domingo, 18 de dezembro de 2005


Os Melhores Alfarrabistas Portugueses de 2005

"É aos psicanalistas que se deve perguntar por que se colecciona. Só eles sabem descobrir quais os motivos inconfessáveis e escabrosos que levam um burguês pacato e morigerado a praticar actos perfeitamente simples e morais" [Ruben Borba de Moraes]

1. Livraria Artes & Letras - ancorada no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, a livraria de Luís Gomes, é um espaço magnífico, um lugar esplêndido para as inúmeras canseiras do amante do livro. Um local de culto. E de conversação.

2. Livraria Histórica e Ultramarina, Lisboa
3. Luís P. Burnay, Lisboa
4. J. A. Telles da Sylva, Lisboa
5. Livraria Olisipo, Lisboa
6. Livraria Académica, Porto
7. Livraria Miguel Carvalho, Coimbra
8. Livraria Manuel Ferreira, Porto
9. Livraria Chaminé da Mota, Porto
10. Livraria Bizantina, Lisboa

[locais: consultar aqui]

Catálogo da Livraria Artes & Letras

Hoje, apresentamos o último Catálogo (excelente) da Livraria Artes & Letras (Largo Trindade Coelho, nº 3 e 4, Lisboa), pertença de Luís Gomes, estimado livreiro antiquário. As peças bibliográficas (302), de alguma raridade e de muita estimação, criteriosamente escolhidas, são espécies valiosas, reunindo-se obras modernistas há muito esgotadas, que como é sabido abrem o apetite do bibliófilo que se preze.
Podem ser consultadas (ou pedidas) on line.

Algumas referências (obras portuguesas, em 1ª ed.): Cartas Físico-Mathematicas de Thedozio a Eugénio, ..., de Dorotheo de Almeida [aliás Pe. Teodoro de Almeida], 1784-1799, III vols / Recreação Filosófica ou Dialogo sobre a Filosofia Natural, ..., ididem, 1786- 1800, X vols / Adolescente. Poemas de Eugénio de Andrade, Ed. Autor, 1942 / History of the Azores ..., por Thomas Ashe, Londres, 1813 / Ortografia da Lingva Portvgvesa per Ioam Franco Barretto, Lisboa, 1671 / O Meu Amor Pequenino, de António Botto, 1934 / Portugal e os Estrangeiros, por Manuel Bernardes Branco, 1879-1895, V vols / Diccionario de geographia universal por uma sociedade de homens de sciencia ..., por Tito Augusto de Carvalho, Ed. David Corazzi, 1878-1887, IV vols / Seroens de S. Miguel de Seide, por Camilo Castelo Branco, 1886, X tomos / Tributo Portuguez à memoria do libertador, por António Feliciano de Castilho, 1836 / A Peregrina do Mundo Novo, de Ferreira de Castro, 1926 / Cuidados Literários do Prelado de Beja, por D. Frei Manuel do Cenáculo, 1791 / Um Auto para Jerusalém, de M. Cesariny Vasconcelos, 1964 / Jornal do Gato, ibidem, 1974 / Milagre: Costumes de agora; Almas do Purgatório; Santidade; Politicas; Fraternidade; Espectáculo; Igualdade (Fola fotocopiada com poemas), por Rui Cinatti, Ed. do autor, 1976 / Poesia de arte e realismo poético, de Natália Correia, 1958 / Antologia da Poesia Erótica e Satírica, dir Natália Correia e il de Cruzeiro Seixas, 1966 / O Vinho e a Lira, ibidem, 1966 / A Madona, ibidem, 1968 / As maçãs de Orestes, ibidem, 1970 / Exílio. Revista Mensal de Arte, lettras e sciências, (nº único) Abril de 1916 / O Mundo dos Outros, Historias e vagabundagens, de José Gomes Ferreira, 1950 / Onde tudo foi morrendo, por Vergílio Ferrreira, 1944 / Aparição, ibidem, 1959 / Cartas espirituais. A mulher e a Igreja, por Tomás da Fonseca, 1922 / Fátima(cartas ao Cardeal Cerejeira), ibidem, 1955 / Na Cova dos leões, ibidem, 1958 / Parnaso lusitano ou poesias selectas ..., por Almeida Garrett, 1826-1834, VI vols / Poemas de Camões, ibidem, Paris, 1825 / Da Educação, ibidem, Londres, 1829 / Viagens da Minha Terra, ibidem, 1846, II vols / Movimento Perpetuo, por António Gedeão, 1956 / Refúgio Perdido, de Soeiro Pereira Gomes, 1950 / Engrenagem, ibidem, 1951 / Xente d'a aldeã, por Alfredo Guisado, 1921 / Nova. Magazine de poesia e desenho, Ed. Herberto Hélder, 1975-76, II vols / Mangas verdes com sal, por Rui Knopfli, 1069 / A Ilha de Próspero, ibidem, 1972 / O Mnedigo e as sua História, por Albino Lapa, 1953 / O Espectro de Juvenal, de Gomes Leal, nº1 a nº5, 1872-73, V nums / A Canalha, ibidem (+ 4 opúsculos), ibidem / Fim do Mundo, ibidem, 1900 / O Anti-Cristo, ibidem, 1907 / Um Homem de Barbas, de Manuel de Lima, 1944 / Malaquias ou a História ..., ibidem, 1953 / A Pata do Pássaro ..., ibidem, 1972 / A Verticalidade e a Chave, de António Maria Lisboa, 1956 / Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jerry; seguido de senhor cágado e o menino, ibidem, 1958 / Apontamentos, de Irene Lisboa, 1943 / O Oriente, de José Agostinho de Macedo, 1814, II vols / Biblioteca Lusitana, por Diogo Barbosa Machado, 1965, IV vols / Poemas do tempo Incerto, por Adolfo Casais Monteiro, 1934 / Litoral, de João Cabral do Nascimento, 1934 / Cancioneiro, ibidem, 1943 / Confidências, ibidem, 1945 / Mito alegoria-símbolo. Monólogo autodidacta na oficina de pintura, por José de Almada Negreiros, 1948 / A Chave diz. Faltam duas tábuas e meia de pintura no todo da obra de Nuno Gonçalves ..., ibidem, 1950 / O Paço de Milhafre, de Vitorino Nemésio, 1924 / La Voyelle Promise, ibidem, 1935 / A Casa fechada. Novelas, ibidem, 1936 / O Bicho Harmonioso, ibidem, 1938 / Nem toda a noite a vida, ibidem, 1952 / O segredo do Ouro Preto e outros caminhos, ibidem, 1954 / Corsário das Ilhas. Jornal de Vitorino Nemésio, ibidem, 1956 / O retrato do semeador, ibidem, 1958 / Limite de Idade, ibidem, 1971 / Jornal do Observador ibidem, 1974 / Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira, 1953 / Textos Locais, por Luiz Pacheco, 1967 / Diário, por António Pedro, Cabo Verde, 1929 / Canções e outros poemas, ibidem, 1936 / Clepsydra, de Camilo Pessanha, 1920 / O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires, 1958 / Jogos de Azar, ibidem, 1963 / Dinossauro excelentíssimo, ibidem, 1972 / Pomar XVI Desenhos, 1948 / Os Maias, de Eça de Queiroz, 1888, II vols / Diccionario de milagres, ibidem, 1900 / Contos, ibidem, 1902 / Prosas Barbaras, ibidem, 1904 / A dignidade das letras e as literaturas officiaes, de Anthero de Quental, 1865 / Constantino guardador de vacas e de sonhos, por Alves Redol, 1962 / Literatura livresca e literatura viva. Manifesto literário, de José Régio, 1940 (?) / Cadernos do meio-dia, dir António Ramos Rosa, Faro, 1958-1960, V fasc / Luz central, de Ernesto Sampaio, 1958 / Para uma Cultura Fascinante, ibidem, 1959 / Asas (Poesia), de José Carlos Ary dos Santos, 1952 / Tempo da lenda das amendoeiras, ibidem, 1964 / Insofrimento in sofrimento, ibidem, 1969 / Andanças do demónio, por Jorge de Sena, 1960 / A Justificação jurídica da restauração e a teoria da origem popular do poder politico, de Mário Soares, 1954 / Mornas cantigas crioulas, por Eugénio Tavares, 1932
Catálogos

"E mandarei fazer um almanaque/Na pele encadernada do teu seio" [G.S.L]

