugal’, é a intentona, é a juventude monárquica, é a barriga do sr. Alpoim, a chefia do sr. Vilhena, a lei de 13 de Fevereiro, a beleza do sr. D. Manuel, o ‘Vasco da Gama’, o discurso da coroa, a chalaça do sr. Ferreira do Amaral e os adiantamentos. A Gafanha é esta terra de cegos, onde não havendo ao menos quem tenha um olho para ser rei, por esse facto se pensa fazer a República ..." [in A Gafanha, nº1]

A Gafanha. Quinzenário(?) Anarquista [nº1 (Março ? 1909) a nº 8 ? (1909)]. Editado por Campos Lima [João Evangelista]; correspondência, Rua do Ouro, 149, 2º, Lisboa; composto e impresso na Typ. Minerva, de Gaspar Pinto de Souza & Irmão, Vila Nova de Famalicão.

A Gafanha é um periódico de grande raridade, dado a perseguição e as penas a que estavam sujeitos aqueles que pugnavam pelas "doutrina do anarquismo", resultante da Lei de 13 de Fevereiro de 1896 [cf. Rita Pereira, A Gafanha, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Maio de 2010 – onde encontra a entrada bibliográfica ao periódico. Não consta da bibliografia consultada por R. Pereira, o livro de Alexandre Vieira, "Para a História do Sindicalismo em Portugal" onde é referido a existência de apenas 8 numrs d’A Gafanha], pelo que se desconhece quer o inicio da sua publicação quer o seu terminus.

A Gafanha, nº1 e nº2digitalizado pela Hemeroteca Municipal de Lisboa;
A GafanhaFicha histórica por Rita Pereira, H.M.Lisboa.

[publicado no Almanaque Republicano]

quinta-feira, 20 de maio de 2010

LEILÃO DA BIBLIOTECA DO DR. LAUREANO BARROS - PARTE III



LEILÃO DA BIBLIOTECA DO DR. LAUREANO BARROS (PARTE III e ÚLTIMA)
DIAS: 20 a 22 de Maio // 26 a 29 de Maio - sempre às 21 horas;
LOCAL: Junta de Freguesia do Bonfim (Campo 24 de Agosto), Porto
ORGANIZAÇÃO: Livraria Manuel Ferreira.

(Re)Começa hoje o Leilão da valiosa e excepcional Biblioteca - que referimos AQUI - reunida pelo estimado bibliófilo e notável cidadão dr. Laureano de Barros (1921-2008). Será a III parte deste Leilão, que é já hoje um dos mais notáveis, completos e valiosos acervos literários da segunda metade do século XX. As peças bibliográficas reunidas (descritas e redigidas com mestria pelo mestre Manuel Ferreira), o seu valor bibliofílico (que será sempre bem diferente do bibliográfico, segundo Pina Martins), a preciosidade dos exemplares que são levados à praça, as belíssimas e estupendas encadernações de algumas espécies, tornam esta Biblioteca e este Leilão um momento único e imperdível na cultura portuguesa.

Catálogo do volume I (20 a 22 de Maio)
Catálogo do volume II (27 a 29 de Maio)

LOCAIS: Livraria Manuel Ferreira – Leilão da Biblioteca do Dr. Laureano Barros (III Parte) [Tertúlia Bibliófila] / Raríssima primeira edição da Peregrinação na última etapa do leilão da biblioteca de Laureano Barros [jornal Público]

terça-feira, 18 de maio de 2010

BIBLIOTECA EUGÉNIO DA CUNHA E FREITAS - PARTE I



LEILÃO - Continua (desde ontem, dia 17) o LEILÃO da BIBLIOTECA EUGÉNIO DA CUNHA E FREITAS, hoje e até ao dia 19 de Maio. A cargo de Pedro de Azevedo, esta valiosa e estimada Biblioteca (aqui em sua I parte) é excelente na genealogia, heráldica, arqueologia, etnografia, história de arte, etc.

