quinta-feira, 30 de abril de 2009


O COLEGIAL FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS

Num curioso assomo corporativo, decerto a fazer jus ás palavras de "salvação nacional" vindas do Palácio de Belém, os srs. deputados da nação aprovaram uma revisão da "lei do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais" inqualificável. Ao que se diz, a sensibilidade desvelada pelos "camaradas" deputados da A.R. pela Festa do Avante (nunca faltámos, devemos dizer), fez nascer um afeitado humanismo e um desejo bravio de resolver (com inspiração legal) as doações voluntárias e as contribuições particulares feitas no decorrer da Festa e que são parte imprescindível das receitas de financiamento do P.C.P. Rezou assim a labita.

Esta habilidade altíssima dos srs. deputados é, no entanto, escandalosa. Que a seriedade (se alguma vez existiu) em travar a corrupção seja abalada pela medida agora tomada, não espanta vinda dos insuspeitos deputados do bloco central dos interesses. Mas que o sublimado diploma comova o grupo parlamentar do B.E., que pretende ser (e tem sido, goste-se ou não) uma reserva ética da nação, ao ponto de o aprovar, causa perplexidade e é incómodo. Tal facto significa que o atoleiro onde o país navega é demasiado profundo e já não tem solução. Que o B.E. não o tenha contestado é trágico. Ou terá chegado a vez do sr. Louçã dar uma de partido "sério" e respeitador do sistema? Era o que nos faltava, agora! Valha-nos, santo Marx!

CHRONICA ECHOLOGICA

O estado de espírito e a energia ambiental do Governo é de pasmar. Depois de prescrever contra-ordenações ambientais (2006) respeitáveis aos prevaricadores, na época acompanhada de uma ruidosa exaltação partidária, o sr. Sócrates – conhecido festivaleiro de questões ambientais –, numa rara sensibilidade humanitária, entendeu (via Conselho de Ministros) fazer "aprovar alterações ao actual regime de contra-ordenações ambientais".

Na aprovação da nova barrela oriunda do douto Conselho, teve-se em conta (em alumiada inteligência) os tempos de "dissolução" económica e por isso considera o sr. Sócrates ser a proposta a mais adequada "ao quadro socioeconómico do país, ajustando a punição à necessidade de não comprometer a subsistência de pessoas singulares e de pessoas colectivas de pequena e média dimensão". As coimas doravante a existirem, a extraordinária concepção dessa figura do "arrependido" ambiental (que aí se mendiga), retratam muito bem o espírito e o exercício de cidadania que o imprudente Ministro do Ambiente professa.

A ridícula argumentação recitada, em sede de Conselho de Ministros, revela uma notável falta de talento argumentatório, uma desconsideração ambiental repulsiva e é, acima de tudo, um insulto à inteligência de todos. Não há pachorra!

GRUPO CESARINY

"Em cima, da esquerda para a direita: Lima de Freitas, Mário Henrique Leiria, Eunice Muñoz, Fernando Alves dos Santos e Mário Cesariny de Vasconcelos. No plano inferior, da esquerda para a direita: Arthur do Cruzeiro Seixas, António Barahona e Diogo Caldeira"

Foto (1978) retirada, com a devida vénia, do espaço estimado de Alberto Castro Ferreira [Skocky ou outro mais "quando se acende a luz"].


In-Libris – Livros de Abril 2009

A In-Libris (Porto) tem ainda no Catálogo livros para este mês de Abril.

A consultar AQUI.

sábado, 25 de abril de 2009


IN MEMORIAM DO 25 DE ABRIL

"Estamos no extremo ocidental de uma Europa gangrenada que teima ainda em conservar limpos os punhos e o colarinho, embora tenha podres nas meias e as cuecas estejam borradas de medo antigo, caca seca, agarrada aos Pirinéus, a montecarlos, montecassinos, urais ou andorras do báltico.

Estamos e continuaremos a estar até que a bomba rebente nos nossos tomates inchados, na goteira do sexo, nas moscas que teimam em disputar-nos a cerveja, nas putas que envolvem em dança os cromados dos bares de hotéis de gare.