O bibliófilo, ou amante de livros, é um comprometido ledor e observador de catálogos impressos, que criteriosamente folheia com gosto amantíssimo, arrastando os olhos judiciosamente pelo trabalho bibliográfico acabado, como se de uma pintura delicada se tratasse. O dom requintado que possui pela obra literária, a memória apurada que dispõe, a curiosidade bibliográfica, o gosto pela erudição, marcam meticulosamente o amante do livro. Existem (poucas) obras que fixam e descrevem tais manifestações [pode ter uma ideia disso mesmo, "vasculhando" aqui]. A leitura de catálogos é um excelente e precioso auxiliar para todos - simples curiosos do livro, estudiosos e investigadores, bibliófilos ou alfarrabistas. Por isso há catálogos - e alguns têm sido referenciados, aqui mesmo e ali - que honram quem os faz. Que revelam uma virtude encantatória. Uma paixão que transmite conhecimento e bom gosto. Estima e apreço.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

[Momento num café]

"...
A conversa da vida reside nisto:
um leve toque no ombro do próximo ...
uma cortina de chuva vedando a verdade
olhos indiferentes, indiscretos ...
e um ar de encanto, um fácil soluço
ouvido longe, como que em segredo
"

[Ruy Cinatti, Momento num café, 1976]

Presidenciais: canções d'embalar

"Gosto de quem responde/antes de perguntar" [Alexandre O'Neill]

Alegre & Louçã - o candidato Alegre vem bem agasalhado na bandeira pátria, o nó da gravata em Cruz de Cristo (nada com os de Bélem) vai correndo televisivamente, desenvolve as ideias & a camisa com padrões camonianos afectuosos, fornece uma dicção poética entremeada de ardor partidário ("aquele poder tão duro" de Camões) & líricas anti-partidárias, vivamente numa assonância inaudita diz que ninguém é dono da poesis perdão da consciência (uauu!), cultiva o tom epistolar fora da caridade do economicus ("este pode colher as maçãs de ouro" lá dizia o vate Camões), proporciona o extraordinária silêncio por 20 segundos no programa (momentus alegrus) na devoção meditabundo para a demissão de Souto Moura (cesse do E.P.C. o canto ilustre ... disse), afasta-se convulsivamente de candidaturas de pro-tes-to, propõe impedir que o infausto Jardim atine em qualquer eleição (eia! patriota). Esteve eloquente, deu cavaco e foi poético. As palavras & os dotes artísticos utilizados são, já se vê, de José Jorge Letria. E o fato de ninguém-é-dono-da-consciência foi comercializado & inovado, entre sorrisos e lágrimas, por Inês Pedrosa. O sorriso era de Helena Roseta. Enfim, temos o "país do cibinho mastigado / devagarinho" (O'Neill).

Cavaco & Jerónimo - o candidato Cavaco puxou da cassete económica, alta e sagrada, que trazia no bolso de dentro da jaqueta, perdeu-se entre os tumultos dos longos e saudosos anos da sua acção governativa (oh! desditoso), não descobriu o ponto fixo da mira televisiva que fosse além da devoção Socrática (estamos servidos), não sustentou o desvario e as golpadas do arranjo do deficit da Mercearia Ferreira Leite (salvé Dona Manuela!), cegou na luz da abertura das fronteiras aos imigrantes, ameaçou com a tropa em caso de falta de autoridade do Estado (Ui! Ui! senhor dr.), gemeu de emoção e resignação ao descrever cenas conjugais, bateu por três vezes na boca quando pronunciou ... pros-ti-tu-i-ção. Esteve alegre, distinto e imortal. A cassete utilizada foi-lhe fornecida pelo seu compadre Ramalho Eanes. A gravação, evidentemente, foi de João Carlos Espada e Dias Loureiro. O dolby esteve a cargo de Katia Guerreiro & Pedro Lomba. Enfim, "todos os lugares deviam ser santos no Natal" (O'Neill).

Absolutamente grátis: pode ser o "leve dois e pague um", pois estamos em assunto natalício, que vós depois, lúcidos e prudentes, respigareis ao tempo o exemplar para a vossa desgraça. Mas não se trata disso. Cada coisa no seu lugar. Porque estamos com saudades da partida, que o tempo é invernoso por aqui. Porque meu caro cidadão, "você anda tão triste" nestas eleições, neste mundo, aqui deixámos em vosso louvor, para almas respeitáveis e eleitores impiedosos

Tom Zé - Senhor CidadãoPowered by Castpost

Boa noute.

Catálogo 52 da Livraria Moreira da Costa

Acaba de sair o Catálogo do mês de Dezembro da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto). Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Portugal no Mundo, de Luís de Albuquerque, Alfa, 1993, III vols / Theoria da Administração da Fazenda, por Antonio Joze Pedrozo de Almeida, 1834 / O poeta António Fogaça (Estudo Biográfico-Crítico), Braga. 1949 / António Rodrigues Sampaio. Homenagem prestada à sua memória pela Imprensa do Porto, 1882 / À Beira do Centenário de Camilo, de Carlos Babo, s.d. / Elucidário do Viajante do Porto, de Francisco Ferreira Barbosa, Coimbra, 1864 / Discursos e Conferências de Ruy Barbosa, Porto, 1933 / Estudos Dispersos, por Moniz Barreto, Lisboa, 1963 / Um Jornal na Revolução (O Mundo de 5 de Outubro de 1910), de Jacinto Batista, 1966 / Traités de Législation Civile et Pénale, de Jérémie Bentham, 1802, III vols / Por Estradas e Atalhos, de Bettencourt-Rodrigues, 1931 / A Arcádia Lusitana, de Teófilo Braga, 1899 / Poetas e Prosadores (À margem dos Livros), por Júlio Brandão, s.d / Memórias de Eduardo Brazão, 1925 / História de um Fogo-Morto, de José Caldas, 1903 / Camillo Homenageado. O Escritor da Graça e da Belleza, Famalicão, 1920 / A Liberdade de Imprensa, por Bento Carqueja, Porto, 1893 / Lições de Philosophia Chimica, pelo Doutor Joaquim Augusto Simões de Carvalho, Coimbra, 1850 / Conversar, de Augusto de Castro, 1919 / Quatro Andamentos, de João José Cochofel, Coimbra, 1966 / Galeria de Varões Illustres de Portugal, por J. M. Latino Coelho, Lisboa, 1882, II vols / Constituição Politica da Monarchia Portugueza, Lisboa, 1822 / Documentos para a Historia da Universidade de Coimbra (1750-1772), 1969-61, II vols / Herculano na Allemanha. Elogio Histórico de Alexandre Herculano por Johann-Joséf-Ignaz Von Doellinger, 28 de Março de 1878 / [Revista] Estudos Políticos e Sociais, I.S.C.S., 1963-1966, XIV vols / Imprensa Nacional de Lisboa, por Ramiro Farinha, 1969 / Leis e Rituaes do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil (2ª ed.), 1877 / Theologia Moral em Quadros ..., pelo Abbade Martin, 1877-78, II vols / Origem Infecta da Relaxação da Moral dos denominados Jesuitas: Manifesto dolo, com que a deduziram da Ethica, e da Metafysica de Aristóteles, Lisboa, 1771 / Revista da Marinha. dir. Maurício de Oliveira, Ed. ParceRia A.M.P., Ano I, Nº1 (1937) a Ano X, nº285 (1946), XVIII vols / Revista Universal Lisbonense. Jornal dos Interesses Physicos, Moares, e Litterarios por uma Sociedade Estudiosa, Lisboa, Imprensa Nacional, tomo I (1841-1842) e tomo II (1842-1843), II vols. / O Regímen da Divida Portugueza, discurso por Hintze Ribeiro, 1898

domingo, 11 de dezembro de 2005


Maurice Leblanc [n. 11 Dezembro 1864-1941]

"Pourquoi, dit-il encore, aurais-je une apparence définie? Pourquoi ne pas éviter ce danger d'une personnalité toujours identique. Mes actes me désignent suffisamment."

Et il précise, avec une pointe d'orgueil: "Tant mieux si l'on ne peut jamais dire en toute certitude: Voici Arsène Lupin. L'essentiel est qu'on dise sans crainte d'erreur: Arsène Lupin a fait cela."