Local: Amazónia Lisboa Hotel (ao Jardim das Amoreiras), Lisboa.
Dias: 17, 18, 19 de Maio (21 horas)

O Dr. Eugénio da Cunha e Freitas [1912-2000] nasceu em Lisboa (30 de Agosto) e faleceu em 10 de Dezembro de 2000. Teve cargos públicos e institucionais importantes: pertenceu ao Ministério Público no Tribunal de Lisboa, foi administrador do concelho de Sesimbra (1935), secretário da Câmara dos Administradores de Falências do Porto (1935-1982), vogal da Comissão de Etnografia e História da Junta de Província do Douro Litoral (1947-1980), foi o primeiro Director do Boletim da Associação Cultural “Amigos do Porto” (19519), delegado da Junta Nacional de Educação no concelho de Vila do Conde, Presidente da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia de Azurara, director da estimada revista “O Tripeiro” (1961-1973) e pertenceu a inúmeras instituições (Associação dos Arqueólogos Portugueses; Sociedade História da Independência de Portugal; Academia Portuguesa de História; The American International Academy; Academia Nacional de Belas Artes; Associação Portuguesa de Geneologia; Sociedade de Estudos medievais; Associação Portuguesa de Ex-Libris, etc.).

Tem um copioso trabalho publicado em jornais e revistas e "obras de fundo, com realce para temáticas da História, da Etnografia e da Genealogia, e muito especialmente, para a história dos concelhos do Porto e de Vila do Conde”. A sua obra “é prolixa e vasta e a que deixou manuscrita monumental".

"Foi um bibliófilo e coleccionador, deixou um legado raro e variado de livros, folhetos e preciosidades manuscritas" [in Catálogo da Biblioteca Eugénio da Cunha e Freitas, Parte I, Pedro de Azevedo, Maio, 2001]

terça-feira, 11 de maio de 2010

BENTO XVI E A REPÚBLICA PORTUGUESA



"A viragem republicana, operada há cem anos, abriu na distinção entre a Igreja e o Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja" [Bento XVI]

"Nos cem anos da República, as minhas felicitações e a minha bênção a Portugal inteiro, país rico em humanidade e cristianismo" [Bento XVI]

in visita de Bento XVI a Portugal (11/05/2010)

via Almanaque Republicano.

sábado, 8 de maio de 2010

TWIST OF ASSIS & RODRIGUES'S



Duo mui almofado, de corpo gingão, voz das antigas. A dupla artística Assis & Rodrigues saiu frenética de S. Bento (dever d’ofício) e exportou-se para a paróquia. As TV’s imortalizaram o instantâneo e o excitativo momento. O senhor Rodrigues, conselheiro do Assis & flor ascendente do sr. Sócrates, diz que é irreflectido. O companheiro Assis, em agitação juvenil, é solidário, lembrando-se de outros recalcitrantes espíritos matosinhenses. O senhor Rodrigues é excessivo de munições contra os jornaleiros. E Assis, correndo a sua lista de mazelas, assegura que Rodrigues é dos "melhores" na deputação. Rodrigues ferve de indignação, enquanto lambisca gravadores. O sr. Assis, imaginoso no detalhe, garante que Rodrigues é rapaz de "grande lealdade, capacidade política e rigor". Os Abrantes, de imediato, esguicham postas urbi et orbi. A canalha sorri. O expediente deve continuar. O twist lascivo da dupla Assis & Rodrigues é um desastre. "Haja hoje para tanto ontem" [Leminski].

domingo, 2 de maio de 2010

ATÉ SEMPRE MANEL!