Poârto ou Parises; Tomar ou Bruxelas; Leiria ou Malmo; a mesma merda.
Estamos quase a rebentar as costuras deste maldito soutien com que nos apertam as mamas da invenção; quase a rebentar as cuecas com que nos espartilham os caralhos da revolta. De pé, ó vitimas da Europa decadente! Nuzinhos até Trancoso! Com pezinhos de lã até Almeida!

Avançar assim, descobrindo novo discurso, importante porque me importa, também me faz bem, talvez te ajude, vos ajude, ajude afinal a acender o rastilho que vai fazer rebentar a bomba ..."

[Eduardo Guerra Carneiro, in Como não quer a coisa, &ETC, 1978 - sublinhados nossos, p. sim]

 Jose Mario Branco - Menina dos meus olhos

EDUCAÇÃO - 35 ANOS DEPOIS

"...há convicção dos adultos de que a sua acção educativa é importante ... e é, não nego que seja mas não é tão importante pelo que eles dizem nem pelo que fazem, mas sobretudo pelo que eles são! É a autenticidade que é importante ... E também já aqui disse uma vez, numa destes conversas, que a arte de educar ou de ser educado, é a arte de fazer falhar a educação que nos foi dada ..." [João dos Santos, in rev. A Ideia, nº 38-39, 1985]

"A educação, desde os primórdios da humanidade, tem tido, quase sempre, como principal motivação a integração da criança no mundo dos adultos, tanto a partir da família como da religião e da escola e, por último, da sociedade, com os mais broncos a ditarem as normas, as regras e a moral que deverá enformar os despojados" [Ilídio dos Santos, in rev. Utopia, nº 23, 2007]

"A ideia de eternidade é a mais grosseira que um homem pode conceber a respeito dos seus actos (...) O principal drama afectivo da vida, a seguir ao perpétuo conflito entre o desejo e a realidade que se lhe mostra hostil, parece de facto ser a sensação do tempo que se esvai" [Guy Debord, Rapprt sur la constrution des situations, 1957, aliás, in rev. Utopia, nº 1, Abril 1995]

[ilustração de António Valério]


25 DE ABRIL SEMPRE!

quarta-feira, 22 de abril de 2009


A EDUCAÇÃO DO MEU UMBIGO

Quando a história da governação do sr. Sócrates na instrução e educação em Portugal se fizer (com rigor, seriedade e modernidade), o estudioso terá de consultar o excelente blog de Paulo Guinote. Os textos aí produzidos, as notas valiosas de investigação, as ideias e propostas enunciadas - em defesa da Escola e da Instrução Pública - constituem um contributo insubstituível para entender o sistema educativo, a dimensão "político-pedagógica do profissional da educação", a profissão docente e a sua autonomia face ao Estado e às corporações de interesses, nesse período.

Contra a demanda irresponsável e a hostilidade reaccionária dos sábios da 5 de Outubro (e dos seus patrulheiros), o acervo documental que nos facultou Paulo Guinote (e um extraordinário grupo de docentes, que aí se reagruparam) é uma fonte imprescindível para entender os jogos do poder político, os (des)propósitos sindicais e revela o espírito que "exalta a vida" (Vaneigen), nessa afronta que a memória não esquecerá. O aprofundamento com que todas as questões foram analisadas e contraditadas, à revelia daqueles que venderam a alma (pedagogos e especialistas em eduquês), aliada à participação colectiva de vasto número de profissionais livres e libertos, estabeleceu uma rede de histórias notáveis e de respeito. O campo educativo, que as cabeças intelectivas à ordem do sr. Sócrates formatou, deixou marcas profundas e irreparáveis.

A Educação do Meu Umbigo saiu em suporte de papel. Auspiciosamente! Para facultar os espíritos deformados, para reclamar o exercício da liberdade e ridicularizar grotescos experts, para manter a memória. Como tal, indispensável.

quinta-feira, 16 de abril de 2009


A TONSURA DESTES DIAS

Na chamada Blogosfera, a tonsura destes dias fez-se, por motivo de devoção, gorjeio & acabamento teorético, à volta da questão da trova & da "gramática" da sra. Fernanda Câncio. Isto é a produção jornalística com que a sra. tricota a pauta impressa no D.N. parece que incomodou uns tantos liberais, alguns sacerdotes que habitam no Expresso e outros prelados da objectividade da informação, dando origem a uma curiosa polémica.