[from Arsène Lupin, 1907]

Locais: Maurice Leblanc (1864-1941) / Maison de Maurice Leblanc / Le personnage d'Arsène Lupin dans Les aventures d'Arsène Lupin de Maurice Leblanc / Maurice Leblanc FR3 / Arsène Lupin gentleman cambrioleur / La vérité sur Arsène Lupin / Arsène Lupin, as origens

Debate Presidencial: o princípio da "coisa"

"O monstro aculturado já se deixa montar, / mas ainda não moro naquele seu olhar" [Alexandre O'Neill]

Depois da "alegre cavaqueira" generosamente derramada diante dos nossos olhos, pelo sopro cheio de graça, dos dois candidatos presidenciais que estrearam o debate da "coisa", eis um bom momento civilizador vivido, ontem, entre Cavaco & Louçã. Diga-se que na antevéspera - confronto Soares & Jerónimo -, já fomos agraciados com o prazer de respirar opiniões discordantes. A União Nacional não estava a passar por ali. A missão do orador presidenciável é uma travessia que depende de cada qual. E as margens da sua condição não são, unicamente, motivo de caridade dos entrevistadores, mesmo se a viseira erguida por alguns funcionários do dr. Balsemão seja viciosa no seu tratamento jornalístico. Ele há "coisas" onde a voz do "dono" impõe renúncias intermitentes. Embargos deliciosamente indesculpáveis. Adiante.

Entre a obediência intelectual consumada pelo amante da "pátria" - o poeta Alegre - com aquele que "falava com voz do nó da gravata" - de nome Cavaco Silva - e o estimulante (porque sério) e atrevido (porque não servil) embate Cavaco & Louçã, há toda uma diferença. Naquele, o tom macilento de quem não tem nada a dizer e a interpelar. Neste, a seriedade e a correcção da análise política, económica e social, num exercício honesto de quem algo a pronunciar e a debater. Todos - candidatos e jornalistas - estão de parabéns. Daqui para a frente, nada será como dantes, embora muitos suspirem uma outra "coisa". Basta ler os testemunhos dos colunistas da União Nacional e de como ficaram extraordinariamente a descobertos. Há dores tão agradecidas que assombram. A urbanidade intelectual é sempre muito traiçoeira.

É público que o mito da argúcia económica de Cavaco, se existia ainda, acabou ontem mesmo. Louçã fez desmoronar esse pequeno mundo que é, absolutamente, esotérico para os indígenas e até alguns adoráveis Cavaquistas. As palavras singelas do cândido ex-primeiro ministro explicam tudo sobre esse período: "Em relação ao passado fui julgado pelo povo português" - diz-nos. Nada mais acertado.

Ainda assim, o candidato persiste em querer vislumbrar "sucesso" na sua governação ou, até, assumindo essa ideia admirável do Cavaquismo ter pretendido ser, afinal, o projecto de uma nova "Califórnia da Europa". Tal insidia, pouco oficiosa, é apenas um delírio intratável. Presume-se que o descabelado Medina Carreira se engasgou com a papelada e os números. E que as orelhas liberais e neo-liberais, dos festivos apoiantes do candidato, arderam de vergonha, quando se ouviu o fantástico dr. Cavaco defender "os direitos adquiridos" dos trabalhadores da Administração Pública. Espera-se, ainda, que a vaidade e o estilo de Nogueira Leite não sucumba perante o novo oráculo da economia lusa. Seria um horror para muitos e um divertimento para todos.

Sobre o debate da "coisa": Louçã embaraçou, por várias vezes, o benemérito e estupefacto candidato da União Nacional. Fez aparecer o "momento mais divertido" da noite, quando se argumentou sobre a Lei da Nacionalidade e a invasão "bárbara" irrompeu, tout court, da boca do professor. Arrancou, a ferros, algumas desgarradas opiniões ao dr. Cavaco. Este, criteriosamente colado às políticas do governo, titubeou aqui e ali. Esteve, no entanto, bem melhor quando falou na Reforma da Segurança Social e nas medidas tomadas. Coisa que, aliás, muitos não entenderam. Em resumo: Louçã domou "o monstro". E, nestas condições, a existir alguém vitorioso, esse alguém terá de ser o dr. Francisco Louçã. Muito embora se saiba quais as suas hipóteses presidenciais. Mas isso é uma outra história. Um outro debate. Disse.

Fomos de romaria à Catedral & aviámos uns "bifes" ingleses

"Que aquelas altas vozes que lá soam ..." [Camões]

Afogueados pelo cansaço de todos os caminhos não serem rectos, estamos de regresso. Da antiquíssima Catedral da Luz & ainda em tempo festivo. Justo foi desembainhar a espada do engenho e comemorar essa notável noite em que o Glorioso educou os indígenas do Manchester. E celebrar em depravação total.

Antes, uma romaria, lucidamente vermelha, invadiu Lisboa, quarta-feira passada. Todos os caminhos davam à Catedral, para ver os "bifes" do senhor Blair. A A1 entupiu de magnificência. Vimos passar famílias completas. Ataviadas de filhos, comida & bebida. Um verdadeiro hino colectivo. A pátria ressuscitava, finalmente. A nação, também.

Aos 5 minutos, por deslize óptico, os rapazes alourados marcaram. Sem saberem como, deve ter confessado Sir Alex Ferguson ao Queirós. Depois, os nossos artistas abriram o jogo e a sangria feita aos Neville, O'Shea, Giggs and Rooney foi memorável. E a reviravolta apareceu. Sir Ferguson ficou lívido e silencioso. Logo ele que tanto prega. Conseguiu-se, entretanto, a façanha de arrastar o ilustre Ronaldo para fora das quatro linhas, para ter tempo de visitar o horto d'Alvalade. Pelo gestual simbólico utilizado pelo rapaz do Manchester, durante a sua saída, deve ter gostado da ideia. Há coisas que nunca esquecem. A nós também não.

terça-feira, 6 de dezembro de 2005


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

Cingida de luz, bordada de poesis musical, a beleza e o esplendor de Aerial. A divina Kate Bush - 12 anos depois de "The Red Shoes" - está de volta. O seu último álbum (duplo), em especial o II CD, é sublime. Os meus pássaros sussurram que sim. Compreendo-os. Não há qualquer mistério para eles. Canções do vento, o sol & o mar, têm sempre efeito de prevenção. Com doçura, fazemos as pazes com o mundo. Com a inocência em afecto maternal. Mystico. A alma vai prenhe de civilidade. Não é qualquer Cavaco que nos fulmina estes dias, assim-tão-perfeitos em repouso descuidoso. Kate Bush é o nosso abrigo espiritual. A nossa audição divina. O nosso endereço de cada noute. A nossa fantasia espiritual. Há senhoras ... assim! Intemporais. Ouvi!

Assim, para ouvidores sem custódia presidencial & para as governanças em fim-de-ano, que as vésperas são todos os momentos de alma, a coberto do luar ou do fascínio da noite, a inexcedível & admirável Kate Bush, ali [music in box - A Nau dos Loucos] do lado esquerdo da pedra & sem o patrocínio das forças de desbloqueio

Kate Bush - Sunset [in CD2]

"Who knows who wrote that song of Summer
That blackbirds sing at dusk
This is a song of colour
Where sands sing in crimson, red and rust
Then climb into bed and turn to dust
...
Oh sing of summer and a sunset
And sing for us, so that we may remember
The day writes the words right across the sky
They all go all the way up to the top of the night
" [letra, aqui]

... e que a noite germine em cada um de vós. Bons sonhos!

Alegre & Cavaco: 2 lindos meninos

"Pé quebrado na política, / mais tempo leva a soldar" [Alexandre O'Neill]

Desconhece-se se a conversão política ao elogio mútuo, ensaiada pelos pretendentes do elenco presidencial, ontem na S.I.C., foi escolha acertada. Presume-se que a oratória é para continuar. Diga-se, porém, que a pasmaceira e o embaraço de ideias, reveladas aos indígenas por aqueles graciosos & espantosos "meninos", foram comoventes. O encontro Alegre & Cavaco foi um suplício televisivo, uma sabatina de estoicismo a quem o acompanhou. Antes um filme de Manuel de Oliveira. Sempre era mais sério. E afirmava audácia e muita réplica.

Os homens de ontem, no meio de gralhas e asneiras, não souberam discordar. Ao deficit Guterrista, lançado por Cavaco como fonte do mal pátrio, o poeta da caravela lusa, assobiou para as câmaras. Descaradamente. Sobre a OTA e os formidáveis números (volta, Guterres, estás perdoado!) do seu custeio, revelados pelo severo professor de economia, Alegre redigiu uma ode de vigilância monetária e um madrigal maior à periferia lusitana. O milagre económico estava a passar por ali. A reprimenda do dr. Cavaco foi autenticada, entre as barbas do poeta. As entrevistas corriam pelo melhor. O debate, nem por isso. Ou por causa disso.