Era um Homem popular entre os vendedores da Feira da Ladra, um resguardo único para os amantes dos livros usados, um dedicado amigo do seu amigo. Todos os sábados, ignorado o sol ou a chuva, lá estava ele na Feira da Ladra vendendo velhos e novos alfarrábios, jornais e revistas, livros amarelecidos pelo uso e tempo, papéis pintados de outros homens e mulheres, com energia e sem fadiga, semeando conversas, paixões, generosidades. Em redor da sua carrinha, em tantas manhãs, quantos grupos de amadores de livros descerraram curiosas conversas, ergueram cânticos a livros perdidos, trocaram palavras de circunstância, enquanto o sr. Manel, com um sorriso nos lábios alumiava a Feira com o seu pregão matinal.

O Manel, homem rijo, espontâneo, franco, enérgico, deixou-nos na passada semana. O Manel da Feira da Ladra, forte e corajoso, não resistiu à presumida benevolência do tempo que tudo esquece. Todos os seus amigos – que são muitos – irão sempre relembrá-lo. Homens destes, que se cultivam pelo afecto, não ficam esquecidos. O Manel tinha um lugar especial entre nós, amantes dos livros, e ficará para sempre na nossa memória.

Ao Manel o nosso profundo respeito. Á família, aos filhos que continuarão a sua obra, o nosso pesar.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

IN MEMORIAM JOSÉ VITORINO DE PINA MARTINS


"O verdadeiro bibliófilo é aquele que deseja possuir livros para com eles dominar a logosfera e pelo respeito que eles merecem tanto no plano da cultura como no da própria beleza, raridade da espécie e da elegância das próprias encadernações – factores, estes, de autêntica estesia"

[João Vicente de Pinto Marques, aliás pseud. de José Vitorino de Pina Martins, in "Para o Perfil de um Bibliófilo", Catálogo da Biblioteca R. de G. (admirável e terno texto de Pina Martins, de leitura necessária), Leilão da Azevedo & Burnay, Lisboa, Maio de 1984]

José Vitorino de Pina Martins foi um dos mais brilhantes estudiosos da História do Livro, um erudito da História do Humanismo e do Renascimento, um fulgurante investigador e bibliófilo notável. O seu saber admirável, autêntico, iluminado, marcou exuberantemente a cultura portuguesa. A sua obra literária e científica é sublime, mesmo desconcertante. O seu legado de bibliófilo de excepção, perturbante pela sua imensa erudição e de raríssimo entusiasmo sobre os alfarrábios, deixou-nos estudos extraordinários e um acervo bibliográfico sem igual. A sua opulenta biblioteca pessoal – decerto a mais valiosa dos nossos tempos -, adquirida há anos pelo grupo Espírito Santo, é disso testemunha. Até sempre doutor Pina Martins. Um abraço fraterno!

Sobre a biografia e a bibliografia (muito copiosa) de José Vitorino de Pina Martins consultar a entrada da Wikipédia (que está conforme o texto de Manuel Cadafaz de Matos, publicado nos "129 Trabalhos Científicos de um Grande Investigador José Vitorino de Pina Martins", Catálogo de Exposição Bibliográfica, B. N., Lisboa, Março de 1998, pp. 7-12). Como curiosidade, observa-se em textos (sob pseudónimo, como o que atrás referimos, mas outros mais sugerem ter saído da mesma pena, e curiosamente aparecidos em Catálogos) uma inquietação em torno da simbologia, uma curiosa escrita de teor, que se pode apelidar, "esóterica" ("secreto amador de obras raras" ?), o que não será alheio o profundo conhecimento que tinha das obras de Camões, Bernardim Ribeiro, D. Francisco Manuel de Melo, Dante e do grande Padre António Vieira. Por último, Pina Martins escreve, ainda, poesia, sob o nome de Duarte de Montalegre.

Outros Locais: Pina Martins (Diário de Coimbra)/ Obituário: Pina Martins faleceu hoje em Lisboa (Correio da Beira Serra) / J. V. de Pina Martins em Convívio com os Clássicos (Aires A. Nascimento) / Palavras de afecto, com memória (Aires A. Nascimento) / Giovanni Pico della Mirandola: (1463-1494)