A sra. Câncio, espírito que paira entre assuntos fracturantes e autoridade consultora do sr. eng. Sócrates & governo, e que não lemos por tédio e precaução anti-reaccionária, verteu insólitos (quanto persistentes) pensamentos que a matriz ética ou deontológica (não se sabe qual) não poderia permitir – ao que nos dizem. Invocando a existência de conflitos de interesses, com origem numa putativa relação privada, os fascículos saídos arrebataram os trovadores da Blogosfera e, pasme-se, até o Expresso, desse precoce sábio Henrique Monteiro.

O sedutor debate (e o dissenso) que se seguiu teve o seu esplendor neste curioso texto ("A democracia da suspeita"), que – passe o facto de confundir moral com ética e esta com deontologia – se subscreve, em parte. Mas, como talvez diria o dr. Pacheco Pereira (e bem!), "essa não é a questão fundamental". Porque, afinal, a prosa oratória da sra. Câncio só é perfeita (e consumida) por quem já está disso convencido. Os encómios aos seus textos "testiculares" surgem, curiosamente, da maioria de adeptos das tais causas fracturantes, que (sem inocência) trocam a melíflua nutrição da sua prosa, pretensiosamente radical, que lhes reverdece a alma e lhes adoça a vida privada, pela pouca original atitude de cedência face ao exame do poder autoritário e de pensamento único que tudo corrompe - e que sublimam para o dia de finados. Com ou sem declaração de interesses, a questão em debate não permite esquecer a ostentada (e medíocre) propaganda que se observa e é total. No resto, a converseta é estimulante e, até mesmo, imperiosa. Porque os tempos do jornalismo estão "feios" e a causa "corrompida pela língua", como diria Kraus. E assim o cremos!

CHICO BUARQUE

"Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência (...)

Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico no local da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse 'endereço de gente desclassificada', está o antigo cemitério onde jaz seu avô"

ler AQUI.

NESTE CANTINHO OCIDENTAL ... NADA DE NOVO!

Um cidadão aterra vindo da inquietada civilização, para lá dos mares, e neste cantinho que da Ocidental praia lusitana nos fita ... nada de novo se passa. A degradação social & política nesta paróquia, que vai afagando a inspiração e as "cabeças cúbicas" dos dirigentes (enquanto nos vão afivelando a mordaça), é tremenda. Por sua vez, a liça jornalística vai arrastando pitorescos linguarejares e admiráveis depoimentos, com que entretêm a canalha. O inventário desta desdita – mais que uma charada diligente, – é uma curiosa e astuta intenção de laboriosas gentes, sem nenhuma dignidade ou honra.

Alguns mimos que saíram por estes dias, são elucidativos:

- a crise da crise (sistémica, como se diz nos preliminares do economês) está para continuar, estremecida nesta "morte suspensa", que a arreata do dr. Constâncio e o prelo indulgente do dr. Teixeira dos Santos vai permitindo. Tais sábios, equiparados no intelecto, parecem que estão admirados com a intensidade da "coisa" e com os detalhes desse mau-olhado que atravanca esta nossa lojeca. Mas, de facto, o descoberto político que põem a circular, face ao estado depressivo da economia e aos desafios rápidos que se exigem, não passa de mera doutrina (de boca de palmo), num aranzel absolutamente desprezável. Para o governo e o dr. Cavaco, na circular que espreita a cada "santo" dia, a culpa é do comboio da crise. Para a oposição (!?), o folhetim da tragédia, está no parlatório dos amigos e (des)conhecidos do sr. Sócrates. Isto é, não fornicam nem saem de cima. Cremos nós, que a pateada (que tarda) deste povo de mansos credores é pouca para tanto ócio à solta e estreita para cobrir a fronte dessas luminárias. A bengalada, que a contradita exigia a toda essa gentinha abusada, não faz sementeira. Muita pena!