É verdade que os candidatos se debicaram no recitativo sobre o Iraque. Mas foi tão inútil como activar o sangue democrata que, se calcula, corre em Bush. É certo que, por motivos insondáveis aos profanos, ambos os mestres pretendem "cooperação" ou "pensamento" estratégico no assento de Bélem. Cavaco, ele próprio, fez pairar no estúdio esse tremendo arrojo de querer ser uma "força de desbloqueio". Assim foi dito. Sem anestesia prévia. Sem consultar os ofícios do sr. Paulo Rangel ou pedir amparo ao fecundo J. C. Espada. Foi divertido à hora das telenovelas. Mas é pouco.

Sobre a magna questão da Justiça, os oradores fizeram ruído. De tal modo que o dr. Jorge Sampaio acordou, enquanto escrevia o último texto presidencial. Em casa, o interminável Souto Moura sorria, à altura do seu mandato. Mas, é bom de ver, o ardente estendal de ideias dos proponentes não encontra qualquer acolhimento nos eleitores, em especial quando o vício é de se falar cautelosamente e a medo da justiça e sobre ela. A seriedade nesta matéria foi um simples capricho discursivo. De facto, este assunto nunca existiu.

Duas questões ficam por esclarecer: como perdurará a instituição Presidência da Republica, se Cavaco persistir nessa sua nova monomania (a lembrar a outra, a do oásis) de querer ser, como Presidente, a "salvaguarda do futuro dos portugueses", que é coisa perfeitamente estéril de bondade? E que irá fazer Alegre com os votos confiados pelos eleitores, no caso de perder e Cavaco ganhar à primeira volta? A gente pasma só de antever o que poderia (pode) acontecer, em ambos os casos. Tomem fôlego, meus amigos. Não há recompensa possível. Olhem que "todos podemos morrer de sede em pleno mar". Tomem fôlego.

Catálogo Llibres del Mirall [81 Libros raros]

Algumas referências: Viages de extranjeros por Espana y Portugal. Desde los tiempos más remotos, hasta fines del siglo XVI, 1952 / Poesia, de Rafael Alberti, Madrid, 1934 / Cal y Canto, idem, 1929 / La Destruccion o el Amor, por Vicente Aleixandre, Signo, 1935 / Mulata de Tal, de Miguel Angel Asturias, Buenos Aires, Losada, 1963 / La Luna, de Jorge Luís Borges, Buenos Aires, Emecé Editores, 1980 / Obra Poética de Jorge Luis Borges, Buenos Aires, Emecé, 1964 / Les Vases Communicants, por André Breton, Paris, 1932 / Três Tristes Tigres, de Guillerme Crabrera Infante, Barcelona, 1967 / El Acoso, por Alejo Carpentier, Buenos Aires, 1956 / El Bonito Crimen del Carabineiro, de Camilo José Cela, Barcelona, 1947 / La Colmena, idem, Buenos Aires, 1951 / Tres Narraciones, de Luis Cernuda, Buenos Aires, 1948 / Ocnos, de Luis Cernuda, Xalapa, 1963 / Variaciones sobre tema Mexicano, por Luis Cernuda, México, 1952 / La Realidad y el Deseo. Poesias Completas de Luis Cernuda, México, Ed. Séneca, 1940 / Las Nubes, de Luis Cernuda, Buenos Aires, 1943 / Elegias y Canciones, por Álvaro Cunqueiro, Barcelona, 1940 / El Sino Sangriento y Outros Poemas, por Miguel Hernandez, La Habana, 1939 / Enemigo Rumor, de José Lezama Lima, La Habana, 1941 / Poesias Completas de Pablo Neruda, Buenos Aires, 1951 / Libertad Bajo Palabra, de Octávio Paz, México, 1949 / A La Orilla del Mundo, de Octávio Paz, México, 1942 / Salamandra, de Octávio Paz, México, 1962 / Histoires, de Jacques Prevert & André Verdet, Paris, 1948

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005


Ernesto Sampaio [1935 - m. 5 Dezembro 2001]

"Dá-me um certo prazer ser esquecido, assistir às coisas como se não existisse, como se não tivesse uma presença real, estar e não estar" [E. S.]

"Ernesto Sampaio nasceu em Lisboa em 1935. Considera a sua terra natal horrível, infestada de provincianos, de bimbos criminosos, mas mesmo assim, pelo menos a Ocidente, nunca viu outra melhor.
Infância e adolescência um tanto pasmadas: foi quase sempre último da classe até que de repente passou a ser o primeiro. Nesse mesmo ano abandonou os estudos e partiu à aventura. Voltou arrependido.
Depois como toda a gente, aceitou a canga do trabalho e deixou-se esticar pela roda infatigável do hábito e da rotina: foi actor, bibliotecário, jornalista [&ETC, DN, DL, Público], professor do ensino secundário, entre outras desvairadas profissões [foi tradutor de Artaud, Breton, Péret, Arrabal, Ionesco, Thomas Bernhard, Arthur Adamov, Walter Benjamin, Oscar Wilde, Eliot, etc] mas agora deixou-se disso. Ninguém sabe de que vive, nem sequer ele próprio, embora viva bem ..." [in Feriados Nacionais, Fenda, 1999]

"A tua ausência é como essas árvores perdidas num jardim ao abandono, que parecem transplantadas de uma floresta antiga, quando um perfume de infância habita a sua madeira
De mim não resta grande coisa. Não me chores. Aqui já não há fogo para apagar. Não me olhes (sei que não podes olhar-me). Estou quase a cair. Já não sinto o meu eu, o meu peso. Perco o equilíbrio, flutuo. Eras tua a gravitação da terra e do céu, e anulaste-as ..." [E. S., in Fernanda, Fenda, 2000]

"O amor é o único mito de pura exaltação que a humanidade conheceu. O único que parte do coração do desejo e visa a sua satisfação total. O único grito de angustia capaz de se metamorfosear em canto de alegria (...)

O amor não admite a menor restrição: tudo ou nada, sendo o tudo a vida e o nada a morte" [idem, ibidem]

Locais: In Memoriam Ernesto Sampaio / Na morte de Ernesto Sampaio / O poeta que morreu de amor

SIC: Anúncio absolutamente grátis

"cavaquês: variante de telejornalês. É a linguagem que se percebe melhor na RTP [hoje ... via SIC]. Ainda vai na 'modernidade'. A 'pós-modernidade', essa, deve aparecer depois da próxima eleição. Mas, como toda a gente sabe, o cavaquês não é apenas uma gíria. É também um critério de escolha das notícias, que remonta ao lumiarês (ou salazarês)[ou Siclarês ... diremos nós]" [João Carreira Bom, Expresso, 27/07/1990]

Os Cavaquinhos: seriedade & informação

"... A especialidade do dr. Cavaco consiste em combater os 'intereses' malévolos e os lobbies nojentos que resistem às suas admiráveis reformas, sem lhes dar ouvidos nem satisfações, porque se eles não fossem malévolos e nojentos não resistiam às suas admiráveis reformas, e a prova de que as suas reformas são admiráveis está precisamente na resistência deles" [V.P.V.]

"... Os políticos ainda aspiram a ser Cavaquinhos, já que não conseguem ser Cavacões, e os intelectuais, recebidas as espórtulas da ordem, aplicam-se a persuadir os gentios que o grande defeito da Esquerda consiste em não imitar a Direita" [V.P.V., in Às Avessas]

"Anteontem, na RTP, Cavaco fez de repente um comentário que revela o homem (...) Cavaco disse: 'Duas pessoas sérias com a mesma informação (no caso ele próprio e Sócrates) têm (inevitavelmente) de concordar'. Cavaco disse isto com toda a naturalidade e convicção, como quem declara uma evidência, sem uma reserva ou a mais leve sombra de ironia. Acha mesmo que sim: que duas pessoas só podem discordar por ignorância ou falta de carácter. Para ele, a verdade é unívoca e, pior ainda, não custa nada estabelecer. O fanatismo nunca falou por outras palavras e quem conserva um reflexo de independência e liberdade com certeza que as reconheceu pelo que elas são: a raiz da mais cega e absoluta intolerância ..." [V.P.V., jornal Público, 4/12/2005. Nota: sublinhados nossos]
Presidências 2006

"... Francisco Louçã. Tem a vantagem de ser totalmente sincero. O primeiro nessa virtude. O que melhor vê a gravidade da crise actual. O mais certeiro na análise. O mais radical no diagnostico ...