- na notável Europa (do fraco Barroso), quase sempre sem política global e coerente, a Economia é acima de tudo uma técnica e uma arte ("policy science"), que a realidade social contraria em abundância. Curiosamente, os paradigmas foram-se de vez, sem um único queixume. E nem mesmo os (agora convertidos) novos-keynesianos passam no "teste do mercado" e podem (rapidamente) "salvar o capitalismo dos capitalistas". Quem assiste aos inenarráveis estudos sobre a crise pelos modernos sábios convertidos à coisa pública, só pode sorrir ... de enfado! Afinal Marx manda sempre "lembranças". Por sua vez, na morada do sr. Obama a resposta (por duvidosa que seja) é diferente. Enquanto ali existe voz e comando único capaz (!?) de inverter o (im)possível, na Europa do dr. Barroso há lassidão, incúria e mediocridade. Não por acaso, o dr. Barroso foi de novo entronizado chefe dessa escola. Por cá e por essa extraordinária Europa.

- a continuada (e histórica) chantagem política sobre os cidadãos independentes, teima em persistir. Esta semana – ao que nos dizem – uns embargados "renovadores comunistas" reapareceram da longa noite socrática, esclarecendo o gentio de Lisboa da necessidade de advogar a causa comum da "esquerda". Num golpe de mágica, esses desastrados professos da "frente de esquerda”, pretendem viabilizar uma presumida governação da cidade de Lisboa pelo sr. António Costa, gnomo do sr. Sócrates. A opinião de tão "vasto" auditório intelectual – uns renovadores de qualquer coisa, mais a ínclita geração de sábios que vivem à custa do poder e uns tantos obscuros sujeitos – entende que o sr. Sócrates & Cia é democrático e até mesmo de "esquerda". O génio desta assombrosa convicção anda por . Pode ser que essa espinhosa missão tenha vencimento, porque a memória do gentio é curta e me(r)d(r)osa. Mas esse contorcionismo pouco sério - a fazer negócio - degrada a vida política e enterra de vez o que quer que seja que tenha (ainda) a voz, a inteligência e a frescura de esquerda. O desamor de uns tantos, não pode ser exemplo para a miséria de todos. Para esse peditório ninguém é arrastado com inocência. A memória não esquece.

sexta-feira, 3 de abril de 2009


Boletim Bibliográfico 40 da Livraria Luis Burnay

Está online o Boletim 40 da Livraria de Luis Burnay [Calçada do Combro, 43-47, Lisboa], que apresenta 598 obras estimadas, procuradas e raras.

Consultar o CatálogoAQUI.

quarta-feira, 1 de abril de 2009


A ARTE DE FURTAR

"...Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei?

Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei?

Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Aqui d'El Rei!"

CATÁLOGO de ABRIL – Livraria Olisipo

Acaba de sair o Catálogo de Abril da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa), de José Vicente, com um conjunto curioso de Almanaques [Ponte de Lima, de Gotha], Álvaras Pombalinos, livros de Arte, História e Descobrimentos, peças de Literatura, Monografias, Revistas Literárias [Graal, Silex], Periódicos [Cerveira Nova, Panorama, Revista de Estudos Hebraicos, Revista Occidental], etc.

Consultar o Catálogo, AQUI.

terça-feira, 31 de março de 2009


NENO VASCO

"Acaba de sair a obra de pesquisa histórica, 'Minha Pátria é o Mundo Inteiro' do historiador brasileiro Alexandre Samis sobre o militante anarquista português Neno Vasco (1878-1920), um intelectual que actuou nos meios operários em Portugal e no Brasil com particular importância na imprensa sindicalista da época. Apesar da sua morte prematura destacou-se como um dos mais importantes militantes anarquista da sua época, sendo autor do livro 'A Concepção Anarquista do Sindicalismo'. Neste 90 anos de fundação da CGT e do jornal A Batalha [1919-1934] esta é uma contribuição ao conhecimento da história do anarco-sindicalismo em Portugal" [via Letra Livre]

"Minha Pátria é o Mundo Inteiro. Neno Vasco, o Anarquismo e o Sindicalismo Revolucionário em Dois Mundos", de Alexandre Samis, Lisboa, Letra Livre, 2009