Mário Soares. Rosto afável. Familiar. A doce recordação de um mundo glorioso. Pergaminhos únicos na política nacional. A sua suave certeza de que se desculpa tudo, de que tudo se lhe permite ...

Manuel Alegre (...) Não consegui perceber por que se candidata. Nem para fazer o quê. Apesar das invocações patrióticas, parece nada ter a dar aos seus concidadãos a não ser a vitória da esquerda, com que sonha.

Cavaco Silva. (...) É o desajeitado que enternece. Mas está a repetir-se. E a utilizar desculpas para não se expor. Continua defensivo. Não desenvolve (...) Tem a enorme inocência de pensar que 'várias pessoas com a mesma informação chegam a um acordo', com o que ganhará um prémio se um dia explicar isso! (...) É, entre todos, aquele em que é maior a distância entre o que realmente pretende e o que revela. Sabe-se que quer, mas não e sabe o quê."

[António Barreto, Retratos da Semana, in Publico, 04/12/2005]
Ma-Schamba - II Aniversário

"Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam
" [Rui Knopfli]

O machado de JPT é o sol e a terra, do lado de lá. Todos os dias (ou noutes quando oscilam as pernas) temos o prazer de o ter entre nós. A grande rua da blogosfera é aquecida "aos poucos, um pedaço cada dia?", diria Mia Couto. E garantimos, nós. Fez o Ma-Schamba 2-aniversários-2. "Lá com certeza o dia amanheceu" [Craveirinha]. Daqui, "que a solidão é já uma pessoa", e porque o JPT não nos liberta a música, lhe mandamos, em jeito de sorriso & muitas felicitações, o seu

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Saúde e fraternidade

domingo, 4 de dezembro de 2005


Snu Abecassis

Do Reino da Dinamarca, do outro lado da terra, um sangue feminino que encanta. Que salva, por sinceridade. Que conserva a revolta da juventude. Que é livre. E, decerto, para quem o horror mesquinho, provinciano e reacionário de Portugal era embaraçante, obsceno. Quem, assim, encara com gosto o mundo, não lhe basta o beiral de janela. Não fica na boçalidade do lar. No silêncio da casa. A aventura de caminhar por inteiro, largando o corpo à paixão da vida e à mansidão do tempo, não tem desalento. Tem afectos mil. Saudade doce, mesmo que o fim da viagem fosse tremenda. O programa na TV sobre Snu Abecassis, uma senhora admirável, foi notabilíssimo. Uma carícia à vida.

"Um astro fugitivo te enleou
No que é dado à paixão cumprir-se em morte;
E algo espantosamente te levou
Cioso do que é frágil no mais forte.

Ó fúria de seres morto prematuro,
Sobre o abismo, extremamente vivo,
Jogando às cartas com o anjo escuro
A luz do teu relâmpago persuasivo.

Tinhas fome de quê? de quem? de Deus?
De amor seria, pois furacão de flores,
Passaste, atirando aos fariseus,
O escândalo gentil dos teus amores ...
"

[Natália Correia, in Recordando o Amante Francisco Sá-Carneiro Em Memoria da Minha Amiga Snu, Junho de 1984]

Francisco Sá-Carneiro [1934 - m. 4 Dezembro 1980]

"É a [essa] liberdade que os textos de Francisco Sá Carneiro fazem apelo, agora que as censuras, à nossa volta, vão deixando cair as máscaras" [José Augusto Seabra, in pref. Por uma Social-Democracia Portuguesa, de Francisco Sá Carneiro, D. Quixote, 1975]

"O Estado está ao serviço da pessoa, ou seja das liberdades; em relação não ao indivíduo descarnado e arvorado em valor absoluto, mas do ser que o homem a si próprio se vai dando no viver em relação com os outros (...) O poder político tem necessariamente de caminhar para uma intervenção (...) a fim de fazer com que as pessoas participem todas elas nos bens da comunidade (...). O acesso a todos esses bens é indispensável para que a liberdade não fique limitada a um mero conceito" [F.S.C., ibidem]

"Não vejo como uma via neo-capitalista ou neo-liberal possa dar solução às graves contradições e desigualdades com que se abate a sociedade portuguesa" [F.S.C., ibidem]

"O PPD não é um partido liberal, mas reconhece as conquistas políticas da revolução liberal e, nomeadamente, das revoluções portuguesas de 1820 e 1910. É um defensor intransigente das liberdades individuais, mas quer aprofundá-las e garantir que tenham igual conteúdo para todos através de um esforço constante de construção de um socialismo humanista e democrático" [F.S.C., ibidem]

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005


Sobre Portugal: o espírito e o lugar - Mafra

"Deo Optimo Máximo
Divoque Antonio Lusitano
Templum hoc dicatum
Joannes Lusitanorum Rex
Voti compôs ob susceptos liberos,
Primumque fundavit lapidem ...
"

[inscrição na pedra inicial da capela-mor da Basílica de Mafra, citado por Manuel Gandra, in Da Face Oculta do Rosto da Europa, 1997]

"... mas nenhum Mosteiro de Religiosos se acha na Cristandade que esteja edificado sete léguas fora ou por cima da cidade marítima, chamada Oriental e Ocidental, fundada sobre tantas águas subterrâneas e tão adornado como a Esposa para o Esposo, senão esta nova e única Maravilha do Mundo [...] estabelecida em Portugal, edificada em Cristo, sobreedificada em Mafra e sobre o fundamento que lhe pôs S. Paulo, pelo real e invicto braço do Sábio e Augusto Apolo Lusitano e pela mãos dos portugueses para a Corte do Quinto Império de Cristo ..." [Anselmo Caetano M de A. G. e Castelo Branco, idem, ibidem]

"... o Monumento de Mafra é uma réplica de Heliopolis, a Cidade do Sol. Com efeito, a planta do Monumento de Mafra configura, com base no respectivo módulo regulador ou cânone, o quadrado mágico do Sol. O referido quadrado comporta os primeiros 36 números dispostos segundo uma grelha de 6x6, de molde que o valor linear, na horizontal, na vertical ou na diagonal, seja 111 e o valor global 666, também correspondente ao número total de compartimentos ou divisões do Real Edifício ..."

[Manuel Gandra, in A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, 2003 (apresenta uma Miscelânea curiosa, a saber: Catálogos da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra / Subsídios para o catalogo da Tratadística alquímica antiga (até 1800), presente no acervo da BPNMafra)

"É no Palácio Espiritual
rodeado pela águas
que têm inicio as provas
" [Natália Correia]

Sobre Portugal

"Cumpriu-se o mar e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!" [F.P.]

"Portugal é nome inteiro,
Nome de macho se queres,
os outros Reinos mulheres,
Como ferro sem azeiro ...
" [Bandarra]

"... A Pátria somos todos, os que vivemos e, sobretudo, a cadeia invisível dos antepassados, essa enorme força da espécie que o Anjo marcou na sua génese com uma língua e um determinado sestro histórico, se não transcendente" [António Telmo, in História Secreta de Portugal, 1977]

"A Hora, a derradeira hora do tempo, aquela onde não há literalmente nem rei nem lei, nem paz nem guerra, nem se sabe o que é mal nem o que é bem, não está, como finisterra, longe. A manhã levou já o seu zénite, e a tarde há-de trazer o seu nadir. Tudo o que nos resta é esperar pelo nevoeiro, esse tempo emblemático e alheio onde se acaba o tempo e se diluem as coisas, como síntese adequada que é de tudo o que existe. Ocultámo-nos no sol e reveler-nos-emos na sombra." [António Cândido Franco, in Panfleto contra Portugal, 1989]

"Portugal a cabeça, cuja fronte patenteia três sentidos, o que respira, o que concede a palavra e o da visão, é o Consciente de Europa (...)

Representando o principio masculino, a força centrifuga, o movimento de translação é o génio do Amor, da Aventura e da Saudade, o protector dos Argonautas, o Siva da Fé, aquele que debruçado na sua Ponte-Cais olhando fixo o cristalino do Mar avista ali, diante de si, num só ponto, os quatro pontos cardeais, a par da vitória daqueles Argonautas contra todos os Titãs e contra o próprio mestre da Morte e dos Infernos, e por fim, como prémio, o mundo-terra a seus pés" [Vasco da Gama Rodrigues, in Os Atlantes, 1961]

"E nunca em Portugal o rasto da flor da graça
se perderá e o seu perfume se esquecerá
" [Dalila Pereira da Costa]

Portugal

"Eis aqui quase cume da cabeça
Da Europa toda o reino lusitano
Onde a terra se acaba e o mar começa
" [Camões]

"A Europa jaz posta nos cotovelos;
De Oriente a Ocidente jaz fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O Cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal" [F.Pessoa]

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

[Fernando Pessoa]

"Ah, estou liberto!
Ah, quebrei todas
as algemas do pensamento.
Eu, o claustro e a cave voluntários de mim mesmo,
Eu, o próprio abismo que sonhei,
Eu que vi em tudo caminhos e atalhos de sombra
E a sombra e os caminhos e os atalhos estavam em mim!
Ah, estou liberto ...
Mestre Caeiro, voltei à tua casa do monte
E vi a verdade que vias, mas com meus olhos,
Verdadeiramente com meus olhos
"

[F.P. ou Álvaro de Campos, citado por Yvette Centeno, in Hermetismo e Utopia]

Fernando António Nogueira Pessoa

"No último e excelso sentido, a Loja é o arcano ou arca da Verdade" [F.P.]

"Temos espadas porque somos cavaleiros, veste de rito porque somos sacerdotes, capuzes de velar porque somos ocultos" [F.P.]

"Mas o significado real da iniciação é que este mundo visível em que vivemos é um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras palavras, que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar - um dissipar gradual e parcial - dessa ilusão" [F.P., in FP e a Filosofia Hermética, org. de Yvette Centeno]

"... Mas por ora estou dormindo,
Porque é sono o não saber.
Olho o Castelo de longe,
Mas não olho o meu querer.
Da sombra do Monte Abiegno
Quem me virá desprender?
" [F.P., in Na Sombra do Monte Abiegno]

"... Sou os arredores de uma villa que não há, o comentário prolixo a um livro que não se escreveu. Não sou ninguém, ninguém. Não sei sentir, não sei pensar, não sei querer. Sou uma figura de romance por escrever, passando aérea, e desfeita sem ter sido, entre os sonhos de quem me não soube completar" [F.P.]

Fernando Pessoa [1888 - m. 30 Novembro, 20.30 h, 1935]

"I know not what tomorrow will bring" [F. P.]

"Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até Corpo, essa descida
Até à Noite que nos a Alma o obstrui ..."

[F.P. - No Túmulo de Christian Rosencreutz]

"A verdade que será o futuro, desprezando os nossos raciocínios, virá tal qual tiver que vir, guiado por leis naturaes immutaveis, e contra as quaes nada pode a pseudo-libertação do nosso servo arbítrio, esse e o seu segredo, guarda-os ainda o espírito da Nação na sua alma recôndita, e, se a interrogamos, responde-nos, como o santo, quando o interrogaram: Secretum meum mihi - o meu segredo é commigo" [F. P.]

"... O teu destino é demasiado alto para que eu o diga. Tens de o descobrir tu. Mas tens de te esforçar ... através da passagem de muitas vidas até que reine na tua alma a Divina Presença. Mas o homem é débil e são também débeis os Deuses. Sobre eles, o Fado - o Deus sem nome - vela do seu trono (inalcançável?). O meu nome está errado e o teu também. Nada é o que parece ser. More. Henry More. Frat RC [Fraternitatis Rosae Crucis]. O que tem de ser tem de ser"

[F.P. - carta "recebida" de Henry More, por meio de escrita automática. Trad. por Angel Crespo]

"Para todos, quantos queiram mais da vida que o que ella é em si mesma, a regra é aquella que, em um dos seus modos, os trez graus maçónicos symbolizam. Entramos apprendizes pelo soffrimento, passamos companheiros pelo propósito, somos levantados Mestres pelo sacrifício. De outro modo se não chega, na arte como na vida, à cadeira, que é o Throno, de Salomão" [F.F.]

terça-feira, 29 de novembro de 2005


Álvaro Cunhal, uma Biografia Política, Vol. III - O Prisioneiro (1949-1960)

No Auditório do Estabelecimento Prisional de Lisboa decorre [a esta hora] o lançamento do terceiro volume da biografia não-oficial de Álvaro Cunhal, da autoria de José Pacheco Pereira, intitulado: Álvaro Cunhal, uma Biografia Política. O Prisioneiro (1949-1960).

"... começa com Álvaro Cunhal a sair, algemado, da casa do Luso onde foi preso em 1949 e termina na sua primeira noite de liberdade, depois de ter fugido da cadeia do Forte de Peniche em Janeiro de 1960. Foi uma dura e longa prisão que se vai saldar em 11 anos de detenção. No seu conjunto, Cunhal vai cumprir quase três vezes a pena a que foi condenado e só não esteve mais tempo preso porque fugiu".

LEILÃO DE IMPORTANTE BIBLIOTECA PARTICULAR


Hoje 29 Novembro - Leilão de Importante Biblioteca Particular - 21 horas

Organizado pela Leiloeira Leiria & Nascimento realiza-se esta noite na Rua de Santo António à Estrela, 31 B, a segunda (e última) parte de um Leilão de uma interessante Biblioteca, que pode ser consultada on line.

Algumas referências: Oceanos, 1989-2002, nº1-49 / Nobiliário de D. Pedro Conde de Barcelos, 1974 / Portugalie Monumenta Cartographica, 1987 / I Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo, Lisboa, 1938 / Documentação para a Historia das Missões do Padroado Português no Oriente, de António da Silva Rego, 1947-1988, XVIII vols / Os Judeus Portugueses em Amsterdam, de J. Mendes dos Remédios, 1911 / A Invasão dos Judeus, de Mário Saa [reimp., 1998] / O Mastigoforo. Periódico Mensal, pelo autor Férreo Anti-Maçonico [trata-se de Frei Fortunato de S. Boaventura], 1824-1829, nº1 ao nº12 / Elucidário Madeirense (2ª ed.), do Pe. Fernando Augusto da Silva & Carlos Azevedo de Meneses, 1940-1946, III vols / História Geral do Brasil, por Francisco Adolfo de Varnhagen, São Paulo, 1962, VI vols / Etnografia Portuguesa de José Leite Vasconcelos, 1980-88, X vols / Revista Águia [colecção completa - 1ª à 5ª série - e rara desta importante revista literária, pertença da Renascença Portuguesa], 1910-1932 / As Cidades e Villas da Monarchia Portugueza que tem Brazão D?Armas, de I. de Vilhena Barbosa, 1860-1862, III vols / Oeuvres Completes de Buffon, 1855, XII vols / De Benguela à Contra-Costa, por H. Capello & R. Ivens, 1886, II vols / De Benguela às Terras de Iácca, por H. Capello & R. Ivens, 1881, II vols / O Cavaleiro Andante, publicação juvenil de BD (rara), sob direcção de Adolfo Simões Muller, 1952-1962, 556 nºs em XIX vols / Novelas Exemplares..., de Cervantes, 1783, II vols / Los Seis Libros de Galatga ..., de M. Cervantes, 1754, II vols / Vida do príncipe D. Theodosio, por João Baptista Domingues, 1647 / Memoires Historiques por Servir à L'Histoire des Inquisitions, L. Dupin, 1716 / Escuela de A Cavallo ..., por D. Salvador Rodriguez Jordan, 1751 / Costume of Portugal, de Henry L'Évéque, s.d. / Noções Históricas, Económicas, e Administrativas sobre a Produção e Manufactura das Sedas em Portugal, de José Acurccio das Neves, 1827 / [Miscelânea] Memoria sobre os Meios de Melhorar a Industria Portuguesa [seguem-se mais 3 obras], de José Acurccio das Neves, 1820 (1823) / Inês de Castro, por António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, 1933 / Hortulus Anime [livro de orações], 1518 (?) / Sententiae et Exempla, de André Eborense (ou Rodrigues), 1590 / The History of Revolutions of Portugal, por Sir Robert Southwell, 1740 / Estado Novo [conjunto de cartas manuscritas, documentos vários de Salazar, Américo Tomás, Marcello Caetano, bem como eventos vários ligados ao Estado Novo]

domingo, 27 de novembro de 2005


Jimi Hendrix [n. 27 Novembro 1942-1960]