PINTO MONTEIRO

O Procurador-geral da República, animando o debate político, arquivou uma vez mais assunto cuja grandeza (e gravidade) seria motivo de legítimo silêncio. Não resistindo ao vespeiro onde está metido e não sabendo ultrapassar as convulsões por que passa o sistema judiciário luso (de obra e graça do inegável Alberto Costa e seus antecessores), Pinto Monteiro satisfaz-se em esclarecimentos atribulados, num notável esforço de serenar os paroquianos. Jamais o Ministério Público foi tão adubado, como agora. As intervenções turbulentas a que se dedica, julgando alumiar o espírito do Ministério Público e restituir ordem à "casa", enfraquece a própria organização judiciária. Supremo paradoxo que em tudo sugere o sublime dizer do vate Camões:"um fraco rei faz fraca a forte gente".

O comunicado do sr. Procurador-geral da República não faz serenar os espíritos (por muito democrático que seja o patrulheiro Santos Silva), não garante a autonomia dos seus principais intérpretes e muito menos produz segurança aos cidadãos. Mais: a nova cruzada feita, diz muito sobre o estado da justiça em Portugal. Ao ameaçar com processos disciplinares magistrados e demais indivíduos, Pinto Monteiro cai numa trovoada pouco respeitosa. O caminho por que enveredou não é o melhor trilho. Até porque o que a Procuradoria-Geral da República devia esclarecer de vez, em respeito ao estado de direito e aos contribuintes, seriam as razões porque o processo Freeport esteve em banho-maria este tempo todo. E sobre isso não há nenhum tipo de comércio intelectual. Os cidadãos têm todo o direito a saber para onde vão os seus impostos e ao mesmo tempo avaliar o estado da justiça em Portugal. É essa satisfação que Pinto Monteiro não pode declinar. De todo!

domingo, 29 de março de 2009


TARCÍSIO TRINDADE

"Olha para o artista no andaime
A desenhar os frescos da gare marítima
Como se olhasse para uma igreja gótica.

- Menino, que tal lhe parece aí de baixo?

- Mestre, vou deixar a távola e a rima
E embarcar à aventura
Ser Bartolomeu em miniatura
"

[Tarcísio Trindade, "António Tavares de Carvalho em Alcântara a ver trabalhar o Almada", in "Os Meninos e as Quatro Estações", Ed. Panorama, 1960 (aliás ed. fac-sim. da Livraria Campos Trindade, 2008]

Único e curioso livro de poemas publicado por Tarcísio Vazão de Campos e Trindade, ou Tarcísio Trindade, nos tempos idos de 1960 e agora em reimpressão, em justa homenagem, pelos seus filhos. Tarcísio Trindade é um dos mais estimados livreiros-alfarrabistas do país, sendo proprietário da famosa Livraria Campos Trindade (nº44, da Rua do Alecrim, Lisboa), agora dirigida por seu filho Bernardo.

Nascido em 1931, Tarcísio Trindade frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, foi antiquário em Alcobaça e seu Presidente da Câmara, desde 1969 até ao 25 de Abril de 1974. Perfeito gentleman, de rara intuição e cultura, deve-se a ele a "descoberta" [na Feira do Rastro de Madrid, Espanha, segundo o próprio] do precioso incunábulo "Tratado da Confissom" [impresso em Chaves em Agosto de 1489, e que antecipa de seis anos a "entrada da tipografia de língua portuguesa no nosso país", que até então era representado pela Vita Christi, impressa em Lisboa (1495) por Valentim Fernandes], a que se seguiu a sua posterior identificação (1965) pelo então jovem assistente da Universidade de Lisboa, José V. de Pina Martins, e venda [por Tarcísio Trindade e João Pires, em 1965] ao dr. Miguel Quina, tendo depois a Biblioteca Nacional adquirido esse exemplar único da nossa história tipográfica.