Angel came down from heaven yesterday
She stayed with me just long to rescue me
And she told me a story yesterday,
About the love between the moon and the deep blue sea
And when it was time for her to go
She spread her wings high over me
She said 'I shall return tomorrow'

And I said 'fly on my sweet angel,
Fly on through the sky,
Fly on my sweet angel,
Tomorrow I'll look for you by my side'

And sure enough this morning comes to me
Silver wings silhouetted against the glow of the child's sunrise
And as the bluebirds and the sparrows envy me
She says you're nothing but a boy but today you shall fly,
She kissed me once,
With a feeling so good she made me cry,
And now we can fly together

And I said 'fly on my sweet angel,
Fly on through the sky,
Fly on my sweet angel,
Together we shall always be in love'


[Jimi Hendrix, Angel, 1971 Powered by Castpost]
[Alguma curiosa] Bibliografia citada na obra "Álvaro de Castro - Pela República, Liberdade e Democracia", de Aires Antunes Diniz, 2005

AAVV - A Memória do Dr. Álvaro de Castro, Tipografia Rangel, Bastorá, Índia Portuguesa, 1928 / AAVV - In Memoriam Álvaro de Castro, Lisboa, 1947 / Anais da Revolução Nacional, Editores Eurico Lima de Magalhães e Augusto Dias, 1948 / Álvaro de Castro - Lendas in A Tradição, Serpa, Abril de 1899, Serie I, Anno I, nº 4, págs. 54-55 / Álvaro de Castro - Simões de Almeida - Linhas gerais para um estudo do artista e da sua obra, Conferência realisada em sessão de 14 de Dezembro de 1909 / Álvaro de Castro - Tentativas de Reforma, Boletim do Instituto de Criminologia, Tomo I, II Ano, II Semestre de 1923, vol. III, págs. 109-123 / Álvaro de Castro - A Acção Financeira do Govêrno de Álvaro de Castro, Conferência realizada no Ateneu Comercial do Porto em 25 de Outubro de 1924, "Lvmen", Empresa Internacional Editora, 1925 / Sousa Costa - Heróis Desconhecidos (Lisboa Revolucionária), Livraria Editora Guimarães, 1935 / Aires Antunes Diniz - Depois de Monsanto, Praça Velha, Revista Cultural, Junho de 2002, nº11, págs. 83-99 / Aires Antunes Diniz - O Pensamento Financeiro Português e a Universidade de Coimbra, V Encontro de Economistas de Língua Portuguesa, 7 de Novembro de 2003, Universidade de Pernambuco, Brasil / Caetano Gonçalves - Álvaro de Castro - Inquérito a uma vida útil, Apontamentos da carteira de um antigo Deputado da Nação, Empresa Nacional de Publicidade, 1933 / Caetano Gonçalves - Grandes Nomes, Pequenos Factos (Cinquenta anos de Vida Pública, (Memórias), Empresa Nacional de Publicidade, s/data / José Adelino Maltez - Tradição e Revolução. Uma biografia do Portugal Político do século XIX ao XXI, Volume I (1820-1910), Tribuna, 2004 / Rodrigo Rodrigues - Álvaro de Castro - Definição da Sua Personalidade Política dentro da vida da República Portuguesa (especialmente colonial) de 1923 a 1925, Minerva, 1949 / Fernando Emídio da Silva - Ciência das Finanças e Direito Fiscal, Notas recolhidas por José Duarte de Aragão Teixeira e Filipe Braz Rodrigues, alunos da Faculdade de Direito de Lisboa de harmonia com as aulas dadas ao curso do 3º ano jurídico de 1933-1934 / Neno Vasco - Da Porta da Europa. Factos e Ideias: A Questão Religiosa. A Questão Política. A Questão Económica. 1911-1912. Biblioteca Libertas, 1913 / Amadeu de Vasconcelos - A Mentalidade dos livres pensadores portuguêses, in Cartas a um livre pensador, Livraria Portuense, 1912 / Anselmo Vieira - Palavras Necessárias. Apresentada como Uma Notavel Entrevista, subtitulada A obra do Dr. Oliveira Salazar e os seus antecessores na Ditadura. Como se desfaz uma lenda virtuosa. Moralidade ou Cambão? Competência ou Subserviência?, in A Pátria, Rio de Janeiro, s.d. [1928] / Alberto Xavier - Memórias da Vida Pública, Livraria Férin, 1949

Álvaro de Castro - Pela República, Liberdade e Democracia

Aires Antunes Diniz, economista e investigador na área da educação, natural da Guarda, publicou na excelente "Colecção Gentes da Guarda" [ed. C.M.Guarda] um admirável trabalho biográfico e ensaístico sobre o (muito esquecido) advogado (na Guarda), militar, deputado (1890), deputado constituinte (1919-21-22), lente da Escola Militar, ministro da Justiça em 1913 e 1914 (está "ligado a iniciativas como a Ordem dos Advogados, Home-Stead e o Habeas-Corpus"), ministro das Finanças em 1914 e 1915 (e 1923-24), administrador colonial em Moçambique em 1915, director da Sociedade de Geografia de Lisboa (1920), ministro das Colónias (1920 e em 1923), ministro da Guerra (1920 e 1924) - Álvaro Xavier de Castro [n. 9 de Novembro de 1878-m. 29 de Junho de 1928].

Álvaro de Castro era filho de José de Castro (importante membro da Maçonaria, da Loja Federação, em Coimbra, 1869). Fez parte José de Castro do partido progressista (1878), foi redactor do semanário Districto da Guarda, tendo abandonado o partido progressista e filiando-se no partido republicano (1881). Funda na Guarda o jornal Povo Portuguez (1882) e defende nesse mesmo ano os presos políticos da Madeira [publica um curioso opúsculo "As victimas d'ElRei!, Historia dos processos movidos contra os perseguidos políticos da ilha da Madeira"]. Por seu turno, seu filho Álvaro de Castro, escreve em várias publicações: no jornal de caricaturas A Marselhesa (1897), na revista de etnografia Tradição (1899), na revista O Passatempo (1900), na Revista Nova (1902), na Folia (1902), na revista coimbrã Arte & Vida (1904), Mocidade (1904), no jornal A Escola Nova (1911), na Límia (1911) e na Estrela da Beira (1926).

O copioso ensaio sobre Álvaro de Castro, começa com referências à juventude académica (greve de 1907) de Álvaro de Castro; observa a influência da "primeira revolução republicana de 1891" na sua formação cívica; refere a sua "sólida formação artística" acompanhando os seus textos presentes em algumas revistas de arte coimbrã e nacionais; analisa o seu desempenho na primeira fase da implantação da República e no "controlo das primeiras tentativas contra revolucionárias" e ainda como "administrador e estratega colonial na segunda metade da década de 10"; faz o historial do papel decisivo de Álvaro de Castro, "tanto durante como após o sidonismo na contenção das ameaças à democracia"; salienta o seu "papel político como chefe de governo ou das finanças e em particular na administração financeira do país" em 1924 (saneamento das finanças públicas após a proclamação da República), realçando o "economista que tenta fazer funcionar racionalmente os sectores da economia prejudicados pela especulação financeira"; comenta o papel de Álvaro de Castro na "defesa do regimen na luta contra o Estado Novo até à sua morte em Coimbra, após um curto mas doloroso exílio no estrangeiro". Eis, pois, uma obra de consulta obrigatória para a análise do Regime Republicano e do Estado Novo. As referências bibliográficas abundantes, a apresentação de vastos documentos sobre o biografado, a pesquisa atenta feita, tornam este livro uma fonte importante de consulta. A não perder.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

O encanto do vynil é uma lembrança cruel. Uma maldição ritualista. O coração fica sempre suspenso pelo sobressalto. Pela dúvida daquele trabalho todo. O papel a abrir, o disco a sair, a limpeza costumeira, o olhar clínico, cúmplice, o tempo de espera. O papel afagado nunca é o mesmo, nem as nossas mãos. Nem o velho Technics. Porém resiste à nossa eternidade. Ao prazer do tempo. Ao último adeus. À memória dos anos ... 'Tas aí Quim!?

Os Talking Heads, ou Eno & David Byrne, eram uma aventura. Poemas de tédio e pânico "surrealista fascinado pelas miudezas da vida marginal" [M.E.C. dixit]. Uma verdadeira "esquizofrenia" de sons e palavras. Nada conveniente a sexagenários puritanos. Ou a público menos desregrado. Assim, para carpir saudades inteligentes & em atracção de marcha em frente, a regeneração da boa aurora dos anos 80, para ouvidores dificultosos, ali do lado esquerdo da pedra & sem o patrocínio do M.E. de todos nós

Talking Heads - Girlfriend Is Better

"I, i, i, wake up and wonder
What was the place, what was the name?
We wanna wait, but here we go again ...
...
What do you know? take you away
We're being taken for a ride again
I got a girlfriend that's better than that ..." [letra, aqui]

... e que o meio-da-semana tenha caridade por vós. Bom dia!

Ensino: o desastre final

O espectáculo da degradação do ensino em Portugal (e no mundo) torna-se uma felicidade para pedagogos, uma glória aparente para funcionários da politica em trânsito ministeriável, ao mesmo tempo que um quebranto ternurento e admirável trespassa jornalistas & seus irmãos colunistas. A sua ruína, despertando discursos insensatos e quase sempre pouco substantivos, um fenómeno apetecido. Dedicado. Correio de saudade da vida (Vieira dixit). A ilusória disponibilidade de todos esses "actores" em paixão "educativa" é uma maldade pendente, respeitável é certo, mas de pouca sustentação. Por isso, não espanta que os dizeres relativos à Escola e à sua "gramática" tenham, pela tranquilidade da memória e pelo prazer da sua saudade, estado presentes no programa Prós & Contras de ontem, unicamente, pelo rosto e voz da nossa querida amiga Amélia Pais e na suavidade do discurso de António Nóvoa. Porque, de facto, a prédica noutros, é de uma banalização e de uma fadiga intelectual inconfessável. Abusada. De excessos impiedosos.

O discurso sobre o ensino (aqui tomado nos seus aspectos cognitivos) - que não sobre educação (não-cognitivo), se seguirmos os dizeres presentes num notável texto de Fernando Gil na Raiz & Utopia, 9/10 - sendo de difícil apuro e de extrema complexidade no mundo actual, não deixa porém de traduzir-se em saudosas recordações que mil programas, espargidos via TV, dificilmente podem fazer esquecer. Sabemos, bem, que a instituição Escola, lugar dos saberes ou "horta" de aprendizagem para a eficácia e reorganização do sistema pós-industrial - agora bem coberta que está pela bênção da gestão empresarial em tempos de globalização - é um marcante espaço comunicacional de socialização, um território de iniciações conflituosas, um locus de transmissão de valores. Não temos dúvidas.

Mas não é esse o nosso mister, por ora. Apenas queremos registar que quando se fala de ensino (ou educação) as virtudes ou martírios dos currículos, da didáctica ou das metodologias específicas são meras demandas sob custódia do grémio do "eduquês", que habita na paz do ministério da tutela. Nunca estão presentes. Jamais o espectro de tal debate excita as magnas reuniões de esclarecimento fornecidas aos ignaros indígenas lusos, a quem, obviamente estão vedadas. Por isso não espanta, que os comícios despudorados e anedóticos, quase sempre arrogantemente assumidos pela actual Ministra da Educação e pelo secretário Valter Lemos, com a cumplicidade inimaginável dos militantes socialistas (que, presume-se, ainda existam), tenham como única e proverbial missão afrontar os docentes do ensino básico e secundário, culpando-os, hipocritamente, do desaire do sistema educativo.

Apadrinhando certos putativos pais, ditos modernos (os que há muito deixaram de educar quem quer que seja e para quem os filhos são um fardo lastimoso); afagando o costado de alguns prodigiosos doutores que habitam nas cátedras universitárias (note-se: aqueles que leccionam uma vez por semana, três meses por ano, sem justificar procedimentos ou metodologias educativas, sem avaliação, cada vez mais ignorantes cientificamente ou folgados culturalmente e sempre lastimosamente incompetentes pedagogicamente); sob o aplauso dos habitués comentadores de jornais (curiosamente, hoje, piedosamente mudos, enquanto o rigor, o esforço e o trabalho sério na sala de aula são devassados) e sob o regozijo guloso da populaça (para quem a frivolidade de uma disputa conduz ao êxtase de cidadania); o Ministério de Educação dá provas de uma incompreensão total sobre o sistema educativo. E de como o pode e deve corrigir. Não é estranho a essa incapacidade, o peso e os laços políticos, que os "mestres" formados no "eduquês" - em tempos de 1982, em Boston - e que configuraram e representam o actual sistema de ensino, têm nos principais centros de decisão nesta área. A isso voltaremos um dia, se a paciência o permitir e a situação o reclamar.

"O Ministério da Educação"

"O Ministério da Educação é um lugar sufocante onde desabam profissionais que preferem gabinetes e planificações pouco edificantes à tarefa de ensinar em salas de aula. (...)

No seu topo há uma entidade chamada ministro. Toda essa máquina parece destilar demagógico veneno educativo, servindo-se duma abstracção violenta a que chamam 'pais'. Têm como inimigo principal a forma do trabalho diário dos professores nas Escolas.
Há uma engrenagem vassala destas gentes em cada lugar de ensino: os Conselhos Directivos. A qual se manifesta em sádicas actividades redutoras: excessos de reuniões, tarefas grotescas, sobrecarga de actividades inúteis. Conjugam-se para destruir qualquer saber mais feliz. Acossado por todos os lados, quem pode levar a mal aos professores que resistam e até que desistam?
Para ser professor, um professor começa por inteiramente precisar de um horário semanal pouco pesado (no ensino dito superior já se compreendeu isso muito bem). De outro modo, não pode aguentar uma actividade de fala e de vigilância e de partilha intensíssima, hora a hora, com dezenas e dezenas de alunos.

Além disso, um professor precisa de poder faltar, dentro dos limites bem precisos: calculando determinados momentos de repouso, pode sempre voltar com a necessária boa-disposição para acompanhar o crescimento sadiamente conflituoso de tantos adolescentes e jovens. É pura desfaçatez dizer o contrário.
Porém, tudo se passa assim ao contrário. Os horários pretendem aumenta-los em vez de reduzi-los. A necessidade de faltar num momento de maior tensão ou cansaço é totalmente sabotada. O trabalho de um professor não pode ser encarado como uma rotina sujeita a obrigatoriedades burocratas. É um trabalho em grande parte anímico, e suponho que até os engenheiros deveriam saber disso.

A luta dos professores cada vez mais tem de ser contra os pavorosos fiscais que enchem os gabinetes do ministério com planos disformes. E contra os conselhos directivos que se queiram tornar os cães-de-guarda dessa infâmia.

Duas faltas mensais sem desconto nas férias nem no ordenado era algo que a fase final do sistema educativo fascista já compreendia perfeitamente. Parece agora, visto à distância, ter havido menos gente repugnante, apesar de tudo, nesse tempo de ministeriais estrangulamentos ideológicos do que hoje em dia, em que todos fingem liberalizações educativas sem conseguirem deixar de representar a mera figura de Pilatos.

Horas e horas sabotadoras são passadas em reuniões, onde o desgaste se transforma, a princípio, em conflito, depois em cansaço, por fim em desprezo sem saída.
Com professores esgotados, mal pagos, explorados por decretos e portarias e regulamentos despromovedores, a sua melhor vontade em acompanhar seres no momento crucial do seu desenvolvimento e da sua captação cultural não se pode plenamente manifestar. Querem ter um povo educado? Um país desenvolvido? Uma colectividade capaz da múltipla imaginação do seu próprio futuro? É claro que não. Estes fulanos que nos governam querem é o vazio. E que depois o vazio vote neles."

[Joaquim Manuel Magalhães, "No Ensino Secundário", in Independente-Vida3, 26/05/1989]

Causa Nossa - II Aniversário

Ali achareis algum sustento, mesmo que o pisar da terra seja outro. As impressões da actualidade rasgam, quase sempre, as sombras negras da blogosfera. O outro lado, como se depreende. O ânimo nunca esmorece, por ali. E as palavras, também não. Mesmo que por vezes sejam singularmente desacertadas. Ou injustas, possivelmente. A Causa Nossa é um château mui respeitável. De grande estimação. Faz II anos de estabelecimento & apresenta-se cada vez mais prendada. A todos, parabéns. E, daqui, dos saudosos campos do Mondego, com mar ao fundo, se envia em tempo de estação invernosa, que o Cavaquismo é já a seguir, em jeito de abraço

Eugénio de Andrade (ele mesmo) em O Lugar da Casa

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