Tarcísio Trindade, ao avaliar pelo que nos é dito, tinha anunciado a publicação de uma obra sobre relojoaria antiga portuguesa e inglesa e outros livros de poesia, bem como (sabemos nós), através do estudo de documentos e livros provenientes da sua valiosa biblioteca particular (onde cabe uma preciosa cisterciense), tinha manifestado a vontade de assinar um estudo sobre o Mosteiro de Alcobaça e a Ordem de Cister. Não foi, no entanto, possível tão ardente paixão. Julgamos que a próxima homenagem que lhe for feita (e que será em breve) poderá esclarecer o interesse e a valia dessa entusiástica intenção. Aguardemos.

LIVRARIA MANUEL FERREIRA – 50º ANIVERSÁRIO

Há já alguns dias que recebemos o Catálogo da Livraria Manuel Ferreira, estimado livreiro-antiquário do Porto. Culpa nossa não o ter referenciado. Manuel Ferreira tem lugar primeiro no ofício das letras. A sua dedicação e amor aos livros – de que é um culto e devoto professo – vai mais além que o mero negócio tradicional, que abraçou e nos encanta. Os seus Catálogos, renovando a ilustre tradição bibliográfica lusa, evidenciam um saber pacientemente construído e um trabalho escrupulosamente organizado. Comemorou a sua prestimosa casa o 50º aniversário (1959-2009), servindo-nos com (mais) um admirável Catálogo. Por tudo isso e como testemunho da mais sincera gratidão, parabéns e o nosso obrigado!

quinta-feira, 26 de março de 2009


LEILÃO em PARIS – MOVIMENTO SURREALISTA

Amanhã (dia 27) em Paris (Hotel Drouot, sala 22) vai à praça um importante e valioso Leilão de raros livros, revistas, desenhos, gravuras, fotografias e manuscritos de temática dadaísta e surrealista, verdadeiramente notável e difícil de reunir. Estão representados quase todos os principais autores de referência, nas suas primeiras edições.

Consultar o Catálogo, AQUI.

terça-feira, 24 de março de 2009


LAMÚRIAS & DOR DE CORNO

Com a cultura de rastos, a economia em crise e a política à medida do carácter do sr. Sócrates, o regresso do assunto "futebol" vem mesmo perfeito de oportunidade. Melhor seria impossível! A tribo do futebol – que morre de ternura clubística todas as dias e alienação moral todas as semanas – sugere-nos sempre uma donzela virgem, fazendo beicinho. Mais, sempre sem engenho e muito mostrar de dentes, tem sempre um palavrório à medida da paróquia, principalmente se o assunto mete o seu extraordinário clube. Curiosamente, para o celerado adepto, tanto faz estar à frente do clube o sr. Santos Silva ou a Madre Teresa. Para o caso tento faz! Isso explica bem a qualidade de futebol que temos. E a democracia política onde vamos jogando.

Um clássico nas lamúrias & dor de corno é a rapaziada inenarrável do clube do horto d’Alvalade. Esta semana, levados (com muita oportunidade) pelo incompetente apito de Lucílio Baptista, espalharam um monumento de asneiras, um manguito de factos ridículos, uma opereta bufa.

A oratória desta semana esqueceu, para sempre, todos os casos (e foram muitos) onde o inapto sr. Baptista (e outros) atraiçoou a arbitragem. Esta peculiar dor de corno – muito enérgica, porque o futebol revelado em campo é fracativo – fez aparecer à opinião pública a figura grotesca de Soares Franco, enquanto o pescoço do sr. Pinto da Costa saiu do cepo e o discurso saloio de Filipe Vieira era depurado. A coisa, para estes honrados paroquianos & correligionários, é simples de narrar: um árbitro "ladrão" (versão Paulo Bento) vale mais que um "ladrão" de um banqueiro. Ou de um qualquer administrador de empresa pública. Ou, até mesmo, que o copioso delírio democrático do sr. Santos Silva.

Para o doente do futebol, o sr. Baptista "não tem qualquer tipo de condições para arbitrar em Portugal", mas todas as anteriores criaturas citadas, fazem falta à pátria. Nas próximas eleições (com arbitragem desse génio do apito que é o sr. Cavaco Silva) lá estarão todos a cumprir as regras do jogo. A bem da Nação!